[Rota Especial] A Reunião

Rota 116, manhã de segunda-feira.

Assim como o humor da grande maioria das pessoas que retornavam a rotina após um fim de semana, aquela segunda-feira estava nublada. A nebulosidade era alta nos céus, deixando várias pessoas questionando se choveria ou não. Mas isso não impedia a população de Rustboro de seguir com seus afazeres. Afinal, segunda-feira é dia de trabalhar.

E a rotina de trabalho também continuava para dois treinadores iniciantes. Ruby e Saphire estavam em uma sessão de treinamento, fazendo o possível para fortalecer suas equipes. O aspirante a coordenador havia montado um pequeno circuito de obstáculos e orientava seu Torchic a passar pelos mesmos, enquanto Saphire treinava sua pequena Budew.

Mas as reações a aquele treino eram completamente opostas. O garoto parecia se divertir ao correr lado a lado com seu Pokémon. Ele sentia a adrenalina em seu sangue e isso o animava. Já Saphire, estava claramente descontente e ofegante. Quando eles terminaram seu terceiro circuito do dia, garota exigiu uma pausa e logo jogou-se no chão.

– Maldito seja o momento em que eu achei que essa seria uma boa ideia! – O tom de voz da treinadora era ameaçador. Se Ruby não a conhecesse, teria motivos para sentir medo. – Acho que seria mais produtivo para nossos times simplesmente batalharmos!

– Você sabe que eu não sou fã de batalhas. – Ruby foi direto em sua resposta. – Além disso, treinamentos como esse fazem bem para a nossa saúde e são tão eficientes quanto batalhas para nos fortalecermos! Não é mesmo, Torchic?

O pequeno Torchic fez um sinal positivo com a cabeça, mas, assim como Saphire, ele parecia estar um pouco desanimado com algo. Seu dono foi observador e logo percebeu que havia algo de errado. Preocupado, aproximou-se para conversar com ele, enquanto a companheira de treino apenas debochava da situação.

– Viu? Até seu próprio Pokémon não gostou do treino!

– Não teve graça, Saphire! Estou preocupado com Torchic! Acho que vou leva-lo para o Centro Pokémon agora mesmo!

Mas antes que o treinador pudesse fazer qualquer coisa com seu Pokémon, o corpo do inicial do tipo Fire começou a brilhar intensamente. Ambos treinadores já haviam presenciado tal fenômeno e sabiam muito bem do que se tratava: ele estava evoluindo! O pequeno Torchic havia enfim se tornado um Combusken!


– Parabéns, amigão! Estou orgulhoso! – O garoto parabenizou seu inicial, abraçando-o logo em seguida. – É, Saphire... Pelo visto meu treinamento funcionou!

– Ok, você tem razão! – A treinadora deu o braço a torcer. Logo, direcionou a palavra para sua Budew. – E você? Como está se sentindo? Nenhum brilhinho... nada?

A resposta da Budew foi simples: ela simplesmente bufou e virou a cara para sua treinadora. Ruby riu um pouco daquela cena, enquanto Saphire fez o mesmo. Ela e sua Pokémon brigando mais pareciam crianças.

– Depois de ver os resultados desse treino, eu estou até animada para desafiar o ginásio de Rustboro!

– Mas você vai ter que esperar. Lembra que o ginásio está fechado hoje? Reunião dos líderes...

Aquele comentário de Ruby o deixou pensativo. Seu pai também era líder de ginásio e participaria daquela reunião. Qual seria a pauta tão importante que faria todos os líderes, não só de Hoenn como também de Kanto e Johto participarem? No fundo de seu coração, o coordenador esperava que seu pai não se metesse em problemas.

Rustboro City, segunda-feira a tarde.

Apesar dos diálogos descontraídos entre alguns líderes de ginásio que não conversavam há muito tempo, o clima pré-reunião era de pura tensão. Muitos já sabiam da gravidade da situação e até preferiam não conversar sobre os ocorridos. Mas, infelizmente, era uma pauta que precisava ser discutida.

Não demorou muito para que Brock e Roxanne, os anfitriões, iniciassem a reunião com o assunto mais discutido nos últimos meses: Kanto e Johto. As chuvas continuavam fora de controle e estava cada vez mais constante a visita de especialistas e líderes de ginásio para aquela zona de caos para resgatarem espécies ameaçadas de extinção. Muitos dos líderes começaram a fazer relatórios a respeito de suas novas rotinas e estava bem claro que todos eles buscavam em seu tempo livre arranjar alguma forma de auxiliar.

