O Início de Uma Verdadeira Amizade

De barriga cheia, satisfeita, a jovem de belos cabelos ruivos iniciara sua primeira aventura, seu início como treinadora, pelos campos da rota 117. Mizz não era mais uma inocente garotinha, agora com seus dezoito anos já sobre sua cabeça... Era quase uma mulher... Ou não, para mim, a mera idade não significa maturidade, mas, veremos no decorrer desta aventura o quão madura essa moça é. A primeira visão da moça sobre aquela rota era uma imagem de algo que outrora já fora bem movimentada, de forma que no momento parecia um tanto quanto abandonada, uma vez que até a grama à seus pés pareciam crescer sobre os mesmos. Mas, apesar de aparentemente ter um ar um pouco desleixado, aquela rota ainda continuava com resquícios de sua antiga beleza e exuberância.

O sol da tarde iluminava sua cabeça, prejudicando parcialmente sua visão, mas, se a moça estivesse realmente disposta a se aventurar em uma jornada, a coisas assim teria que se acostumar, mas, fora isso, a sua estadia pela rota estava um tanto quanto agradável, sendo que sempre que passava por um canteiro de flores, o doce aroma delas chegava até suas narinas, poderia ser um tanto enjoativo de início mas logo que o enjoo passasse, poderia facilmente se deliciar com o aroma. Enquanto seu passeio continuava a ocorrer, a moça deparava-se com uma antiga construção...

A pequena construção era feita de madeira, pintada de branco, mas, que agora parecia que a tinta estava a se descascar, soltando lascas que ficavam ainda penduradas pela madeira como se por um único e tênue fio, lutando para ali permanecer. Seu telhado, parecia um tanto sujo, e pouco abaixo dele, sendo também um pouco acima de sua porta de principal acesso, uma placa dizia "Day-Care". Evidentemente, seja lá quem tomara conta daquele local, havia fechado as portas, desistido do ramo, ou então apenas se mudado para outra instalação que lhe fosse mais viável. Em frente à abandonada construção, porém, havia um canteiro de flores... Mas, este não parecia como os outros pelos quais a mossa havia passado anteriormente, suas flores pareciam mais vivas, de tons mais enérgicos e até mesmo o seu cheiro era mais suave. E acima daquelas flores, uma pequena criaturazinha parecia "dançar", indo de um lado para o outro, como se cuidasse das frágeis flores.


A criatura parecia ter seu corpo azul, ou pelo menos, sua cabeça, e parte de seu dorso, era desta cor, sendo que o restante de seu dorso, assim como seus membros, eram pretos, adornados por algumas formas arroxeadas. Sobre sua cabeça, logo atrás de suas antenas, uma forma curvilínea e arroxeada surgia. Suas delicadas asas moviam-se tranquilamente, como se não tivesse nada melhor a fazer do que cuidar daquelas flores, dispersando uma visível e fraca nuvem de polem de cor roseada, espalhando-a sobre as flores com o bater de suas asas . Qual seria a reação de Mizz diante de tal cena?

Torchic imediatamente saltava do colo de sua mestre, e logo se locava em posição de batalha, como se na intenção de protegê-la, afinal, apesar de pequena, a monstrinha sentia-se como se devesse protegê-la, uma atitude corajosa da pequena. Mas, a moça logo cortara o monstrinho, pedindo para que ela esperasse, Mizz parecia ter em mente uma abordagem um tanto mais tranquila, sem partir imediatamente para a violência, uma vez que a monstrinha das flores nem mesmo notara sua presença ainda. E desta forma, a moça decidia por aproximar-se do canteiro de flores.

Apesar de seus passos lentos e cautelosos, assim como sua voz naquele momento, a monstrinha se mostrara um tanto tímida, emitindo um leve choro por ter se assustado com a presença de Mizz, e com isso desestabilizando o seu movimento de polem, fazendo com que suas asas, ao girar seu corpo, espalhasse boa parte daquele pólen para todos os lados, formando uma espécie de cortina de pólem, o que de alguma forma, assustou a pequena Torchic, mas que neste momento lembrou-se das palavras de sua mestre, para que esperasse, não atacasse imediatamente, então ficou ali, lutando consigo mesma para fugir daquele pólem, batendo suas pequenas asas, que no caso eram apenas plumagens.

Ao receber o elogio sobre as flores, a monstrinha imediatamente reduziu sua altitude, e mergulhou entre as flores, de forma que seu corpo, boa parte dele, permanecera escondido pelas flores, apenas parte de sua cabeça era visível naquele momento, enquanto seus pequenos braços pareciam juntar algumas florezinhas perto de seu corpo, como se numa atitude desesperada tentasse mostrar à Mizz que aquelas flores eram suas, elas eram cuidadas pela pequena. Mas, não negou-se a corar levemente ao elogio, sobre a beleza daquelas flores. Mas, ao ser questionada sobre estar ali sozinha, a monstrinha, timidamente agitava sua cabeça positivamente por trás das flores.

