Sentada na recepção do Centro Pokémon, a moça suspirava profundamente quando Noah tocou no assunto mais uma vez:
- Sabe de uma coisa, Noah? Eu nunca tive muitas oportunidades na vida. Fui abandonada quando nasci e apesar de gostar de treinar Pokémons, eu realmente saí em jornada cheia de sonhos e sendo o maior deles descobrir minha real história, saber mais quem sou eu, de onde vim, quem são meus pais... - Seus olhos ficavam marejados, realmente a proposta tocara um lado bastante incomum daquela fria garota, que da forma como cresceu aprendeu a ser independente e a se manter reservada e sempre forte. - Talvez essa seja minha chance de crescer, conseguir algo maior. Talvez seja a oportunidade de ajudar quem me ajudou. - A garota se lembrava da sua família adotiva naquele momento.
Então ela se levantou, altiva, e arrumou a sua roupa e secou as lágrimas que estavam na iminência de cair. Além de tudo isso, aquela proposta mudaria sua vida completamente e poderia lhe conduzir a realizar o sonho de encontrar seus pais, além de permiti-la uma vida que ela nunca teve em meio aos golpistas que a criaram e nunca conquistaria como uma treinadora pobretona.
- Então, Noah, confio à você todos os meus pertences e meus Pokémons. Sei que que cuidará muito bem deles e que fará o melhor para cada. Nos conhecemos há pouco, mas sinto muita confiança em você já.- Concluía a moça com um meio sorriso, retirando os itens de jornada e as Poké Balls que não mais fariam parte do seu dia a dia e as entregando para o parceiro de caçada. - Obrigada por tudo, principalmente pelo apoio. E boa sorte...
A moça não tinha muita coisa agora em sua mochila e ao lado de Noah seguia para o aeroporto, estava na iminência de partir para um futuro que nem ela mesma poderia ter ideia de como seria. Kalos era um continente onde ela já estivera e inspirava criatividade e bons ares.
Espantado com aquelas revelações de Selena, Noah não conteve a vontade de abraçar sua amiga. Ele estava muito grato por tê-la conhecido e pela confiança da treinadora em confiar seus pertences e seus monstrinhos de bolsa à ele.
- Sei que terá muito sucesso, Selena. Lenoah não acabou aqui... E você sabe disso. - O jovem guardava tudo aquilo que a moça lhe entregou e caminhou ao seu lado até o aeroporto. Lá eles trocaram contato para poderem continuar se falando mesmo a distância, uma forte amizade já havia nascido daquela competição.
Noah avistou ao longe o trio da agência de modelos e os apontou para Montgomery. O jovem insistiu em um forte abraço de despedida. Agron estava triste por saber que não veria a garota novamente tão cedo, mas contente por saber que aquilo abria novas perspectivas para a moça, aqueles novos horizontes poderiam lhe trazer boas surpresas e muita felicidade. E era naquilo que o herdeiro dos Agron se segurava e cria.
Agora restava apenas esperar que ela embarcasse na aeronave e alçasse voo para a longínqua região de Kalos. A torcida por parte do rapaz era grande. Quando ela se fosse, restava à ele retornar ao Centro Pokémon para saber mais de Eevee e então definir os rumos de sua jornada.
Estou com sono --' Arrumarei sua box aos poucos. Afinal, tem muita coisa a ser adicionada...
A inquietação sentida por Selena acabou dando lugar uma decisão que mudaria drasticamente a vida da herdeira dos Montgomery. Pois depois de pensar um pouco, enquanto Noah fazia o possível para auxilia-la da melhor forma, Selena acabou decidindo seguir Domenico Dolce e largar de uma vez por todas sua vida como treinadora pokémon.
Dessa forma, enquanto a ex-equipe aguardava a recuperação do Eevee recém-entregado a enfermeira Joy, a garota passou todos os seus pokémons para o jovem Agron com a esperança que seu mais novo amigo seria realmente um treinador para cada um dos seres que lhe eram confiados. Então, depois de toda aquela cena no centro pokémon, a dupla seguiu ao aeroporto da cidade onde Selena, sem ao menos olhar para trás, se juntou ao grupo liderado por Domenico e se despediu de uma vez por todas do continente de Hoenn.
Com isso, agora, Noah se via novamente sozinho, porém um grupo de seis novos pokémons fazia parte da equipe do treinador que ainda nem havia saído de sua terra natal. Agora, enquanto apanhava a recuperada pokémon normal dos cuidados da enfermeira Joy, pokémon que carinhosamente se aconchegava entre seus braços, restava saber o que Noah faria daquele momento em diante. Afinal, com a mudança de Selena, o novato estava automaticamente eliminado do evento proposto pela Devon Corporation, e, isso, dava-o a chance de programar um novo caminho a ser traçado por ele.
Enfim, era o tempo se encarregando de dar uma nova chance a Noah Agron. Chance esta que certamente o rapaz não deixaria escapar tão facilmente.
