Jack of Spades!

Primeiro ato!

A tensão pairava no ar.

Após ser arremessado para dentro d'água Chesire desaparecia. Will não parecia preocupado por saber das habilidades "especiais" do felino, mas nada dele retornar. Algumas gotículas de ar emergiam até a linha d'água, bem como a mesma começava a se movimentar de maneira estranha; parecia que algo estava lutando no fundo, mas não tinha como saber graças ao lodo que recobria toda paisagem natural. Algo estava estranho.

A sombra finalmente saía de trás da árvore somente para revelar um homem baixo, extremamente sujo, com roupas ainda mais sujas e completamente descalço. Seu corpo era repleto de feridas semelhantes a sarna, sem contar que lhe faltava o olho esquerdo: no lugar, diversas larvas e moscas caminhavam como se fizessem dali sua casa. Suas mãos estavam presas uma à outra com uma algema vermelha enferrujada que parecia estar ali há muito tempo.

— Um covarde falando de outro, hehehe. — o homem tinha um tique estranho na voz — Em breve seu amiguinho morrerá e eu conseguirei a recompensa tão desejada por muitos. — apontou ambas as mãos para Will — Só vai faltar você, "Capitão". — fez sinal de aspas ao proferir a palavra — Pode deixar que entregarei a cabeça dos dois juntas.

O homem caminhava na direção de nosso herói com passos largos, porém lentos, como se tivesse dificuldade em se locomover. Muk se arrastava ao lado de Rato, não tirando os olhos em momento algum de Will. Parou em uma distância considerável, abrindo um sorriso maléfico com a boca que lhe faltava praticamente todos os dentes da frente.

— Apesar de estar cada vez pior, meu ouvido funciona como nunca... — comentou, ainda parado — Belos aplausos, pena que não sabem a farsa que você é! — rosnou — Sei onde está a resistência, mas nunca lhe contarei! — apontou com ambas as mãos para Will — Não deixe que ele saque aquele maldito Charizard! Muk, Sludge Bomb!

O Pokémon com suas mãos melosas retirava um pedaço de seu próprio corpo e o arremessava na direção do carateca em um ângulo reto que provavelmente o acertaria no rosto caso não fosse rápido.

Primeiro ato!

Rato parecia não se importar muito com as palavras de Will, ignorando praticamente tudo que o rapaz falava, dando leves risadas entre as frases que proferia. A figura monstruosa assistia o carateca liberar sua Lucario para protegê-lo do ataque iminente, o que a lutadora fazia com maestria, criando uma barreira de força que destruía a bola de veneno. Rapidamente a Pokémon canalizava suas energias para enviar uma grande onda psíquica na direção de Muk, que prostava surpreso pelo rapaz ter parado seu rápido golpe.

— Agora! Preciso de você! — o adversário fitava Will com uma feição raivosa.

Quando parecia que o potente ataque psíquico acertaria Muk em cheio, as águas do pântano começavam a se movimentar com grandes ondas, somente para revelar um poderoso Malamar que saía de dentro do reservatório natural e parava em frente ao ataque, que o atingia mas não surtia nenhum efeito.

— Boa, garota! Hehehe... — o Rato ria — Você deixou todos sozinhos e o Chapelheiro te esperou! Pregava sua palavra para todos e essa foi sua ruína. — apontou com ambas as mãos para sua casa — Guilhotinaram ele ali mesmo, naquela varanda para qualquer um ver. — voltou sua atenção para Will — E você vai pagar, Capitão! Nem que seja a última coisa que eu faça!

O homem começava a se coçar e com ambas as mãos retirava uma das minhocas que viviam em seu olho para comer. Abria sua boca apodrecida e a engolia como se fosse uma unidade de spaghetti: a cena embrulharia o estômago de qualquer um. Como em um flash, Chesire aparecia todo molhado ao lado do carateca, tossindo e buscando por ar incessantemente, cuspindo até mesmo grande quantidade de água.

