Pamelor

Ao menos uma coisa eu sabia; dois tapas para descer e quatro para descer ainda mais. Ainda que tivesse memorizado esse pequeno detalhe, decidi pegar o livro que Kara me deu e folhear algumas coisas imprescindíveis e mostrar à Vaporeon também. Acredito que nesta aula experimental eu não iria guiar nenhum pokemon; a professora faria comigo, ainda assim, seria bom para Frey aprender um pouco mais.

Os três movimentos que entendi de cara fora Subir, Descer e ir Devagar. Todos os três tinham uma ideia muito semelhante: para subir se erguia a palma da mão, para descer se abaixava a palma da mão e, por fim mas tão importante quanto, desejando desacelerar se empurra a palma à frente. Era simples, óbvio e fácil; não havia muito o que errar. Os tapinhas de Kara pareciam ser informais e eu gostava disso: uma linguagem curta e objetiva, bastante pragmática, para aproveitar melhor o tempo e dizer entre os íntimos o que era relevante ou não.

Agora eu assentia com a cabeça; sabia que aquele era apenas um sinal quase-universal para sim. Sorri simpática e disse-lhe, tirando o tubo da boca por um instante:
- Acho que isso a gente pega melhor com o tempo, né?! Ainda bem que os sinais principais são simples - Era um elogio ao sistema. Falei isso guardando o livro na bolsa e me certificando que não molharia nada que não pudesse. Era agora ou... daqui a pouco?! Não diria que nunca; se Kara não fizesse, logo mais eu tomaria coragem para fazer sozinha.

Admito aqui que já não queria mais ouvi-la falar. Queria muito, mas muito mesmo, descer. Frey parecia compartilhar do mesmo sentimento; ouvíra sobre a autonomia que podia ter ao batalhar sob águas. Ali era a oportunidade perfeita para o pokemon se aperfeiçoar: assim como muitos treinadores, aquele eevolution tinha uma ambição. Era meu único pokemon que tinha um objetivo consigo; ele queria tornar-se o melhor e mais forte. Sabia que exercitar batalhas sozinho o faria mais esperto, mais estratégico e ainda mais independente. Tal oportunidade lhe deixara um tanto quanto inquieto, ainda assim segurava sua hiperatividade para não se tornar óbvia demais.

Que horas são mesmo?! Acho que até esqueci o que vim fazer aqui. Como era mesmo o nome do Ranger?! Ah é, Vincent. A essa hora Netéro já deve até ter derrubado o lendário. Talvez quando eu subir já tenha até parado de chover.

- Ai desculpa, eu fiquei meio calada mas é ansiedade - Justifiquei; eu fora completamente transparente. Era uma fala cômoda. Além de ser educada, fazia Kara entender que queria ir já.

Era complicado estar em minha posição: recebia ordens imaginando como seria ser autônoma. Pulei depois de todos; até Vaporeon já estava no mar. Reposicionei a máscara no rosto e recebi minha lanterna. Dali para frente eu sabia; nada mais seria dito. Fora no sinal óbvio e reconhecido que descemos. Fui a última novamente; Frey acabara de virar um Aquático mas já parecia muito melhor que eu. Parando para pensar, desde que peguei-o no colo, ele nunca foi lá muito medroso, né?! Faz sentido.

Enfim comecei a descer; tentei acompanhar o ritmo dos outros num passo mais atrás. Sempre alguns metros de distância, vendo bem para onde iriam. Meu movimento seria guiado de início; deixaria que Kara me levasse para onde bem quisesse. Tentava não sair muito de perto e nem me distrair demais, definitivamente não queria perdê-la de vista. E nem que o contrário acontecesse!

A primeira vez que tirei os olhos de Kara foi para olhar á cima. Ali vi Wailord de baixo e senti na pele a imensidão daquele pokemon. Há como derrubar isso em batalha?! Questionamento relevante: ele não parecia ser perfurável. Chacoalhei a cabeça tentando mandar embora minha dispersão; procurei Kara mais uma vez e depois segui olhado ao céu, porém para trás. Ali estava bem mais escuro; recusei-me a iluminar. As bolhas reluziam um pouco da luz fraca do sol. Ali era um cenário lindo: o refratário compunha um céu aquático.

Entendi porque é tão difícil contar estrelas. Elas são como bolhas: quanto mais tempo se procura, mais se vê. Provável que se formem o tempo todo também, como bolhas. A cada movimentação, respiração, inspiração e troca. Alucinei num belo tempo nessa comparação; olhar ao alto não me fazia ver pokemon algum, porém era estupidamente magnífico.

Enfeiticei. Até Frey quebrar a magia; o pokemon passara por trás de mim (sem que eu me tocasse) e me atravessara; como um míssel! Aqui reparo bem sua diferença de velocidade no mar e na terra! Sua rapidez me assustara; demorei até entender o que me ultrapassou. Atrás dele um rastro de bolhas; meu feitiço. Decidi seguí-lo um pouco, apenas para chamá-lo para mais perto. Ele não podia ir longe demais!

