[Mirror's Echo] – Route 121/Mt.Pyre –

Não havia muito a ser dito. Até o momento, também não havia muito mais a ser feito; A captura se sucedera com a mesma tranquilidade a qual havia imaginado e, felizmente, nenhum problema caótico resolvera cortar seu caminho de maneira repentina para interromper o breve instante de entrosamento com o recém-nascido. Durante a caminhada através da escadaria, a moça chegou a se questionar se existia mais algum membro do tal Team Aqua em níveis superiores: Aqueles três patetas não foram bem sucedidos em seguir em frente, mas nada lhe garantia que outros não o haviam conseguido - e mais importante, questionava-se o quão na frente Brooklyn já estaria, considerando a pressa que a moça subira pelos degraus.

Não encontrara nada. Na verdade, a única coisa que fugira do padrão que enfrentara até então foi a sensação elétrica que sentia se intensificar a cada passo que dava em direção ao cume mas, sinceramente, ela já era esperada, considerando as correntes elétricas que bailavam por todos os níveis superiores e que pudera enxergar por conta da visão externa anteriormente. Dito isto, é compreensível que não tenha se intimidado diante do barulho de estática que ouviu adiante: Era de se esperar, afinal!

Então, seguiu. Se fosse um pokémon ou outro treinador hostil, lidaria com ele - seus próprios companheiros estavam prontos e certamente não teriam problema em fazê-lo, huh?

Foi durante a contínua subida pelos degraus que um fato já conhecido por si resolveu dar o ar da graça novamente: O opaco nariz da estatueta finalmente voltava à vida com constantes piscadelas amareladas. Alguns fatores a preocupavam naquela situação, que poderiam ser resumidos a a) o fato de que a última vez que ocorrera, a origem da indicação de Nosepass acabara por se revelar um pokémon e b) por não estarem mais em níveis inferiores, duvidava que encontraria algum espécime fraco pelo caminho pelo simples motivo de que a pressão na atmosfera era grande, sem contar com todos os arredores que pareciam afetados por uma contínua corrente de eletricidade que, de algum jeito, não era fatal. De qualquer jeito, o rochoso não era atraído forçadamente em direção ao local (talvez por já estarem próximos?), e a ruiva tentava se agarrar à possibilidade de que na primeira vez o espécime encontrado não havia se provado grandes problemas, então...

Seguiram; Não precisaram de muito tempo antes que a escadaria se abrisse para o novo andar e, sinceramente, não foi muito trabalhoso identificar o bípede listrado (ora, vemos aqui um padrão?) que jazia parado no meio do caminho. Isso por si só já chamava atenção suficiente, porém, um outro detalhe específico foi o que a fez parar no lugar por alguns segundos, os ombros retesando-se com sutileza: O fato de que o elétrico farejava o corpo de Brooklyn, largado no meio do tempo. Não teve tempo de pensar a respeito, de qualquer modo, visto que a linha de raciocínio foi rasgada diante do urro irritado de Electabuzz e, pior: O avanço rápido do animal em sua direção. O confronto era claramente inevitável e, dada a situação, não pensou duas vezes. Nosepass, Rotom e Nidoking; Os três estavam prontos e, bem... Por que não, sabe?

— Nosepass, interrompa o avanço com seus Smack Down! Rotom, Confuse Ray e Thunderbolt! Zuby, duplo Earthquake! — Ordenou, de maneira impulsiva e num reflexo que nem mesmo entendeu direito o combate que já se desenrolaria. O olhar atravessou o corpo da monotreinadora adiante, e um temor assolou seu coração; Dos tantos que já testemunhara, estaria ali outra vítima do Monte que seria obrigada a encarar? Os dedos tremularam diante da possibilidade - oh, céus, por que não lhe davam um momento de descanso?

...Tentou conter a agitação que começava a dominar-lhe a alma. Não, ainda não tinha como saber: Mil coisas poderiam ter acontecido e estava longe demais para investigar apropriadamente.
Não bote o carro na frente dos bois, foi o dito que lhe restou para manter a sanidade.

