#001 - Florescendo

Uma Mensagem das Estrelas

Certamente o coração da fadinha estava fervilhando de emoções. Pela primeira vez ela se encontrava em um estado tão deplorável pela sujeira e a iminência de ser sufocada em lama, mas ao mesmo tempo Cleffa sentia o fervor do desafio de vencer uma batalha, de sobrepujar seu adversário e consagrar-se vitoriosa e isso não tinha preço! A Pokémon ouvia atente às palavras de seu mestre, fechando os olhos para relembrar todos os movimentos de ballet que tanto usou antes de sair em jornada de fato. Seu pouco peso aliado aos movimentos graciosos faziam com que as piruetas começassem a ser uma realidade. Além de sair da profundeza da lama, o seu corpo em trajetória giratória começava a puxar a teia, como se contorcesse ela e aos poucos a soltasse do solo.

Joltik sabia que perderia sua presa muito em pouco tempo, por isso saltou novamente sobre o corpo da pequena adversária, o que não era o suficiente para pará-la. Notando isso ele tentou cobrir a teia anterior com uma nova, mas a ação foi completamente em vão. Em mais uma pirueta de Cleffa aliada ao seu golpe Pound, a Pokémon conseguiu ferir o aracnídeo e também soltar-se da teia, que virou um emaranhado de fios entre os dois. Com suas últimas forças e prevendo o fim, o elétrico usou uma última vez o seu tão terrível golpe Absorb, fazendo a fadinha perder mais energia, mas não sendo capaz de parar seu ímpeto. Cleffa deu um Jetté, ainda com Joltik sobre sua cabeça e, ainda no ar, virou-se de ponta-cabeça para afundar o adversário na lama com o último Pound da batalha. O golpe fez uma grande quantidade de lama voar para vários lados, incluindo acertando o corpo de Alec, que começava a despertar devagar.

Vincent ficou certamente apreensivo, porque por alguns segundos os dois Pokémon não se moveram, até que a Pokémon fada levantou e sacudiu a cabeça para os lados, virando-se para seu treinador e sorrindo. Ela havia saído vitoriosa!  Já Joltik boiava na lama de cabeça para baixo com os olhos perdidos, demonstrando que já estava fora de combate. Agora caberia ao Mono-treinador decidir o que fazer, capturar o aracnídeo ou simplesmente deixá-lo por lá no habitat que tanto tentou defender. Cleffa deixou o oponente para trás e aproximou-se de Vincent, segurando sua calça e sujando-o com toda a lama também. Já o explorador desacordado finalmente levantava com cuidado, dando leves escorregões na lama e se perguntando sobre o que havia acontecido. O que Vincent faria? ◄

>> Cleffa ganhou 431 exp, 6 pontos de felicidade e subiu para o nível 8! Cleffa aprendeu o golpe Sing!


Campo: O campo era a exata divisão entre uma pradaria e uma selva mais fechada. Entre Cleffa e Joltik há um rastro no chão causado por algum veículo pesado que seguia na direção da mata. Há algumas teias de aranha enormes bloqueando o acesso do treinador aos Pokémon. Uma chuva pesada cai sobre o campo de batalha.

Uma Mensagem das Estrelas

A bagunça que ficou o campo de batalha dava a impressão de que um furacão havia passado por ali. Para todos os efeitos, esse tufão era Cleffa, a bailarina caçadora de insetos! Joltik e seu estado pós-combate eram o maior indicador das capacidades daquela fadinha que certamente ainda teria muito a demonstrar... Mas enfim... Vincent agora podia relaxar seu corpo e mente um pouco após uma longa disputa e a primeira atitude que teve foi colocar o pequeno adversário elétrico sobre um galho de árvore. Aparentemente o Mono-treinador seguiria à risca seu amor pelos tipo fada e não se interessaria em capturar um inseto, mesmo que fosse tão raro por Hoenn. Com cuidado o rapaz repousou o desacordado Pokémon em uma árvore frutífera, o que seria ótimo para o aracnídeo, que teria algo para comer quando acordasse.

E por falar em despertar, Alec finalmente deixava o solo e possuía uma cara terrível, de quem dormiu muito mal uma noite inteira e perdeu a hora do trabalho em uma segunda de manhã. — Mas... Mankeys me Soquem! O que foi isso? Wow! — Comentou, sacudindo os braços que pareciam ainda dormentes, após soltar uma engraçada expressão. Alec observava Vincent afastar-se do Joltik e fez o caminho inverso, observando a criatura — Então foi isso que me derrubou! É um carrapato elétrico. Nunca imaginei acabar cheio de carrapatos em uma rota tão movimentada como essa... Parece que a chuva andou trazendo alguns Pokémon bem exóticos, não é mesmo? — Completou o homem, parecendo agora mais desperto, apesar dos cabelos arrepiados em sua cabeça e na sua barba devido ao choque.

