Treino Difícil, Combate Fácil!

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Pássaro que acorda cedo bebe água fresca.

Will Allstar, por desejo próprio ou mera influência de seu avô, levava esse ditado com afinco: Mesmo que seu desejo de explorar o mundo e sair vitorioso fosse compatível com sua idade, o empenho do treinador para alcançar seus objetivos era, senão invejável, louvável. Com a brasa da vontade queimando no peito e o brasão da sociedade tão próximo quanto, não era de se espantar que, ainda tão jovem, fosse responsável por tão poderosos pokémons e também por sua própria divisão. E, talvez numa tentativa de provar ser digno de comandar seus imponentes companheiros de time não apenas para eles, como também para si mesmo, dia após dia, era sempre a mesma coisa: Não se limitava em apenas cruzar os braços e coordenar o treinamento da equipe, como ele próprio se impunha a obrigação de participar e se fortalecer.

Se Petalburg comunhava com a natureza, Allstar o fazia com seus pokémons.

No breve momento de descanso para o café da manhã, então, se dispunha a apenas observar. Era curioso, para qualquer que se dispusesse a assistir por mais que alguns segundos, a maneira tão natural como espécimes tão diferentes (e ferozes!) eram capazes de interagir de maneira tão pacífica, quase como se fosse uma refeição de uma família comum, que conversava a respeito do dia que viria, ou simplesmente coisas banais de outras experiências, quem sabe?

Pela maneira como fitava seus pokémons, o carateca, talvez.

Mas, não surpreendente, aquele breve momento de estagnação não seria capaz de perdurar: Na virada dos ponteiros do relógio, o mestre coordenou e, um a um, os monstrinhos o seguiram para fora do Centro na mesma calmaria com a qual lá estavam, animais de força bruta capazes de estraçalhar (quase) qualquer um que ousasse se meter em seu caminho e, ainda assim, donos de uma tranquilidade e autocontrole quase inimagináveis.

Com isto em mente, é plausível afirmar que Will era uma figura... Curiosa.

Mas, não é esse o caso, não é verdade? Se existe um motivo para esse grupo estar unido, nesse exato momento, é apenas um, e já bem citado: Treinamento. E, se o carateca já havia feito sua parte na alvorada, era hora de seus companheiros entrarem em ação - quer queira, quer não. Os monstrinhos de bolso foram guiados para fora do Centro Pokémon e, durante a caminhada, Hurricane foi o primeiro a degustar da atenção de seu mestre, que se dispunha a ensiná-lo novos movimentos recém-adquiridos, e certamente (ou, ao menos, era possível imaginar) seriam úteis para o lutador a longo prazo.

Com a vaidade atiçada por ser priorizado, o pássaro levou uma das patas para a plumagem alaranjada no topo da cabeça, e a deslizou para trás, arrumando as penas e dando uma piscadela para os outros companheiros de time, exibindo um sorriso de tom provocativo, aproveitando enquanto ainda podia tomar um pouco de ar antes que se iniciasse o trabalho duro, e só então voltou a se focar em seu treinador, pronto para atender a seus comandos.

Estava na hora, certo?

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Infelizmente para o voador, seu pequeno (e talvez ilusório) momento de glória foi ofuscado pela traição vinda do próprio treinador, que impiedosamente bagunçava seu esplendoroso topete que tinha acabado de arrumar. O susto do animal foi imediato e, dessa vez, ambas suas patas correram na direção da cabeça para ajeitar novamente as penas, lançando um olhar zangado para o carateca, que apenas se divertia com a situação e tratava de logo chamar a atenção do resto dos companheiros e organizá-los para o treinamento.

Lucario foi o primeiro foco de Allstar. Sem nenhuma ordem muito elaborada, o pokémon não teve dificuldades em assentir para seu treinador e, com uma respiração profunda, cerrou as pálpebras. Em busca de uma energia que ia além das próprias que conhecia, silenciou-se, a respiração tranquila, e emergiu em sua própria concentração.

