Ato 00 — Nico e Charmander.

Era uma manhã de sol. Ao sul de Pallet, a luz do astro refletia no cristalino espelho de águas que, conforme o vento, dançava. Naquele calmo início de dia, a rota marítima não dava sinal algum de tempestade ou alteração abrupta do clima, dando os sinais de que a viagem seria tranquila. Esperando as ordens do capitão para entrar no barco, jazia um jovem, loiro, com roupas relaxadas, esperando ir para Hoenn.

Nicholas Halstenberg, ou apenas Nico. A nova região proporcionava a atmosfera ideal para se iniciar qualquer que seja o tipo de aventura, e o rapaz, mesmo que novo, carregava o espírito desbravador dentro de si. Queria deixar a sua marca, e por isso, sai de sua zona de conforto, rumando horizontes para ele desconhecidos.

Ressoa então o apito da embarcação, e o capitão daquele simples barco chama todos os presentes para adentrarem. Era um barco de viagem, simples, de madeira, mas mesmo assim resistente. Segundo o líder, já fizera inúmeras viagens e durante todo esse tempo, manteve-se inabalável, tal qual sua determinação. Nico então sobe a rampa, e fica ali no convés, olhando para todo aquele seu pequeno mundo uma última vez.

Viridian, Pallet. Enquanto trabalhava no PokéMarket da última parada de treinadores versados para obterem a última insígnia da liga de Kanto, e então, desafiarem os treinadores mais poderosos da região.

— Zarpar! — ouve-se o grito do capitão, seguido do apito daquela embarcação. O barco começa, então, a cortar os oceanos ao sul de Pallet, seguindo seu caminho para um pequeno canto em Littleroot, Hoenn.

E foram incansáveis dias para que aquele barco chegasse até seu destino. Ora, as regiões eram distantes uma da outra. E foram diversas provas que o destino colocou àquela tripulação, como tempestades e até mesmo ataques de criaturas marinhas. Entretanto, nada eram contra a determinação de inúmeras pessoas prontas a iniciar uma nova estrada, uma nova vida. Treinadores, aldeões, comerciantes, e até mesmos membros da tripulação do barco. Como uma corrente viva, unindo seus arrojos, passaram por essas provações até que chegassem ao destino.

Nico despedia-se do capitão assim que chegaram a Hoenn.

Apesar de o mesmo sol que outrora banhou a saída de Kanto, o mesmo clima ensolarado, porém ameno estava sobre as madeixas amarelas de Nico. Era um canto remoto da pequena cidade interiorana de Littleroot, que contava com pouquíssimas casas e um grande edifício, mais ao sul: o laboratório de Professor Birch. Como toda cidade pacata, a movimentação, seja comercial ou de pessoas era quase inexistente, e o número razoável de transeuntes naquele momento era resultado da chegada daquela pequena embarcação, oriunda de Kanto.

Quase como extinto, o garoto arrumou suas roupas e foi na direção do laboratório. Mesmo tendo contato com pessoas daquele barco, Nico despediu-se delas, e então, todos dispersaram.

O caminho até o prédio de pesquisas não era assim tão longe, e não tardou para o garoto chegar. A porta abriu automaticamente, causando um pequeno espanto para Nico. Mesmo assim, ele seguiu. Era um laboratório em um grande salão, com máquinas de última tecnologia esparsas por aquele cômodo. Mais a frente, em um balcão com algumas pokébolas estáticas com um homem, aparentando ocupado mexendo em outras coisas, de costas para aqueles instrumentos.

Nico aproxima-se.

— Finalmente, terminei os upgrades necessários! — brada o homem rechonchudo, volteando-se ao balcão e mostrando surpresa ao perceber o jovem rapaz à sua frente. — Desculpe-me, eu acabei me empolgando... Mas, diga-me, meu rapaz, no que posso ajudá-lo?

Aquele era o renomado professor Birch. Conhecido por ser o mais famoso cientista e especialista quando se trata de pokémons. Nico tenta transparecer calma mesmo estando frente a frente com alguém como ele — embora para ele, que ouvira histórias sobre descobertas mesmo vivendo em lugares tão longínquos.

— Eu ouvi muito sobre o senhor, professor Birch — começa Nico. — e, como muitas outras pessoas, tenho o objetivo de me tornar um treinador. E você é a pessoa certa para me ajudar.

— Mas é claro! — o cientista se entusiasma. — Em primeiro lugar, tenho que te entregar algumas coisinhas, que lhe serão muito úteis.

Birch coloca sobre a mesa cinco pokébolas, das comuns, junto de um outro apetrecho muito conhecido por todos, a pokédex.

— Eu sou um pesquisador, e terminei há pouco tempo uns upgrades na pokédex. Mas, ainda assim, sinto que falta informações nela, e todos os treinadores que passam por aqui me ajudam nessa missão de descobrir tudo sobre os pokémons — ele fita Nicholas. — Então, que tal me ajudar nessa missão, rapaz? E aliás, qual seu nome?

— Nicholas — responde prontamente. — e será uma honra ajudá-lo em suas descobertas, professor.

— Ótimo!

Nicholas esboça um sorriso no canto dos lábios, ao contrário de Birch, que demonstra mais enérgico em comparação ao garoto loiro.

— Agora, você precisa escolher seu primeiro pokémon. Lembre-se, Nicholas, ele não é apenas um instrumento para batalhas ou uma escada para suas conquistas. Acima de tudo, ele é um amigo. Por isso, escolha sabiamente.

O cientista leva o garoto para um espaço especial do laboratório, onde inúmeras pequenas criaturas brincam e gargalham livremente. Ao perceberem que Birch abre a porta, todas elas, quase que simultaneamente, viram-se para o velho homem e o garoto que o acompanhava, esboçando um sorriso agora um pouco mais discreto — apesar de diminuírem os ruídos, a felicidade no olhar das mesmas ainda permanecia. Nicholas olhou, uma a uma, e em um canto remoto, percebeu um pokémon de sua terra natal, Charmander.

Era quase que predestinado. Ambos trocaram olhares, e em um lapso de tempo, algo no interior de ambos dizia que finalmente acharam os companheiros ideais para uma futura aventura.

A sensação nostálgica que perpassava por Nico era nítida. Em Viridian, viu todos os estágios daquele lagarto laranja com seu peculiar rabo em brasas. Sempre foi cativado por cada uma daquelas criaturas.

Estava decidido.

— Eu quero o Charmander — apontou Nico.

Foi quase como uma grande festa para todas aquelas criaturas que ficaram felizes pelo fato de um companheiro ser escolhido. Os demais sabiam que futuramente seriam escolhidos.

Feliz, porém tímido, o Charmander aproximou-se do treinador. Nico tomou-a no colo, e esboçando um sorriso maior que outrora, fitou-o. Era quase inexplicável a química entre ambos.

— Agora, está tudo pronto — disse Birch. — Vá, conquiste o mundo, e não se esqueça da pokédex.

Birch gargalhou alto, entregando a respectiva pokébola de Charmander. Nico ainda encarava o seu primeiro companheiro, e então, colocava-o no chão. Sem dizer muito, cumprimentava o cientista, com seus olhos refletindo a gratidão por proporcionar os recursos para uma aventura que seria única.

Pelas ruas de Littleroot, saiam andando então os dois. Ali, iniciava-se uma grande parceria e também uma aventura única.