#001 — O garoto que dança com fantasmas

Gastly, mesmo sendo sua primeira batalha oficial, conseguia ser rápido e acertava os golpes em cheio na lagarta. Eram algumas lambidas que deixavam qualquer um arrepiado, não deveria ser nada legal sentir essa sensação. Wurmple tentava responder com uma investida contra o pokémon fantasma, mas passava direto pelo o corpo gasoso, sem fazer efeito nenhum. Único efeito que surtia era uma pequena cócegas em Gastly, que gargalhava a fim de desmoralizar seu adversário. Naquela altura a risada de desdém era a única coisa que poderia ser ouvida, aquele latido não era escutado novamente, o que preocupava o treinador.

— Temos que ser rápido, parceiro. Vamos acabar logo com isso, utilize mais um Lick! — Disse para sua criaturinha, olhou em volta e avistava algumas árvores que poderiam ser utilizadas ao seu favor. — Depois recue para bem perto de alguma árvore e aguarde o ataque do Wurmple, depois use mais um Lick. — O jovem tinha a intenção de fazer com que aquela lagarta utilizasse mais um Tackle e passasse direto pelo o corpo do fantasma, porém dessa vez indo de cara com árvore e causando um possível dano extra.

Sua estratégia conseguia ser um sucesso, aquela lagarta ia em cheio de encontro ao tronco da árvore; vendo sua estratégia dando certo, Joe soltava um leve grito que era um misto de alívio e felicidade. O jovem ficava observando seu adversário que estava por cambalear pelo campo de batalha, talvez mais um ou dois golpes fossem o bastante para encerrar o embate e era nisso em que apostava, indo com tudo para cima do mesmo.

— Estamos numa posição favorável, amigão. Vamos acabar isso com mais dois Lick! — Disse, tentando conter toda sua apreensão em ter que resgatar o possível Poochyena, que a essa altura já não soltava mais nenhuma reação.

Joe observava o seu adversário indo a nocaute, era admirável todo o esforço dele que mesmo estando em desvantagem física não desistiria nem por um instante do embate. O jovem estava com uma pokébola vazia em suas mãos e por alguns segundos pensava em capturar aquele bravo Wurmple, porém recuava guardando a esfera de volta em sua mochila... Aquela bravura toda não seria em vão, desde o primeiro ápice aquele inseto parecia que estava escondendo e/ou protegendo algo. Um ninho com filhotes? Toda sua alimentação? Qualquer coisa que seja, Joe não queria saber e nem separar a criatura rosa do que fosse. Logo saía em direção daquela lagarta e a envolveu em seus braços, pegando no colo; deu alguns passos e a deixava dentro do tronco podre no qual tinha saído anteriormente.

— Descanse, pequeno. — Deu um ultimo cafuné no Wurmple. Rapidamente retornou com um sorriso no rosto em direção do seu Gastly. - BOOOA, CAMPEÃO! — Deu um grito extasiado e um forte abraço em seu fantasminha, parecendo uma criança que tinha ganho um doce. Gastly adorava em ser o centro das atenções naquele momento e todo o contato com o seu treinador, a felicidade era tanta que estava ponto de estar com a língua pra fora e babando a barriga do jovem. A dupla não conseguia conter a alegria em ganhar a primeira luta oficial, ainda mais da maneira que foi, sem sofrer um dano e mostrando uma ótima sinergia em campo de batalha, nem pareciam que tinham começado recentemente a aventura.

— Espera... Temos que ir atrás do Poochyena. Não podemos ficar comemorando o dia todo. — Com uma risada, voltou para o momento de lucidez. Gastly mudava para um semblante mais sério e seguia adiante, por conseguir flutuar não teria problema com os obstáculos a sua frente. — SORVETE, ESTAMOS CHEGANDO! — Gritou mais uma vez, a fim de tranquilizar o que achava ser o Poochyena perdido.

Yokosuka dava um salto em direção ao tronco, visando passar para o outro lado do campo e antes de chegar ao seu destino, o jovem era avisado pelo seu pokémon fantasma que dava um grunhido que parecia ser algo como um "cuidado"; mais uma surpresa estava prestes a aparecer aos nossos heróis, era possível escutar alguns passos e observar algumas folhas se mexendo. Aquela floresta estava conspirando para não conseguirem o concluir o resgate, talvez toda a gritaria tivesse despertado a atenção de todos os pokémons presentes. Joe dava um suspiro e revirava os olhos descendo do tronco em que se encontrava. Já Gastly recuava e ficava ao lado de seu treinador, aguardando as próximas ordens.

