#001 On the Run

A jornada finalmente começava. Jamais imaginei que meus pais, tão protetores, permitiriam que eu explorasse esse vasto mundo Pokémon. Há alguns anos atrás, nem eu mesmo imaginava que seria um treinador. Antes de conhecer Spheal, minha meta para a vida era apenas ter um emprego na cidade grande e viver confortavelmente dentro de um apartamento. Agora tudo estava diferente, iria construir um legado como treinador Pokémon e vivenciar novas experiências.  

Assim que a captura foi feita, Spheal já se colocou, por conta própria, para fora de sua Pokebóla e eu não fiz objeção nenhuma quanto a isso. Spheal e eu já tínhamos uma história juntos, antes da captura, e nada mudaria isso. Deixa com que a pequena ficasse ao meu lado, enquanto caminhávamos, já era uma prática do dia-a-dia.

Após limpar toda a bagunça que Spheal fizera na minha festa de aniversário, e checar se estava com todos os itens necessários, parto para as ruas da cidade de Lillycove. Minha vida inteira residi ali, mas pela primeira vez, via aquela cidade com os olhos de um Treinador. Não prestei atenção nos pedestres comuns, mas sim nos treinadores que transitavam por ali. Parei em frente à entrada do apartamento de meus pais e encarei a Pokébola vazia, retirada do meu bolso, que pertencia a Spheal.

Olhar para o pequeno objeto me fazia pensar nas inúmeras possibilidades e rotas que o destino agora separava para mim. Estava na hora de colocar o pé na estrada, já era hora de ir. Era ali que tudo começaria.

Era hora de começar a se mover. Comecei dando meus primeiros passos para longe do apartamento dos meus pai. Ao meu lado estava Spheal, ambos nos olhamos e, sem a necessidade de palavra alguma, entendemos que o nosso retorno era incerto. Nosso lar, a partir daquele momento, era agora o vasto mundo que nos aguardava.

Saber isso me enchia de determinação, mas ao mesmo tempo um sentimento de medo se instalava em meu coração. Estava saindo da minha zona de conforto, meu lar, para explorar um mundo que eu não conhecia - aterrorizante para um menino. Era o momento da independência e responsabilidades virem.

Para a minha sorte, iniciava minha jornada na minha cidade. Tinha conhecimento do negócio local e das áreas de maiores movimentos. Mesmo que eu não fosse um jovem tão ativo na comunidade, devido a uma vida dedicada aos jogos eletrônicos, possuía conhecimento sobre ela, em especial locais de eventos sobre animes.

Conhecimento o suficiente para optar por procurar uma vaga temporária no mercado local. Antes sempre tinha da minha cama para dormir, mas no mundo dos adultos se eu quisesse conforto, seria necessário pagar por isto. Ninguém me daria algo apenas por me achar simpático ou pena do treinador novato.

Já tinha um objetivo formulado em minha mente, logo, parti em direção deste. Spheal, minha companheira de viagem, prontamente me seguiu - sem sequer saber para onde íamos. Enquanto caminhava pensei nos desejos da pequena, ela jamais se mostrara uma Pokémon amante de batalhas. Nas vezes em que ela ficava ao meu lado, enquanto eu jogava, sua energia era mais direcionada a me atrapalhar do que no game em si.

"Acho que eu e você jamais cogitamos uma vida de batalhas não é mesmo, Spheal?" - pensei comigo mesmo, enquanto dirigia um olhar terno, para a pequena bolota azul que rolava pelas calçadas. "Espero conseguir um trabalho com uma boa remuneração, pelo menos..."

A área comercial mostrou-se movimentada. Movimentar-me ali acabou sendo um desafio para mim. Meu corpo não era dos mais musculosos, logo, os esbarrões acabavam me fazendo perder o equilíbrio.

Com medo de que algo acontecesse a Spheal, peço para que esse se mantenha próximo a mim e, a cada momento, verifico o meu arredor, para certificar-me de que o Pokémon está ali do meu lado - além de diminuir o ritmo de meus passos, passos lentos e tranquilos em uma rua movimentada e comercial. Cogitei segurar o Pokémon no colo, mas não era algo muito confortável considerando o peso e o tamanho da Pokémon.

