Um passeio pela caverna.

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Com um peso a menos na mochila e algumas moedas a mais no bolso, os monotreinadores finalmente deixavam a cidade para trás, sem nenhum problema ou obstáculo que pudessem os impedir. O Sol ainda brilhava no céu azul, limpo e sem nuvens, quando a dupla abandonou Verdanturf. O clima estava agradável, com o vento acariciando seus cabelos de maneira afável, mas nada disso importou quando ambos se depararam com entrada da escuridão seca que abria caminho na terra.

Em uma placa antiga ao lado do túnel, com as bordas carcomidas por ferrugem, ainda se lia claramente, em letras garrafais - "RUSTURF TUNNEL" - e, logo abaixo, em uma fonte menor: "Desde 1881". Fora da placa, pichado na parede, finas letras brancas impunham sua própria demarcação para o local: "Lar dos Pokémons Pedregulho - Cai fora!". Por falta de atenção ou até indiferença, Luna abriu caminho para o túnel, seguida por perto por Gilberto que, fosse por estresse pela demora da garota nas lojas da cidade mais cedo ou simplesmente por ser "obrigado" a passar por dentro daquele tipo de lugar enquanto preferia a liberdade do campo aberto, permanecia quieto e sem nenhuma aparente vontade de dialogar com a loirinha.

No chão de terra batida, trilhos de trem envelhecidos se fincavam e seguiam caminho para o interior do túnel, além de onde os olhos podiam alcançar, e eram provavelmente o único detalhe que servia de bússola aos aventureiros que ousavam se embrenhar nas entranhas da obra abandonada, considerando as passagens que se abriam de vez em quando nas paredes do lugar, possivelmente construídas por pokémons que ali residiam. Alguns metros à frente, após uma curva para a esquerda, foi possível perceber pequenas luzes acopladas nas paredes, que ainda brilhavam com fraqueza e piscavam casualmente, sendo as únicas responsáveis por iluminar o túnel e o envolver numa penumbra tímida, afastando as trevas e permitindo uma rota segura àqueles que desejassem prosseguir caminho pelo local.

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Sem nenhum empecilho (grave ou não) que os obrigasse a parar seu caminho, a dupla então se limitou a seguir com tranquilidade o túnel que a linha férrea há tanto tempo demarcava. Fazendo jus à sua situação de "abandono", o silêncio avassalador que rondava pela atmosfera chegava a ser inquietante, do tipo que se pode até mesmo ouvir as batidas do próprio coração, com um pouco mais de atenção. Desse mesmo jeito o clima perdurou por algum tempo, minutos, quem sabe. O eco abafado dos pares de passos ao bagunçar as pedrinhas embaixo do solado, a fuga dos (amigos, rivais?) de sequer uma conversa pesando ainda mais nos ombros de ambos. E provavelmente assim permaneceria até o fim do túnel, se não fosse um pequeno problema aparecendo em seu caminho.

Alguns metros à frente, brilhando na penumbra, os trilhos haviam se partido - a primeira metade retorcida numa semi-espiral, os metais enferrujados apontando perigosamente na direção dos monotreinadores: A distorção da linha férrea indicando claramente que não era uma situação que ocorreu meramente por efeito do tempo. No meio do caminho, separando e ocultando a outra parte dos trilhos, enormes rochas serviam de obstáculos e, embora não tampassem totalmente a passagem para o outro lado, era óbvio que havia necessidade de escalar caso insistissem em prosseguir em linha reta, sem nenhuma garantia do que poderia estar esperando do outro lado, ou mesmo de que seria seguro seguir em frente. Como alternativa, três longas (e mais escuras) passagens se abriam mais próximas nas paredes, duas na direita e uma única na esquerda, próxima ao entulho de pedras que formava barricada no meio da ferrovia.

Como procederiam os treinadores?

O obstáculo que os fechou numa divisão de caminhos também foi, felizmente, responsável por dissipar o silêncio que pairava entre os monotreinadores. Luna, embora nada confortável com a situação em que se encontravam, não parecia disposta a voltar atrás e o pensamento afiado logo se recordou de Joltik e, após uma breve troca de ideias com Gilbert, libertou seu pokémon, assim como a ordem/pedido para que o espécime checasse a condição do caminho além da barreira rochosa. Assim, ágil e com facilidade por conta de seu tamanho, o pequeno aracnídeo escalou o obstáculo de pulo em pulo pelos pedregulhos, até alcançar o topo das rochas. Em passinhos apressados, o elétrico adentrou a estreita (ou talvez não tão estreita, para ele) passagem, desaparecendo do campo de visão da dupla que o aguardava, ambos tão pacientes quanto possível.

...

Um, dois, cinco, onze, vinte e três, quarenta, um minuto.
A menos que tivessem um cronômetro, era impossível dizer ao certo há quanto tempo o minúsculo animal partira para seguir as ordens de sua treinadora e, ainda assim, nenhum sinal de Joltik era dado. Sem dúvida, cada passo extra dado pelo ponteiro do relógio era um momento a mais de tensão para qualquer treinador nessas condições, principalmente pela expectativa do retorno que não era cumprida, o silêncio do túnel pesando nos ombros mais uma vez enquanto a única prova de que o tempo corria eram as fracas luzes que, complacentes, lutavam para seguir em funcionamento, piscando de quando em quando.

