Miss Americana & The Heartbreak Prince

Observava a cena de Lysander se desenrolar de trás da árvore e era inegável que o moreno era um ótimo ator, muito melhor do que imaginei que seria. The Heartbreak Prince é extrovertido, debochado, garanhão, enquanto o monotreinador é hm... nada disso? Não digo isso pejorativamente, seu jeito fofo e misterioso é o que deixa meu coração acelerado, mas mesmo assim dava para ver que estava se esforçando o máximo na interpretação. Isso sem falar que agora fitando-o com toda iluminação do palco posso dizer que as vestes ficaram perfeitas, deixando-o ainda mais charmoso do que é.

Dei um leve sorriso atrás da árvore, respirando fundo para desacelerar um pouco meu coração. Seria nossa primeira cena juntos, não poderia estragar tudo: não podíamos rir como fizemos nos ensaios e depois refazer tudo. Tinha que ser perfeito, sem erro nenhum.

As guardas deixavam a cena e fui surpreendida pelo palco girando mais uma vez, dessa vez deixando-nos em duas extremidades diferentes: estava escondida atrás das árvores na esquerda, enquanto ele recolhia sua bolsa na direita. A mudança de perspectiva era necessária para o público, mas me pegou de surpresa. Me apoiei sobre o caule da árvore e saquei minha espada: finalmente era hora do encontro entre Miss Americana & The Heartbreak Prince.

Ergui a cabeça e mantive uma expressão séria, dando um único passo para a frente da árvore que antes me escondia. Observei Destino desaparecer diante de meus olhos, mas não me abalei, somente balançando brevemente a cabeça negativamente.

— Tsc. — bufei logo em seguida — Era só o que me faltava.

Dei largos passos, encarando o moreno o tempo inteiro com um olhar nada amigável. Empunhei a espada para frente, até parar poucos centímetros de distância de sua cabeça — já que estava agachado buscando seus "pertences". Posicionei ambos meus pés em conformação de batalha, jogando meus cabelos para trás e cerrando o outro punho que não segurava a espada.

— Me dê um único motivo para não matá-lo agora mesmo. — cerrei os olhos — Se identifique.

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Teatro Continental!

Lysander e Karinna!

Alguns momentos se passaram desde a minha ameaça a "Jetto", criando um certo momento de tensão dentre o público que nos assistia fielmente. Era possível ver alguns adultos mais impressionáveis com expressões preocupadas, ansiosos para ver o que se daria a seguir. Era possível dizer que estávamos fazendo um excelente trabalho.

Foi então que Lysander começou a falar com trejeitos completamente diferentes dos seus. Fiquei brevemente impressionada com a ótima atuação do moreno, mas continuei mantendo minha expressão nada simpática enquanto apontava a espada em sua direção. Revirei os olhos para algumas coisas que dizia: The Heartbreak Prince sem dúvidas passava longe do homem que achava ideal, tanto eu quanto Miss Americana — apesar de que futuramente isso mudará para ela. Quando virou e falou com o público, quebrando a quarta parede, segurei meus lábios para não soltar uma risada.

— Ai, Arceus do céu. — reclamei, guardando minha espada de volta no coldre — Pelo que parece, você é inofensivo mesmo. — estendi a mão direita para ajudá-lo a levantar do chão — Só não me atrapalhe.

Virei de costas, somente para escutar outras coisas que dizia, claramente flertando de um jeito nada convencional. Era engraçado, mas no fundo minha vontade era de corar imediatamente, sendo que estragaria totalmente a construção da personagem e do casal. Posicionei uma das mãos sobre os olhos, simulando estar olhando para o horizonte e pensando nos próximos passos.

— Ele foi largado aqui por alguns soldados de Copas, talvez possa usar isso a meu favor. — disse bem baixinho, como se somente o público pudesse escutar meus "pensamentos" — Pode ser a oportunidade perfeita.

Novamente me virei rapidamente, só que agora de frente para ele e de perfil para o público, aproveitando de um dos ventiladores para levar meus cabelos para o lado e tornar a cena ainda mais melodramática:

— Se teremos que conviver, vamos estabelecer algumas regras, ok? — comecei a contar junto com os dedos — Primeira: pare com esse charme todo. Nunca vai acontecer. — bufei — Segunda: sou uma nova recruta do Reino de Copas, mas acabei me perdendo durante as explorações pelo Pico do Além. — mantive o rosto sério, passando seriedade dentro da mentira — Terceira: preciso chegar em um local, mas se encontrarmos alguém pelo caminho, sob nenhuma hipótese diga a eles onde vamos. — segurei o pomo da espada novamente, dando um leve sorriso debochado — Conto com sua colaboração.

A mentira, segundo os roteiristas, era essencial: Miss Americana não sabe que The Heartbreak Prince é filho de sua arqui-inimiga, enquanto ele também não sabe se ela é realmente recruta de lá, já que passa mais tempo fora do que dentro de seu Império.