Enquanto isso... O pólen de coloração rosada pairava pelo ar, agora em menor proporção ali por perto, uma vez que já viajara para cantos mais distantes. Era de uma certa forma, uma bela cena, uma vez que, ficara pelo ar, pairando com a menor brisa, pequenos e brilhantes esporos, pólen. Qual seria a reação da monstrinha neste momento? Illumise não parecia disposta a batalhar, tampouco sua intenção era de causar algum dano à Mizz, muito menos a Torchic, parecia uma tímida monstrinha a cuidar de seus afazeres diários. Ao final, a monstrinha apontava com um de seus bracinhos para a velha construção, como se tentasse dizer que morava ali... Havia morado ali a um bom tempo, sendo deixada ali por um treinador, que nunca retornara, mas ali morava, e quando a construção se mudou, havia se apegado tanto a estes jardins que ajudou a construir, que não conseguiu despedir-se, então, agora uma monstrinha selvagem, passava seus tranquilos dias por ali.

Enquanto isso... Á distância, longe o suficiente para Mizz nem mesmo desconfiar do que acontecia, a cortina de pólen viajava por entre arvores e arbustos... Encontrando-se com um grupo de Oddish, eles "farejavam" o ar, como se buscassem saber de onde vieram tais odores. Os monstrinhos estavam por ali apenas tomando o seu banho de sol da tarde, com seu corpo semi-coberto por terra, como se estivessem plantados sobre o solo, mas, quando sentiram o doce aroma, imediatamente, a maioria, saltou do chão, revirando boa parte de terra e desatou a correr na direção de Mizore, seus passos eram rápidos, bem, o mais rápido que poderiam com seus pequenos pezinhos ainda em desenvolvimento, e viajam entre as diversas arvores ali dispostas como em ziguezague. O que eles queriam?

Enquanto Torchic tentava se liberar de todo aquele polem que percorria ao seu redor, Mizz parecia não se incomodar com todo aquele efeito, pelo contrário, acreditava que havia, de certa forma, uma beleza naquilo, naquele tom rosado e brilhante que tomara conta da paisagem, caindo gentilmente sobre as flores ao seu redor. Então, a moça, notando que seu monstrinho sentia-se incomodado com aquilo, pede para que ele entre em sua mochila, como forma de protegê-lo, e sem muita confusão, o monstrinho saltava para o interior da mochila da moça, onde agora havia uma pequena brecha para que pudesse respirar. O pequenino ainda sentia aquele doce odor enjoativo, mas, pelo menos agora os esporos não afetavam mais seus olhos. Enquanto isso, a pequena Illumise, ao ouvir as palavras de Mizz, levantava um pouco seu corpo, permitindo que em sua face surgisse um torto, fino e fraco sorriso, sua forma tímida de agradecer ao elogio.

Porém, o sorriso estampado em sua face não permanecia ali por muito mais tempo. Pequenas ervas daninhas surgiram em cena, avançando até Mizore, que os obserava com atenção, esperando alguma reação dos pequenos, enquanto pedia para que sua Torchic permanecesse calmo por um instantes. Uma escolha prudente da garota, afinal, simplesmente cair na pancadaria com monstrinhos que você desconhece a intenção, nem sempre é algo positivo. Mas, para sua surpresa, os monstrinhos arroxeados a ignoraram, eles simplesmente se separaram ao alcançar a moça para então voltarem a se unir quando passaram por ela, avançando assim até o canteiro de flores, que era protegido também por uma cerca branca.

Os monstrinhos então ali pararam, diante de uma Illumise amedrontada, mas que com toda sua personalidade singela, tentava esboçar um olhar severo aos monstrinhos, como se pedisse para que se afastassem. Os Oddish, entretanto, pareciam agitados, de forma que um deles inclusive saltara pela cerca, mas fora atingida por um tapa de Illumise que o mandou de volta para o lado de seus outros amigos. A monstrinha parecia surpresa consigo mesma por ter feito aquilo, mas, não permitiria que eles simplesmente invadissem seu jardim de flores assim tão fácil. Mizz, por sua vez, encarava a cena, mas de que forma ela reagiria àquele momento?

Enquanto isso, um senhor, caminhava pelo campo gramíneo da rota 117, ele usava um avental esverdeado, sobre suas vestes já surradas, sua coluna parecia curvada, de forma que era necessário fazer uso de uma bengala de madeira, perfeitamente polida. Em sua cabeça, um chapéu de palha escondia parte de seus fios, que outrora foram castanhos, agora grisalhos, prateados. Ele caminhava com uma expressão serena em sua face, encarando tudo ao seu redor, como se revivesse histórias que por ali teve.

A jovem garota parecia aliviada quando notou que os monstrinhos não lhe fizeram nada, não lhe feriram nem provocaram mal algum, quer dizer... Não para ela. As ervas daninhas simplesmente a ignoraram e logo avançaram até a cerca branca, agora já um tanto mais amarelada, que os separava do jardim de flores de Illumise. A monstrinha conseguira defender seu precioso "lar" com um forte tapa que mandara o primeiro que tentara saltar pela cerca para trás dela novamente. Repetiu o processo algumas vezes, enquanto Mizz tentava dialogar com os monstrinhos, que em momento algum mostravam sequer se importar com a presença da moça. Illumise, entretanto, começava a demonstrar sintomas de cansaço, seu corpo parecia mais lento, de forma que o bater de suas asas já não tinham mais tanta frequência, e em um de seus tapas, o monstrinho quase não fora lançado para fora da cerca, seus olhos chegaram a tremer de medo daquela criaturazinha invadir seu jardim.