– No início eu estive tão sem reação em relação aos fatos que eu nem sabia por onde começar. – Relatou Misty, deixando transparecer um certo tom de melancolia em sua voz.  – No fim das contas, decidi começar minha busca nas cidades marítimas de Hoenn, que já estão acostumadas a lidar com os oceanos revoltos.

A grande maioria dos líderes parecia interessada no depoimento da líder. Ela relatou que aprendeu muito com o modo de vida dos pescadores e explicou como eles fazem para prever mudanças climáticas. Mas logo a conversa começou a focar num ponto de vista mais mitológico, o que fez com que alguns integrantes mais céticos da banca, como Sabrina e Mr. D, passassem a não dar a devida atenção para o relatório.

– Quando houve a confirmação de que o lendário Kyogre estava envolvido, comecei também a ouvir lendas locais. Qual seria a melhor maneira de combater uma lenda, se não com outra lenda? Comecei a explorar os oceanos em busca da Blue Orb, pois ela supostamente é capaz de controlar o aquático.

Mais uma vez os mais céticos não deram tanta atenção para os relatórios da Misty. Já outros, como Brock e Morty, pareciam encantados com os depoimentos da especialista no tipo Water e pareciam concordar com o ponto de vista da ruiva.

Mr. D aproveitava aquele momento para usar seu celular discretamente. Sabrina percebia isso e olhava para ele com certa estranheza. Os dois trocaram olhares intensos e ficou um clima estranho entre eles. Mas Misty continuava seu diálogo e eventualmente aquela troca de olhares teve que parar.

– Recentemente eu encontrei uma caverna nas proximidades de Pacifdlog que parece ter uma espécie de porta lacrada. Algumas inscrições estavam nas paredes, mas eu não consegui decifrá-las. Pretendo retornar para lá em breve com equipamentos de captura de imagem para levar para algum especialista.

Com o fim do relatório de Misty, outros também foram feitos. Pryce disse que tem revirado a Shoal Cave de ponta a ponta pois acredita que aquele é um local provável onde a Blue Orb pode ser encontrada. Tate e Liza tem o auxiliado nas buscas, mas sem sucesso.

Gwen e Winona estão trabalhando em conjunto com o Weather Institute em busca de soluções para a crise climática, mas o achado das ruínas em Mountrock acabou atrasando um pouco as pesquisas.

Brock se mudou para Rustboro onde toda sua família pode morar e estudar com tranquilidade na escola de Roxanne. Em seu tempo livre, ele e a líder do tipo Rock de Hoenn estão procurando soluções junto dos administradores da Devon Corporation.

Por fim, havia chegado a vez de Mr. D prestar seu depoimento. O ponto de vista o homem era interessante e a solução apresentada, apesar de um pouco radical, poderia ser a solução que todos esperavam.

– Acho que a verdadeira solução de nosso problema está no uso da energia que os pokémons liberam quando atingem a Mega Evolução. Se coletarmos energia o suficiente, poderemos deter Kyogre. – A observação do homem foi interessante. Aparentemente ninguém havia pensado nisso ainda. Todos ficaram esperando que ele desse mais detalhes de sua sugestão. Infelizmente ficaram desapontados, pois esse não era o interesse dele.  – Mas nós não estamos aqui para falar disso. Viemos falar a respeito do Team Aqua, não?

Enfim Mr. D havia cutucado na ferida que ninguém queria comentar. O Team Aqua era o provável responsável pelo despertar de Kyogre. Nos últimos meses, eles não só foram os causadores da destruição provocada em Kanto e Johto, como também por uma onda de terror espalhada pela região de Hoenn. Muitos dos integrantes da equipe criminosa estavam cometendo crimes, aterrorizando a população local e também atacando treinadores desavisados em rotas.

– Acredito que estamos sendo coniventes demais com a situação. O Team Aqua já está ficando conhecido em toda Hoenn na base do boca a boca. Com uma justificativa estupida de que não queremos causar pânico generalizado, estamos impedindo que a mídia veicule notícias a respeito dos crimes que eles têm cometido.

Nesse momento, alguns líderes de ginásio pareciam concordar com D. A decisão de impedir que a mídia se manifestasse a respeito foi um tanto quanto polêmica na época. Os líderes ficaram divididos quanto a aquela questão, mas com a população de Hoenn sobrecarregada ao receber imigrantes de Kanto e Johto e com a população do local atingido pelo clima caótico exausta física e emocionalmente, acharam que seria melhor evitarem polêmicas. Mr. D continuou seu discurso, trazendo uma proposta tão polêmica quanto à primeira.

