Dia 1. 08:37. Área Rural.Por algum motivo eu estava voltando para casa. Jamé, o filho do cuidador de nossa fazenda havia ido me procurar na casa da Professora Kaya e exclamado sobre eu não poder ir embora. Se meus pais estivessem pensando que poderiam me mantar em casa mais uma vez, eles estariam muito enganados!
Assim que entrei em casa encontrei mamãe parada na sala, com o mesmo olhar plácido e vestida como uma rainha, como sempre. Alice se parecia muito com ela. Havia puxado o cabelo loiro e os olhos cor-de-âmbar. Ela veio em minha direção e me abraçou com força. Algo estava errado.
- Bom dia, mãe. - Cumprimentei me soltando de seu abraço.
- Tudo bem?
- Não, querida. - Respondeu aflita.
- Sua irmã...
- O que tem Alice? - Indaguei antes que ela pudesse terminar a frase.
- Ela desapareceu. - Continuou.
- Deixou um recado pra você.
Querida Annie,
Você é uma garota crescida e demorou anos pra sair de casa. Não posso deixar o mesmo acontecer comigo.
Eu sei que só tenho 8 anos, mas acredito já ser crescida o suficiente para me tornar uma treinadora formidável.
Essa carta, provavelmente só vai ser entregue a você quando você tiver voltado da sua jornada, mas saiba que estou bem.
Com amor,
Alice.
- Seu pai já saiu para procurá-la. - Mamãe explicou assim que coloquei a carta sobre a mesa.
- Mas não temos ideia de onde ela possa ter ido.
- Ela não pode ter ido muito longe. - Respondi.
- Ela é uma criança.
- Espero que esteja certa.Gothitelle a parceira inseparável de minha mãe chegou na sala e ambas começaram a se comunicar psiquicamente, me deixando curiosa. Elas sempre faziam isso quando não queriam que alguém soubesse de algo.
- O que está acontecendo, mãe?
- Gothitelle acha que sabe onde sua irmã pode ter ido. - Respondeu.
- Mas você não vai gostar.
- Não brinca comigo, mãe.Eu já sabia onde Alice estava. Eu não conseguia entender o porque de ela gostar tanto daquele cafajeste. Ele não aceitava o fato de termos terminado e sempre usava Alice para tentar fazer voltarmos, dando presentes pra ela. Ela estava na casa de Lucas, meu ex-namorado.
- Jamé! - Exclamei entrando na casa dos cuidadores.
- Eu preciso da sua ajuda.
- Não me mete em furada de novo, Annie. - Resmungou desviando para outro cômodo.
- Mas a Alice precisa da minha ajuda. - Insisti seguindo-o.
- E eu preciso da sua.
- Bah... - Bufou.
- O que você quer?
- Preciso que pegue o Mudsdale do seu pai e me leve até a casa do Lucas.
- Nem pensar. - Respondeu seco.
- Mas...
- Da última vez que eu saí com o Mudsdale, você fez a crina dele pegar fogo. - Falou indignado.
- Eu fiquei de castigo por seis meses.
- Por favor, dessa vez não vai acontecer nada. - Implorei.
- Eu juro.Jamé, após alguma insistência resolveu aceitar. Também se preocupava muito com Alice e o fato de estar na casa Lucas era um adicional, já que os dois não se davam nada bem. O Mudsdale de sua família era muito rápido - um Pokémon treinado para percorrer grandes distâncias em pouco tempo. Mal conseguia abrir os olhos, que em segundos doíam pelo vento cortante que soprava contra nós. Jamé conduzia bem o Pokémon Cavalo de Tração que em algum tempo completou seu destino.
A casa de Lucas era grande e imponente. Construída em carvalho escuro e granito, lembrava um castelo antigo e causava arrepios só de olhar. Eu sabia que não teria uma experiência agradável de maneira alguma. Reencontrá-lo seria relembrar de tudo que não dera certo e sentir saudade do que dera.
Jamé resolveu esperar do lado de fora. Tomei folego e bati a porta formando um som, que ecoava tanto, que saía de volta pelas janelas da casa. Cada passo que eu ouvia descendo a escada fazia meu coração se afundar numa tentativa falha de se esconder.
