Travessuras ou travessuras

A decisão era difícil e até mesmo dolorosa para o treinador. Aquilo seria um tiro no escuro, entretanto, como todo bom e fiel treinador, seus Pokémons vinham primeiro do que qualquer outra coisa. Mas Daisuke tinha de pensar no pior como hipótese. Talvez se ele voltasse para a terra, seus Pokémons sequer gostariam de tê-lo de volta. E além do mais, quem garantiria que aquele homem estivesse falando a verdade?

Mas era uma situação complicada. Ele não tinha outra alternativa, até tinha, mas se a escolhesse nunca mais veria seus tão amados monstrinhos. E quanto a Mimi? Ele tinha que suportar a dor de talvez nunca mais vê-la. Uma dor maior do que qualquer outra coisa. Uma dor que não tem cura. Dor no seu próprio coração. Outra vez o jovem se mostrava corajoso e leal, talvez fosse por isso que a tal voz deixasse que ele escolhesse voltar para casa.

E de repente, quando ainda estava se perguntando se aquilo era o certo a se fazer, quais seriam as consequências e oque aconteceria se tudo desse errado ele ouviu a voz. Pela primeira vez ela pareceu soar suave ao invés de imponente. Mas não apenas suave, uma voz calma, uma voz compreensiva.

- Eu aprecio sua lealdade, filho. Faça uma boa viagem. Lembre-se, da próxima eu não poderei ajudá-lo. Seja consciente...

E quase como instantaneamente, o jovem via tudo aquilo se transformar em um grande espiral. Todo o ambiente sendo sugado pelo meio. Uma espécie de buraco negro se formava e inevitavelmente o jovem era levado junto. Daisuke sentia um enjoo e teve de se segurar seriamente para não vomitar todo o seu delicioso jantar do Centro Pokémon. Em falar em Centro Pokémon, o jovem identificava imediatamente o local quando o espiral finalmente parava. Estava de volta ao edifício.

Porém, não estava na comum sala de espera ou na sala de repouso, e sim na sala de emergências. A enfermeira Joy estava auxiliando os médicos que usavam aparelhos. A situação era extremamente tensa e Daisuke reconheceu imediatamente um aparelho conhecido como desfibrilador. Mas a pergunta era, quem era o corpo que os médicos tentavam intensivamente reviver?

O que fazer?

Ao tentar andar ele logo percebeu que aquilo era impossível. Não por qualquer dor ou qualquer outra coisa do tipo, pois ele ainda conseguia se movimentar tranquilamente. A questão era que ao invés de caminhar, Daisuke agora flutuava! E quando se aproximou dos médicos ele conseguiu chegar até a borda da cama sem que ninguém o percebesse, ele atravessou o corpo dos enfermeiros e funcionários do hospital e logo percebeu: ele era um fantasma.

Essa suspeita se confirmou quando ele vislumbrou que na cama jazia aparentemente sem vida não o corpo de Mimi, mas o seu próprio! Com um corte assombroso na perna que ia sendo costurado e pinado por uma médica. Os médicos tentavam inutilmente reviver o corpo que ainda estava sem vida, mas o jovem não esboçava nenhuma reação. Apesar de estar ali muito perto de seu corpo original ninguém parecia nota-lo.

O que fazer?

O único pensamento do treinador era começar a tentar entrar dentro de seu corpo físico, possui-lo de alguma forma. Rapidamente ele começou a entrar por dentro do nariz de seu corpo físico. O processo era doloroso e nada confortável e a medida com que ia entrando ia perdendo a consciência de sua forma espiritual.

De repente, ele começou a abrir os olhos. Abrir lenta e dolorosamente, estava com uma baita dor de cabeça e continuava na mesma sala de emergências. Ele olhou para si mesmo e percebeu que estava de volta ao seu corpo. Não conseguia se mexer e até mesmo respirar era difícil, ou quem sabe impossível, já que estava com aparelhos enfiados em cada centímetro de seu organismo.

Não demorou muito para que uma enfermeira percebesse que ele abriu os olhos para exclamar um "Oh, meu Deus!". Os médicos olharam para ela imediatamente e deixaram seus instrumentos caírem no chão, enquanto os itens de ferro e tantas outras coisas faziam um barulho estridente ao entrar em contato com o piso, o médico que parecia ser o responsável pelo rapaz perguntou de forma audível:

- Consegue me ouvir?

Como responder?