Mesmo com tantas perguntas do homem, Vincent ainda se preocupava com a demora em Sandy voltar para seu treinador. O rapaz levou essa preocupação para Alec, questionando esse sumiço da Sandshrew e o explorador apenas sorriu, diminuindo essa tensão e alisando a barba — Sandy foge de chuva como Giratina foge da luz! Eu tenho certeza que ela está bem, mas está abrigada na parte mais seca da floresta, para onde devemos ir também, não acha? — Comentava o homem, abraçando o próprio corpo já encharcado pela chuva e pela lama. Vincent não havia sentido antes, talvez pelo calor da batalha, mas agora que estava esfriando seu sangue era possível notar que as gotas de chuva, mesmo finas, eram geladas como pedras de gelo. Se chocavam contra a pele como agulhas e seria uma boa ideia para a dupla buscar abrigo debaixo da copa das árvores.

Antes de tomarem qualquer decisão, Cleffa que havia sumido pela milésima vez, voltou para o treinador levando uma coroa de flores brancas, que havia feito com as próprias mãos. Alec ficou impressionado e abaixou-se perto da fadinha, fazendo carinho em sua cabeça. A Pokémon parecia gostar, mas logo depois saiu correndo na frente dos dois, entrando no meio das árvores e sumindo de vista. Para onde ela havia ido com tanta pressa? O explorador assustou-se e adiantou-se a segui-la, um pouco mais lento graças a seu sobrepeso — Vamos atrás dela rapazinho, parece que sua Pokémon tem muita pressa em solucionar toda essa confusão! — Completou o homem, segurando tanto as próprias calças que cismavam em cair, como o chapéu cinza em sua cabeça. Restava a Vincent decidir o que fazer... ◄

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Alec havia saído na frente, preocupado com a fuga repentina de Cleffa. Vincent vinha logo atrás, facilmente alcançando o senhor acima do peso. Os dois haviam adentrado a mata e já não sentiam mais as gotas geladas chocando-se contra seus rostos e corpo. Porém, o vento gélido que afetava toda Hoenn ultimamente ainda se mantinha forte mesmo entre as árvores. Apesar de não estarem na trilha escavada no solo pela roda do carro dos criminosos, os treinadores ainda podiam avistá-la por trás de alguns arbustos, um pouco distante à esquerda do trajeto que faziam. Eles andaram por alguns metros, mas estranhamente não enxergavam o Pokémon fada em lugar nenhum — Onde está você criaturinha fofinha? — Gritava Alec, juntando as mãos em frente a boca para que o som saísse mais forte. Como não obteve resposta o semblante do explorador se fechou e parecia preocupado.

Mesmo sabendo que possivelmente o motivo dessa mudança de humor fosse pelo sumiço de Cleffa, Vincent não poderia deixar de notar que o homem também estava preocupado com sua própria Pokémon apesar de não assumir isso. Talvez ele tentasse ser mais firme para não assustar o Mono-treinador. Alec virou-se para o rapaz em seguida e notou que Vincent o observava, então forçou um sorriso e começou uma conversa bem aleatória completamente do nada enquanto caminhavam — Ela deve ter visto algo, sabe? Talvez tinha avistado ou pressentido Sandy, por isso se apressou e correu de nós dois, não se preocupe... Elas estão bem... — Comentou o explorador, dando batidinhas no ombro de Vincent, com a mão pesada e peluda — Mas me diga rapaz, como você conheceu sua Pokémon? Ela é um tanto rara por aqui em Hoenn... Lembro de tê-las visto apenas em Kanto e Johto quando era mais jovem... Bons tempos aqueles... — Perguntou Alec. Parecia que ele tentava interagir um pouco, possivelmente para quebrar o clima de tensão da procura. Como Vincent reagiria a isso tudo? ◄

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Como Vincent havia notado, Alec tentava ajudá-lo a não se desesperar com a situação, e o rapaz preferiu contribuir também com uma boa conversa para manter os ânimos sob controle, comentando um pouco sobre sua própria experiência de vida e sua origem em Ecruteak. O Mono-treinador revelou que Cleffa pertencia a sua falecida irmã e que a conexão entre os dois foi imediata, assim como a decisão de partirem em uma jornada juntos foi natural. Era possível notar empatia nos olhos do explorador, que ouvia com carinho toda a história do rapaz. Era uma história pesada e Vincent sabia disso, por isso tratou de desviar o foco para o próprio Alec, perguntando se ele conhecia a cidade história de Ecruteak.