- Annie! - Lucas exclamou abrindo a porta. Seu cabelo ruivo balançava contra o vento e seus olhos escuros contrastavam com sua pele pálida.
- Não esperava te encontrar por esses dias. O que te trás aqui?
- Me poupe, Lucas. - Respondi empurrando-o para dentro e entrando na casa.
- Me diga onde Alice está.
- Não sei do que fala, querida. - Pronunciava as palavras com clareza e sofisticação, me trazendo lembranças de quando saíamos juntos.
- Não vejo Alice há dias.
- Não tenho tempo, Lucas. - Respondi enfrentando seu cinismo. Mal dava pra perceber que ele era dois anos mais velho que eu.
- Estou prestes a começar minha jornada e estou preocupada com Alice. Meus pais não me deixarão sair caso ela fique sumida e eu sei que ela está aqui.
- Não sei porque está pensando isso. - Continuou o teatro.
- Já disse que não vejo Alice há...
- Tudo bem, Lu. - Alice interrompeu Lucas descendo as escadas.
- Com certeza a Gothitelle da mamãe me localizou.
- Sinto muito, querida.
- Não chame ela assim. - Falei para o cabeça vermelha.
- Vamos, Alice. Estão todos preocupados.
- Você não precisa ir se não quiser, Al. - Lucas dizia mexendo com a cabeça da criança.
- Para de falar assim com ela! - Explodi de raiva.
- Não é como se vocês fossem próximos.
- Nós somos sim, Ann! - Alice gritou entrando na minha frente.
- Com quem você acha que eu conversava sobre você ir embora? - Eu sempre te dei espaço, Alice. - Falei transtornada. Não imaginava essa situação.
- Espaço? - Perguntou indignada.
- Sempre que eu falava sobre como sentiria saudades, você fugia de mim ou mudava de assunto.
- Eu não acho que... - Tentei falar sem conseguir terminar a frase.
- O Lucas me ouve. - A caçula jogou contra mim.
- E me deu um Pokémon bem diferente dos que temos aqui pra começar minha jornada.Alice abriu um sorriso ao olhar pro meu ex. Talvez eles tivessem uma relação de irmandade que eu não tenha conseguido construir e, mesmo que Lucas sempre tentasse chegar a mim através dela, era inegável que ele era um bom amigo. Alice abriu uma pequena bolsa branca que carregava no ombro esquerdo e dela tirou uma pokebola nova e brilhante. Ela lançou a esfera no chão e dela um Pokémon que nunca havia lido sobre saiu. Aproveitei a oportunidade para usar a máquina que a professora Kaya havia me dado.
Squirtle, o Pokémon Pequena Tartaruga. Durante a batalha, Squirtle se esconde em seu casco que lança água contra seus oponentes sempre que puder.
- Alice, eu sinto muito se não fui a melhor irmã do mundo. - Falei em tom de desculpas.
- Mas precisamos ir pra casa.
- Eu não vou voltar pra casa!
- Alice, é questão de tempo até papai chegar aqui. - Expliquei.
- E você não vai querer levar uma bronca dele.
- Estou cansada dessas broncas. - Confessou.
- E estou cansada de não acreditarem que somos fortes, Annie. Levaram 15 anos pra deixar você sair de casa.
- Eu sei, esperei muito por isso. - Respondi.
- Mas se você não aguentar esperar mais um pouco, eu vou ter que esperar por você.Nunca vi aquela expressão no rosto da minha irmã. Era um misto de surpresa, tristeza e decepção. Ela começou a andar em círculos e pensar.
- Annie, tomei uma decisão, vamos ali fora. - Me puxou pelo braço e proclamou.
- Você recebeu seu inicial, certo?
- Certo.
- Quero batalhar com você, então. - Declarou surpreendendo-me.
- Se eu perder é um sinal que ainda não estou preparada, mas se vencer é um sinal de que você não está, irmã.
- Eu não sei, Al. - Confesso que por um momento me senti intimidada.
- É o único jeito. - Insistiu.
- Se não, não volto.
