O fazendeiro e a galinha

Assim que entraram no laboratório, os dois viram que a mulher parecia trabalhar ali sozinha. Não era tão estranho, já que ela havia até colocado um aviso de vaga de emprego, e isso indicava que ela poderia estar precisando de ajuda. Apesar de tudo, oferecer uma vaga de “cobaia” de experimentos, também parecia ser bem estranho.

Rafael logo cumprimentou a mulher e aproveitou para dar alguns palpites sobre a estética do exterior do laboratório. Ela o encarou com o mesmo sorriso de sempre e disse secamente: - Mas meu interesse não é que seja convidativo. Só estou precisando de ajuda para testar a última versão do meu soro, depois disso, não quero ninguém aqui me atrapalhando.

Suas falas começavam a destoar com sua expressão que até então parecia bem gentil. E ainda por cima, Rafael parecia se sentir um pouco incomodado em estar ali naquele grande laboratório. Então, depois de se apresentar, ele logo perguntava o motivo de não ter outros cientistas ali.

Sierra respondia de longe enquanto pegava os formulários. - Eu não preciso de ajuda. Pelo menos não para preparar a formula. Outras pessoas aqui iriam me atrapalhar. - Em seguida ela se aproximava com os papeis e os entregava para os dois treinadores. - Mas mesmo assim, eu adoro crianças como vocês. São corajosas, e sempre aceitam trabalhos desse tipo.

Era um formulário comum de autorização para testes de medicamentos. Ali informava que o soro poderia causar alguns efeitos colaterais, como tontura, náuseas, e dores pelo corpo. Nada que parecesse muito grave. No fim, havia um espaço para preencher com o nome completo e assinalar que concordava com os testes, assinando no fim.

- Leiam com atenção, e assinem se concordarem. – Ela dizia pegando um envelope com o dinheiro. - Aqui tem Pk$ 1500 para cada, mas só vou realizar o pagamento no final do teste.

Desconfiado da proposta, Rafael decidia fazer aquilo sozinho, já que poderiam ficar bastante vulneráveis com os efeitos citados. Mesmo pensando que poderiam ou não ocorrer os efeitos, ainda era sábio se resguardar.

- Tudo bem. Mas preciso testar duas versões da formula. Uma para humanos e outra para pokémon. Então se quiser deixar um de seus pokémon assumir o lugar da garota, acho que posso aceitar. O que me diz? – Ela perguntava olhando para a movimentação de Tocha na mochila do garoto. - Posso realizar um pagamento extra por isso. Mas já aviso que a formula para pokémon ainda não foi experimentada, e não sei quais efeitos pode causar.

Daiene que ainda não havia dito nada, rapidamente se pronunciava. - Então pode deixar que minha pokémon vai fazer o teste. – Ela dizia pensando em não prejudicar o pokémon do garoto. - Dolly é bem forte e resistente. Ela vai se sair muito bem. Tudo bem por você Rafa?

- Pra mim está ótimo. Bom que poderei fazer uns avanços a mais em meus projetos. – Como Rafael havia perguntado sobre o efeito do soro, ela aproveitou para responder. - O soro serve para aumentar os atributos. Basicamente serve para deixar alguém mais forte. Só preciso tentar estabilizar a formula, para garantir o efeito por mais tempo.

Ela pegava uma caixa de dentro de uma câmara de resfriamento próxima, e retirava dois frascos. A câmara de resfriamento era protegida por um sensor biométrico, e parecia ser um equipamento bem caro. Ela separava os frascos juntamente com dois aplicadores, e aguardava a confirmação de Rafael para continuar.

- Certo, vamos começar então! – Sierra dizia novamente bastante animada. Mas antes que ela pudesse começar, Rafael novamente vinha com outra ideia. - O que foi agora? – Ela dizia sem paciência.

Rafael logo perguntou se poderia usar um de seus pokémon junto da ovelha que Daiene havia liberado ali. Dolly parecia normal, sonolenta e tranquila como sempre. Daiene explicava para ela o que aconteceria a seguir, mas ela não s importava muito.

- Vou ter que recusar. Ainda não sabemos o que pode acontecer, já que vai ser o primeiro teste. Então vou experimentar em apenas um pokémon, para poder pegar os dados de que preciso. – Ela disse olhando para aquela pequena Pikachu inexperiente.

Faísca acabou ficando um pouco chateada por ter sido recusada. E assim se juntava à Tocha para cuidar das coisas. Daiene também se afastava, deixando apenas Rafael e Dolly ali.

Sierra pegava o primeiro frasco, que pareci ter um liquido grosso avermelhado dentro. Lembrava muito um frasco de exame de sangue. Ela acoplou o frasco no aplicador e sem muita cerimonia apoiou o aparelho no braço do garoto dizendo: - Três! – E injetou o liquido. Ela se afastou alguns centímetros e aguardou. - Está sentindo alguma coisa? – Ela perguntava deixando o aplicador sobre um balcão e pegando uma prancheta. - Me descreva o que está sentindo. Depois vamos passar para os testes práticos.