– Assim como a criminalidade em Hoenn tem crescido nos últimos tempos por causa das ações do Team Aqua, os crimes de xenofobia também aumentaram. Essa imigração forçada não foi apoiada integralmente pela população de Hoenn e crimes de ódio contra pessoas inocentes de Kanto e Johto estão cada vez mais comuns. – Muitos dos líderes não gostavam da observação que Mr. D fazia, mas era algo real. – Acho que já está na hora da mídia começar a falar sobre os Aqua. Só precisamos saber como abordar o tema. Vilanizar o Team Aqua e começar uma caça as bruxas pode trazer consequências um pouco perigosas, mas talvez seja uma solução antiética necessária para unir todas as nações em busca de um bem comum.

A ideia de Mr. D poderia ser um tanto quanto irresponsável, mas alguns líderes pareciam concordar com o ponto de vista dele. Afinal, se fosse para colocar a culpa de toda aquela situação em alguém, o Team Aqua seria o principal candidato. Mas seu discurso ainda não havia acabado. Ele pegou seu celular, trocou algumas mensagens com alguém rapidamente e então fez um anúncio para os líderes de ginásio:

– Por mais que nós, líderes de ginásio, possamos passar confiança para a população, não acho correto nos envolvermos nessa situação. Nossa revolução precisa de um nome, de uma causa. E eu tenho a pessoa perfeita para isso. Se não se importam, trouxe um convidado.

A porta da sala de reuniões se abriu. Um homem com vestes vermelhas e utilizando um curioso óculos com uma pedra colorida encravada em sua lente esquerda adentrava a sala. Com um sorriso em seu rosto, ele sentou-se em um dos lugares livres. Ninguém o conhecia, mas pareciam curiosos com a proposta que Mr. D tinha a fazer.

A entrada daquele homem trajando roupas vermelhas causou certa estranheza na grande maioria dos líderes. A que mais parecia incomodada com aquilo era Sabrina, que demonstrava certa inquietação diante não só da presença daquele homem, como também na relação dele com Mr. D. Ainda assim, ela preferiu permanecer em silêncio, aguardava para ver o que aquela dupla tinha em mente.

– Boa tarde para todos os líderes aqui presentes. É uma honra estar dialogando com vocês. – O homem misterioso se apresentou, utilizando o tom de voz mais cordial possível. – Eu me chamo Maxie e sou representante de uma organização similar ao Team Aqua, porém, com propósitos completamente distintos. Vocês podem nos chamar de Team Magma.

Se o tom de estranheza já era inquietante, bastou Maxie apresentar-se para que alguns integrantes da banca começassem a reclamar e olhar estranho para o homem e também para Mr D. Apesar da estranheza de todos, ambos permaneceram calma e fizeram questão de esclarecer todo e qualquer mal entendido ali.

– Team Magma? Vocês são a outra equipe que tem cometido crimes pela região de Hoenn! – A acusação de Roxanne foi simples e direta. Obviamente os questionamentos vieram logo em seguida. – Como vocês esperam ter a confiança dos líderes de ginásio se vocês também possuem ficha suja?

– Já esperava que a reação inicial de todos fosse ser algo parecido com isso. – Argumentou Maxie, com um sorriso ladino em seu rosto. – Acontece que possuem dois grupos distintos de pessoas que estão utilizando o nosso nome numa tentativa de nos incriminar. Um deles é um grupo misterioso que tem feito crimes um tanto quanto bizarros em nome de Groudon. O outro é apenas um grupo de adolescentes rebeldes que acham que podem sair impunes utilizando nosso nome. Acredito que ambos tenham alguma relação com o Team Aqua, tentando nos incriminar. – Enquanto falava, o homem abria uma pasta que havia trazido consigo e dela retirou um documento, colocando-o no centro da mesa para que todos pudessem ver. – Minha equipe possui propósitos nobres e não temos motivos para nos esconder. Neste documento constam todos os dados pessoais dos integrantes de minha equipe: documentos, endereço, número de telefone. Se verificarem, perceberão que meus dados também estão nessa lista. E mais: todos os integrantes não possuem ficha criminal! São todos inocentes!

Alguns dos líderes de ginásio verificaram os documentos e perceberam que nele também constavam os ideais da equipe. O Team Magma mais parecia com uma empresa do que com um grupo de pessoas com um ideal comum, como o Team Aqua. Isso foi o suficiente para que todos decidissem dar uma chance de Maxie e Mr D. continuarem com suas explicações.