— Me acompanhe. — respirei fundo, caminhando para fora do cenário — Aliás... Qual seu nome?

" (...) O desenrolar da história começa agora: será que a futura paixão será capaz de sobreviver após as mentiras e omissões? As desconfianças existirão, mas e quando as máscaras caírem? Será que o amor será forte o suficiente?" dizia o folheto impresso sobre a peça, o qual cada um dos pagantes recebeu ao entrar no teatro.

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Teatro Continental!

Lysander e Karinna!

Era finalmente a hora de dar início ao primeiro ato da peça: Miss Americana & The Heartbreak Prince já haviam se conhecido e seus backgrounds também já foram apresentados ao público. Cada segundo que passava o nervosismo ia diminuindo, como se estivesse realmente incorporando a personagem, ficando cada vez mais confortável. Claro que estar aqui com Lysander torna tudo muito fácil; talvez se o moreno não estivesse presente, eu sequer teria participado da peça.

Continuamos caminhando, aproveitando da mudança instantânea de cenário para caminharmos um ao lado do outro. Aproveitei para fitar disfarçadamente as feições de Lysander: o roteiro pedia, já que ela se apaixona aos poucos — mas eu também me aproveitava para admirá-lo como Karinna também. Olhei em volta como se buscasse um caminho e não soubesse com certeza a onde ir, tudo para fazer com que o público entendesse que sim, a personagem era segura de si, mas não era perfeita. Parei abruptamente com mais uma aparição de Sawsbuck, que dava um leve susto em Lysander.

— Er... — respirei fundo, sem graça — Esse é Destino, ele às vezes me segue por aí, mas é bonzinho. — sinalizei com a cabeça para que o Pokémon sumisse da minha frente, pois poderia estragar o "disfarce" — Tchau, cervinho! — a forma como o fiz era para ser meio cômico, arregalando os olhos, balançando a cabeça freneticamente e dando leves palmadinhas no ar — Nos vemos depoissss!

O Pokémon da Rainha Caída desaparecia em meio às árvores. Bufei brevemente, mas logo erguendo minha cabeça e tentando manter a pose de "durona", como se nada tivesse acontecido. Demos a volta no cenário, que mudava conforme íamos caminhando, tudo graças aos excelentes efeitos especiais causados por toda equipe, tanto de funcionários quanto de Pokémon.

— Jetto, hm? — indaguei — Reputação? — dei uma risada — Boa ou ruim?

Aí vinha uma das minhas partes favoritas de todo o script. Miss Americana, por ter lutado basicamente a vida inteira, não sabe lidar muito bem com Pokémon selvagem. Com pessoas era diferente, já que sabe mandar e desmandar; mas seres imprevisíveis como os monstrinhos? Longe disso! Andamos mais um pouco, até nos depararmos com um enorme animal que impedia nossa passagem.

— Deixa que eu cuido disso! — disse a Jetto, vestindo uma feição confiante, erguendo ainda mais a cabeça e sacando minha espada — POR OBSÉQUIO! — engrossei a voz, estufei o peito e subi em cima de uma das rochas, colocando uma das mãos na cintura e a outra apontando a espada na direção do Pokémon — MAMUTE SELVAGEM QUE NOS IMPEDE O CAMINHO, PEÇO-LHE ENCARECIDAMENTE QUE DEIXE-NOS ATRAVESSAR!

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Teatro Continental!

Lysander e Karinna!

A reação exagerada perante o mamífero gigante ocasionou risadas que ecoaram por todo o Teatro Continental, o que me surpreendeu não só pela piada ter funcionado, mas também por estar fazendo centenas de pessoas se divertirem. Não sentia meu coração acalentadinho assim desde os concertos de violino que fazia em minha infância, mas eu era uma criança, então, não sei se conta...

Argh. Não é hora de pensar nisso.

Após o breve pensamento, minha vontade era de rir junto com toda audiência, mas tinha que me manter na personagem, que claramente ficou constrangida com "Jetto" rindo de sua situação. Corei imediatamente, imaginando por um segundo como me senti na noite passada com Lysander; Hanaka, em um momento quando eu estava tendo dificuldades com o roteiro, somente apontou para o moreno e disse baixinho próximo aos meus ouvidos: "pense nele". Na hora fiquei constrangida, mas é a mais pura verdade: é excelente pensar em algo pessoal para despertar a emoção que necessita emular na frente de um público. E é assim que o moreno me faz sentir: abobalhada, com a guarda abaixada, apaixon- Argh. De novo, Karinna.

— DO QUE ESTÁ RINDO??? — bati com a espada na rocha, virando de costas para o monstrinho e de frente para o outro protagonista — EU... EU NÃO SOU FOFA! — bati agora os pés diversas vezes, mais vermelha que um tomatinho — QUE GAROTO IDI-

Minhas palavras eram abafadas por um vulto, que assustou de verdade, fazendo até minhas pernas bambearem. Meu estresse pós-traumático não deixava eu raciocinar na hora, já que há poucos dias fora exatamente assim que tentaram me matar sorrateiramente na Rota 121. Precisei fitar o chão por poucos milissegundos para me recompor, afinal, sabia o que aconteceria a seguir por conta do roteiro, mas não que seria tão imediato.

