Miss Americana & The Heartbreak Prince

As palavras das mulheres me desestabilizavam parcialmente para a surpresa do público, ainda mais após tamanha cena feita há poucos segundos mostrando estar acima de tudo isso. Balancei a cabeça negativamente algumas vezes, mostrando que tentava me desvencilhar das coisas proferidas por ambas as mulheres; a luta era complicada, mas Miss Americana jurou pelo amor a sua irmã que a vingaria.

— Boa, garoto! — elogiei Sushi, que se mostrava extremamente engatado na batalha — Vamos lá!

Incentivei o psíquico e abaixei para buscar a faixa que havia caído no chão no início da batalha. Assim que o fiz, levantei e me vi encontrando os olhos de Lysander fitando os meus: queria sorrir, como de costume quando nos vemos olhando um ao outro, mas não podia por conta do andamento da peça. Mas isso não me impediu de olhá-lo por alguns segundos, vê-lo tão elegante e concentrado enchia meu coração de ternura. Sei que o moreno carrega um passado tão pesado quanto o meu e assisti-lo colocar tanto de si nesse papel era, no mínimo, fofo de se assistir. Fechei os olhos e voltei minha atenção para a batalha, mas não sem antes visualizar que a plateia havia percebido meu olhar encantado para o mono-treinador noturno. No final das contas era até bom já que uma hora ambos protagonistas se apaixonariam, mas torcia para não tomar uma bronca no backstage.

— Realize mais um combo de Shadow Ball e Protect! Um já foi, só falta mais um! — respirei fundo — Tente ouvir o solo de terra como já te ensinei quando ainda era pequeno Abra! Descubra qual dos clones é o verdadeiro!

Posicionei a faixa de volta na cabeça com um olhar determinado para o campo de batalha: Miss Americana empenhada para a vitória estava de volta. Cerrei ambos os punhos e mordi o lábio inferior, ansiosa e torcendo para que Kadabra acertasse o verdadeiro Mamoswine dentre tantos clones. Utilizar de tudo ao meu redor sempre foi uma tática usada por mim mesma durante minha vida quando vivia nas ruas de Olivine City e não pude deixar de passar isso para meus pequenos. Todos meus Pokémon, sem exceção, um dia escutariam minha história — por mais que alguns digam que não entendem nada — e aprenderiam que sobreviver é algo que tive que fazer desde que perdi minha família. Sozinha. Não existe acaso; se hoje estou aqui, viva, é porque aprendi a me virar sozinha e usar de tudo que podia ao meu favor. Sushi teria que ter bastante percepção para senti o peso do Mamoswine verdadeiro em choque com o solo, mas nada era impossível. Eu confiava nele. No meu primeiro amigo. No primeiro membro da minha nova família.

rota 121

Teatro Continental!

Lysander e Karinna!

Os olhares enfurecidos das mulheres não me assustavam; suas atuações eram brilhantes, mas era preciso mostrar que Miss Americana estava disposta a lidar com qualquer coisa para almejar seu objetivo. Com o peito estufado e um olhar assombroso, me mantinha em silêncio e recebia as ameaças de ambas, já que discutir era desnecessário: o que estava fazendo não era só para o Reino de Espadas, mas também para os demais que foram subjugados por Copas e era esperado que o público do teatro entendesse isso.

A batalha tomava um rumo diferente do esperado em batalhas normais: a adversária caucasiana montava sobre seu mamute — o que ajudava Sushi a acertar seu golpe — mas logo bravejava aos quatro ventos que o Inverno chegaria a nós, algo que combinado com o ataque de Mamoswine, causava uma enorme nevasca no palco, onde não era possível ver um palmo em nossa frente. Meus olhos se arregalaram e como em um estímulo saquei a esfera metálica de Kadabra e o retornei, sinalizando para "Jetto" fizesse o mesmo.

Hail rapidamente tomou conta de todo cenário.

Graças a estarmos próximos um ao outro, corri até Lysander e o abracei; relutantemente, já que Miss Americana & The Heartbreak Prince não necessariamente estavam em bons termos. A densa neve e névoa gelada logo nos cobriu... Me agachei, protegendo-me da terrível nevasca, sendo possível ver somente silhuetas nossas no palco. Segurei no braço direito do mono-treinador para que não o perdesse em meio ao cenário: seu longo casaco voava para trás junto com meus cabelos devido a grande ventania que nos assolou, tornando a cena digna de um ótimo título cinematográfico. Com a mão esquerda saquei a espada do coldre e finquei-a no chão, firmando o local onde estávamos para nos estabilizarmos.

Rapidamente comecei a sentir a armadura de minha fantasia se tornar cada vez mais gelada: meus fios de cabelo, um por um foram parando de voar e sendo cobertos pela densa neve. Meu queixo tremia, bem como minhas pernas e braços, tornando cada vez mais difícil me segurar na espada. Quase todos os movimentos eram um pouco exagerados, já que era preciso que a audiência visualizasse tudo que estava acontecendo.

— Argh. Qu-que frio. — reclamei — Ei, na-não se acostume... É a última vez que salvo sua vi-vida.— disse baixinho com a voz quebrando por conta do frio, porém ainda assim mostrando ainda a dureza da personagem — Co-como faremos para sa-sair daqui?

rota 121

Teatro Continental!

Lysander e Karinna!

O frio realmente era terrível, do tipo que nunca havia sentido antes na vida, nem mesmo durantes expedições em locais de alta altitude. Lysander me abraçou por trás e me envolveu em seus braços, melhorando um pouco a situação extrema que nos encontrávamos. Aproveitando da névoa para que o público não pudesse ver, dei um sorriso para o rapaz e me aconcheguei em seu ombro; me trazendo memórias da noite anterior. Aos poucos uma esfera alaranjada começava a surgir do céu, aquecendo rapidamente a neve que desaparecia imediatamente do palco. Corei, principalmente para que a platéia pudesse assistir, ficando sem graça do rapaz ter me ajudado.

— O-obrigada. — gaguejei, desta vez não por conta do frio, mas por pura vergonha; guardando a espada para disfarçar o rosto todo vermelho — Ainda não estamos quites, mas é um começo.

Dei uma leve risada simpática e comecei a fitar a esfera de calor encantada; era como se o círculo trouxesse uma sensação nostálgica junto consigo, difícil de se explicar, era um sentimento único, que por um momento me fez pensar em minha infância como Karinna e não como a personagem Miss Americana. A mesma derretia aos poucos as pequenas calotas gélidas que foram formadas no solo, criando uma poça d'água até a altura do joelho. Involuntariamente, movida unicamente pela sensação sentida, segurei no casaco de Lysander, ainda não entendendo o que poderia acontecer em seguida. Parecia diferente do script... O que será que poderiam estar bolando?

Para nossa surpresa, um cervo começava a surgir majestosamente da água. Meus olhos brilhavam como diamantes diante da beleza do Pokémon; além da estranha sensação tomar conta do meu corpo, o animal entrando em cena era tão belo e bem feito que fazia todos os pelos do meu corpo arrepiarem. Engoli seco, fitando-o enquanto o mesmo nos observava; mas não a mim e Lysander fisicamente e sim como se olhasse projeções nossas postas em nossa frente. Saí do transe por alguns segundos, pigarreando:

— D-Destino?

rota 121

Teatro Continental!

Lysander e Karinna!