- Se você acha que é a melhor maneira, Alice. - Concordei abaixando a cabeça e lançando a pokebola.
- Vamos lá, Terrible!- Squirtle, vamos começar. - Alice disse empolgada.
- Ataque com o Water Gun!
- Terrible, esquive e use o Scratch! Minha irmã foi muito esperta. Assim como eu, já havia lido muito sobre Pokémon e sabia que os ataques do tipo água faziam muito efeito contra Pokémon de fogo. Seu pequeno Squirtle saltou no ar de sua boca saiu um jato potente de água em espiral que foi na direção de Terrible, que mesmo tentando se esquivar foi atingido em cheio.
- Agora ataque com o Tackle! - Alice comandava excitada. Entretanto foi frustrada, já que assim que meu Pokémon conseguiu abrir os olhos, viu seu oponente e atacou mais rápido, proferindo-lhe alguns arranhões que machucaram a calda da tartaruga.
- Isso, Terrible! - Gritei animando meu parceiro.
- Agora ataque com o Ember.
- Squirtle, use o Water Gun novamente.O gato de fogo encheu o fôlego e abriu a boca, liberando muitas chamas contra o seu oponente que respondeu rapidamente com outro jato de água que apagou a maioria das labaredas. Contudo, algumas delas ainda chegaram a tocar o Squirtle, causando dano e deixando-o com algumas queimaduras.
- Terrible, Growl.
- Use o Tackle, Squirtle!Squirtle se moveu rapidamente em direção ao Litten, saltando e preparando-se para atacar. Todavia, antes que pudesse acertá-lo, Terrible soltou um rosnado alto que deixou o Pokémon de minha irmã assustado e reduziu a força do ataque que, por fim, acabou acertando o meu.
- Squirtle, ele é fraco contra o Water Gun, ataque de novo.
- Scratch, Terrible!Meu Litten tratou de correr e se aproximou de Squirtle, que não conseguiu lançar o jato de água por estar sentindo dor pelas queimaduras. Mais uma vez Terrible o arranhou, deixando-o debilitado e me garantindo a vitória.
- Nããão! - Alice gritou enfurecida.
- Não acredito que perdi.
- Mas trato é trato. - Respondi me aproximando e agachando.
- Mamãe está preocupada.
- Eu iria voltar mesmo se perdesse. - Disse gargalhando e me abraçando.
- Não ia te prender em casa por mais tempo.
- Então por que fez essa batalha acontecer?
- Queria me divertir antes de você partir, ora essa. - Respondeu retornando Squirtle para a pokebola.
- Obrigada, amiga. Você batalhou bem.
- Ah! - Surpreendi-me.
- É uma garota?
- Sim. - Alice respondeu entusiasmada. -
É a mais fofa de todas.
- Por que não dá um nome à ela? - Disse lembrando-me do que a professora Kaya havia me dito.
- Ajuda a criar um laço da amizade entre vocês.
- É uma ótima ideia! - Concordou.
- Vou decidir no caminho pra casa.
- Então vamos. - Lucas! - Gritou virando para trás. -
Obrigada por tudo.- Não foi nada, Alice! - Gritou de volta.
- Não sei porque você gosta tanto dele. - Resmunguei.
- Não sei porque você não gosta. - Resmungou de volta.
Montamos no Mudsdale e Jamé nos conduziu de volta pra casa. Mamãe ficou aliviada ao ver Alice sã e salva e ela e papai ficaram orgulhosos de nossa batalha. Aceitaram que deveríamos ter mais liberdade para seguir nossos sonhos e ofereceram para Alice a oportunidade de estudar numa Escola Pokémon para treinar antes de sair em sua jornada. Papai conversou com os pais de Jamé e ficou decidido que ele seguiria jornada comigo.
- E então, Al. - Perguntei na porta de casa, prestes a sair.
- Decidiu qual vai ser o nome da sua Squirtle?- Sim. - Respondeu me soltando de um abraço.
- Vai se chamar Shelly, pra combinar com o casco dela.Sai dando risada e montei na minha bicicleta. Minha amiga Dika provavelmente já estava cansada de esperar.
...