Muk se colocava na frente de todos, enquanto Malamar voltava para dentro de água. Como se houvessem gigantes caixas de som implantadas pelo céu do País das Maravilhas, uma não-tão-alta música começava a tocar: PLAY!

— Sei que não se lembra, mas é assim mesmo. Cof, cof. — Persian tossia entre as frases, com a voz um pouco fraca e revirando os olhos — Não sabemos porque mas toda vez que tem uma batalha Pokémon isso acontece.

O Pokémon venenoso do outro lado do campo observava Lucario com seu punho meloso apertado, esperando as ordens de seu treinador para atacar. Rato terminava de degustar seu almoço e apontava na direção de Will:

— Muk, vamos fazê-los pagar! — gritava — Mud Bomb e Minimize!

Primeiro ato!

Toda aquela música chamava atenção de alguns locais, que se aproximavam aos poucos ao seguirem o som que circulava Will e Rato, sem falar em toda a comoção que aquele embate trazia: era a primeira batalha do famoso Capitão Jack desde sua volta ao País das Maravilhas. Rapidamente uma leve torcida a favor do carateca se formava, com alguns dizeres sendo gritados a plenos pulmões: "acabe com essa aberração!", "ele já não é o mesmo, destrua esse traidor, Capitão!".

Muk iniciava a batalha com uma poderosa lama enegrecida, que era enviada circularmente na direção de Katana. Com maestria, a lutadora bloqueava o ataque com Protect, o que fazia a torcida ir a loucura. Chesire também torcia de sua própria maneira, fazendo alguns comentários pertinentes a tudo que acontecia:

— Ele vai ser fácil de derrotar, Jack. — apontou para o lago — O problema está ali dentro, ela está somente preparando o terreno que lhe é favorável, tenho certeza absoluta. — piscou — Cuidado com as armadilhas, não espere que todos sejam justos aqui.

Graças sua enorme velocidade Lucario praticamente desaparecia em pleno ar, surgindo ao lado direito do Pokémon venenoso como em um piscar de olhos. Com somente um leve toque de seus dedos, a lutadora arremessava Muk à metros de distância, esmagando-o contra uma árvore de grande porte. O ataque super-efetivo causava grande dano no Pokémon de Rato, que por sua vez parecia incrédulo com o poderio de Katana:

— Sua pulguenta do caralho, se acha que vamos perder está muito enganada! Você nunca será majestosa como o Drako, se fosse ele, eu já teria até me rendido! — gargalhava com sua fina voz, aproveitando para dar o dedo do meio para toda a população — Seus merdas! Ele não veio salvar ninguém, esse covarde só serve a si mesmo. — apontou para a casa à sua esquerda — Onde ele estava quando tudo estava acontecendo? Vocês são uns otários! — Muk agora recuperava parte de sua gosma-corpo, que após ser espalhada pelo impacto do ataque lhe deixou um pouco ofegante. — Não desista, porra!

O venenoso começava a canalizar parte de sua energia, diminuindo consideravelmente de tamanho a fim de fazer com que os golpes de Lucario não fossem tão fáceis de acertar: claramente agora a lutadora precisaria prestar um pouco mais de atenção com qualquer movimento que fizesse. Hawlucha estava estático em posição de ataque fitando o pântano, já que qualquer agitação seria suficiente para obedecer as ordens de seu treinador. Movimentações submersas eram óbvias, mas a lula não parece que subiria até que fosse sua vez de encarar o carateca.

Primeiro ato!

As tentativas de Rato de tentar desconcentrar Katana e Will eram em vão. A lutadora, criada sobas asas de seu treinador, entendia a importância de uma batalha e todos os aspectos envolvidos em um embate: não sabia o que aconteceria caso perdessem, sequer onde estavam, então ganhar era a única opção restante, sendo este seu único foco. Ao ver que sua tática não funcionava, o homem começava a se coçar constantemente, como se seus nervos estivessem à flor da pele.