– Utilizamos Groudon como nosso símbolo porque ele representa nossos ideais. De acordo com as lendas, ele foi o Pokémon criador de todas as terras da região de Hoenn, trazendo não só um lar para humanos e pokémons, como também muita prosperidade. – As palavras de Maxie tinham um grande impacto em todos ali presentes. Ele falava de seus ideais com muita paixão, o que garantia ainda mais credibilidade em seu discurso. – Os Aqua prometem trazer uma nova era para a humanidade utilizando ideais extremistas. Nosso objetivo é o mesmo que o deles: uma nova era para a humanidade e para os pokémons. Mas queremos usar a racionalidade e a inteligência para resolver tudo de forma efetiva e segura. – O homem ajeitou seu óculos e enfim finalizou sua apresentação. – Estamos divididos em três grupos: um voltado apenas para pesquisas, buscando todas as soluções possíveis para deter Kyogre. O segundo grupo cuida da parte administrativa, pois queremos não só crescer como também formar alianças com a população e o governo. Por fim, o terceiro grupo é de treinadores que eu mesmo fiz questão de recrutar. Eles sempre serão facilmente identificáveis por seus uniformes. O objetivo deles? Circularem pelas cidades e rotas querendo impedir ações de qualquer vândalo do Team Aqua.

Com o fim de sua apresentação, Mr. D o aplaudiu e levantou-se, ficando de pé próximo a ele. Os outros líderes agora os observavam de forma um pouco diferente. De fato o Team Magma parecia ser um excelente aliado na luta contra o Team Aqua. Talvez eles fossem até mesmo capazes de deter Kyogre e salvar Kanto e Johto!

– O que vocês acharam? – Questionou Mr. D, expressando grande satisfação em seu olhar. – Temos aqui o rosto de nossa revolução? Creio que os ideais apresentados por Maxie merecem aparecer na mídia.

– Então... Mano... – Respondeu Brawly, com um pouco de receio em sua voz. – Achei esse negócio aí muito daora, mas é melhor tomar cuidado com as paradas do Team Aqua como vilão, saca? Eles podem ser bandidos, a gente não quer guerra, a gente não quer morte. A gente só quer paz e justiça, tá ligado?

– Entendo perfeitamente. – Respondeu Mr. D. – Talvez eu tenha exagerado um pouco nos meus termos, mas a reunião serve justamente para definirmos como abordar essa questão na mídia.

E assim, com a presença do líder da Equipe Magma na reunião, os rostos que representam os treinadores das regiões de Kanto, Johto e Hoenn começaram a discutir como falariam a respeito do Team Aqua na mídia.

A reunião continuou e logo os líderes de ginásio decidiram que fariam uma coletiva de imprensa, onde apresentariam o Team Magma para o grande público, limpando sua imagem e garantindo que nenhum dos crimes feitos por pessoas utilizando o nome deles tenha alguma relação com a empresa.

Brock e Morty seriam os responsáveis pela organização da coletiva de imprensa, enquanto os líderes de ginásios ficariam encarregados de manter a calma da população de suas respectivas cidades. Os professores da escola de criação também seriam avisados, procurando envolver a UCR na causa de alguma forma.

Maxie e Mr. D pareciam satisfeitos com os resultados e agradeciam a presença e confiança de todos que participaram da reunião. Juntos eles haviam conseguido arranjar uma forma de retratar o Team Aqua na mídia sem que gerasse ódio da população, evitando assim que crimes de ódio fossem cometidos e também evitando que os criminosos também decidissem retribuir qualquer ameaça feita.

Com o fim da reunião, os líderes começaram a se deslocar para suas respectivas cidades. Maxie iria para Lavaridge, onde teria uma reunião com sua equipe para passar novas orientações em relação aos fatos e inclusive convidou os líderes da região de Hoenn para fazerem uma visita na sede de seu grupo, onde todos sempre seriam bem-vindos.

Mr. D havia decidido ir para LaRousse um pouco mais tarde. Como voaria em seu Skarmory, chegaria lá em pouco tempo. Com tempo de sobra, caminhava tranquilamente pelas ruas de Rustboro, observando algumas vitrines e colocando seus pensamentos em ordem. Aquele dia havia sido um pouco desgastante para ele, apesar de seus planos terem ido conforme suas vontades.

Mas aquela caminhada acabou não sendo algo tão simples assim: o homem sabia que havia alguém o seguindo. E ele não parecia ligar para isso. Muito pelo contrário: parecia se divertir com tudo aquilo e esperava para ver até que ponto aquela perseguição continuaria. Por fim, o homem decidiu entrar em um beco escuro e abandonado da cidade. Havia um Pokémon selvagem revirando umas latas de lixo ali, mas, ao perceber a presença de Mr. D, fugiu prontamente.