Então, após o curto-longo período que parecia infindável, um miúdo vulto amarelado surgiu no topo das rochas, e saltitou com tranquilidade seu caminho para baixo - com a mesma destreza, escalou o corpo de sua treinadora e aconchegou-se serenamente em seu ombro, emitindo um cry acompanhado de um rápido aceno afirmativo com a cabeça. Bem, ao que tudo indicava, havia sim uma passagem a ser seguida - mas, pela demora do retorno do pokémon, era possível apostar que precisariam rastejar por alguns metros, caso optassem (e tivessem êxito) por subir. Qual seria a decisão da dupla?

Em justiça ao dócil e prestativo aracnídeo, a moça não segurou o elogio para o elétrico, assim como um pequeno carinho entre seus pelos, que se eriçaram com suavidade, os olhinhos se apertando e emitindo um som manhoso, a cabeça se inclinando na direção daquela carícia. Considerando a demora de seu pokémon, Luna não precisou pensar muito: Embora talvez escalar a parede de rochas fosse o caminho mais "rápido", certamente não seria o mais confortável e tampouco seguro, então muito provavelmente mais valia a pena explorar alguma outra passagem - e, quem sabe, com um pouco de sorte, se não encontravam alguma coisa interessante perdida por aí?

Gilberto não parecia interessado em ajudar, então, a loirinha se limitou em vasculhar seus pertences atrás de algo para iluminar o caminho, e seu movimento causou com que Joltik escalasse até o topo de sua cabeça para melhor se aconchegar e observar o que sua treinadora fazia. Pokéballs, shards, linha de pesca, um pandeiro, frutas e mais frutas, discos de habilidades - enfim, a mochila era quase um buraco negro pronto para cuspir qualquer item necessário para uma aventura, ou ao menos era o que parecia. Após longos segundos revirando as próprias coisas, a monotreinadora se viu frustrada em encontrar a única coisa que mais desejava no momento: Uma bendita lanterna. Será que sua memória a estava tentando enganar, ou talvez havia esquecido tão precioso objeto em algum outro lugar? No Centro Pokémon, em alguma loja, será que não tinha caído ou algo assim?...

Enfim, era impossível saber, mas o veredito era inevitável: Não tinha nenhuma lanterna por ali. Observando a companheira escavar mais e mais em sua bolsa sem sucesso ou indicação de que estava tendo sorte, Gilberto também passou a remexer em sua mochila, entre um semblante de desgosto e um suspiro irritado. Talvez, com um pouco de atenção, Luna também fosse capaz de escutar um murmúrio: "Irresponsável..."...
Então, após alguns momentos de enrolação e procura, o rapaz puxou alguma coisa de um dos bolsos de sua mochila e, para a felicidade de todos, ali estava: A única, a maravilhosa, a espetacular guia luminosa que se encarregaria de indicar os melhores caminhos a serem seguidos em segurança e...!

Era o que deveria ser.
Mas, provavelmente, um chaveiro de lanterna não seria tão útil quanto uma comum.
Bem, pelo menos acendia, certo? Já era um começo!

...
E agora?

off:

Mesmo que o objeto não fosse bom para a situação como seria uma lanterna normal, o fato não pareceu abalar a monotreinadora, que resolveu apenas se contentar por terem um chaveiro para que não precisassem se jogar às cegas na escuridão dos túneis laterais. Uma breve interação entre a dupla (e uma bronca, também, por parte de Gilberto) se seguiu e, então, após deliberar por poucos segundos, Luna optou por irem pelo caminho à esquerda, afinal, se era único, também deveria ser bom - ou, pelo menos, era isso que seu instinto a dizia.

Seguiram, então, pela passagem. O fino feixe de luz emitido pela lâmpada do chaveiro não era significativo e nem iluminava por completo, mas era suficiente para que os treinadores pudessem ao menos escapar de topar os pés em uma ou outra pedra largada (ou, simplesmente, que existia no túnel) pelo meio do caminho. Após alguns minutos, talvez, de caminhada quieta e sem problemas - se existissem realmente pokémons pelo local, ou eles estavam bem longe ou resolveram todos se silenciar, ao mesmo tempo, com a presença intrusa dos monotreinadores -, novamente o trio (junto com Joltik, que observava atentamente os arredores) se viu diante de uma encruzilhada.

Existiam três caminhos, e nenhum detalhe muito especial sobre nenhum deles. Gilberto mirou a fina luz de um para outro, incerto sobre para onde deveriam ir, frustrado que haviam realmente se metido no meio da terra "porque a Madame Luna não pode pegar um ônibus, ou sei lá, como uma pessoa normal".
À esquerda, não era nada diferente do que haviam visto até então.
À frente, o chão parecia mais limpo de pedras, embora não tão fácil de perceber numa primeira vista - e nem algo significativo, ou de grande diferença para nenhum dos treinadores.
À direita, não era necessário se demorar muito. Pedras maiores estavam espalhadas ao longo do corredor, jogadas de qualquer jeito, as paredes meio irregulares.

E agora, por onde iriam?