001 - Little Miss Sunshine

Com os olhos no céu, Madeline sentia o calor do dia envolvê-la, também, com suas mãos sutis. Seu sorriso espelhava o sol; um feixe de luz que despontava em seu pequeno rosto de criança. Toda ela irradiava uma aura de alegria, agitação. O coração, aos pulos, não parecia interessado em se conter dentro do peito.

Mal saíra do laboratório seu Torchic já estava fora da pokébola: ele a olhava satisfeito, piando feliz. O'Brien abaixou-se, agachada na grama do jardim; seus olhos estavam mais ou menos à altura do pokémon. As mãos, antes em seus joelhos ossudos, abandonaram seu repouso para se enfiar outra vez na penugem de Torchic que piou alegre, em contentamento.

— Haha, você gosta que afaguem a sua cabeça. — Os dedos se enterravam nas plumas laranjas, dançando por entre elas em carinho — Vamos ser bons amigos, não vamos? Vamos sim. Vamos sim. Claro que vamos. — A cada afirmativa sua, o Torchic concordava, animado. — Você precisa de um nome. Mas... é difícil escolher um nome pra alguém. Você pode me dizer se não gostar, ok?

Ele concordou e a olhou expectante quando a mão da treinadora deixou o topo de sua cabeça para voltar ao seu antigo repouso, nos joelhos. Maddie baixara o rosto, pensativa. De quando em quando, Torchic soltava um pio de encorajamento. Pensara bastante ali, agachada na grama, até dizer assim:

— Mayu. — Como o Torchic a questionasse com os olhos, elaborou: — Vovó contava estórias de que, no Ehon Hyaku Monogatari, havia um grande pássaro, forte e poderoso, que cuspia fogo em seus inimigos. Ele também criava grandes fogueiras à noite para proteger os viajantes; por mais que eles se aproximassem, o fogo não os queimaria. Era como uma chama fantasma. Mayu era adorado como uma divindade em alguns lugares perto da província de Iyo. Eu... sinto muito se não lembro toda a estória. Mas como você é um pokémon de fogo, lembrei de Mayu e de como ele protegia as pessoas.

Torchic piou, alegre. Ao ouvir que Mayu era forte e poderoso, seu peito se inflara de tanto orgulho. Quando Madeline tornou a perguntar se ele aceitaria o nome em que pensara, o pokémon assentiu, vivaz. O sorriso de Maddie tornou a surgir, brilhante como o dia.

— Ok, ok! Agora você se chama Mayu. Vem cá, vem, Mayu! — Jogara-se para trás na grama, para que se sentasse, e tomara o Torchic nos braços, abraçando-o firme e arrancando pios satisfeitos da avezinha. Quando o apertava em seu abraço, Maddie sentia o calor que emanava dentro dele. Vira, ainda, um brilho de luz laranja emanando dele: eram as chamas em seu interior, acendendo em felicidade.

— Ah, eu estou tão feliz! — Levantou-se, trazendo Mayu consigo. Resolvera carregá-lo nos braços, abraçado, mesmo que o dia se estendesse quente e o calor de Mayu a fizesse derramar suor. — Acho melhor irmos andando, não é? Littleroot pode não parecer, mas é um lugar incrível. Tem muita coisa para se fazer aqui, para se ver... É uma cidade pequena, vê? Mas eu ainda não tive tempo de explorá-la inteira. Ah! Tem um lugar que eu quero muito ir! Meus tios disseram que aqui tem o maior cemitério de navios de Hoenn! Já pensou que legal? E acho que seria bom ver o mar antes de partirmos. Sei que você não deve gostar muito de água, sendo de fogo e tudo... Mas vai ser uma vista bonita, não é?

Meio contrafeito, Mayu piou, condescendente.

— Está decidido, então! É pra lá que nós vamos.

Assim, Maddie e Mayu atravessaram Littleroot, passando por ruas feitas de casas simples e por um povo modesto, simples, mas alegre e acolhedor. De algum modo, Maddie se sentia de novo em Floaroma, com tantas pessoas e sorrisos; rostos fáceis, de fala mansa e simpatia pura. Sentia que ficaria ali, se pudesse, só para lembrar o conforto de casa. Mas esse não era o caminho que escolhera, era? Littleroot podia se parecer com Floaroma, mas não era sua cidade natal, nem nunca seria. Além do mais, a jornada pokémon era onde os pés resolvessem a levar. E ela não estava a fim de parar em lugar nenhum; nomadismo sempre lhe soara bem.

Demorou um pouco para que as ruas dessem lugar a ladeiras e Maddie se visse descendo em direção ao porto e à praia. O sol fulgia sobre as águas que brilhavam como milhares de joias incandescentes. Os navios, atracados na baía, corroíam sob a ação do tempo; grandes gigantes que jamais perderiam a imponência.  Lá longe, na linha do horizonte, as nuvens se avultavam, brancas, mas aqui, acima de sua cabeça, o céu permanecia limpo e propenso a banhos de mar. Haveria trazido consigo seu biquíni? Não se lembrava de tê-lo posto junto com suas outras coisas quando saíra de Floaroma. Oh, deus. Mesmo dali da calçada, no alto e ao longe,, a água parecia convidativa.  Seus olhos então apanharam o aviso que proibia a praia aos banhistas: os altos níveis de estanho e enxofre na água devido a corrosão dos navios não eram saudáveis a seres humanos.

Maddie soltou um muxoxo, mas Mayu contorceu-se, feliz. Não estava a fim de esperar sua treinadora refestelar-se na água enquanto ele próprio observava da areia.


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