Entre Batalhas

Sentei ao banco próximo do Battle Factory para repousar; por mais que longa e inesperada, minha batalha com o tal Noah não fora muito cansativa. Talvez por se tratar de um videogame longo e, claro, por ele ter resolvido largar o controle na hora h. Não que eu achasse que fosse perder, dois pokemons dele precisavam de curas e tratamentos enquanto Clefable, sozinha, tratara de aguentar bem até aquele ponto. Revirei os olhos meio intrigada, eu não estava cansada, porém inquieta. Por mais que não quisesse, eu precisava parar, e o banco que escolhi não me era muito útil para tal coisa. Joguei a cabeça para trás, tentei ignorar o barulho dos motores, a fumaça das industrias e o conversar alto dos habitante, mas não foi uma atitude muito efetiva; mal durei 15 minutos ali, logo mais sai e fui em direção ao litoral, tentando ao menos sentir o cheiro da maresia.

Caminhei por uma rua movimentada, seguindo reto toda a vida; se estou em uma ilha, andar reto em qualquer direção significaria achar o mar mais cedo ou mais tarde e, até onde eu saiba, Mu Island não era tão grande assim. Afinal, a menina inquieta resolvera que não iria parar, e sim gastar o resto de suas energias em uma caminhada eterna, para assim, conseguir deitar a cabeça no travesseiro e apagar de vez esta noite.
Era cerca das quatro horas da tarde; o sol já não nos derrotava mais. O céu ainda era azul em um todo, porém o canto alaranjado longínquo já se via; sabe-se lá que estação era, mas os raios solares não ficariam mais que duas horas. Talvez fosse bom estar de volta antes do escurecer; não se sabe os perigos desta cidade e estou sem Tyr para me ajudar. Caso vá muito longe e não ache nem o mar nem algo interessante, pegar um ônibus para voltar seria minha melhor opção.

Ainda tendo o caminho ao centro desconhecido, me surpreendi ao ver que meu caminhar longo me levara justamente a ele, o lugar que eu mais queria fugir. Encarei a cidade com desdem, um pouco cansada de toda esta movimentação; estava certa de que deveria passar direto e assim iria fazer, até que, com meus ótimos olhos rosados, reconheço uma silhueta próxima ao centro pokemon. Era... Blake? Não sei se ele lembraria de mim, mas não custava tentar, não é mesmo? Caminhei em direção ao homem um pouco tímida. Ele estava treinando, não é? Será que eu iria atrapalhar?

OFF: Oi me recruta tbm qro ser sua amiga

Mal andei em direção ao treinador conhecido; logo antes de agir Nicholas aparecera por trás, sem aviso prévio. Arregalei o olho ao me dar conta da presença do rapaz que conseguiu se esconder muito bem; seja lá de onde saíra, não havia visto. Completamente sem reação, inata, fui arrastada para a socialização, sem muita escolha de quando nem como, apenas mantive a inércia. O menino ruivo não parecia se importar muito com as condições e apenas continuou. Diferente das outras vezes, Nicholas parecia bem mais aberto; até gostava do jeito sombrio do menino, em geral, não me veria nesta situação, porém sempre me deixava sem palavras vê-lo calado; agora, neste estado completamente embaraçoso, ao menos eu não temia tanto o "quebra-gelo" de sempre. Era como se o primeiro contato já tivesse sido feito, eu me sentia livre para reclamar o quanto achasse necessário, ao menos para ele:
- Hey! Calma ai! - Pedi, dando tapas no braço de Nicholas, na tentativa de me soltar - Eu mal conheço ele! O que que vocês estão pensando e.... Porque se conhecem? Ah! Que droga de mundo pequeno - Resmunguei, já aceitando a condição e deixando ser arrastada.

Não fora minha entrada mais triunfal mas, convenhamos, não tenho muitas para a coleção. Ser vista arrastada poderia fazer Blake pensar que eu estava observando de longe, o que não era mentira, mas também não era verdade! Não é como se este fosse meu objetivo, e nem como se eu não fosse cumprimentá-lo. Pensar na atenção que chamara e no que o homem pensaria me fazia querer sumir; a vergonha subia a cabeça e quase arranjei um jeito de dar meia volta, porém, com as bochechas em tom rubro, boca completamente seca, voz falha e cabeça quente, resolvi deixar que as coisas fluíssem como deviam. Cheguei até Blake e, olhando atentamente ora pra ele ora pra Nicholas, lhes disse:
- O-oi gente - Saudei - Parece que ta todo mundo no Battle Factory né.... Ta tudo bem com vocês? - Perguntei, de forma genérica, finalizando com um riso bastante envergonhado e um ajeitar de cabelos ansioso.
Não era como se eu soubesse muito o que falar, "ta tudo bem?" não era lá muito original, mas segundo meu irmão, funcionava em qualquer ocasião, e era disto que eu precisava agora, algo que funcionasse.