— Eu tentei ver o lado bom, eu e o Chapeleiro tentamos esperar o seu retorno. — sua voz começava a quebrar — Lutamos até onde não deu mais... Ele foi executado e eu consegui fugir... —  seu único olho enchia de lágrimas — Vaguei nas florestas sozinho por muito tempo. Jurei pelo nome dele que quando te encontrasse, lhe faria pagar por abandonar o Reino de Espadas. — cerrou ambos os punhos, erguendo a cabeça e engrossando sua fina voz — E assim o farei: Muk, duplo Minimize!

Com isso, mais um turno da batalha se iniciava. Katana atacava primeiro novamente, dessa vez com um estrondoso e poderoso ataque terroso que estremecia todo o solo pantanoso e acertava o adversário em cheio. Graças ao terremoto, algumas partes da casa começavam a despencar: um pilar de madeira que cairia sobre a cabeça da "torcida" de Will fora rapidamente interceptado por Chesire e suas rápidas habilidades. Olhou para Will com uma cara irritada, com se dissesse para tomar cuidado. Muk seguia, focando suas energias e diminuindo ainda mais de tamanho, se reduzindo ao tamanho de Persian: cada vez ficaria mais difícil da lutadora acertá-lo.

Com extrema concentração, Katana seguia as ordens de seu treinador e lançava mais uma barreira protetora, que não serviria de muito já que o adversário escolhia utilizar de mais um ataque de status. O venenoso canalizava ainda mais sua energia e se reduzia ao tamanho de um mero Plusle. Minúsculo, Muk encarava Will e Lucario aguardando as instruções de seu treinador.

— Agora sim! — Rato exclamava — Torment e Mud Bomb!

Primeiro ato!

A torcida finalmente entendia o ponto que Will — ou Jack — queria passar quando se preocupava com a possível aparição de algum capataz de Copas. Dodo, que se mesclava em meio a torcida, decidia organizar toda população para que ficasse alerta em todos os pontos de entrada da cidade. A multidão se dissipou, com todos espalhados até mesmo pela floresta, mas não sem dar uma espiadinha em como a batalha se desenrolava.

Para o azar de Rato, Aura Sphere é um ataque ultrapassa qualquer tentativa de evasão; um golpe onde o usuário foca na aura do adversário e atinge o mesmo diretamente em sua alma. E com Katana não era diferente: a lutadora parava estática com os olhos fechados, internalizando toda sua força em sua mente, produzindo uma esfera branca e reluzente, que, após liberada, acertava o venenoso com exímio poder.

Muk mesmo debilitado e já extremamente ofegante, utilizava de um perigoso ataque noturno: abria sua boca e começava a gritar coisas em seu idioma Pokémon ininteligível para Katana, que por mais que tentasse não deixar as palavras afetarem seu raciocínio, acabava caindo na do venenoso. A lutadora cerrava seus punhos e fechava o rosto em completo ódio, algo completamente diferente de como se comporta. Sabe-se lá o que Muk disse para a metálica, mas não fora algo que a agradou. No fim, aproveitando da fragilidade da metálica, Muk tentava lançar mais uma bomba de lama na mesma, porém falhava quando mesmo irritada, ela conseguia projetar sua barreira de proteção.

— Você não sabe nada sobre honra! — o homem exclamou irritado, dando alguns passos e tropeçando em uma pedra, machucando ainda mais sua cabeça — Caralho!

Hawk agachava, talvez para fitar com mais precisão a linha d'água do pântano que a todo tempo não parava de se mexer. Talvez Malamar estivesse sentindo que seu aliado estava enfraquecido e já se preparava para o bote que provavelmente planejava em Will.

— Que merda. — Chesire se "teletransportava" para o outro lado de Will, mais distante da água — Ela é poderosa, Capitão. Por muito pouco não saí vivo. — fixou seus olhos na água assim como Hawlucha — Melhor não subestimá-los.