– Quanto tempo mais para você continuar com essa brincadeira? Você tem meu contato, pode sempre conversar diretamente comigo. – Dizia Mr. D, com um tom de voz claramente arrogante. – É por isso que eu prefiro seus amigos Surge e Koga. Quando eu preciso da ajuda deles, eles simplesmente fazem e não questionam.

– Você me intriga. Assim como Koga, seus pensamentos são nebulosos. – Foi a única coisa que Sabrina disse. Um minuto de silêncio tomou conta do ambiente, com os dois líderes de ginásio trocando olhares intensos. – Não gosto que você fale dos meus amigos dessa forma. Se eles estão te ajudando, é porque eles querem. Ao contrário dos outros Rockets, nós temos autonomia e só devemos lealdade a Giovanni.

Mr. D riu do comentário de Sabrina. O comportamento da Ex-Rocket já havia o incomodado por muito tempo e aquela parecia a oportunidade perfeita para ensinar uma lição para aquela garota rebelde. Do ponto de vista dele, a jovem não passava de uma garota mimada que possuía alguns dons paranormais. E se ele precisasse provar isso para ela na marra, ele o faria sem pensar duas vezes.

– Ao contrário de você, Koga e Surge já compreenderam que a Equipe Rocket caminha para um patamar superior. Esse tal de Giovanni tinha ambições demais, mas era um covarde. Aqueles quartetos estúpidos que se denominavam como bestas também eram incompetentes. Eles afundaram ainda mais o nome da organização, fazendo com que parecêssemos piadas.

– E você acha que ficar brincando de agente duplo e trabalhar para as Equipes Aqua e Magma ao mesmo tempo vai tornar os Rockets relevantes novamente?  Você e as outras letrinhas é que são a verdadeira piada!

A tensão crescia a cada palavra dita por ambas as partes. Era possível notar que cada um deles estava com uma pokébola em mãos. Pelo visto, o acerto de contas seria na base da brutalidade.

Apesar da tensão, nenhum dos líderes convocavam seus pokémons ali. Estavam em um beco no meio de uma cidade movimentada. Qualquer golpe mais poderoso que fosse usado ali poderia resultar em uma tragédia. Ao invés disso, continuavam a dialogar.

– Ainda não entendi o que você conversou com Koga. No dia em que vimos Kyogre, a Equipe Aqua nos atacou, mas eles entraram em um acordo com ele. Inclusive fiquei sabendo que isso causou atrito entre os Rocket e os Magma.

– De fato. Os Magma entraram em desespero depois que viram Kyogre despertar sem nem sinal de Groudon aparecer. Isso os deixou vulneráveis. Ele chegaram até a recrutar pessoas sem nenhum critério e conseguimos fazer nossos capangas entrarem na equipe deles!

Aquela informação pegou Sabrina de surpresa, situação um tanto quanto rara. Devido aos seus dons, a líder de ginásio já estava acostumada a prever o que os outros iriam falar. Inclusive esse é um dos motivos dela sempre permanecer tão calada em reuniões. Ela sempre sabe o que vai acontecer antes da hora. Mr. D de fato tinha algum bloqueio mental que o protegia.

– E o que aconteceu? Vocês descobriram algo deles? Sabem como poderão deter o Team Aqua e salvar Kanto?

– Salvar Kanto? – D acabou rindo de Sabrina, fato que a irritou. – Ao infiltrarmos entre os Magma, conseguimos informações sobre como despertar Groudon. Usando os dados deles a nosso favor e fazendo eles acreditarem que somos aliados, podemos assumir o controle de tudo que as duas equipes querem! Você não vê?

Sabrina serrou seus punhos ao ouvir aquilo. Aquele plano era tão estúpido quanto o das duas equipes vilãs reunidas. Aliás: era a combinação das estupidez de ambas! Ela logo começou a questionar Mr. D mais uma vez, o que apenas piorou a situação.

– Você viu o que apenas uma daquelas criaturas conseguiu fazer sozinha? Até agora ninguém conseguiu nem controlá-los! Deixar os dois acordados ao mesmo tempo vai ser o suficiente apenas para nos matar!

Ao terminar suas palavras, Sabrina abriu o botão de sua pokébola e revelou seu Alakazam. A criatura prontamente se colocou em posição de combate. Mr. D permaneceu sério, abrindo sua esfera também e relevando seu Magneton de coloração diferenciada. Era um shiny.

– Recrutar Koga e Surge foi mais fácil do que você. Só, que ao contrário deles, você é descartável.

– Digo o mesmo. Quanto mais conversei com você, mais eu tenho achado aquelas bestas idiotas relevantes.