— Vamos aguardar que dessa vez seja um pokémon dócil, parceiro. Mas, se não for, já sabe né? — Sussurrou. — Quem é? Apareça! Não queremos mais confusões... — Disse em um tom mais alto para o possível adversário.

O barulho ficava cada vez mais próximo de Joe e seu Gastly, a tensão tomava conta da dupla e aguardavam o que poderia ser; sabiam que qualquer passo que dessem poderia ser crucial, visto que não tinham idéia do tipo de perigo que estava por vir. De repente de dentro de um buraco próximo saía duas pequenas pernas de um inseto, o esforço para sair daquele local era notório, ficando claro que pokémon estava entalado. E com muito força, a criaturinha conseguia sair daquela toca sendo ejetado, lembrando um canhão de guerra. Era uma cena hilária e até fofinha de assistir, imediatamente o treinador e seu fantasma se olhavam e começavam a rir, liberando totalmente qualquer tensão que existia no ar.

Logo o jovem retirava de sua mochila uma pokedex para buscar mais informações a respeito. Aquele pokémon se tratava de um Nincada, que continham algumas peculiaridades, além de ser cego por padrão se mostrava também um tanto quanto desastrado. Visto que nenhuma outra espécie queria contato com o inseto, a situação deixava de ser engraçada para triste e Joe com seu espírito bondoso, sentia a necessidade de uma aproximação para tentar fazer aquele desolado pokémon se sentir melhor. Infelizmente, o treinador teria que contornar um obstáculo em sua frente: quando Nincada corria em direção da dupla, acabava tropeçando e culpabilizando o Gastly pelo seu acidente.

— Calma, Nincada. O Gastly não tem culpa, ele estava do meu lado o tempo todo. — Deu uma pausa, fez mais uma busca rápida em sua mochila e retirou o conhecido pacote de nuts que já estava no final. Encheu sua mão com o restante de comida, esgotando totalmente o pacote, e estendeu a mão para o Nincada a fim de uma afinidade. — Aqui, é a unica coisa que tenho, um pequeno presente e quem sabe o início de uma amizade. — Sorriu.

Com sucesso, Joe conseguia estabelecer um primeiro contato com o Nincada, oferecendo um punhado final de seus nuts. O inseto parecia faminto, com uma velocidade incrível ia de encontro com a mão com comida e comia tudo, sendo tomado por uma expressão de felicidade em seu rosto. Para o treinador era gratificante ver aquela cena, parecia que tudo iria ficar bem, porém só parecia... Um acidente acontecia, Nincada sem perceber que não havia mais nenhum alimento, acabava por morder a mão do jovem e causando um leve ferimento que imediatamente sangrava. Assustado, talvez por um sentimento de culpa, o pokémon saía correndo para se esconder.

— Merda... — Esbravejou de dor. Pegou a aba de sua camisa para estancar o sangue e pressionou contra a palma de sua mão esquerda, causando uma leve ardência. — Calma aí, Nincada. Tá tudo bem. — Tentou tranquilizar a criaturinha, mas era em vão, a mesma estava novamente tropeçando e culpabilizando o Gastly pelo o acidente.

Um latido ecoava pela floresta que acabava por estressar o inseto, que como resposta partia para um ataque. Por sorte, o corpo gasoso do fantasma acabava salvando ele mais uma vez; Gastly ficava sem entender o que tinha feito para causar toda aquela raiva e como não tinha sangue de barata, seu semblante mudava para um mais sério e ficava pronto para a batalha, aguardando as ordens de seu treinador ficando à sua frente.

Joe não queria começar um embate naquela altura, muito por causa do resgate do pobre Poochyena. Porém, no meio daquele caos todo, ouvir o latido do canino acabava por tranquilizar o jovem e parecia que o mesmo ganhava mais um tempo extra.

— Vamos lá, parceiro. Tente confundir o Nincada voando na escuridão da floresta e utilize um Hypnosis para acalmar o nosso amiguinho. Depois ataque com um Lick.