Torchic, por sua vez, permanecera até então no interior da mochila de sua mestre, com apenas a sua cabeça para fora, encarando a comoção ali. A voz de Mizz, porém, ecoava na mente da monstrinha, repetindo-a várias vezes as palavras "Espere mais um pouco...". Mizz não havia dado a ele qualquer tipo de comando, nem pedira para que ajudasse a inseta a proteger seu canteiro. Mas, por si só, a pequenina forçara seu corpo para fora da mochila, e com um agitar de suas plumas, abriu seu bico, prestes a preparar seu movimento contra as ervas daninhas... Do fundo de seu bico, uma rajada de brasas incandescentes foram projetadas, emitindo um brilho avermelhado, quente, que logo se combinara com algo maior... Algo muito maior.

As pequenas brasas de Torchic se misturaram com uma forte rajada das mesmas brasas, mas, estas pareciam mais ágeis, velozes, emitindo um calor muito mais intenso e uma luz mais viva. Illumise, no mesmo momento, desesperou-se, ao notar as brasas, emergiu para o "mar" de rosas e outras flores, como se para se proteger da mesma. As brasas maiores, atingiram perfeitamente seus alvos, não errando uma brasa sequer em seus alvos, que imediatamente caíram imóveis sobre o chão, quanto as menores... Atingiram a "linha de frente" das flores, ultrapassando a cerca por algumas brechas. Torchic olhava para sua mestre um tanto espantada, como se soubesse que aquele poder todo não lhe pertencia, e ao virar-se, deparou-se com outro monstrinho de sua espécie, um Torchic, que parecia um tanto maior que o de Mizore, como se seu tamanho representasse de alguma forma a grande diferença de poder entre um e outro. Seu corpo, parecia ainda emanar um brilho avermelhado, como se suas próprias plumas estivessem emitindo aquele brilho das brasas. Atrás do monstrinho flamejante estava prostado um senhor, já curvado sobre sua bengala. E atrás do senhor, surgia uma segunda criaturazinha, um Combee, de corpo inteiramente amarelado, que com uma boa velocidade projetou-se até as flores, e ali começou a agitar suas asas na direção das flores, sua brisa era leve, como se dominasse tal técnica perfeitamente. A leve e fria brisa que o monstrinho emitia foi capaz de parar o efeito das brasas sobre as flores sem mais danos.


Quando tudo parecia ter voltado à tranquilidade, a pequena abelha retornou para seu mestre, circulando sua cabeça, enquanto Torchic, o que aparentemente pertencia ao senhor, recuara até suas pernas. O senhor, entretanto, acompanhado pelos monstrinhos, à passos lentos, guiou-se até Mizz e o ainda confuso Torchic, que ao tentar ajudar quase botara fogo nas preciosas flores de Illumise. - Olá, minha jovem. - Disse o homem enfim, sua voz um tanto abafada e fraca, mas ainda assim audível, um singelo e honesto sorriso marcava sua face. Seu olhar então viajou de Mizz para Illumise, que aos poucos, atrevia-se a botar sua cabeça para fora das flores. - Ah! Então ai está a pequena... - O tom de voz do senhor indicava que de alguma forma ele já a conhecesse. Como se viesse ali frequentemente para ver aquelas flores... Afinal, o que mais um senhor daquela idade poderia fazer? Sem muita enrolação, o homem sorriu e emitiu. - Illumise... - Seu tom de voz parecia ainda mais tremulo que antes. - Você fez um belo trabalho com esse jardim... Fez sim. Mas veja bem, este lugar fechou... Entendo que tenha tido ele como um lar, e preservar este jardim é a forma que você se mantem em casa, mas, você não poderá protegê-la para sempre. Nem sempre poderá contar comigo, ou com pessoas como essa jovem que "tentou" te ajudar. - Dara enfase no tentou, como se apesar da atitude de Mizz, ou de Torchic, não foram capaz de ajudar efetivamente, pelo contrário, se tudo tivesse continuado, com a falta de controle de Torchic em suas habilidades, o jardim teria se acabado ali mesmo. A monstrinha, por sua vez, parecia choramingar por sobre as flores, desviando olhares para a construção, para as flores e para o senhor, repetindo sempre os mesmos lugares, seus olhos começando a marejar.

- De qualquer forma. - O homem virou-se, e ao final, encarou Mizz, um olhar tranquilo e sereno em sua face.  - Obrigado. - Para a surpresa de Mizz, havia um forte tom de honestidade em sua voz, como se realmente fosse grato à garota. Enfim... Qual seria a reação de Torchic e Mizz diante da nova situação?