O jovem ficava contente ao ver o Normal-Type se aconchegar nos seus braços. O garoto sentava-se em um dos bancos do Centrpo Pokémon enquanto acariciava a pelagem macia da criatura.
- Eevee, o que me diz de vir comigo? Prometo que serei amoroso com você e te protegerei de qualquer sofrimento. - Noah sorria, esperando que a criatura aceitasse a proposta e adentrasse em uma de suas Poké Balls.
O rapaz agora estava desclassificado da competição, mas isso não importava mais. Precisava aproveitar os últimos momentos em sua cidade natal antes de viajar para Aztlán a fim de participar da tal Copa União que estava à caminho.
Após todo aquele intenso momento de despedida, Noah se via agora sozinho no centro pokémon de sua cidade natal, porém a pequena Eevee que se aconchegava entre os braços do treinador eliminava qualquer sensação de tristeza que pudesse estar acompanhando o herdeiro dos Agron depois de todo aquele momento vivido. Assim, com um simples ato, o jovem mostrou o quanto ele estava preparado para dar continuidade no seu sonho de se tornar um grande treinador pokémon, já que, sem pensar muito a respeito, o nativo de Slateport propôs a selvagem Eevee, que agora olhava atentamente para ele, que ela o acompanhasse em sua jornada.
Por alguns instantes a Normal Type ficou sem reação, afinal, ela não sabia ao certo como seria sua vida junta a um ser humano e outros pokémons. Entretanto, com um singelo toque, a filhote encostou na esfera bicolor que Noah apontava-a a ela e acabou sendo absorvida pelo item de captura.
Enfim, depois de poucos chacoalhar, a pokébola sessou e a captura foi realizada. Adição esta que foi seguida pelo teleportar da esfera para a Storage do Agron, porque, depois de tudo o que ele viveu, sua box, pela primeira vez, estava completa, fato que explicava o desaparecimento da pequena Eevee. Sendo assim, agora, restava a ele se decidir pelo que fazer antes de enfim deixar sua terra natal em busca de explorar outros lugares de seu continente de origem.
O jovem sorria com a captura e ficava alguns instantes surpreso pelo fenômeno de teletransporte sofrido pela esfera. No final das contas ele havia capturado os dois monstrinhos que a competição havia requerido, mesmo estando fora, os frutos foram ótimos.
Noah então decidiu tirar o resto do dia para descansar. Poderia muito bem ir para casa ou para um dos hotéis de sua família, mas como um treinador Pokémon aquele não seria seu cotidiano. Além disso, ele nunca havia posado em um Centro Pokémon. O rapaz pediu um quarto e então se recolheu, relaxando e se planejando pelo resto do dia. Na manhã seguinte, o jovem voltaria a andar pelas ruas de sua cidade natal, à procura de algum desafio ou batalha.
Com o raiar do novo dia, Noah, que ainda tinha fresco na memória tudo o que ele havia vivido no dia anterior, logo juntou seu pertences, passou pelo refeitório do centro pokémon e tratou de se lançar pelas ruas de sua cidade natal em busca de qualquer desafio onde ele pudesse colocar em prática suas habilidades. Afinal após sua inscrição na Copa Hoenn, era do conhecimento do novato, que já não era tão novato assim, que caso ele quisesse avançar pelas outras fases do evento, ele precisaria mesmo aperfeiçoar a capacidade ofensiva de cada um de seus pokémons. Entretanto, mesmo conhecendo cada canto de Slateport, Noah não poderia destacar um ponto onde treinadores pokémons estariam a espera de qualquer desafiante, fato que certamente tornava está busca uma árdua tarefa.
Já haviam se passado alguns consideráveis minutos desde a saída do jovem Agron pelas ruas de Slateport, e até aquele momento, nada de diferente, uma vez que ele procurava por outros treinadores, havia sido observado pelo rapaz, era a mesma paisagem com habitantes, turistas, comerciantes e tantos outros indivíduos que se espalhavam pela arquitetura tradicional da cidade. Só que, aos poucos, Noah, que muitas vezes se perdeu em seus pensamentos, foi se dando conta do lugar que ele chegou após toda aquela caminhada, pois, ao seu redor, o herdeiro dos Agron notava a diversidade de galpões que se alinhavam em cada um dos lados daquela rua. Enfim, a busca pelo desejo de um desafio pokémon havia levado Noah a região portuária, onde galpões para o deposito de mercadorias eram nitidamente percebidos.
