Prossegui com Chris até a enfermagem e ouvi seu elogio com bastante alegria; não é sempre que um adolescente é tão bem receptível assim, né? Seus cabelos claros caiam sobre o rosto e seu semblante não parecia lá muito desanimado pela derrota. Em resposta a isso sorri de olhos fechados, juntei o ar do pulmão para soltar um suave suspiro e falei:
- Você sabe que pode usar o que quiser, né? - Fora retórico, ainda assim, uma indagação; um ar de convite talvez - Me ligue quando precisar. Não garanto que Nicholas atende telefone, eu mesma nunca tentei ligar para ele, mas eu sou confiável, juro! - Brinquei; não era de todo um blefe, agora Chris tinha meu contato e poderia me procurar quando quisesse de fato.
Não demorara muito para a enfermeira Joy nos atender; ela chegou primeiro que Nicholas que, por sinal, nem viera. Queria poder dizer que só senti sua falta quando virei para ir embora mas, bem... Seria uma mentira. A cada minuto que passo com o rapaz o acho mais estranho; quem diabos não prioriza o cuidado de seus pokemons? Não sei, nem sequer me sentiria segura saindo por ai com um pokemon minimamente lesionado, quem dirá meu inicial nocauteado. Será que um dia vou desistir de entender? Ah, que seja; to passando tempo demais pensando nisso, que desperdício de pensamento.
Fora só ao fim desse devaneio inútil que tive meus pokemons de volta e, antes de caminhar até Nico, decidi por soltá-los ali mesmo, ver como estavam e como fora a experiência dos pequeninos. A primeira esfera que liberei fora Jangmo-o, que caiu mudo, levantou mudo e assim permaneceu; não havia pergunta que lhe faria falar. Reparando que essa comunicação poderia levar um tempo, encarei Chris um pouco aflita e lhe pedir:
- Ah, vá na frente, logo eu apareço lá! Juro que não demoro.
Com essa deixa liberei os outros dois. Loki sentou no chão um pouco confuso e desconsertado, mas não parecia muito mal, apenas demorara para entender que aquele se tratava do seu primeiro nocaute e, com isso, estava de volta ao mundo, sadio novamente. Paralelo à isso vinha Hela que, ainda tendo sido a única pokemon que se manteve de pé - ainda que esse "de pé" seja questionável - até o final, era a mais estranha do trio. A pokemon nem sequer parou em pé quando a libertei; não olhou para minha cara, nem dos seus amigos e começou numa inquietação preocupante. Observei a pequena por mais alguns segundos e, sem entender a reação atípica, fui até ela. Agachei, estendi uma das mãos e a toquei no rosto, com o dedão. Passei-o pela sua face suada e a acariciei com a ponta das unhas. Seu pelo estático me dera um choque leve; baqueei mas não relutei, fiz de novo. Desta vez, estática alguma me incomodou, então mantive o carinho. A elétrica continuava desviando o olhar; meu ato parecia incomodá-la mais do que deveria, não pelo toque em si, mas por ter que manter-se quieta para recebê-lo. Cessei, encarei-a com mais seriedade e levantei:
- Você ta bem Hela? Eu realmente nunca te vi assim - Questionei; eu ainda não tinha saído do centro e nem pretendia sair sem me certificar de que ela estava saudável.
Sem resposta, optei por abaixar mais uma vez, desta vez só estendi os dois braços sinalizando que viesse para mais perto; não à toquei diretamente, chamei para que viesse à mim e, ao chegar, seu pelo encostara no meu braço numa cócega inicial que, rapidamente, se transformou num choque doloroso. Cai para trás, pisquei uma vez e, quando abri o olho, um processo conhecido de evolução estava engatilhado. Hela já não tinha cor, forma, textura ou cheiro; era só luz. Sorri calma e esperei cessar, só então entendi que, mesmo estando tando tempo comigo, Hela era um bebê e, como para todo o bebê, crescer assusta. A luz amorfa tornava tudo à volta branco; não havia possibilidade de contato visual direto com nada, a mão por cima dos olhos era pré-requisito para manter-se safo. Suspirei pela milésima vez nessa rota e, como dito, esperei cessar.
O processo parou e, ao fim dele, eu já sabia o resultado: Hela agora era uma Electabuzz. Ao mesmo tempo minha PokeDex vibrava; eu não veria agora, estava com Hela mas, minutos depois, encararia o visor e descobriria que Thito está por algum lugar ali perto e minha agenda está notificando isso.