#003 - Um tiro no escuro

- Bom, obrigado pela informação... - respondeu o rapaz, desanimado. Despediu-se da enfermeira, recolheu Igniz e Ammy para suas pokébolas e atravessou a porta do Centro, encarando novamente a fria noite.

Erik caminhou a passos lentos. A conversa com a enfermeira apenas o fez relembrar o quão vaga era sua busca. Lucy poderia estar em absolutamente qualquer lugar. Exceto pelo shopping, talvez, já que a garota nunca gostou de fazer compras. O que era no mínimo irônico, já quea familia dela tinha dinheiro para comprar praticamente qualquer coisa. Ainda assim, só naquela cidade, Erik tinha uma porção de lugares para procurar.

O rapaz podia imaginar sua amiga andando calmamente pelo parque de onde acabara de sair, observando os pokémons à beira do lago. Ou sentada em algum banco no porto, seus cabelos azulados esvoaçando com o vento marinho. Ou até mesmo caminhando pela mesma rua que Erik vagava naquele momento. O jovem quase podia vê-la, logo à sua frente. Seu sorriso discreto, seus olhos brilhantes... Céus, como aquilo doía.

Erik não queria mais continuar. Cada fibra de seu corpo queria jogá-lo de joelhos naquela calçada. A única coisa que o mantinha de pé era aquela mesma visão que lhe torturava. O rapaz não podia se dar ao luxo de fraquejar. Com tudo o que estava em jogo, desistir não era, nem de longe, uma possibilidade.

Uma das sugestões da enfermeira ainda martelava na mente de Erik. Uma igreja seria um lugar que Lucy certamente visitaria. Na verdade, levando em conta a situação em que a garota provavelmente se encontrava, aquele seria um dos primeiros locais para onde ela iria. O treinador, enfim, partiu em busca da igreja mais próxima. Mesmo que Lucy não estivesse lá, ao menos uma luz para iluminar seu caminho ele haveria de encontrar.

O plano de Erik parecia ótimo, com uma pequena ressalva: o rapaz não tinha a menor ideia de onde ficava qualquer coisa naquela cidade. Como iria encontrar uma igreja, sem nenhuma indicação? Quem sabe se houvesse um mapa por perto...

O treinador já estava dando meia volta, para retornar ao Centro Pokémon e perguntar à enfermeira o caminho certo, quando a sorte pareceu lhe sorrir. Uma freira vinha andando em sua direção. O que era ligeiramente estranho, já que a rua parecia deserta um instante antes. Mas, o que mais lhe incomodava era a coincidência em encontrar uma freira, justamente enquanto procurava uma igreja. "Sorte", definitivamente, era algo que Erik não tinha com tanta frequência.

- Boa noite - cumprimentou o rapaz, escondendo sua leve desconfiança - Com licença, a senhora poderia me indicar o caminho para a igreja mais próxima?

Off:

Erik estava tão acostumado com a imagem de freiras como mulheres de mais idade, que seu cérebro demorou a processar que a bela e jovem moça à que conversava com ele também era uma freira. Mas ela parecia ainda mais incomodada que o rapaz, por alguma razão...

E ela falava sobre uma... Igreja do Absol? No mínimo irônico, depois do encontro de Erik em sua primeira rota. Coincidências demais...

- Obrigado pela ajuda. Então, eu vou indo. Boa noite.

O rapaz se despediu educadamente e tomou o caminho indicado pela moça,esperando que sua busca lhe rendesse, enfim, algum resultado.

As portas da igreja abriram assim que Erik bateu. Era difícil enxergar algo em meio ao salão mal iluminado. Antes que pudesse se atentar melhor a qualquer detalhe, ou que pudesse se aproximar do palco que se encontrava ao fundo, uma voz vinda das sombras chamou o treinador.

Erik respondeu, ainda sem enxergar o dono da voz.

- Bom, na verdade eu estou atrás de uma pessoa... - o rapaz tentava apurar sua visão, enxergar algo em meio à fraca luz - Uma garota, cabelos azuis, olhos roxos... O senhor teria visto alguém assim passar por aqui?