Fearow voou alto mas nunca perdendo Skarmory de vista. Nicholas ficou grande parte do tempo à minha frente mas passei no momento do pouso, ninguém pousa tão rápido quanto Hugin! O que é horrível para mim, diga-se de passagem. Quase toda vez é isso; meu medo do céu é ínfimo comparado à ansiedade pré-pouso; dessa vez fora como todas as outras. Tenho impressão que Fearow não sabe descer, só cair mesmo.

Ainda que fosse a quinquagésima nona vez que voo neste pássaro ainda terminava a aventura completamente empalecida; a única vantagem de chegar antes de Nicholas era que ele não me veria assim, graças a deus. Sacudi a cabeça, os membros, desci da sela e guardei Hugin em sua esfera avermelhada. Nessa altura o ovo que tanto balançara em Petalburg estava eufórico; não há tempo para pânico. Abri a mochila apressada e tomei dela a incubadora que me resta. Desta incubadora tirei o ovo, o abracei com força e senti o balançar mais de perto. Meu coração batia bastante forte e acelerado e, prestando atenção na respiração pude sentir meu corpo e conter alguns exagero. Como deve ser ruim nascer, né? A força que se faz, o tempo que se fica preso e, ainda, pra que? Hoje estou tão melancólica que o ato de nascer me parece uma grande cerimônia desnecessária. Foi isso que algumas horas com Nicholas fez comigo? Eu tenho que dar um jeito nesse humor bucólico que de alguma forma me tomou.

Dei de ombros e chacoalhei o corpo; minha pele já estava em tom normal, meu coração batia como de costume e minha garganta, ainda que seca, voltava à deglutir. Soltei um pouco o ovo em meus braços, carreguei-o como um bebe no torso e destravei meu pescoço para olhar em volta; um centro pokemon normal. Na verdade, um tanto quanto vazio para uma cidade-evento; só via um menino treinando ao fundo mas, por hora, isso não era tão importante assim.

O ovo cessara. Devo me preocupar? Cadê Nicholas? Eu estou no lugar errado? Oh deus, o que diabos é para fazer aqui? Peguei do bolso esquerdo da mochila uma PokeDex e, antes de abrir, ouço uma baixa onomatopeia: Crack! Um rachado aparece no ovo e, logo em seguida, outro. Uma luz começa a escapar entre as pequeninas fendas e só então eu me pergunto: da onde vem a energia luminosa dos nascimentos e evoluções? Ao menos alguém tinha um holofote por aqui. Afrouxo ainda mais o abraço e fecho os olhos, me protegendo do brilho exorbitante. Aos poucos a casca se desfaz e cai pelo chão; em meu torço já não tinha mais nada e, quando finalmente abro os olhos, vejo um Woobat, bastante silencioso, voar ao meu redor.

- Ei... - Disse, sem muito jeito e sem nada à declarar; dei uma pausa longe, um suspiro e retomei - Sou Winnie! Acho que daqui em diante você vai estar comigo, né?! Prometo cuidar bem de ti.
Ao fim disso tudo confirmei com a cabeça a situação, era mais um processo de auto-afirmação do que qualquer outra coisa. O caguete se foi e voltei à reação comum, eu ainda olhava para cima à todo segundo esperando Nicholas descer. A preocupação de não vê-lo me fez voltar à PokeDex; a primeira coisa era identificar se eu estava mesmo em Sootopolis e, a segunda, sondar informações sobre o recém nascido.

OFF: Ei vocês! Cris já ta vindo.

Nicholas enfim pousou; fora no ato que lembrei da nossa aposta, dei uma risada baixa e encarei o rapaz. Antes de mais nada queria pontuar a classe com que parara no chão; Fearow deveria ter visto isso para ver se aprende algo:
-Ah, antes de tudo, acho que ganhei a aposta - Ri sem graça; eu nem era de beber, não sabia se Nicholas era mas, sinceramente? Perder tempo num bar parecia um plano bastante gostosinho para agora - Me paga quando puder.

Era evidente que pouco sabia o que o rapaz faria em Sootopolis; se todo já tivessem ido embora perderia o objetivo estar ali. Chamei Woobat para mais próximo, coloquei-o no colo e da incubadora retirei a esfera que lhe compete. Pensei em pressionar o botão central mas não o fiz (ainda); talvez deixar que o pokemon se ambiente mais com o mundo fora da casca seja saudável:
- Ah eu pretendo treinar ele... Talvez não tão cedo mas pretendo sim - A pausa se deu por um motivo simples; sem pedir fui tomada pela lembrança de Rotom, recém nascido e já treinando - Não sei como chamá-lo, quer dar um nome para ele? Ou me ajudar com algum - Fora entre essa fala e alguns afagos que dei por mim; eu ainda precisava perguntar o que faríamos ali mas ficaria para o próximo diálogo.

OFF: O drama da menina que quer nomear um Woobat mas não sabe o gênero dele Q