Winnie - Um breve descanso

Com a pokebola de volta às minhas mãos e a certificação de que Balder ficaria bem, guardei o monstrinho na bolsa e a coloquei nas costas como de costume, então sai do centro pokemon e fui atrás do meu irmão, como havíamos combinado. Como imaginei, ele estava parado encostado em alguma árvore olhando para o nada, não foi nada difícil achar ele, não me custou nada além de alguns movimentos com a cabeça para ampliar visão e poucos passos, e quando cheguei perto meu primeiro ato foi cutuca-lo na bochecha e começar a falar:
- Foi bem mais rápido do que pensei - sorri, contente por Balder estar bem - Quer fazer alguma coisa específica? Eu não vou poder sair da cidade até acabar aquela Copa chata. No caminho pra cá viu algo interessante? - Suspirei.
Eu não sabia a resposta que ele me daria, mas tinha quase certeza que ele soltaria um "É por sua conta", então dei de ombros e fiz sinal para andarmos, enquanto isso ele me contaria e eu pensaria em algo útil a se fazer.

Desliguei-me do meu irmão e fui correndo em direção ao velhinho, meu instinto de ajudar as pessoas normalmente fazia com que eu me metesse em confusão, mas eu não conseguia apenas desativa-lo, era praticamente impossível dizer não ao homem exausto na minha frente. Segurei-o pelo braço e me forneci de apoio, assim que ele ficou firme, fiz sinal para que respirasse devagar, isso normalmente acalma a pessoa e faz desacelerar o batimento cardíaco, uma pessoa naquela idade não pode ficar passando por stress dessa forma. Tentei não julgar o que aconteceu, mas era praticamente impossível não tentar imaginar, não seria humana se não fizesse. Primeiramente pensei que o homem estava tendo um infarto ou coisa parecida, mas depois com toda aquela exaustidão e sintomas de esforço, me passou pela cabeça que o homem devia estar correndo ou praticando algum exercício. De qualquer forma, eu não tinha nem certeza se ele estava realmente passando mal ou com outro problema, podia ser um ladrão que levou algo muito importante. No fim da minha linha de pensamento, assenti com a cabeça, confirmando meu auxílio:
- Certamente senhor - falei, mas ainda precisava saber em que ele precisava de mim - Mas no que exatamente? Você parece estar passando mal, o hospital não é tão longe daqui. O que você quer que eu faça por você?
Fiquei encarando Vicente por um bom momento, esperando ele vir me ajudar a dar apoio ao homem exausto, este que não deveria fazer mais esforço nenhum.

Ver aquele homem cair tão perto de mim já me fez entrar em desespero, ignorei a foto que deixaras cair por um breve momento e apenas me coloquei a gritar:
- Alguém! Liga para a Emergência, rápido! - Gritava tal frase, não apenas uma vez, mas duas, três, quatro, até alguém me escutar eu gritaria.
O homem foi caindo mais e os braços de Vicent acompanhando-o a medida que se entregava, eu pedia para ficar conosco, não fechar os olhos e essas coisas comuns que mantêm a consciência de alguém, mas chegou a um ponto que ele nem parecia conseguir escutar, até que por fim ele parou qualquer movimentou ou respiração ofegante e foi-se de vez. Meu irmão anunciou um não com a cabeça, e eu sabia muito bem o que aquilo significava. Foi a primeira vez em minha vida que lágrimas saíram dos meus olhos por alguém que eu não conhecia, meu rosto já estava encharcado de água-salgada, e o sabor que repousava sobre meus lábios, mostrava-me que não era um simples choro de tristeza, e sim de desespero, eu nunca havia encarado a morte - mesmo que não seja minha - tão de perto, e digo a vocês, é uma sensação horrível, a realidade cai a tona e percebemos que não temos uma imunidade a isso e muito menos um controle.
Depois de reparar a inutilidade do meu grito, forcei-me a ficar quieta, impressionada com aquilo tudo mas sem falar uma palavra sequer. Agora pegava o foto que o homem deixara cair algum segundos antes e analisava com todo o cuidado as minuciosidades do rosto do garoto. Cabelo, pele, olhos, sinal de nascença, corpo. Tudo. Por fim peguei minha bolsa e vasculhei com a mão - ás cegas - atrás do meu celular, a verdade era que eu poderia ter ligado para a emergência ali mesmo, mas com o tamanho da minha mochila e a bagunça, eu seria muito mais lerda do que alguém que já estava com o aparelho na mão. Já com o celular nas mãos, disquei um dos número rápidos que já ficam salvos na memória, o que escolhi fora a polícia, e assim que fui atendida.
- Preciso de uma ambulância e uma viatura próximas ao Centro Pokemon, há um menino desaparecido e um senhor que aparentemente não suportou alguma pressão - falei, séries policiais me ajudavam a montar uma frase coerente - Meu nome é Winnie Freda, e preciso que seja rápido.

