Pamelor

Mais um Hyper Voice e o Luvdisc que restara se acoou. Era de se esperar que fugisse e eu não iria atrás; havia muito mais para explorar à que um pokemon pouco incomum. Comemorei em gesto, socando para o alto e rezando para aquilo não ser entendido como um comando: não foi. Vaporeon sorriu e emitira um som característico da espécie, demonstrando sua felicidade em estar ali. Agora voltei a me aproximar do campo e retomei meu corpo ao torso do eevolution. Era inevitável não reparar no movimento lerdo que os Staryus e o Luvdisc faziam até o chão; como uma pluma afundavam. O chão não estava tão distante de nós então não demoraria muito descer se não fosse uma correnteza repentina! Os filhotes nunca caíram no chão. Antes disso foram carregados, junto à mim, numa espécie de vórtex.

Não há como gastar esferas assim; decidi ser rápida e capturar só dois dos três monstrinhos. Minha decisão podia parecer injusta mas, veja bem, vai tornar prática comum descer aqui. Ao menos pretendo! Se tornar comum, preciso de pokemons fortes para fazer isso bem! Joguei duas esferas simples e capturei o Luvdisc e um dos Staryus, sem me importar muito com qual.

Fiz isso tudo enquanto era carregada, numa intensidade mediana que aumentara. Num certo ponto tive que olhar: eu ia em direção à poeira! Estava em dúvida se aquilo me distanciava do navio; queria aproveitá-lo um pouco mais. Esperei muito que não mas me deixei ir, isso porque não parecia ser um risco de fato; ao menos não até ver os tais pedaços de madeira por toda a parte. Estremeci: olhei para o lado e procurei por Kara, tentando encontrar algum sinal. Ainda não o vi, sendo assim, sinalizei para Vaporeon que descêssemos um pouco, tentando sair daquela correnteza e evitar o tráfico de escombros.

Era mais um exemplo de minha inocência: poeira em terra era comum. Em geral simbolizava vendo ou derivados. Em mar não tem vento; como não me perguntei o que causara aquilo?! Esperaria, literalmente, a poeira baixar para averiguar o caso. As madeiras da frente seriam despistadas por Hyper Voices de Vaporeon.

OFF: Mudando para a perspectiva do Vaporeon por motivos de Winnie não tem muito o que fazer na narração.

Era estranho. Eu até gostava mas era estranho. Desde que nasci eu sabia o quão estranho era carregar algumas coisas comigo. Quando eu era um Eevee era um pouco menos esquisito; o poderio elétrico saia sem me causar tanta euforia. Como Vaporeon (e debaixo d'água) me sinto estranho. Winnie estava preocupada demais para perceber: distanciou-se de mim e nadou contornando a bagunça, tentando visualizar Kara sem entrar em perigo. Ela me deixou ali e fez apenas um sinal: à diante. Não tenho certeza ser era isso de fato mas foi o que entendi com o apontar de dedos à criatura.

Era estranho e eu tinha medo. Medo principalmente do desconhecido. Não nasci no mar e muito menos no fundo dele. Tornei-me aquático agora e é a primeira vez que uso minhas guelras. Ainda assim isso não é tão estranho: assim que mergulhei uma primeira vez, senti que fui feito para estar aqui. O que era de todo estranho era estar tão forte de repente. Eu sempre soube que era diferente; me disseram isso desde o nascimento, ainda assim, como cresci tão rápido?! Isso era estranhamente bom.

Eu já não me incomodava com o frio como antes; à instantes atrás precisaria passar horas penteando meus pelos com a língua. Certamente ficaria com algum fungo chato se não fizesse; detesto me coçar. Confesso que estava gostando da estranhez dos fatos. Nadei livre por um tempo e depois não. Batalhei livre agora porém outrora não. Segui correnteza à dentro e entendi o que é de fato ser guiado. Agora? Fui confiado a virtude do discernimento. Entenda aqui minha estranheza: havia um pokemon aquático bem à frente. Um daqueles que parece bem forte. Derrubava Gyarados, Sharpedo e confundia Lapras. Winnie se desesperar e eu?! Bem, eu não estava assim. Eu podia só fingir demência. Não era problema meu. Ainda assim não queria; eu realmente gostava dela. Sei que não é tão fácil fugir assim, estávamos ligados à uma esfera, mas não era nem por isso que não tentei, apenas não queria mesmo. Estranhamente preferia correr esse risco aqui à que sumir da vida dela.