Informações valiosas foram aquelas que adquiriu durante o brevíssimo confronto contra o raivoso selvagem que se erguera em rivalidade direta à si e, consequentemente, seus pokémons. A primeira de todas, que veio rápida como um raio (hah), foi a infeliz percepção de que estava certa a respeito do poder dos monstrinhos que por ali perambulavam, que veio com o grotesco golpe que levou sua pobre bússola pelos ares. O susto a atingiu quase com o mesmo impacto (afinal, nem de longe o azulado era o mais leve dos animais!) e, numa reação automática, apressou-se para perto da estatueta, abaixando-se ao seu lado (e confiando nos seus outros monstrinhos para dar prosseguimento ao combate) e verificando o estado do espécime. Felizmente, ele ainda estava acordado, mas não era preciso muita análise para ter a certeza de que o pedregulho não seria capaz de permanecer em combate: Com um suspiro simples, afagou seu rosto e agradeceu o auxílio, a atenção retornando para os monstrinhos que batalhavam, afinal, não saberia quanto mais aquele conflito poderia se prolongar.

A segunda informação era a respeito do campo. Ver o listrado sugar a energia das correntes que circulavam pelas rochas era uma surpresa para si, porém, não era novidade: Aliás, apesar de relativamente diferente, conhecia bem aquele tipo de movimento graças à convivência com Drac e Buddy. Tinha quase a certeza que toda aquela eletricidade fazia um papel beeeem parecido com aquele invocado pelo Grassy Terrain do buquê e, se estivesse certa, não duvidava que teria muitos problemas ao longo de toda a subida caso continuasse se deparando com elétricos poderosos e, para sua plena infelicidade, o seu próprio não era capaz de se beneficiar dos buffs simplesmente porque não encostava no chão - poderia até se lamentar dessa situação mas, bem, aquele detalhe também era o que o salvava das investidas poderosíssimas de Zuby, então... É. Restava-lhe se conformar com aquela pequena zombaria do destino.

A parte boa de toda aquela muvuca, porém, foi que o enfrentamento não se estendeu por muito tempo: Fosse pela vantagem que Rotom abrira pelo raio atordoante ou pelo poderio terrestre de Nidoking, o selvagem simplesmente tombou inerte no chão: Por ironia do destino, foi quase no mesmo momento que a treinadora caída resolveu que estava na hora de acabar com seu "cochilo", levantando-se com tranquilidade e seguindo em frente, arrancando uma sobrancelha levantada da ruiva. Era difícil de acreditar que alguém resolveria bancar o morto em um lugar como aqueles - quer dizer, se não estivesse logo atrás, sabe-se lá quanto tempo ela não ficaria ali ou se sequer sairia com vida de verdade - e, sinceramente, sequer botava fé que ela persistiria muito tempo com aquelas gracinhas, pensamento que arrancou-lhe um suspiro pesado. No fim das contas, mesmo que de maneira indireta, estava bancando a babá de qualquer jeito...

Deixou a reflexão de lado quando seus companheiros se aproximaram, preocupados com o narigudo; Por bem, a treinadora permitiu que o rochoso descansasse por algum tempo, retornando-o para sua respectiva esfera bicolor e o mantendo fora daquele caos por um instante que fosse. Ergueu-se, verificando que estava tudo bem com o elétrico e também com o venenoso, se permitindo um sorriso breve e um carinho em ambos os pokémons antes de se aproximar do local onde o bípede fora abatido; Analisando-o por alguns segundos, chegou a retirar uma das esferas bicolores que ainda lhe restavam - atitude óbvia, considerando o poder que o elétrico demonstrava -, entretanto, antes de arremessá-la, percebeu que pequenas faíscas escapavam da borda do objeto vazio. Parando para checar mais de perto, reparou também que a pokéball dava constantes "cliques" de abrir e fechar, talvez por interferência do campo ao seu redor e, levando isso em consideração, não foi preciso pensar muito para se dar conta que qualquer tentativa de captura naquele lugar provavelmente seria inútil.

Suspirou; Em silêncio, guardou a esfera, lamentando a perda da possibilidade de manter um animal tão potente para si. Não havia jeito de contornar o problema e, sinceramente, até agradeceu em silêncio a atitude de capturar o canídeo avermelhado antes de adentrar aquela área eletrizada, ou provavelmente teria de carregá-lo consigo por todo o trajeto até o cume. Não acreditou que existia mais nada ali para si, então, seguiu em frente até as escadarias, observando os diversos caminhos que se abriam diante de si, e um nó subiu por seu estômago ao se dar conta da periculosidade de todo o trajeto. Infelizmente, não teria outras opções se quisesse continuar até o topo, então apenas se limitou a escolher as escadas mais próximas e seguiu caminho por elas, com todo o cuidado possível.

Aquele encontro com toda a certeza não poderia ter ocorrido em instante pior.

