Mt. Pyre - A Birth in the snow peak.

A mensagem naquela tumba era justamente o que o rapaz esperava, o que o rapaz viera procurar naquela montanha, o lugar onde a antiga família real de Hoenn fora enterrada. No entanto, aquilo não era como o rapaz esperava... Era uma bela e enorme construção, sem dúvida, mas, esperava mais... Esperava sentir algo diferente, algo grande quando a encontrasse, apesar de nada de tão diferente ter acontecido. No entanto, parado ali diante daquela bela construção, Lys ouvia mais uma vez a voz ecoar em sua cabeça, desta vez eram palavras que o rapaz conseguira facilmente decifrar, era uma voz infantil que não havia uma fonte concreta ao rapaz que agora encarava a cada canto do salão em busca daquilo que possa ter dito tais palavras, e ao virar-se, deparou-se mais uma vez com o garoto.

O garoto estava alí. Silencioso. Era realmente misterioso. Desaparecia e Aparecia. Poderia ser dele aquela voz que o chamava? Mas, de qualquer forma, deparar-se com o garoto ao virar-se causou um breve espanto no rapaz, que inclusive recuara alguns passos, mas após recuperar-se do susto, curvou levemente sua coluna, Skorupi e Pancham não pareciam tão a vontade com o contato com o garoto, tampouco estava Lys, mas ainda assim, tinha de fazê-lo. Não demorou muito para então proferir. - Foi você? - Sua voz tremula, sua face pálida. - Foi você quem me chamou? - Ao lembrar-se então que não havia se apresentado, fez uma breve, rápida e atrapalhada reverência, continuando. - Alias... Sou Pancham. Digo... Lysander.

Um fino sorriso surgira na face do rapaz ao ver que o garoto também achara engraçado seu pequeno enganado ao apresentar-se como Pancham. O Pequenino ao seu lado lançara-lhe um olhar um tanto confuso naquele momento, mas não demorou muito para que um discreto sorriso surgisse também na face do pequenino, que agora examinava o garotinho, como se se perguntasse "É só isso? Que mal esse garotinho poderia fazer?" Skorupi, por sua vez, finalmente colocara sua cabeça para fora do amontoado de tecido que agora formara em frente aos braços de Lysander, onde o pequeno escorpião estava embrulhado. Sua cabecinha, assim como Pancham, também examinava o rapaz, mas, diferente do filhotinho de panda, ele não parecia tão certo de fazer contato com ele.

Não demorara muito também para que o garotinho explicasse a Lysander toda a situação, ou pelo menos era o que parecia ao rapaz. Que agora tranquilizara-se ao notar que ele poderia conversar tão tranquilamente, já que o rapaz acreditara que um fantasma, se é que realmente fantasmas existissem, e não fossem apenas pokémons, dificilmente conseguiria comunicar-se daquela forma. Na verdade, a visão que o rapaz teria de um fantasma era a de alguma coisa incorpórea, apenas uma presença sobrenatural que não teria nenhum outro propósito a cumprir a não ser causar o pânico em suas vítimas. Estava certo de que poderia confiar no garoto, acreditava em sua história.

No entanto, ao ver o garoto jogar-se diante de seus pés e fazer seu clamor, o rapaz assustara-se, de forma que até mesmo recuara alguns passos naquele momento, e o encarara por alguns instantes, até então dar um passo para frente e enfim dizer. - Ora. Levante-se. - Sua voz soava um tanto firme, mas ainda assim tentava ser gentil, apesar desta talvez não ser sua maior característica. - Se você precisa de tanta ajuda a ponto de se ajoelhar a meus pés para que eu o faça, eu o farei. - Seu sorriso se alargava em sua face, apesar de no momento seguinte ele vacilar um pouco. - Mas... Não estarei sempre aqui... Teriamos de pensar em algo mais eficaz para impedir isso... Veja bem... - Levantara seu olhar, tentando pensar em algo. - Você mesmo, me assustou, e muito, com esses seus sussurros. Tudo que temos de fazer é assustá-los. - Seu olhar brilhava por um momento. - Duvido que retornarão depois de um belo susto. - Pancham, que agora assim como seu treinador havia confiado no garoto, decidira então saltar das costas do mesmo, descendo aos pés de seu treinador. - Então... Teremos de esperar a noite, certo? Quer dizer... - Retomava o rapaz ao lembrar que seu ouvinte era ainda uma criança. - Eu terei. Sua mãe sem dúvidas ficaria preocupada se não voltasse para o jantar.

Ah ótimo. Além de tudo aquele garoto ainda era um órfão... Mas, de que forma Lys poderia imaginar que ele não mais tinha seus pais? Bem, o vira em uma Lápide a alguns momentos... E o que um garotinho poderia fazer em um cemitério? Dificilmente ele teria tantas relações mundo a fora, de forma que muito provavelmente o rapaz deveria ter deduzido que quem lá estivesse deveria ser no mínimo parente próximo do garoto... É, fora estúpido, e isso se materializara na expressão de pavor que tomara conta da face de Lysander, seus olhos por um momento perdendo o brilho. - Poderia ser apenas a vó dele... - Pensara Lys consigo mesmo por uma fração de segundo.