Noah tinha conhecimento da fama daquele lugar, e mesmo depois de viver uma tranquila aventura com Afonso e sua tripulação, ela sabia que não poderia abaixar a guarda, afinal, aquele lugar sempre foi responsável por render noticias não muito boas, o que sempre envolveu a índole das pessoas que ali trabalhavam. Contudo, antes que jovem encontrasse a melhor forma de sair o mais rápido possível daquele lugar, um homem de roupas rusticas que fumava um cigarro, tinha uma touca sobre a cabeça e que se encontrava em uma espécie de beco entre dois dos galpões chamou a sua atenção enquanto mantinha-se naquele lugar não muito chamativo:
- E ae treinador... Tá procurando alguma coisa? Eu posso te ajudar no que você precisar...
O olhar daquele homem em direção a Noah não era nada amistoso. Agora, restava saber o que o jovem faria diante daquela situação, pois, querendo ou não, ele precisaria mesmo saber como agir para não entrar em uma confusão naquele lugar nada agradável.
Distraído, o treinador Pokémon acabava adentrando na região portuária da cidade. Aquele ambiente nunca lhe fora muito agradável e ao se ver em meio às docas, Noah engoliu seco: já sabia da fama dali.
- Er... - O rapaz apenas emitiu um som não identificável quando foi abordado pelo estranho entre dois galpões. Ele buscava alguma resposta para a indagação, mas parecia não encontrar uma saída. - Sabe o que é?... - O garoto começava a resposta, mas sabia que não podia contar que estava perdido ali. - Sou um office boy de um dos restaurantes da rede Agron de hotelaria e meus patrões importaram algumas especiarias de Kanto, então vim a procura de informações sobre tais produtos. Pelo visto a entrega está atrasada e eles não estão nem um pouco satisfeitos.
No final das contas, a mentira parecia convincente. Noah sabia que aquele homem não o conhecia, ou pelo menos era o que ele esperava. O garoto torcia para que suas vestes não fossem julgadas e cruzava os dedos para que a interpretação tenha ficado boa o suficiente para que o estranho não desconfiasse de sua insegurança no momento da abordagem.
- Palmas para você Noah! Quem poderia acreditar que um jovem tão comportado como você seria um ótimo contador de historias. – Dizia o homem depois de aplaudir Noah enquanto saía do espaço dentre os galpões. – Entretanto, você deu o azar de estar diante de alguém que conhece muito bem quem você é. Acha mesmo que o povo dessa cidade não conhece um dos herdeiros dos Agron? Tsc, tsc... Mas enfim, toda esta história contada por você serviu até para alguma coisa, afinal, agora é praticamente impossível para você sair daqui sem entregar o que eu quero...
Para o desespero de Noah, o prepotente homem estava certo, já que, ao olhar para trás, o treinador se deu conta que, todo aquele diálogo inicial, serviu apenas como plano de fundo para que dois capangas se alinhassem no caminho que havia levado o jovem até ali. Enfim, naquele momento, Noah se dava conta que tinha acabado de cair em uma espécie de cilada para algo muito maior.
- Pois bem, vamos direto ao assunto. Quero ficar nesse blá blá blá mais não. Passe logo todo o dinheiro que você tem aí, itens, pokémons e o que mais de valor você tiver. Afinal, treinadores novatos sempre são ótimos alvos, principalmente quando eles são tão idiotas ao ponto de entrar em lugares que eles não chamados. Aaahhhh, antes que me esquece, caso você tente escapar, tenho certeza que meus dois amigos ali não irão facilitar nada para você...
Com isso, enquanto observa a dupla de capangas sacar uma pokébola cada um, restava saber como o Noah agiria daquele momento em diante. Porque, como o dito a ele, caso ele não cooperasse, teria que arcar mesmo com as consequências. O que, visivelmente, seria uma batalha pokémon.
Pupilas dilatadas, coração quase saindo pela boca, mãos frias e um suor gelado escorria pela face de Noah. Ele havia caído numa cilada e o homem sabia muito sobre Noah, tanto que o garoto nem poderia imaginar. O jovem torcia para que algum conhecido trabalhador naquelas redondezas o reconhecesse, mesmo que estivesse cercado pelo trio.
Não tinha para onde fugir e apesar de querer lutar por um instante, era impossível que o rapaz desse conta de três malandros. Realmente o time que ele carregava consigo era valioso, bem como seus itens e o dinheiro em si. Contudo, o rapaz não tinha tanto dinheiro como eles poderiam imaginar que um dos Agron teria. De qualquer forma, não adiantaria discutir ou tentar ludibriar o homem ou convencê-lo do contrário. Existiam três opções: entregar tudo passivamente, deixar que os ladrões o depenassem ou buscar ajuda de seus Pokémons. É claro que seria a terceira delas:
- Becca e Flaaffy! - Em um rápido movimento o moço sacava duas de suas esferas de armazenamento que liberavam em um piscar de olhos duas criaturas róseas. - Thunder Wave! Becca, use seu Ice Beam nas pernas deles! - Bradou Noah, buscando escapar. A onda de choque da ovelha poderia atrasá-los ao eletrocutá-los e permitir que a coral os congelasse para uma fuga um pouco menos conturbada.