Sckarshantallas ficou doente?

Já faziam alguns dias desde que o Centro Pokémon havia sido invadido por um desesperado Charizard carregando um pequeno e frágil garoto nos braços - e, desde então, apesar do caos do primeiro dia, as coisas foram gradualmente se acertando: Principalmente quando as enfermeiras perceberam que a assustadora e poderosa fera, mesmo que carregasse uma criança inconsciente cujas roupas estavam parcialmente destruídas por garras, parecia mais preocupado que sanguinário.

O quarto em que o alocaram não era enorme, tampouco apertado, mas sem dúvida alguma, minimalista. O maior móvel do local era a maca (junto dos aparelhos hospitalares) na qual o Akuma repousava, e além disso apenas duas poltronas (com alguns lençóis dobrados sobre uma delas) encostadas à parede com uma pequena mesinha entre ambas. As cortinas venezianas frente à janela de dois quadrados impediam que o sol brilhasse em todo o seu esplendor para dentro do cômodo, e apenas algumas finas linhas de luz bailavam pelo piso claro.

Ele não estava vestido - ou, ao menos, não do mesmo jeito que havia chegado lá. Com apenas uma camiseta verde claro e uma bermuda branca, uma chinela do lado da maca era a única outra peça de roupa que podia ser vista próxima ao rapaz: Seus itens, acessórios, pokéballs, nada disso estava por ali. E também estaria sozinho, se não fosse uma única figura que adentrava a passos tranquilos. A moça de cabelos claros e um simples vestido rosa-bebê se aproximou pacientemente do menino e, com a mesma calma, iniciou o processo de reposição do soro, o acesso já colocado no braço esquerdo de Sckarshantallas.

Lá fora, o sol cintilou, o céu limpo de nuvens.
Um bom presságio, talvez.

Ao primeiro movimento do menino, a enfermeira parou no meio do trabalho, observando-o com uma expressão surpresa - embora, provavelmente, não seria um detalhe que ele notaria, considerando o justo atordoamento inicial. Embora tenha ficado sem reação por alguns momentos, porém, foi quando Akuma começou a se mexer para levantar que a enfermeira repousou a mão em seu peito para o impedir, sem demora.

— Ei, calma, não levante de uma vez. — Foi sua primeira afirmação, os dedos impondo uma leve pressão para que a criança tornasse a se acomodar na maca. Então, um suspiro ameno em resposta à sequência de perguntas. — Não precisa se alarmar, eles estão bem. Mas, o mais importante agora: Como você se sente? Alguma dor? — Questionou, os olhos âmbar passeando pela expressão de Akuma com preocupação. Era claro que a prioridade da moça nem de longe eram a respeito dos pokémons do menino naquele exato momento, então talvez fosse possível informar que não teria acontecido nada demais com os bichinhos. — Você já está aqui há uns dias, estávamos preocupados sobre quanto tempo ia demorar pra acordar... — Explicou.

O semblante da enfermeira se tornou um pouco mais tranquilo quando o menino confirmou que não estava sentindo nenhuma dor: Mesmo assim, em resposta à seu comentário sobre ainda não estar muito bem, ela apoiou a mão na testa da criança, suave, balançando a cabeça num movimento vago, mais para si mesma que para Akuma.

— Certo. Vou atrás de um termômetro, e você espera um momento, ok? — Esperou a confirmação, e fez um gesto de "contagem" nos dedos quando a pergunta a respeito dos dias foi feita — Se eu não estiver enganada, já faz em torno de... uma semana? Felizmente, não aconteceu nada muito mais grave e você acordou. — Explicou. — Eu vou arranjar alguma coisa para você comer, tudo bem? Acho melhor que fique deitado por mais um tempo. Sobre seus pokémons, sim, como eu disse, estão bem. O seu Charizard, aliás, deu um susto em todo mundo quando chegou contigo aqui... — Comentou, descontraída. — Deita, descansa, eu vou arrumar algumas coisas e já volto e te explico tudo. Pode ser? Você está confortável?

Após se certificar de que estava tudo bem e de reforçar que o menino deveria permanecer na cama, a enfermeira enfim pôde se retirar. Os ponteiros em momento algum pararam de correr, mas era difícil tentar precisar ao certo quanto tempo demorou até que moça retornasse novamente e, embora não estivesse com nenhuma bandeja, tinha um termômetro em mãos.

— Daqui a pouco alguém vem trazer alguma coisa pra você, ok? Só precisa esperar um pedacinho. — Adiantou-se em responder antes que o menino precisasse perguntar, caso planejasse fazê-lo. Se aproximando outra vez, destampou o objeto em mãos e, sem pressa, o ajudou a colocar o termômetro embaixo do braço, por baixo da camisa. — Aqui, não se mexe. — Pediu, e então apoiou as mãos na borda da maca, observando o paciente — Antes de qualquer coisa, queria que você me respondesse de quanto se lembra antes de acordar aqui. Pode me falar alguma coisa?

Num primeiro momento, a enfermeira se deu ao luxo de ficar em silêncio, observando-o pensar e responder aos poucos sua pergunta - porém, ao ver que não tinha muita coisa significante, novamente suspirou, assentindo com a cabeça num movimento vago. O olhar estudou sua expressão por alguns segundos, embora levemente inquieta.

— ...Entendo. Veja bem... — Começou, incerta. — Quando você chegou aqui, como eu disse, foi seu Charizard quem te trouxe. Foi uma confusão, na verdade, porque ele tava nervoso e agitado, e ainda carregando você, e a gente ficou sem saber se ele tinha feito alguma coisa, se tinha acontecido algum acidente, suas roupas todas rasgadas... — Outro suspiro. — Eventualmente, conseguimos nos acertar e ele se acalmou um pouco depois que tudo foi resolvido e você veio pra cá, mas os últimos dias foram meio... Difíceis. — Finalizou, após um breve momento de silêncio. — Bem, se você realmente não se lembra de muita coisa, eu vou ter que te dizer o que eu suponho que deve ter acontecido. Quando seu Charizard chegou, ele ainda estava com uma sela atrelada. Eu imagino que você não apagou do nada, então posso arriscar que já não estava se sentindo bem e mesmo assim resolveu que seria uma boa ideia voar daquele jeito. Acredito que não preciso dizer o quão irresponsável isso seria. — Censurou, dando um olhar firme para o menino — Pelo que você está me dizendo, eu arrisco que talvez não tenha cuidado tanto de sua saúde, sobre dormir, e me pergunto se se alimentou, também. Eu nem sei por onde começar em te dar bronca nesse exato momento...