Ali em baixo não havia tormenta; chuva não me incomodava. Ondas não eram problemas. Vento não me alcançava. Ali não havia tempestade. Talvez por isso me apaixonara tão rápido; ali era, definitivamente, outro mundo.

Pacientemente Kara esperou meu dispersar acabar. Quando trouxe Vaporeon para mais próximo e enfim retornava meu olhar à ela, ela se comunicou. Demorei um tempo entender o que eram seus sinais mas, ao ver o movimento de seus pokemons, entendi. Iríamos descer! Segurei em Vaporeon e sentei sobre suas costas. Mantive o peito rente à sua barbatana e desci! Anunciei que o fizesse, abaixando a palma da mão. Isso era eu pegando o jeito?! Acredito que sim.

Agora o cenário era outro: os pokemons distantes mudavam, as algas também e a luz já não refletia mais tanto. Era bem mais escuro e Lanturn fazia completa diferença: talvez por isso era difícil perder Kara de vista. Confesso que preferi o alto: ali eu podia ver melhor as coisas ao meu redor. Aqui me limitava aos focos de luz e, provavelmente por isso, demorei perceber a presença de um navio.

Era óbvio que não estávamos tão fundo assim. Aquela era uma costa curtíssima; uma baía que abrigava o sagrado Monte Pyre. Não havia como afundar tanto assim! Aquele navio em questão devia ser exatamente isso: um navegador pouco esperto que acabara encalhando ali. Espero que a tripulação esteja bem!

Era inevitável o desinteresse pelo redor após aquela figura entrar em campo. Eu já não conseguia ver lá muito bem; as cores se confundiam e eu perdia por completo meu senso de direção. Uma bússola parecia fazer falta ali em baixo: para onde o sol nasce mesmo?! Estamos indo para o Monte Pyre ou nos distanciando?! Há garantia de estarmos na baía ainda, ou já era alto-mar?! Eram tantas perguntar à fazer e nenhuma fala! Acabei só concordando com a cabeça, como quem dava aval positivo à Kara e sua proposta óbvia. Como era o sinal de Sim mesmo?! Oh, deve ser um "joinha" com a mão. Ou talvez isso seja o número 17... não sei. Enfim; o fiz.

Agora minha lanterna se firmara em um só alvo: Frey seguiria aquele feixe até estarmos no navio. Teria aquele troço uma bolha de ar?! Um tesouro?! Algum pokemon mora ali dentro?! Certamente algo tem: espero não me cortar e que essa roupa de mergulho me proteja de algumas coisas.

A descida fora fácil. Não houve interferência e nem dificuldade técnica; em instantes já chegávamos ao objeto. Assim como qualquer novata consciente, mantive-me longe dos demais problemas: Vaporeon até queria ir mais à frente, curioso e independente como era, mas não faria isso comigo sobre seu dorso. Agora era a tal hora de... investigar? Pois é. Kara foi a primeira a circular pela construção-humana, procurando alguma entrada. Decidi ousar um pouco mais; ir ao lado o oposto e ver o que encontrava. O engraçado era que em minha cabeça fazia completo sentido: se eu achasse algo gritaria por ela.

A falta de costume com o mar me fazia até parecer burra. Como quem procura negritos sem falas.

De qualquer modo, continuei. Não sabia o que era o tal do convés mas, a medida que observava aquele barco, aprendia algumas coisas sobre sua anatomia. Tive o prazer de iluminar parte espelhada; o lodo até impedira que grande parte do raio retornasse à minha mascara, ainda assim o pouco que restou foi suficiente. Tendo o feixe de luz espelhado para o meu rosto e o de Vaporeon, nos ceguei. Ficamos um tempo atordoados até entender que aquilo era culpa minha; girei a lanterna para o lado completo-oposto e vi alguns moradores daquela região. Oh, isso vai ser um problema! Tentei o mais rápido o possível relembrar as ordens dos golpes de Frey mas não consegui a tempo, antes disso o pokemon já se preparava para atacar com seguidos Hyper Voices, temendo por nossa saúde.

Os golpes focariam primeiros as Starmies e, se necessário, trocaria de alvo.

Vaporeon nunca fora um pokemon conhecido por uma velocidade inigualável. Neste momento estávamos relativamente longe de Kara, o que tornava aquilo tudo mais interessante. Tanto Frey quanto eu acreditávamos na possibilidade de enfrentar aquele problema sem a necessidade de muita ajuda, por isso, não me preocupei. Podia não saber mergulhar, mas batalhar certamente era meu forte.

Estranho admitir isso. Ser boa em algo que nem sequer gosto. Além disso desta vez não era e que batalhava; Frey fazia isso por si só. Não o parei; outra qualidade que devo listar é a atenção dada ao treinamento dos meus pokemons. Não demorou para uma criação de vínculo com Frey que, agora, agia me orgulhando.

O vaporeon prosseguiu: mais um Hyper Voice noscmesmos alvos e um Buzzy Buzz no que estava com vida completa. Deixo aqui um adendo: ao atacar com eletricidade, tomei a precaução de me afastar um pouco.