Rafael não sentia nada diferente no primeiro momento. Mas logo um calor começou a tomar conta de seu corpo, começando pelo braço por onde o liquido havia entrado. Em alguns instantes, todo seu corpo parecia transbordar com aquele calor, e aquilo não parecia ruim, pelo contrário, Rafael sentia como se seu corpo estivesse perfeitamente bem. O garoto se sentia tão bem, que parecia que estava melhor do que quando chegara ali, e uma sensação de poder tomou conta de todo o seu ser. Era como se pudesse fazer qualquer coisa. Agora era só descrever a Sierra como estava se sentindo, com suas próprias palavras.

Enquanto Rafael descrevia de sua maneira o que estava sentindo, ele ficava com vontade de acariciar seus pokémon. Faísca não recusava o carinho, e Tocha vinha logo em seguida. Sierra não dizia nada, apenas anotava o que o garoto dizia em sua prancheta.

Quando ele perguntou se precisava fazer alguma coisa, ela apenas respondia. - Carregue aquela cadeira ali. E me diga o que sente. – E apontava para a cadeira de alumínio ao lado. Rafael poderia carrega-la sem problemas, mas ainda assim, Sierra queria que ele descrevesse novamente suas sensações.

Quando Rafael pegasse a cadeira, ele não sentiria peso nenhum, como se ela fosse feita de papel. Era como se ele estivesse realmente mais forte.

- Depois levante aquela mesa ali. E diga o que sente. – Dessa vez ela apontava para uma mesa de madeira, que pesava pelo menos metade do peso de Rafael.

Quando ele levantasse a mesa, teria a sensação de estar levantando algo leve, como um saco de arroz. Seria como se sentisse apenas um quarto do peso real do objeto, mostrando que o soro o fazia realmente mais forte.

Daiene apenas assistia em silencio, admirada com o estranho efeito do soro.

- Sim, sim. – Sierra continuava dizendo enquanto fazia suas anotações. E para a última pergunta de Rafael, ela dava uma resposta mais completa. - Minha intenção é criar um soro que dure bastante tempo, para ser usado em missões que demandam de bastante força física. Mas sim, no momento ele dura apenas alguns minutos. Mais precisamente, uns 10 minutos. – Ela finamente deixava a prancheta de lado e sorria. - Por enquanto acabamos. Agora tente descansar um pouco, pois os efeitos colaterais podem começar logo. Se sentir algo diferente, só me dizer.

Daiene estava estupefata com o efeito do soro. Ela logo se aproximava de Rafael e apertava seus tríceps. - Você nitidamente não parece mais forte. Como será que funciona isso? – Ela dizia baixo. - Espero que não seja perigoso e que você fique bem.

Agora parecia ser a vez de Dolly. Sierra novamente pegou o aplicador e colocou a outra amostra do soro no encaixe. Ela foi até a pequena ovelha dorminhoca, e sem dizer nada, aplicou a outra versão do soro em seu quadril. No primeiro momento nada aconteceu. Dolly parecia continuar dormindo tranquilamente.

- Dolly, você está bem? – A treinadora perguntava a sua pokémon. - Dolly? – Dolly não se mexia. Os olhos da garota se arregalaram. Ela parecia preocupada.

- Calma. Ela não morreu. – Sierra dizia para acalmar Daiene. - Veja.

Alguns segundos depois, Dolly abriu os olhos. Mas ela não parecia nenhum pouco normal. Seus olhos começavam a ficar avermelhados, enquanto uma aura sombria tomava conta de todo seu corpo. Em seguida ela olhou para cada um dos humanos que estava ali, e pareceu não reconhecer nenhum deles. Daiene novamente pareceu espantada e tentou chamar sua pokémon mais uma vez. - Dolly!? Você está bem?


Daiene tentou se aproximar de Dolly, mas uma onda elétrica partiu do corpo da pokémon em direção a ela. Algo estava muito errado ali.

- É melhor não se aproximarem dela. – Dizia Sierra tranquilamente enquanto anotava novamente em sua prancheta.

- O que você fez com ela?

- É só o efeito do soro. Pode ser um efeito colateral. – Sierra dizia com a mesma tranquilidade de antes. - Agora vamos testar a força dela. Mande ela fazer alguma coisa.

- Não vou fazer isso! Quero que deixe ela como estava! – Daiene começava a ficar nervosa, mas não tanto quanto sua pokémon.

Com um guincho, Mareep novamente chamava a atenção de todos para ela. E em seguida avançou contra Daiene, acertando-a com sua investida. A garota caiu para trás e bateu a cabeça contra uma cadeira. Sua pokémon parecia descontrolada, e agora ela estava desacordada. O que Rafael faria diante disso? Sierra apenas se afastava para observar o poder de seu soro, e parecia bastante animada com o que estava acontecendo.

Para piorar, o efeito do soro que corria nas veias de Rafael, parecia começar a passar. O efeito colateral o deixava meio zonzo, como se estivesse acabado de ser girado fortemente.