02 - Um vulpix tem dentro de si uma chama que nunca se apaga

Erica virou-se para Maulina e assentiu com a cabeça. Ela não conseguia perceber qualquer outro motivo de perturbação no lago além do volbeat. O que era estranho era o porquê que o volbeat ficara naquele estado violento, o que poderia ter deixado ele tão furioso, a ponto de atacar qualquer um. Nunca tinha ouvido falar que volbeats pudessem ficar violentos assim. Talvez fosse uma questão territorial, mas mesmo assim não parecia muito plausível.

Um bocejo interrompeu sua linha de pensamento. Estava tarde e Erica estava exausta. Foram algumas batalhas que travara naquele dia e fazia muitas horas desde a última vez que comera. Sua barriga estava começando a doer e ela não tinha certeza como faria pra se alimentar. Sabia que talvez tivesse que comer de barriga vazia e tentar ver se conseguia segurar até chegar em Mauville. Não tinha certeza se conseguiria.

Acompanhou Maulina até a margem, saindo junto dela do lago.

Erica não entendeu direito a princípio. Uma mulher parecida com ela, com um mightyena? Era muito improvável que fosse Clarice, mas ela não deixou de pensar na irmã. Tendo feições parecidas e ainda andando com um pokémon desses? Erica sabia que Clarice tivera um poochyena, mas isso fazia muitos anos já. É possível que tivesse evoluído.

Erica esperava chegar em Slateport antes de ter qualquer notícia de seus irmãos. E ainda tão perto de casa! Será que ela encontraria Clarice agora?

- Nossa, mas como assim? Tipo, como foi isso, faz muito tempo? Porque é a primeira vez que tô andando nessa rota. - A voz embargada de ansiedade poderia denunciar Erica, se Maulina estivesse prestando atenção.

Erica ficou transtornada com a quantidade de inutilidades que Maulina ia falando. Fosse em qualquer outro momento ela poderia até se interessado, mas agora ela só queria ter mais informações sobre Clarice. Se a mulher que Maulina vira era parecida a ponto de parecerem irmãs, deveria ser ela. Principalmente quando soube que tinha um olhar assustador. Não tinha como ser outra pessoa, Erica já fora aterrorizada várias vezes por aquele olhar quando fora criança. Era impressionante quanta coisa ela dizia sem realmente dizer coisa alguma. Erica só conseguira descobrir que Clarice estivera ali mais cedo e que tinha perdido algo.

Erica aceitara a comida com gosto, estava com bastante fome. Ela queria pegar um pouco mais para dar para seus pokémons. Pensou em tira-los para fora e alimentá-los, mas eles deveriam estar todos dormindo agora, os três estando bem cansados do combate. Pediria para Maulina um pouco, depois. Ela ficou curiosa para saber qual evento era esse, mas não estava com cabeça para pensar nisso naquele momento. Cuidaria disso pela manhã.

- É, então... - começou. Ela tentava escolher as palavras com calma, sem se atropelar. Sabia que não conseguiria muitas outras informações com Maulina. - Eu acho que é, sim, a minha irmã... Eu tô atrás dela. Dela e do meu irmão. Eles... não voltam para casa faz um tempo. - pensou em dizer que eles estavam desaparecidos, que Clarice tinha entrado para o Team Aqua, mas achou que era informação demais. - Escuta, posso pegar seu contato? Se você vir ela de novo, me dá um toque, pode ser? O nome dela é Clarice Fonseca.

Não tinha dúvidas de que era alguém da equipe Aqua. O uniforme batia. E muito provavelmente era sua irmã. As cicatrizes, tudo indicava que poderia ser ela. Mas o que ela estava fazendo lá, afinal? Será que ela deveria se preparar para já encontrar a Equipe Aqua em Mauville? Será que ela poderia pensar que estava perto de Marcelino também? Era coisa demais para ela pensar, começou a se sentir enjoada. Resolveu que era hora daquele dia acabar.

- Hum, Maulina? Obrigado super pela comida e pela companhia. Mas acho que agora eu preciso dormir. Tô só o pó. O que você pretende fazer? Você falou que tá acampada por aqui...

Erica só queria achar um lugar para cair morta, não precisava nem ser no coberto, que não ameaçava chover naquela noite. Ela só queria que o próximo dia começasse e pudesse retomar sua busca.

Erica sentiu o coração desacelerar quando viu o acampamento de Maulina. Não era o que imaginava encontrar, mas foi muito mais do que tinha disponível para si mesma. Sabia o tamanho da sorte que tinha em ter encontrado Maulina no meio do caminho, sem ela não teria jantar ou lugar para dormir. - Nossa, Maulina! É incrível! - Inclusive, agora que parava para pensar, era a primeira noite que dormia fora de casa, sem ser na casa de algum amigo ou parente. Sentiu um aperto no peito, pensando nos pais. Pensou em Marcelino, em onde poderia estar e o que teria acontecido para que ele não pudesse mandar mensagens; e pensou em Clarice, como perto ela poderia estar. Não tinha ideia do que faria se a encontrasse.

Antes que Maulina pudesse terminar de perguntar, Erica foi se desmilinguindo em direção ao colchão sob as estrelas. Ela achou que não conseguiria dormir, mas em poucos segundos já estava roncando de leve.

Acordou com o sol na cara e o cheiro do café. Ela sentia as pernas doendo, de toda a correria do dia seguinte, e seu corpo inteiro estava cansado. É como se ela nem tivesse dormido, mas sabia que teria sido muito pior se tivesse passado a noite em claro. Ergueu-se e se espreguiçou.

- Bom dia! Nossa, super obrigado por ter dividido sua comida e cama comigo! Fez toda a diferença! - Ela se aproximou de Maulina e do Cyndaquil. Nunca tinha visto essa espécie de pokémon e foi buscar sua pokédex para descobrir mais informações. - Nossa, que pokémon legal! De onde ele é? Não é daqui de Hoenn, né? Ou é? - Estendeu a mão para que pudesse cheirar sua mão. Queria fazer um afago nele. - Ah, e você falou de um evento ontem a noite, qual que é?

Erica pretendia comer e logo partir. Queria chegar logo em Mauville para fazer compras e conseguir informações e talvez pudesse ter a companhia de Maulina.