Alakazam enfim entrou em ação, movendo suas colheres e dobrando-as. Em um piscar de olhos, o quarteto foi tele transportado para outra rota. Assim que D observou os arredores, viu que estavam próximos de Meteor Falls.

– Aquele não era o lugar apropriado para nossa batalha. Mostre-me do que você é capaz!

Agora em um local apropriado e com muitas contas a serem acertadas, o tão esperado confronto entre Sabrina e Mr. D enfim começava. As razões daquele combate iam além dos fatos acontecidos naquele dia. Desde que se conheceram, ambos se odiaram a primeira vista. Logo questões éticas começaram a entrar em questão e a tensão entre ambos só piorou.

Talvez fosse por isso que os treinadores faziam tanta questão de darem o melhor de si naquele combate. E seus pokémons refletiam perfeitamente aquilo. Magneton, apesar de permanecer sempre mecânico e inexpressivo, emitia diversas faíscas em seu corpo, iluminando o local e tentando intimidar Alakazam.

Já a parceira de Sabrina parecia espelhar não só a expressão facial dela como todas as suas emoções. O vínculo das duas era muito poderoso e muitas vezes elas não precisavam nem trocar palavras para saber como reagirem em um combate. Afinal, se comunicavam por telepatia.

– Magneton, inicie com seu Thunder Wave e depois mostre a força de seu Thunderbolt!

Os comandos de Mr. D logo foram passados para seu Pokémon e Sabrina parecia se divertir com aquilo. A estratégia de D era previsível demais e ela não fazia questão de apressar o combate. Ao invés de contra-atacar com força total, decidiu deixa-lo sem ações para sofrer um pouco.

– Já sabe o que fazer, Alakazam.

O Pokémon shiny começou a carregar o máximo de estática em seu corpo, mirou na direção da tipo psíquico e então disparou seu movimento paralisante. Mas, antes que o golpe atingisse a parceira de Sabrina, ela utilizou seu Teleport e se transportou para as costas de Magneton. Aquela jogada deixou o elétrico um pouco assustado, pois deu a brecha perfeita para receber um golpe direto.

Ao invés disso, Alakazam simplesmente aplaudiu o ser metálico. Era o movimento Encore, fazendo com que seus movimentos ficassem trancados no Thunder Wave. Foi uma jogada eficiente, mas não permitiu que a forma final de Abra conseguisse escapar do segundo golpe de Magneton. Ao invés do Thunderbolt, o golpe utilizado foi um Thunder Wave, deixando Alakazam paralisada e fazendo com que o primeiro round da disputa acabasse sem danos em ambos os lados.


Campo: Rota afastada de Rustboro City. O campo de batalha é um grande gramado numa localização elevada, onde é possível ver o mar no lado leste e Meteor Falls ao norte.

Apesar da batalha ter iniciado com grandes desvantagens para ambos os lados, os líderes pareciam tranquilos. Eles estudavam os movimentos um do outro nos mínimos detalhes, tentando prever quais seriam as próximas jogadas. Quanto mais poderosos os pokémons são, mais complexas ficam as batalhas. Um pequeno deslize cometido pode ser o suficiente para garantir a derrota.

Sabrina estava satisfeita com seu desempenho. Apesar da paralisia de sua pokémon inicial, ela havia deixado Mr. D em uma situação onde ele seria forçado a fazer uma substituição. Caso contrário, seu Magneton seria obrigado a ficar no campo vulnerável aos seus golpes. Fazendo questão de provocar seu oponente, Sabrina deixou a telepatia de lado e passou os comandos em voz alta, algo que ela só costumava fazer em seus desafios de ginásio para garantir que os desafiantes tivessem alguma chance contra ela.

– Alakazam, aniquile seu oponente! Shadow Ball e, se não for o suficiente, Focus Blast!

– Você realmente acredita que um simples golpe de seu pokémon vai ser o suficiente para me deter? – Questionou Mr. D, num tom claramente provocativo. – Magneton, vamos esperar esse Encore terminar.

A jogada de Mr. D surpreendeu Sabrina mais uma vez. E essa era uma sensação que a líder não estava acostumada e simplesmente odiava. A vida sem surpresas é muito mais interessante. Prever as coisas e ter segurança e estabilidade em tudo é muito melhor.

Com Magneton sendo forçado a repetir seu Thunder Wave devido aos seus poderes mágicos, Alakazam divertiu-se em usar seus golpes incrivelmente poderosos. Primeiro o pokémon concentrou toda a energia de seu corpo em suas colheres e formou uma esfera de sombras, atirando-a no aliado de Mr. D. O golpe foi certeiro, mas Magneton não se deixou abalar. Ele havia resistido bem ao movimento e já estava preparado para a próxima.

