Capítulo 23 - Desbravando a Tormenta

Assombrado com o violentíssimo poderio inesperado de Zappy ao simplesmente massacrar a pobre selvagem que haviam encontrado pelo caminho, o criador nada mais pôde fazer além de se permitir um elogio atordoado para o roedor elétrico e, apesar de inicialmente acreditar na possibilidade de uma aproximação mais suave, tudo o que lhe restou foi atirar uma de suas esferas vazias na direção da equídea, aguardando em silêncio até que o objeto desaparecesse em tímida nuvem prateada, indicando a conclusão da captura. Considerou retornar pelo caminho do qual tinha vindo; O desejo de reencontrar o companheiro e se assegurar de que estaria tudo bem era um sentimento latente e, ainda que não tivesse certeza se o moreno havia tido mais sorte em sua perseguição ao selvagem ou mesmo na procura de Natalie, todas as experiências tidas até então pareciam um indicativo de que evitar seguir sozinho seria a melhor decisão a se tomar.

Os céus não se contentaram com a intenção do rapaz.

Aconteceu de repente; A tormenta certamente não havia se acalmado ainda, mas o mero pensamento de recuo fortalecer os pulmões celestes - e, então, um estouro altíssimo do céu ecoou junto com um guincho distante de uma presença oculta por entre as nuvens, acompanhado pelos raivosos trovões que rasgavam a atmosfera. A terra tremeu; naquele momento, o barulho singular, constante e que aumentava gradualmente, de deslizamento de terra ecoou entre as vísceras do monte. No meio do denso nevoeiro, não se foi possível identificar ao certo de onde a tragédia poderia açoitá-lo de repente.

Talvez o ideal a se fazer fosse continuar subindo, era a mensagem passada.
...E o mais rápido possível, se não quisesse arriscar ser soterrado vivo.

Greatball utilizada por @Artie!
Tentativa de captura efetuada!
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AHÁ! Captura bem sucedida - Blitzle foi enviada ao Storage. Parabéns!
Itens restantes: x02

O descarte da ideia de retornar em busca do treinador veio rápido, tal qual a caótica resposta da natureza para a sugestão do criador de fazê-lo. Nesse momento, até mesmo a pobre caprínea pisou duro e deu meia-meia volta sem pensar duas vezes, disparando pela subida sem olhar para trás - e, embora houvesse hesitado por um instante ao perceber a vontade que McBride guardava em seu coração de ainda assim recuar, o rapaz confiou na sensatez dos instintos de sua montaria e, ainda que com um breve contragosto entalado na garganta, permitiu-a conduzir o caminho.

O alívio veio imediato na forma de um suspiro da quadrúpede e, sem esperar dupla confirmação, os cascos bateram rápidos para conduzir-los em direção ao topo do cume, passo a passo. O nevoeiro era espesso e, ainda que malmente fosse possível enxergar dois palmos à frente do nariz, o barulho pesado do galope da caprínea confirmava seus avanços constantes, assim como o terreno que parecia pouco a pouco se inclinar.

— Ow! Quem vem aí?! — Um grito, de repente, ecoou pelo monte. Uma luz fortíssima cortou o nevoeiro, como a iluminação de um grande holofote, diretamente na direção da aventureira dupla vinda de alguns metros adiante, bailando pelo ar como se requerisse respostas. — Diogo? É você, Diogo? — Questionou a voz. Como procederia o rapaz?

Chegava a ser cômico - a tragédia felizmente não havia atingido o ambiente ainda - o jeito como o criador tivera a ingenuidade de se apresentar tão serenamente ao desconhecido que se pronunciara em meio ao nevoeiro, pois o havia feito sem sequer pensar duas vezes a respeito de se sua segurança estaria garantida ou em risco fatal. Foi apenas o holofote que finalmente "lançou luz" sobre sua mente a respeito de tal hipótese e, tomando-a para si, temeu pelo pior.