A primeira coisa que a alertou para uma possível situação de risco se tratou justamente do tremor que assolou a montanha - por motivos óbvios -. Um medo quase sobrenatural se apossou de seu coração quando as pernas bambearam em resposta e, por proteção de Arceus ou mesmo dos fantasmas que a encurralavam, o corpo não tombou para qualquer um dos penhascos que ladeavam as antigas escadarias. É certo afirmar que todo o sacolejo que enfrentara também a impediu de se aperceber do estado de Brooklyn, ainda que houvesse enxergado seus chamativos cabelos azulados há pouco - afinal, sua atenção acabou por ser completamente tragada para os dois pontos rosas que saltitavam pelas pedras e correntes elétricas em sua direção: E não dói preciso muito tempo antes que o olhar identificasse se tratar (muito provavelmente) de uma dupla de selvagens também agressiva, tal como ocorrera com o Electabuzz que parecia aguardar pacientemente no começo das escadarias.

Suas opções eram poucas. Cogitou virar para trás e correr, mas os riscos de que os montanheses a alcançassem por trás (o que com toda certeza seria pior) eram altíssimos e, sobretudo, não poderia ficar pensando por muito tempo para dar brecha que os bípedes os torrassem antes mesmo que ousasse agir. Por um momento, até arrependeu-se de ter recolhido a inexpressiva estatueta para dentro de sua esfera bicolor, pois os alertas periódicos oferecidos por seu nariz com toda a certeza teriam sido úteis naquele instante; Quiçá poderia até ter esperado na base dos degraus pela aparição dos novilhos, ao invés de ser surpreendida por eles no meio de seu caminho.

Com uma visão rápida da situação, considerou alguns pequenos pontos. Levou em conta a afinidade de seu terrestre com campos "naturais" - sua própria tipagem denunciava isso -, o fato de que Rotom flutuava. Considerou também o poder acumulado pelos espécimes graças ao campo eletrificado e, com isso em mente, foi o jovem Drilbur que foi retirado de sua esfera, também levando na matemática o fato de que o animal era uma toupeira e os instintos provavelmente seriam suficientes para se virar no terreno; Os pés se pressionaram contra o chão, e não perdeu tempo em coordenar o avanço das criaturinhas:

— Zuby, vá para frente, não deixe que se aproximem mais e mande um duplo Earthquake! Rotom, você, fique próximo! — Pediu. Não queria pensar muito a respeito da ideia, mas seria bom ter algo para se "agarrar" caso precisasse manter o equilíbrio… E quer coisa melhor que um fortíssimo pokémon flutuante? — Use duplo Confuse Ray: Primeiro na da direita, depois na da esquerda!
Drilbur, preciso que você exiba seu Mud Sport! — Instruiu. Não pretendia deixá-lo em campo por muito mais além do tempo necessário para usar o movimento, e já seria bom manter sua esfera ao alcance para retorná-lo. Dados os comandos, restou-lhe silenciar, esperar e torcer pelo melhor.

Foi com uma maestria impecável que seus companheiros (ou ao menos parte deles, no caso) se adaptaram ao terreno e interceptaram o contínuo avanço dos novilhos; Se os bípedes planejavam interromper seu avanço e derrubá-los das escadarias, o feitiço agora se virava tranquilamente (menos para a toupeira, pobrezinha) contra os elétricos, que rolavam pelas pedras até tombarem em uma área próxima ao local onde havia abandonado o listrado amarelado. Um profundo suspiro foi todo o resumo da reação da moça, que finalmente pôde respirar com tranquilidade - ou tanto quanto era possível - e, à contragosto, retornou o ferido Drilbur para sua respectiva esfera bicolor. Era inegável que os espécimes por ali espalhados possuíam uma força assustadora, mas felizmente seus próprios pokémons não encontravam tantos problemas (até o momento, pelo menos, e a maioria dos que usava) em lidar com as ameaças que surgiram aos pulos.

Foi com pesar, porém, que Chase reparou o caminho bloqueado - um deles -. Visto que só lhe restava uma opção de trajeto, não tinha muita coisa a decidir: Juntou a coragem que tinha e seguiu pelos degraus em direção ao topo, tendo o cuidado de manter Nidoking e Rotom fora de suas pokéballs: O auxílio daqueles companheiros se mostrava extremamente crucial e, bem, não teria motivo algum para retirá-los de campo e perder o back-up que suas meras presenças lhe trazia, huh?