- Bem... Sendo assim.... Perdão pela minha indiscrição. - Emitiu o rapaz enfim, recolocando-se a uma posição mais ereta, formal. - Não preciso me preocupar, é? Não tente parecer tão forte. Ainda é apenas um garoto. Nem mesmo eu sou tão forte para ficar sem comida por tanto tempo. Mas de qualquer forma... Se diz que não preciso me preocupar... Não me preocuparei. - Mentia descaradamente o jovem mono treinador. - Mas, se as coisas saírem do limite, é bom me obedecer. - Um sorriso surgia em sua face enquanto caminhava até a grande tumba ali presente, fazendo um gesto para que o rapaz o seguisse. - Se vamos mesmo fazer isso, preciso que conte tudo o que sabe desse lugar, dessas pessoas. E, talvez, quem sabe, se sobrar tempo, sobre você. Agora... Pegue um pacote de bolachas de minha pasta. - Indicava à pasta presa à seu ombro por uma única alça. - Pancham deve estar com fome, e Skorupi acaba de nascer, então acho que ele também adoraria uma bolacha, não é? - Sua face se voltava ao escorpião, que por um momento também o encarava, como se realmente desejasse algo para mastigar... Sua primeira refeição... Em um cemitério... Não é lá a cena mais linda do mundo, mas ainda assim, Lys acreditava haver uma certa graça. Pancham já esticara sua pata ao garotinho, esperando sua parte. - Coma alguma também.

Além de Órfão de pais o garoto ainda morava ali? Em um cemitério? Como seria possível alguém privar-se de todos os confortos do mundo para então morar em um cemitério? A face do rapaz ganhava um tom ainda mais branco diante daquela nova informação que o rapaz liberava sobre si. - Vo... Você mora aqui? - Sua voz trêmula enquanto virava sua face aos cantos do salão, como se tivesse imaginando como seria morar por ali, ao final, voltou-a para o garoto. - Mas... Por que aqui? - Perguntava então o rapaz, mesmo que em seguida o rapaz mesmo respondesse a pergunta, bem, respondesse, quase em um sussurro, com aquilo que achava ser o motivo. - A não ser que seus pais estejam aqui...

No entanto, não demorara muito para que o rapaz voltasse a adotar uma postura mais formal, encarando agora a construção. - De qualquer forma... Se seus pais tiverem sido realmente bons pais, aposto que eles não gostariam de vê-lo morando em um cemitério, mesmo que esta fosse a forma de ficar mais próximo deles. - Sua face virava-se levemente ao rapaz. - Não tem nenhum outro lugar para ficar que não seja aqui? - Apesar de suas palavras não serem necessariamente delicadas, em sua voz o rapaz tentava passar uma certa sensação de compaixão, mesmo que não adiantasse de tanta coisa. Ao final, retirara do bolso de sua pesada jaqueta seu celular, de forma que pudesse enfim verificar a hora... Com certeza ainda teria muito tempo a se esperar até meia noite.

Aquele lugar, como Lys já havia confirmado a pouco, era realmente mais quente que o exterior da caverna, onde o frio predominava sem dúvida alguma, contando até mesmo com a presença de flocos de neve que salpicavam a paisagem, e com isso em mente, decidiu por enfim livrar seus braços, depositando Skorupi no chão, ainda embrulhada em seu cachecol. Não demorou muito para que a pequenina se livrasse daquele amontoado de tecido e enfim se acomodasse sobre o mesmo, seus olhos fixos no garoto, como se esperasse algum passo em falso do mesmo, com sua cauda sempre para cima. - Espero que não se incomode. - Dizia Lys enfim, um tom de voz um pouco preocupado, para a criaturazinha a seu lado, que para Lys apenas realizara um breve aceno positivo com sua cabeça, indicando que realmente não se importava em ter um pouco mais de liberdade, na verdade, agradecia, afinal, não era por que ela era um recém nascido que não poderia andar, era um Pokémon, não um ser humano.

Lys, agora com seus braços desocupados, se levantava, havia uma mistura de ar ríspido e sério em sua postura. - Entendo que possa sentir saudades de seus pais. Também sinto falta de minha mãe. Mas, este não é um bom lugar para se viver... - Seus olhos corriam mais uma vez, um olhar um pouco repreensivo em sua face, mas, logo em seguida, um brilho especial percorreu seu olhar e sua expressão se suavizou, abandonando a tal pose usada a pouco. - Daria tudo para um momento a mais com ela. Com minha mãe. - Sua face voltava-se um pouco para baixo. - Ainda mais com alguém ainda em sua idade... - Então adotava um ar mais preocupado conforme as palavras saiam de sua boca. - Você não pode morar sozinho. Deveria ter alguém que cuidasse de você, alguém se preocupasse com você. - Sentia-se estar, talvez, sendo meloso demais, então não demorou muito para recolar-se em sua posição mais séria. - Eu o ajudarei dessa vez... Mas, precisa me prometer que irá procurar outro lugar para morar, que irá permitir que seus pais "descansem". Agora... Me mostre o lugar. - Disse o rapaz, já se dirigindo à saída daquela tumba em questão. - Me mostre o que podemos fazer para assustá-los.