Com um salto, desci da rocha e me posicionei na frente de The Heartbreak Prince, com a espada apontada para a frente. Brie, personagem que participara somente do Point Of View de Lysander estava presente, dessa vez vestindo o símbolo de um dos outros dois extintos impérios de Wonderland. Na hora que reconheci o símbolo, fingi uma certa surpresa para o público e desci minha faixa metálica de cabelo até a testa, tentando cobrir parte dos olhos: se a loira reconhecesse quem era, talvez colocasse absolutamente tudo a perder.

Me mantive muda por alguns segundos, olhando à minha volta e procurando saídas estratégicas: respirei fundo, com pesar, mostrando ao público como era triste ter que batalhar com quem possuía tão pouco quanto meu povo, já que foram tão dizimados quanto pelo maldito Reino de Copas e sua tirana.

— O que quer? — cocei a garganta, modificando a voz o máximo que podia, afinando-a. — Tsc.

A garota não me respondeu. Na realidade, uma segunda mulher, negra e de beleza e vestimentas estonteantes surgia com um Medicham dançando ao seu lado — esta possuindo uma tatuagem do outro Reino caído em seu corpo. Ao perceberem o ambiente hostil que adentravam, modificaram seus comportamentos, colocando-se na defensiva. Balancei a cabeça negativamente, já sacando uma esfera metálica e arremessando-a para o ar, liberando meu fiel escudeiro, Sushi.

— Já que não querem conversar, faremos isso do jeito difícil. — minha expressão já era mais séria, desaparecendo com qualquer resquício simpático da cena anterior — Precisarei de ajuda, não posso fazer tudo sozinha. — olhei de canto para Lysander — Se tiver como ajudar, ajude.

Kadabra saía de sua Pokéball com maestria. Diferente de mim, o psíquico sempre soube lidar muito bem com público e sua personalidade contribuía para isso: quando disse a ele que participaria de um teatro só faltou soltar fogos. O feixe de luz que uma vez liberara com o abrir da esfera era reprimido em sua colher que segurava no alto com sua mão esquerda, reluzindo as mais diversas cores presentes nos holofotes do palco. Sua echarpe azulada, colocada especialmente para esse evento voava para trás graças os simulados ventos off-screen, dando um ar majestoso ao originário da região de Kanto. Mordi meu lábio inferior, segundo um belo de um sorriso que queria soltar de puro orgulho que sentia do meu primeiro Pokémon, do primeiro membro da minha única família.

Minha expressão voltava a ficar séria, dessa vez por escutar parte da conversa entre as duas mulheres: meus olhos arregalaram de uma maneira que era possível visualizá-los até mesmo meio-encobertos pela faixa. Cerrei ambos os punhos e rangi os dentes, virando o rosto imediatamente com rapidez na direção de "Jetto", o que fez com que a faixa caísse no chão. Repousei a mão direita sobre o pomo da espada, tremendo: queria demonstrar a vontade de atacar o rapaz ali mesmo, a dúvida mesmo que por segundos do dilema que cercava a cabeça de Miss Americana: conseguiria fazer a rainha sentir a dor que carrego com tanto pesar, mas não teria a vingança. Respirei fundo, abrindo a mão sobre a arma branca e cerrando os olhos, como quem meditasse rapidamente.

— Droga! — minha voz voltava ao normal e abri os olhos — Sushi, não vamos dar mole para estas traidoras! — voltava a incorporar a personagem que a Rainha Caída pediu com tanto cuidado — Comece com Protect e siga com Reflect!

Sushi sabia exatamente o que precisava fazer. A ideia era que a preguiça liberasse a colher de sua mão, fazendo-a flutuar em sua frente e com ajuda de seus poderes psíquicos, aumentasse-a de tamanho, girando-a em sentido horário rapidamente. Aos poucos, pequenos cacos do que pareceriam ser vidro, começavam a sair de seu centro centrifugado, formando aos poucos uma barreira circular protetora contra ataques diretos: o processo, que geralmente é feito ao contrário — onde a barreira é criada e depois destruída em pedaços — daria uma ideia ilusória, diferente do que o público no Teatro estava acostumado a ver em batalhas triviais.

Em seguida, Kadabra começaria a recitar um encantamento, que apesar de não possuir correlação com o ataque a seguir, traria um ar de suspense à já tensa cena: sua voz em seu idioma ininteligível começaria baixa, aumentando com o passar do tempo até soar como um grito. De um dos holofotes que alumiavam todo o cenário, um feixe de luz cairia sobre o psíquico, criando uma barreira invisível e reluzindo parte de sua iluminação, protegendo todos aliados de parte de ataques físicos.

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