Estranho, não?! Pois é; eu tenho que repensar um pouco essas coisas. Ainda assim agora não seria a hora, eu precisava agir. Meu receio era imenso, eu sabia que a estranheza do meu golpe elétrico era fortaleza mas... eu colocaria Kara em risco o fazendo? Encarei a situação e repliquei o exemplo de Luvdisc em minha cabeça: se um golpe avulso não se multiplicara, porque diabos um com alvo se estenderia para outros parceiros, né?! Veja bem: se der errado terão que me desculpar, mas não vejo outra forma de parar aqueles tentáculos. Eu precisava, no mínimo, o deixar lerdo.

Eu mirei; com muito esforço mirei. Fui devagar, no meu tempo, me certificando que não acertaria o alvo errado. Foi assim que agi; precavido. Podendo usar dois Buzzy Buzz sem problemas.

Aquilo não era lá muito bom. Sei que parecia óbvio desde o início; quando Kara não se mostrou suficiente, eu devia ter entendido que aquele inimigo não era para mim. Ainda assim decidi prosseguir: iria golpeá-lo com mais dois Buzzy Buzz. Eu não tinha lá muito tempo para entender o que ocorria, só esperava muito que Winnie estivesse buscando ajuda. Olhei de relancei ao lado e a vi: agora ela já estava próxima da calda de Gyarados. Tentacruel felizmente estava bem mais lerdo e eu parecia ter conquistado sua atenção. Se eu cair aqui ao menos fiz algo útil: atrasei ele.

Tentei voltar ao foco inicial, ainda assim a presença da minha treinadora, no plano de fundo, me disperçava as vezes. Isso era ruim, mas ao menos me certifiquei de que uma resolutiva estaria sendo feita. Winnie parecia estar se aproximando de Kara, tentando puxá-la. Assim ela, provavelmente, conseguiria ajuda. Ela também tentou se comunicar com Lapras, como quem pedia socorro ao balançar os braços seguidamente. Ao longe não pude reparar mas algo de diferente ocorria: ela relembrou da enumeração dos golpes e decidiu apontar o número 1 para lapras; podia não ser o primeiro golpe do pokemon, mas foi o primeiro que vimos: Sing.

É... seria ótimo por esse monstro para dormir.

OFF: Voltando para Winnie.

Eu sabia três golpes de Lapras. Sing, Confuse Ray e Ice Beam. Certamente ele teria outros, ainda assim preferi não arriscar e deferir o básico: precisava coordená-lo para que aquilo saísse minimamente bem. Aproveitei o dormir de Tentacruel e balancei-me, chamando atenção dos dois pokemons em campo. Decidi organizá-los dali mesmo, aproveitando que, por alguns instantes, continuaríamos seguros.
Apontei para Vaporeon, indicando que ele seria o primeiro a receber as ordens: enumerei o um e o dois, em sequência. Um indicativo claro para Wish e Heal Bell. Meu segundo pedido era apontado para Lapras: três e dois, querendo indicar Ice Beam e Confuse Ray.

Eram essas minhas ordens, meu intuito ao fazê-las era curar Gyarados. Meu Heal Bell seria suficiente para retorná-lo à luta? Eu esperava que sim mas arquitetava meu plano já imaginando que não. Numa tentativa desesperada peguei da mochila rente as costas uma Super Potion. Borrifei na serpente marítima esperando que aquilo findasse um resultado positivo.