Deino foi o próximo. Embora os comandos que havia recebido fossem relativamente parecidos (em parte) com os de Katana, ao mesmo tempo, eles eram bem diferentes. O dragãozinho observou o treinador por alguns segundos, e então seu focinho se virou para Lucario, tentando entender por qual caminho deveria seguir. Levantou uma das próprias patas, a olhou, meio incerto, em busca da tal eletricidade...
Por fim, a baixou, e acabou só tirando um tempo para respirar.

O terceiro pokémon foi Hawlucha que, embora pronto para o treinamento, ainda estava meio emburrado com Will por conta da bagunça que o rapaz havia feito com suas penas. O voador cruzou os braços por algum momento, encarando seu treinador com uma careta, mas não perdurou muito, principalmente quando Allstar passou para a próxima equipe. Tentando seguir à risca os comandos do carateca, o lutador se dividiu entre saltos e alguns golpes, mas eram apenas movimentos comuns, longe de carregar a energia de Acrobatics.

Foi a vez da dupla de aquáticos, que aguardava pacientemente. Para ambos, as ordens foram as mesmas, visto que seus tipos e até mesmo golpes eram iguais naquele momento. Samurott foi o primeiro. Com um poder de ataque naturalmente mais forte, não teve nenhuma dificuldade em realizar um soco, e muito menos Poliwrath, quando o acompanhou. Entretanto, para ambos, o mesmo problema de Hurricane: Não pareciam conseguir encontrar a força certa para realizar o movimento, com o adicional de que não conseguiam manter a água correndo em seus punhos, acabando por apenas ensopar o chão antes mesmo que fossem capazes de concluir os seus uppercuts, ensopando a si mesmos e a arena.

Por fim, Drako. Um dos mais antigos companheiros de Will e, mesmo que tivesse tudo para ser impaciente e explosivo, se mantinha quieto, tranquilo, aguardando que seu treinador terminasse com os outros, se limitando a observar o desempenho de seus colegas de equipe até que o carateca decidisse por se aproximar.
Em resposta às ordens do Allstar, se limitou a expor um pequeno sorriso: Respirou fundo, devagar, e movimentou o pescoço antes de fechar os olhos. Vagarosamente, sentiu a energia semi-adormecida em seu corpo começar a despertar e correr por suas veias, como que se preparando para uma batalha - mesmo que, naquele momento, ela não fosse existir.

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Ainda que o rapaz interrompesse a meditação iniciada por Lucario, a pokémon não se abalou e sequer esboçou reação para a presença de seu mestre por alguns segundos, a respiração indo e vindo numa calmaria quase invejável. Quando finalmente abriu os olhos outra vez, não dirigiu o olhar para Allstar, mas sim para as esferas bicolores repousadas à sua frente. Obedecendo aos comandos de seu treinador, estendeu uma das patas na direção dos objetos, embora sem se abaixar para tocá-las, e seus orbes carmim fixaram inicialmente na da direita. Mesmo que passasse algum tempo assim, porém, não parecia conseguir nenhum efeito, e as esferas permaneceram inertes no chão.

A insistência de seu mestre para que pudesse ser capaz de tentar fazer fluir a energia elétrica permanecia mas, mesmo com o incentivo do carinho, Deino não parecia ser capaz de compreender ao certo o que deveria fazer para alcançar seu objetivo. O pokémon tentava se concentrar, até tremeu numa tentativa de arrancar alguma força interior esquecida, mas não obteve sucesso, o que o levou a arrastar vagarosamente uma das patas no chão e encolher o pescoço, envergonhado. Talvez o carateca devesse tentar um outro tipo de abordagem?

Se Hurricane ainda estava frustrado por conta da brincadeira bobona de seu treinador, o mau humor certamente desapareceu num estalar de dedos assim que ouviu a palavra "perfeito", o que o fez inflar o peito outra vez e abrir um sorriso orgulhoso. Felizmente não havia nenhum espelho por ali, ou certamente o pássaro tiraria algum tempo para encarar o próprio reflexo...