Conseguindo encontrar um lugar na calçada, onde o fluxo de pessoas me permitisse uma estabilidade e me desse a oportunidade de observar as lojas. Alcanço, com minha visão três placas de 'precisa-se' em três diferentes recintos. A loja de tons azulados me chama a atenção e decido que seria minha primeira escolha. Caminho em sua direção.

"Minhas mãos definitivamente estão suando" , pensei enquanto ria comigo mesmo, mas sem mudar minha rota para a loja.

Assim que passasse pela porta desta, minha intenção era de simplesmente encontrar o responsável pelo local e perguntar sobre alguma vaga para um treinador iniciante, sem experiencia alguma.

O restaurante já estava em funcionamento. Ao entrar no local senti o cheio de comida caseira e meu corpo amolece. Era um aroma tão agradável, algo que lembrava casa, conforto e segurança. O local era agradável.

Havia já alguns clientes na mesa e não demorei em localizar o possível responsável pelo lugar. Era um senhor de idade com uma aura que empunhava respeito . Ele tinha uma forte presença ali no local. Spheal também foi atendida, um pequeno Torchic – fora isso que minha Pokédex me falava – era quem recebia minha Pokémon.  O crachá dava a ele um toque especial, certa fofura.

Spheal parecia muito entretida com o pequeno Pokémon de fogo. Não sabia o que estavam a dialogar, mas por alguns segundos invejei Torchic por entender a Pokémon foca. Sempre desejei poder entender a linguagem de minha Pokémon, conversar com ela e enchê-la de perguntas sobre... talvez a vida? Bem, realmente não sabia o que falaria, mas certamente conversaríamos por dias.

— Bem vindo, bem vindo! Como posso lhe ajudar? Precisa de uma mesa? – a voz do senhor me tirou de meus devaneios. Voltei minha atenção para ele.

“Agora é hora de mostrar a função de meus pontos em carisma”, pensei comigo mesmo. Logo depois expliquei para o bom homem o porquê de estar ali. Todavia busquei ser sucinto, certamente havia clientes reais que precisavam de atendimento ali. De uma maneira simples perguntei se havia alguma vaga para um treinador do meu nível, iniciante.

“Espero que Spheal não tenha pedido nada de comer. Não faz nem muito tempo que ele destruiu meu bolo de aniversário”, foi o que ocupou meus pensamentos após o pedido de emprego para o senhor.

Quando terminei de conversar com o senhor e olho para minha Pokémon, fico perplexo. Meus olhos simplesmente não conseguiam acreditar no que estava vendo. Spheal, minha companheira, estava deleitando-se da comida do local. Comia como se estivesse a quarenta dias de jejum.

Raramente expressava minhas emoções externamente. Meu rosto, ao analisar tal cena, era de neutralidade, como se não me surpreendesse com aquilo. Meus pensamentos já estavam a outro nível. Meu cérebro projetava cenas de como aquela situação era danosa para mim. A partir daquele momento sabia que aquela Pokémon me traria problemas quando o fator comida estivesse envolvido.

Em algum momento, entre meus pensamentos, devo ter esboçado algo em minha expressão facial, somente isso para explicar o senhor falando sobre a necessidade de não precisar pagar pelo alimento, como se tivesse lido meus pensamentos. Estava aliviado com isso, meu corpo chegou até a relaxar.

A tarefa que o dono do local tinha para mim parecia simples e honrosa. Se tratava de um evento de ‘caridade’ com a intenção de levantar fundos para uma instituição que cuidava de animais abandonados. Era realmente um trabalho digno, se eu realmente não precisasse de dinheiro, estaria me sentindo mal por fazer aquilo em troca de algo. No entanto este não era o caso.

Imediatamente topei e perguntei para o senhor todas as informações necessárias para chegar até o local. Haveria outras pessoas presentes, treinadores, que me auxiliariam com a função que eu deveria exercer. Tudo que me restava era chegar até o local. Agradeci pela hospitalidade dada a minha Pokémon e também pela oportunidade de emprego. Peguei Spheal – que havia deixado seu prato limpo, como se nunca houvesse tido algo no recipiente antes– e parto para a saída da loja.

“Novamente nas ruas da cidade. Agora é apenas me dirigir até o local do evento”, com passos firmes rumei em direção ao meu objetivo. Assim que chegasse sabia que precisava procurar pelos dois treinadores que chegaram antes de mim.