Eu não podia esperar muito mais; aquilo precisava que fazer efeito já! Kara estava perto de seu voador-aquático e por isso atravessei a talhe de Gyarados para lhe encontrar. Não precisei desenrosca-la daquela situação, Tentacruel fez por si só. Eu estava num questionamento ímpar: eu deveria pedir que o pseudo-dragão fosse buscar a ajuda de Wailord ou que lutasse? Num pensamento muito intuitivo e pouco racional, pedi que ficasse e lutasse, fechando os dois punhos e batendo um contra o outro, como quem simbolizava uma luta ou conflito. Ali eu anunciava independência ao aquático, porém se precisasse, chutaria algum número aleatório baixo, como um ou dois, apenas para descobrir quais eram seus golpes.

Agora estando próxima da garota, trouxe-a até meus braços. Eu não precisava averiguar sua consciência: era óbvio que não a teria. Com um apertar tão forte daquele monstro?! Era evidente que não podia tê-la. O que fiz ali foi verificar sua pulsação. Pressionei meu indicador sobre um dos lados de seu pescoço, procurando algum sinal vital qualquer. Sabia que ela poderia ter perdido seu ar em algum momento do clímax, seja por algum dano de Tentacruel ao seu aparelho ou por um acidente qualquer. Se me certificasse que estava bem tentaria a acordar. Se ainda estivesse viva, sem dúvida nenhuma seu oxigênio estaria sendo suprido. Não conseguiria ter ficado tanto tempo sem respirar.

Meu sangue estava completamente na cabeça; eu até precisava agir fisicamente mas, antes disso, precisava raciocinar. Não há sentimento a ser narrado, eu simplesmente não podia sentir, eu precisava agir o mais rápido o possível. Certifiquei-me que a máscara continuasse na posição correta e fiz de tudo para que abrisse os olhos logo; me perguntava se seria justo levá-la para a superfície sem seus pokemons. Eu levaria muito mais tempo nadando sozinha e tirar qualquer um daquela luta parecia sinônimo de derrota. Eu precisava de tempo para analisar as condições.

Iria esperar; ao menos até saber a real situação de Kara. Sabia que Lanturn e Sharpedo não estavam bem, ainda assim, eram pokemons aquáticos e conseguiriam se manter naquela situação sem tantos problemas quanto uma humana. A prioridade era Kara e, se eu visse que Gyarados não tinha condições alguma de batalhar, mesmo com a Super Poiton, traria Frey de volta para a esfera e montaria na serpente, indo à superfície e chamando por Wailord.

Um milagre? É isso? Há mesmo como isso ter se resolvido tão rapidamente? Tinha de ser um milagre. Com dois ou três novos focos de luz, tudo se modificava. Até mesmo Kara voltava a consciência! Agora a moça estava em meus braços, provavelmente ainda desorientada. Não havia como falar o que aconteceu e apenas apontei para o campo. Era uma vitória. Tentacruel estava nocauteado.

Puxei uma porção boa de oxigênio. Deixei que o sangue voltasse a descer e vi minha pressão me derrubando. Cambaleei mas não desmaiei, aquilo era só a bonança pós tempestade. Para o ser humano a bonança repentina vem como queda de pressão. Ergui um pouco as pernas e esperei voltar ao meu eu; ainda não havia sentido lá muita coisa mas ao menos meu coração parou de palpitar tão alto.

Ainda com cara apoiada em mim, auxiliei-a até seus pokemons. Apontei para Lanturn e Sharpedo que estavam caídos e sinalizei-a para voltar. O símbolo era simples: fazia um "joia" invertido e demonstrava uma negativa com a cabeça. Terminei de auxiliá-la sobre Gyarados e quando senti que estava segura, fui até Frey. Acariciei o pokemon e abracei-o com bastante orgulho, como quem gritava sem gritar: eu estou muito orgulhosa de você. Era inevitável. Sem sua independência, discernimento e técnica, nunca teria livrado Kara daquela situação. Eu poderia sim ter o paralisado e fugido sozinha, mas não teria como resgatar a garota se ele não tivesse sido tão incrível.

Agora eu pretendia subir; já preparava o sinal para alavancar. Já tínhamos vivido aventuras demais ali em baixo. Se nada me impedisse ou chamasse atenção, subiria.