A segunda esfera de energia criada por Alakazam foi ainda maior. Dessa vez, ela exigiu total concentração da atacante e foi um pouco mais complicada de mirar. Felizmente Magneton não é um pokémon tão veloz e, por tal razão, não foi possível para o elétrico escapar. O Focus Blast não só foi super efetivo como também deixou Magneton extremamente enfraquecido. Ainda assim, ele estava em condições de lutar.

– Mas... como isso é possível? – Questionou Sabrina, com seus olhos arregalados. – Um Magneton normal não teria resistido a um golpe tão poderoso como esse!

– Acontece que meu Magneton não é um pokémon qualquer. – Foi a resposta de Mr. D, claramente se divertindo com as reações incomuns de Sabrina. – Após anos de testes, concluí que um Magneton é estatisticamente mais eficiente do que um Magnezone. Se ele jamais evoluiu, é porque seu potencial defensivo é muito melhor nesse estágio.

Com o fim da série de ataques do parceiro de Sabrina, Magneton estava em clara desvantagem naquele combate. Ainda assim, Mr. D parecia não se importar com aquilo. Seu olhar permanecia frio e calculista. O que ele teria em mente?


Campo: Rota afastada de Rustboro City. O campo de batalha é um grande gramado numa localização elevada, onde é possível ver o mar no lado leste e Meteor Falls ao norte.

O olhar de Mr. D naquela batalha havia se tornado mais analítico. Por mais que envolvessem o emocional do treinador na grande maioria das vezes, batalhas pokémons eram cheias de constantes e isso permitia que ele conseguisse prever o que poderia acontecer no combate.

– De acordo com meus cálculos, as chances de um pokémon paralisado atacar três vezes seguidas sem ficar imobilizado são inferiores a 50 por cento. Algo em torno de 42,18... – Ao terminar seus cálculos, o homem ajeitou seus óculos e passou o novo comando para seu Magneton. – Creio que as estatísticas estejam a nosso favor. Use seu Flash Cannon! Depois, o momento ideal para a substituição chegou. Volt Switch!

Sabrina achou a estratégia de D um tanto quanto interessante. Era curioso ver que ele podia agir de forma tão racional em combate e ainda assim acreditar que a Equipe Rocket poderia fazer parte dos planos dos Team Aqua e Team Magma, que tinham seus fundamentos baseados inteiramente na intuição e em mitologias.

– Alakazam, já que eles querem tanto fazer uma substituição, que tal derrubarmos o Magneton antes dele conseguir usar o golpe dele? Ataque com seu Focus Blast duas vezes seguidas!

Alakazam prontamente dobrou suas colheres e começou a se concentrar para utilizar seu golpe do tipo lutador, mas Magneton conseguia agir com mais velocidade, disparando uma rajada de luz prateada na pokémon psíquica, ferindo-a e causando danos críticos. Piorando a situação de Sabrina, o corpo de Alakazam ficou imóvel após receber o movimento. Algumas faíscas saíam de seu corpo: a paralisia havia entrado em ação.

Ainda assim, o pokémon psíquico não desistia: ele retornou a se concentrar para usar o golpe, mas Magneton mais uma vez atacava. A criatura metálica envolveu seu corpo em uma grande quantidade de energia elétrica e acertou em cheio a barriga da parceira de Sabrina. Alakazam urrou de dor e observou Magneton se desmaterializar e uma grande Skarmory surgir em sua frente. Ela tentou usar o Focus Blast no pokémon voador, mas a ave conseguiu desviar com facilidade.

Se antes a vantagem era total de Sabrina, a situação havia se invertido. Mesmo com a vantagem, Mr. D permanecia calmo e já calculava sua próxima jogada.


Campo: Rota afastada de Rustboro City. O campo de batalha é um grande gramado numa localização elevada, onde é possível ver o mar no lado leste e Meteor Falls ao norte.

A entrada de Skarmory no campo de batalha deixou Sabrina um pouco tensa. Poucos dias atrás a líder de ginásio havia decidido que Focus Blast seria um movimento mais eficiente para seu parceira e, ao treinar o golpe com um TM emprestado de um conhecido, acabou fazendo com que a Alakazam perdesse a capacidade de utilizar o Thunderbolt.

O melhor a fazer naquele momento seria uma substituição, mas Alakazam fazia questão de querer lutar e cobrava isso de sua dona telepaticamente. O líder de ginásio de LaRousse logo se deu conta da troca de olhar apreensiva entre as duas e começou a achar aquilo engraçado. Com sua destreza, fez questão de desestabilizar Sabrina emocionalmente para conseguir a vitória.