Anabell ainda caminhava com tranquilidade, ignorando a possível ameaça que a luminosidade trazia - e o fez até o momento em que uma forte ventania veio, soprando da mesma direção que o holofote havia sido ligado. Foi preciso alguns segundos, mas eventualmente a névoa começou a se dissipar naquela área: O responsável pelo fato era um enorme morcego que tranquilamente voava alguns metros acima do solo. Ao lado do holofote, havia um rapaz de trajes azulados com uma enorme letra "A" estampada no lado esquerdo do casaco que utilizava.

— ...Eu não conheço nenhum Blake. — Foi o que disse o homem, a mão apoiada tranquilamente sobre o equipamento luminoso. — E eu não sei ao certo o que você quer aqui, mas não posso te deixar passar, colega. Sugiro que dê meia volta e vai ficar tudo bem. — Afirmou, sem tempo para rodeios. À sua frente, uma piranha "rosnou" no chão, dando algumas dentadas no ar e com cara de poucos amigos; Parecia pronta para atacar à qualquer momento, caso o criador não obedecesse imediatamente as ordens de seu mestre.

— Você devia se preocupar menos em perguntar e mais em obedecer, guri. — Foi o que respondeu o rapaz, balançando a cabeça em negativa. — Tenho certeza que já viu coisa aqui o suficiente se já chegou até aqui, e ainda assim resolveu insistir, sério? — Revirou os olhos, entediado. — Não tenho ideia de como veio parar aqui. Devia ter uma barricada logo na 121. — Acrescentou, distraído. — Mas, se quer assim... Carvanha, duplo Ice Fang. — Ordenou.

O combate, então, começou. Em realidade, tudo foi muito rápido; Ao contrário de Anabell, o peixe não possuía pesos em suas pernas, então foi logicamente o primeiro a agir com bastante liberdade. As presas do animal cintilaram num claríssimo tom de azul, e o aquático saltou na direção da caprínea, fincando os dentes sobre seu corpo e arrancando um guincho da quadrúpede, que se sacudiu de um lado para o outro e só conseguiu se libertar quando uma saraivada de sementes escapou das gramas de seu corpo e escorreram até a piranha numa pesadíssima explosão de energia. De ambos os lados, os golpes se repetiram; Dessa vez, porém, com poder suficiente para nocautear tranquilamente sua fraquíssima oponente.


— ...Tsh... — Foi o que o rapaz disse. — ...Muito bem, então, se for pra ser assim; Golbat, Confuse Ray e Wing Attack. — Comandou. Naquele momento, o voador que até então apenas observava deu um rasante para baixo, tomando o lugar da peixinha enquanto seu treinador a recolhia para dentro da pokéball.

— É? E por que você quer ir passar? — Perguntou o desconhecido, encostando pacientemente o corpo contra o holofote e erguendo as sobrancelhas, distraído. — Perdeu alguma coisa na tempestade, por acaso? — Debochou, sem muita emoção. Apesar de estar barrando o caminho, o homem não parecia muito empolgado ou sequer motivado a realmente impedir o avanço de McBride. Talvez só estivesse seguindo ordens, afinal?

Bem, não fazia diferença. Naquele momento, o confronto inevitável era a única coisa que importava: E assim o turno começou. O primeiro a se movimentar foi o venenoso, que materializou uma pequena esfera multicolorida e a cuspiu bem no focinho de Anabell, que cambaleou para trás, atordoada. A caprínea tentou revidar atirando algumas pequenas vinhas com sementes em seu adversário, que infelizmente para McBride, não teve problema algum em desviar - mas, sem querer parar para descobrir que tipo de consequência o movimento teria para sua gramínea, o criador logo realizou uma pequena troca no time em campo. O curto instante foi aproveitado por Golbat, que se manteve parado e acumulando uma energia luminosa em suas asas antes de descer em um rasante com tudo na anfíbia liberta, realizando um potente ataque com as mesmas que abriu alguns ferimentos sobre o corpo da azulada.


— Não tem nada aqui pra você, garoto. Por que não vai logo embora?