— Ah, mas é claro! Eu estou nessa jornada há muitos anos... Sandy não é minha primeira Pokémon, mas é filha da minha Sandslash querida, que descanse em paz...  — Comentou com certo pesar na voz o explorador, mas sorrindo pelas boas lembranças — Lembro que tive um... Como os jovens dizem hoje em dia? Um certo Affair por uma das Kimono Girls daquela época. Hoje em dia ela deve ser avó das atuais Kimono Girls! HaHaHa   — Gargalhava o homem com suas lembranças, colocando a mão sobre sua grande barriga ao rir. Por um segundo era possível notar que a nuvem negra que pairava Alec havia sumido — Mas foi uma lástima o que aconteceu naquela região... Tantos prédios históricos belos. Milenários! E agora estão todos submersos, nunca serão os mesmos...  — Terminou de comentar o explorador sobre a região de Johto. Ele olhava para a frente, mas sua mente estava em outro lugar, possivelmente em sua juventude. Contudo, algo fez Alec parar de caminhar e sair de sua viagem mental, apontando para o caminho bem à frente da dupla.

— Mas veja só! Olhe ali! Vamos! — Dizia o explorador, apontando metade de um colar de flores brancas largados no chão. Algumas pétalas estavam arrancadas e se espalhavam por uma trilha secundária que seguia ladeada por árvores com distâncias bem iguais entre elas, como se houvessem sido plantadas e não nascidas naturalmente. Não pareciam árvores frutíferas, mas possuíam uma copa bem bonita e quase redonda, perfeitas para decoração. A tensão parecia ter subido naquele lugar porque a forma como as flores estavam espalhadas não sugeria um desfecho amistoso para aquela história — Calma rapaz, vamos pensar com calma... Acho que devemos seguir essa trilha e ver aonde dá. Parece um lugar habitado, talvez não tão recentemente, mas essas árvores certamente foram plantadas! Se houver alguém morando aqui pode nos ajudar... Eu acho...  — E assim Alec finalizava o comentário, deixando a decisão final nas mãos do garoto. O que Vincent faria? ◄

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O silêncio se fez naquela mata ao verem todas aquelas pétalas espalhadas pelo chão. A falta de som só foi quebrada pelas batidas ritmadas do coração de Vincent, que vibravam por todo seu corpo. Certamente o Mono-treinador gostaria de gritar aos quatro ventos em desespero, mas precisava manter a calma, pois surtar não traria sua amada Cleffa de volta. O rapaz então concordou com as palavras de Alec, e juntos seguiram por essa trilha que parecia ter sido montada.

O caminho se estendia por muitos metros a frente, fazendo uma longa curva à esquerda, que impedia de verem o que se passava no final do caminho. Entretanto, uma coisa era certa, a partir da metade daquela passagem, a floresta começava a ficar menos densa e a chuva voltava a cair sobre eles. Felizmente a tempestade maior havia passado, dando lugar apenas ao sereno que parecia um spray sobre seus rostos.

Quando a dupla finalmente fez a curva mais acentuada à esquerda na trilha eles puderam ver o que os aguardava. Havia um casebre de madeira um tanto surrado, com portas e janelas fechadas. Não era possível enxergar muito sem se aproximar, mas parecia haver um quintal nos fundos, rodeado por uma cerca de madeira branca um pouco esburacada. Diferente das árvores lá no início da trilha, o cenário aqui era de abandono e isso parecia bem estranho. Certamente o clima gelado e o tempo nublado não facilitavam para Vincent e Alec, pois fazia com que eles se sentissem em um cenário de filme de terror bem trash, apesar de ser dia.

— Bem, as pétalas de rosa sumiram já há algum tempo, mas com esse vento podem ter sido arrastadas... De qualquer modo é melhor conferirmos essa casa. Se quiser eu procuro por lá e você em outro lugar ou vice-e-versa. Precisamos achar sua Cleffa!  — Dizia com bastante obstinação, o explorador. Talvez fosse uma boa ideia se separarem, mas precisariam manter um certo contato visual para eventuais problemas. Alguns lugares que poderiam ser explorados eram a própria casa, a cerca de madeira e as profundezas do bosque nos arredores da trilha.

Cabia a Vincent decidir onde ele gostaria de ir investigar e aonde ele gostaria de enviar Alec para dar uma olhada. Muito provavelmente o explorador não se importaria de seguir a opinião do rapaz, afinal o Mono-treinador era o mais prejudicado pelo sumiço de sua fada. Vincent também poderia deixar essa escolha nas mãos do homem se assim desejasse. O que ele faria? ◄