Enfim, tinha novas ordens a seguir e, superado o "trauma" anterior, caiu de boca (ou bico?) nas instruções de Will. Embora fosse capaz de saltar e dar o rasante sem nenhuma dificuldade, a mistura dos comandos na parte final pareceu confundir o lutador que, na mistura maluca de bater para cada lado diferente e concentrar energia, acabou só dando de cara no chão (e se levantou, rápido, aproveitando que os outros estavam ocupados demais com seus próprios treinos para prestar atenção).

Era hora dos aquáticos, então. Ambos não tinham problema algum em criar água e, embora incentivados por labaredas (?), era óbvio que ver era muito mais fácil que fazer. Nem Samurott e nem Poliwrath sofreram para usar seu Surf, porém, a tentativa de controlar o fluxo das ondas desestabilizou o poder contido no movimento e, o que deveria ser uma magnífica onda, se transformou num jato de água tosco, que até os pokémons tiveram desgosto de ver.

Drako, de longe, era o mais competente em seu treino, além de ainda "auxiliar" os companheiros próximos com demonstrações de técnicas. A fera emitiu um grunhido satisfeito diante do agradecimento do carateca, e fez uma mesura suave com a cabeça em resposta. Ele próprio, porém, possuía seu treinamento para concluir e, sem problema algum de manipular a energia quente que pulsava por suas veias, a pressionou e liberou - o ar ao redor, por um breve momento, se turvou, o calor liberado pelo pokémon interferindo aos poucos na temperatura ambiente.

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Mesmo que não tivesse o suporte do treinador num primeiro momento, talvez não houvesse explícita necessidade, afinal, Lucario ainda estava claramente concentrada em seu trabalho de tentar movimentar os objetos que lhe foram apresentados. Com o olhar fixo em um deles, tal qual um predador encara sua presa, o pokémon se manteve em silêncio.
Por um breve momento, a pokéball pareceu se mexer.

Talvez não fosse um dia bom para o pequeno dragãozinho. Embora se remexesse com suavidade com as cócegas feitas por seu treinador, sem nenhuma base e sem consciência de onde puxá-la, Kron se viu incapaz de seguir em frente, se limitando a sentar no chão e olhar para as próprias patas, silencioso.

Parecia que o universo estava conspirando para que as coisas não dessem 100% certo para o pássaro ou, no mínimo, fazia grande esforço para tentar furar o peito estufado que a ave trazia. Infeliz ou felizmente, porém, não era tão fácil assim destruir a autoestima de Hurricane, principalmente quando (quase) não haviam testemunhas de sua própria enrolação. Tirou alguns segundos para se recuperar, no entanto, e foi quase o tempo que o carateca levou para se aproximar outra vez - dessa, com uma estratégia bem mais específica e planejada para o lutador, que se limitou a assistir atentamente a simulação que acontecia com os dedos.

Com ordens menos complexas, dessa vez, o lutador apenas assentiu com a cabeça. Não teve problema nenhum em disfarçar um salto de golpe, e muito menos de mergulhar na direção de um oponente invisível (afinal, ora bolas, poderia fingir que estava em qualquer lugar, mesmo se errasse), porém, embora sua investida e seus movimentos fossem bons, ainda faltava alguma coisa: O golpe não parecia imbuído com nenhuma energia...

Num primeiro momento, os aquáticos se entreolharam, ambos meio decepcionados com sua desenvoltura anterior. Porém, ficar de braços cruzados não os auxiliaria a transformar um fiasco em uma ofensiva poderosa, então, tentaram novamente. Daquela vez, embora ainda usassem o mesmo movimento de base, o jato de água que escapou de suas mãos parecia mais preciso e, principalmente, menos patético.

Em resposta ao "elogio" recebido, o réptil deu um sorriso de canto para Allstar. Malmente havia sido abordado, retrucou as novas instruções de seu mestre ao expelir fumaça de suas narinas, uma baforada quente que atingiu o rosto do carateca - apenas para exibir um pouco a temperatura, quem sabe? - e se uniu ao ar turvo que se acumulava em torno de seu corpo.

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