Aparentemente sem muito mais opções, o rapaz resolveu jogar os dados à sorte e seguir o espécime elétrico - afinal, quem sabe se assim não seria capaz de convencê-lo a respeito de continuar viagem consigo? -, guardando as frutas anteriormente oferecidas e retornando parte dos pokémons que o acompanhavam até então.
Atrás do pequeno bicolor, uma nova caminhada pela cidade se iniciou. Uma longa, na verdade, atravessando becos estreitos e ruas castigadas por trânsitos que gradualmente se tornavam quilométricos, até alcançar um ponto da cidade em que as estruturas - maiores indicativos de vida humana pelo local - já não eram mais tão bem cuidadas, ou sequer novas. Não chegavam a estar em pleno estado de precariedade, mas se o monotreinador fosse comparar com os arredores de onde começaram a busca, com lojas modernas e prédios que sufocavam os pequenos empresários, a diferença já era gritante; Além disso, mesmo o grande movimento das ruas praticamente desapareceu de uma hora para outra, como se nunca tivesse existido.
Após mais algum tempo, uma única lojinha se destacou entre as residências. Duas mesas se dispunham na entrada, na esquerda e direita, e algumas cestas de frutas pelo chão, abaixo delas, cheias até o topo. A visão pareceu animar o pequeno Minun, que de repente apressou o passo e, quando estava quase alcançando os limites da vendinha, uma movimentação por trás da mesa o fez frear, encarando desconfiado naquela direção. Detrás do móvel, vagarosamente, o rosto carrancudo de um pokémon surgiu, e o animal deu um guincho estridente, e um longo braço se revelou logo a seguir, esticando-se com velocidade na direção do elétrico, que só não foi esmagado entre fortes e afiadas pinças por ter tido o reflexo de, num pulo assustado, dar meia volta e correr para trás das pernas de Gray, se escondendo por ali e espiando a cena que se desenrolava à frente.
Devagar, um estranho espécime arroxeado se ergueu por trás do móvel, caminhando com curtas e apressadas patas até a frente do hortifrúti, encarando o fantasmagórico grupo que agora servia de escudo (ainda que não necessariamente de propósito) para o roedor. O animal inclinou o tronco para frente, liberando outro guincho frustradíssimo, e bateu as pinças umas nas outras, oferecendo uma expressão irritada ao mono.
— Drappy? Drappy, o que foi? — Da quitanda, uma voz masculina.
— É ele? Aquele praguinha voltou? — O tom aumentou, tornando-se rude de repente. Surgiu do lado de dentro, então, um homem gorducho, com uma vassoura na mão e um avental amarrado na frente do corpo. Ele parou por uns segundos, analisando a situação, até que os olhos encontraram o elétrico parcialmente oculto atrás das pernas de Gray; A expressão se fechou de imediato, e o comerciante apontou com a ponta do cabo da vassoura para o grupo.
— Então o diabrete tem dono?! Coragem a tua de dar as caras aqui assim, ô seu desgraçado! — Exclamou, irritado.
— Ah, mas agora tu vai ver! Vou te ensinar o que se faz com ladrãozinho, praga, te dar uma lição que tu nunca mais vai esquecer! — Aumentou o tom. Parecendo acompanhar a cólera de seu dono, o escorpião emitiu um chiado raivoso, batendo as pinças outra vez e andando mais um passos para frente, perigosamente crescendo para cima dos fantasmas.
Parecia pronto para atacar, e nem bem havia oferecido ao jovem uma chance de se explicar!
Diante dessa situação, o que faria o monotreinador? Tentaria racionalizar, ou partiria para o confronto sem também pensar duas vezes?
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O amanhã é efeito de seus atos. Se você se arrepender de tudo que fez hoje, como viverá o amanhã?