A calma daquele homem não apenas me irritava, mas também me fazia parecer idiota. É óbvio que pequenos furtos não são mais importantes que um garoto desaparecido, por que ele não poderia simplesmente desviar o caminho de uma viatura para vir aqui ajudar? Isso não faz sentido, esse homem retardado deve ser um estagiário. Bufei tentando me controlar, desliguei o telefone sem nem falar mais nada, Vicent conseguiu ouvir, dali onde estava, toda a conversa - sabe-se lá como, ele tem super ouvidos agora? -, e como se não bastasse ser irritante, ainda tinha que fazer uma piada daquelas, dei-lhe um murro na cabeça e o mandei calar a boca.
Em minha mente se passava milhões de coisas, primeiro, que o meninos podia estar em sérios perigos, depois que ele talvez só tivesse sumido mesmo e seria fácil encontrar, e também, imaginei o sofrimento do garoto ao saber que seu avô morreu perseguindo-o. Bom, isso quando ele souber, e eu não pretendo ser quem vai contar. Por fim, a coisa mais importante que passou em minha cabeça fora a pergunta "o que fazer?", ela que teve resposta imediata: "Procurar o garoto". Levantei - estava agachada perto do corpo -, segurei a foto a trazendo ao campo de visão mais uma vez e comecei a andar na direção que o velho correra momentos atrás, tentando enxergar alguma criança parecida com a retratada, o pior era não saber o nome de nem do neto, nem do avô, como iria chamar ou gritar? Virei a foto e olhei o verso, talvez tivesse alguma referência útil.
Esperava que Vicent me segui-se, mas não ordenei.

OFF

Ignorei o fato de Vicent querer ficar ali enquanto tinha tanta gente em volta para ajudar na situação, para mim, o mais incompreensível não era isso, e sim o fato de que de toda aquela multidão, ninguém quis me ajudar a encontrar o garoto perdido.
Prossegui os passos do recém falecido e cheguei a um lugar naturalmente fechado - digo, fechado por obra da natureza -, parei um pouco para pensar no tempo que havia passado, e cheguei a uma conclusão que mal devia ser duas da tarde, ainda assim devia aproveitar bem a luz que me restava, visto que não fazia ideia do tempo que deve me custar procurar o garoto.
Ainda no caminho escuro, cheguei a encontrar uma bifurcação, direita ou esquerda? Era burrice depender da sorte para escolher o caminho, então peguei três pokebolas da minha bolsa e posicionei-as na mão esquerda seguidamente - era difícil para minhas mãos pequenas segurar três esferas de uma vez, mas fazendo tanto isso, acabei tornando um costume fácil de se praticar -. A primeira a ser materializada foi Hati, minha Houndoom recém evoluída, eu daria um abraço ou carinho nela se tivesse no clima, mas agora não daria. Imediatamente soltei Skoll, meu Meowth, e logo mais Balder, o Poliwag recém curado, evitei tocar na luta passada para não desconfortá-lo.
- Hati, primeiro de tudo quero que fareje algum rastro, procure algum cheiro de colônia infantil, desodorante, ou alguma coisa assim - pedi - Ou pelo menos, descubra o caminho que foi recentemente usado se conseguir. Obrigada meu amor! Se esforce.
Deixei a cadela fazer seu trabalho durante um tempo, enquanto isso dei uma tarefa ao Skoll, pedi para que usasse suas garras para retirar um galho grosso de alguma árvore, eu poderia muito bem improvisar uma tocha com esse material. Ao fim do exercício de Hati, sinalizei para que acendesse meu pedaço de madeira novo, para finalizar meu pré-plano de achar o menino. Por mais que não tivesse falado, Poliwag sabia para que estava ali: Evitar um incêndio.
Agora com o caminho devidamente farejado e iluminado, eu seguiria para a direção que me pareça mais esperançosa.