– Você está com medo de ver seu pokémon levar um golpe físico? Pobre Alakazam... Suas habilidades psíquicas são impressionantes, mas suas defesas físicas... deploráveis. Sinto que a minha chance de vitória nesse combate é claramente 100%.

– Cala a boca! – Respondeu Sabrina, num surto de raiva. Outra emoção que ela não sentia com tamanha intensidade há muito tempo. – Minha Alakazam resiste a golpes físicos melhor do que você pode esperar! Quero ver é seu Skarmory resistir aos golpes especiais dela! – E foi decidindo deixar Alakazam em campo que Sabrina caiu na isca de Mr D. – Alakazam, ataque com seu Shadow Ball e recupere-se de qualquer dano com Recover!

Skarmory voava pelo campo com muita destreza, apenas observando Alakazam reunir a esfera de sombras em seus punhos. Assim como D, ela parecia ter um olhar analítico de tudo e aguardava pacientemente os comandos de seu dono para atacar. Bastou a Shadow Ball ser disparada para que o especialista no tipo Steel comandasse a ordem final.

– Steel Wing seguida de Brave Bird!

A esfera de sombras estava prestes a atingir Skarmory quando suas asas assumiram um intenso brilho prateado. Num incrível rasante, o pokémon steel interceptou o golpe, o que causou uma pequena explosão. Foi então que algo em começou a brilhar em seu bico: o pokémon carregava consigo uma Flying Gem.

O item foi consumido e ampliou a força do Brave Bird e, com um golpe certeiro sem tempo de reação para a pokémon de Sabrina, a primeira baixa da batalha aconteceu. Alakazam caiu no chão atordoada, observando sua dona com grande pesar no olhar.


Campo: Rota afastada de Rustboro City. O campo de batalha é um grande gramado numa localização elevada, onde é possível ver o mar no lado leste e Meteor Falls ao norte.

A derrota de Alakazam foi um grande baque para Sabrina. Em muitos anos de carreira, ela nunca havia visto uma situação como aquela acontecer. Suas mãos estavam tremulas, ela suava frio e o nervosismo havia tomado conta de seu corpo. Respirando de forma ofegante, ela tentou e pegar suas pokébolas, sem saber ao certo quem deveria chamar para o combate.

Mr. D viu que aquele momento de fraqueza era perfeito para ele tirar vantagem. Simplesmente apontou para seu Skarmory e com uma simples palavra, conseguiu o que tanto queria.

– Whrilwind.

A ave metálica urrou e agitou suas asas com muita fúria, criando uma ventania tão forte que foi capaz de fazer Sabrina perdeu seu equilíbrio e cair no chão. Se isso ainda não fosse o suficiente, todas as suas pokébolas foram levadas pelo vento, ficando longo de seu alcance. Mr. D aproximou-se dela, com um olhar que atormentaria a mente de Sabrina por muito tempo.

– Já ouvi falar muito a seu respeito. Sei de suas capacidades e compreendo perfeitamente porque Giovanni confiava tanto em você para missões consideradas impossíveis. Porém... – Mr. D agora estava próxima o suficiente de Sabrina, puxando seu cabelo e forçando-a a observá-lo olho a olho. – Desde que você viu o que aconteceu com sua terra natal, você está com medo de suas ações. Você está deixando seu lado emotivo afetar você. E, sinceramente, essa é uma fraqueza que eu não admiro.

D agora abria mais uma vez a capsula de Magneton, ordenando que o elétrico usasse um Thunder Wave na líder do tipo psíquico. Ela sentiu todos seus músculos se enrijecerem a uma forte dor circular por seu corpo. Ela tentou gritar, mas faltou folego para tal. O especialista no tipo Steel parecia se divertir com aquilo e o fim de Sabrina parecia ter chegado. Mas, de repente, uma mulher apareceu.

– Deixe-a em paz. Depois de hoje, acredito que ela aprendeu a lição e não vai mais interferir em nosso caminho. Se ela for esperta o suficiente, fará como seus amigos e retornará para Kanto, onde poderá morrer afogada bancando a heroína.

Mr. D cumpriu a ordem da mulher na mesma hora. Assentiu com a cabeça e retornou Skarmory e Magneton para suas pokébolas. Juntos, ele e a misteriosa mulher se viraram de costas para Sabrina, indo em direção a Meteor Falls.

– Da-dakota?!? Você... uma Rocket? – Disse Sabrina, assim que reconheceu a silhueta daquela mulher.

– Dakota já morreu faz muito tempo. Você pode me chamar de Miss B.