O Primeiro Voo da Andorinha

Observava com apreensão enquanto a pokébola girava de um lado a outro, sem sair do lugar. Fazia o primeiro bipe... o segundo... o terceiro... e então a luz no centro da esfera se apagava, indicando uma captura bem sucedida.

— Isso! — Comemorava dando um soco no ar.

Agora a Wurple fazia parte do nosso time e, embora houvéssemos começado com o pé esquerdo, eu faria o possível para que ela se sentisse bem acolhida. Para tentar dar início na melhora da relação, eu libertava a lagarta novamente da pokébola e utilizava uma de minhas potions nela.

— Tome... Não é muito, mas vai te fazer se sentir melhor... — Dizia "sprayzando" o líquido sobre o corpo da pokémon. — Agora pode descansar mais um pouco. — E, em seguida, a retornava novamente para sua pokébola.

Ainda faltavam muitas horas para o anoitecer, mas em algum momento ele chegaria. Talvez não fosse uma boa ideia permanecer ali até tão tarde, mas caso eu acabasse me perdendo no meio da floresta, poderia passar por apuros se não estivesse preparado. O lugar era bastante fechado e a baixa, ou melhor, nenhuma luminosidade com certeza seria um problema que eu teria que lidar. Com isso em mente, decido entrar mais a fundo na floresta a procura de alguns galhos secos que pudesse utilizar para fazer uma fogueira, ou quem sabe improvisar uma tocha mais tarde. Eu certamente não teria a capacidade de produzir fogo por conta própria, mas por sorte acho que isso não seria problema para um growlithe.

Além dos galhos, também procuraria no chão (ou partes mais baixas) por cogumelos comestíveis. Talvez eu não soubesse distinguir um cogumelo comestível de um nocivo, mas deixaria para lidar com o problema somente caso de fato encontrasse algo.

Caminhava sem rumo dentro da floresta, procurando os caminhos mais fáceis entre as árvores. Aquela experiência era um pouco diferente do que eu havia imaginado que seria explorar uma floresta; os filmes e outras mídias sempre davam uma impressão mais "mágica" da situação, mas na realidade estava sendo algo bem mais repetitivo e diria que até mais tenso do que esperava. O terreno irregular, por vezes escorregadio, e também a possibilidade de ser pego de surpresa por algum inseto, animal ou outro pokémon não me deixavam ficar totalmente relaxado.

"To sentindo que vou me arrepender de não ter comprado um repelente assim que chegar mais pro final da tarde..."

O olfato não era dos meus sentidos mais confiáveis, mas em um determinado momento, comecei a sentir um aroma diferente no ar.

"Nossa, que cheiro bom, o que será isso? ... É, não adianta, não consigo reconhecer... mas é bom!"

E para eu reconhecer um cheiro bom, deveria ser bom mesmo, ou então poderia muito bem passar totalmente despercebido. Meu nariz as vezes era muito seletivo, pra bom ou pra ruim. Guiado pela curiosidade e pela expectativa, eu caminhava na direção que o odor ficasse mais forte, tentando descobrir qual era sua origem.

O cheiro misterioso me levou a descobrir uma trilha na floresta. Seguindo a mesma, acabei parando em uma clareira com uma cabana em seu centro.

"Há! Agora sim estamos falando das florestas "mágicas" dos filmes! Uma cabana em uma clareira no meio da floresta? quem será que vive isolado assim?? Só espero não acabar como João e Maria..."

Observando a cabana ainda de longe, achava engraçado a familiaridade da minha situação com o conhecido conto infantil no qual uma bruxa atraía crianças para a floresta e as engordava para comê-las. Mas aquilo era apenas uma história, eu esperava... O cheiro estava tão bom que eu arriscaria minhas chances de encontrar com uma bruxa. Diferentemente das crianças, qualquer coisa eu tinha Wolf e os outros para me proteger.

A fumaça saindo pela chaminé, um cheiro que agora eu conseguia perceber ser doce, e uma cabana de madeira... As evidencias eram mais que o suficiente para eu concluir que se tratava de alguém cozinhando (ou que havia recém terminado de cozinhar) alguma coisa. Naquele momento, meu estômago fez até um barulho, como se suplicasse que eu investigasse a situação mais a fundo. E era exatamente aquilo que eu pretendia.

O cheiro vinha de uma janela, mas o ângulo e a distância não permitiam que eu visse direito o que era, então decido me aproximar. Não tentaria ser sorrateiro nem nada, apenas me aproximaria da janela como um transeunte qualquer e, então, daria uma olhada em qual era a comida responsável por "torturar" minhas narinas e estômago. Também aproveitaria para espiar a parte interna da cabana, se havia alguma pessoa naquele cômodo. Caso não houvesse ninguém, eu me dirigiria a porta da frente da cabana e tocaria a campainha ou, se não houvesse uma, bateria na porta.

Antes que eu pudesse bater na porta, uma senhorinha de cabelos grisalhos me recebia. Ali do lado de fora, conseguia também observar que um machop estava cozinhando algo.

"haha nossa! por essa eu não esperava... Quer dizer então que o Machop que era o masterchef por aqui!"

Me dirigia então à senhora:

— Bom dia, senhora! Desculpe a intromissão, mas é que essa sua comida está com um cheiro maravilhoso!

A senhorinha não havia ficado brava ou mesma surpresa com minha aparição ali, em vez disso, ela pedia minha ajuda, me entregando uma lista de berrys que precisavam ser buscados na horta para que ela terminasse o almoço. Aquilo era um tanto quanto inesperado, mas acredito que se eu havia me juntado a divisão de Copas, era justamente para ajudar a aqueles que precisavam. Por isto, prontamente aceitei a solicitação.

— Pode deixar! Volto num instante!

E a senhorinha voltava novamente para dentro de casa, junto aos fogões.

"Mas... Onde será que é essa horta?"

Eu então fazia o perímetro em volta da casa, imaginando que encontraria a horta em algum lugar. Quando encontrasse a horta, olharia novamente para a lista, procurando os berrys um a um ali. Por precaução, também procuraria por fotos deles no celular, para ter certeza que não os confundiria.

"Vejamos... Sitrus é o amarelo... Oran é o azul... Lum é o verde e... Tamato é o vermelho."

Se tudo ocorresse bem, pegaria respectivamente dois, três, um e dois dos berrys citados e então retornaria de volta a cabana da senhora.

Achar a horta não seria tão fácil quanto o esperado; minha primeira intuição de procurá-la ao redor da casa não havia me levado a lugar nenhum.

"Vejamos... Eu vim daquela direção e não vi nada no caminho... Mesmo assim, essa horta pode ficar pra qualquer uma das outras três direções..."

Ao parar para pensar por qual lado devia começar a procurar, o silêncio me permitiu notar um sutil barulho de água corrente.

"Esse som... Isso é um rio? Talvez uma cachoeira? Se eu fosse fazer uma horta por aqui, acho que faria sentido que ela ficasse perto de uma fonte natural de água, isso facilitaria regá-la... Pode ser uma boa ideia checar a fonte desse barulho..."

Havia decidido que procuraria a horta na direção do barulho de água corrente. Além do mais, também estava curioso para checar qual era a fonte do barulho em si. Entretanto, a senhorinha estava me esperando, e se minha lógica estivesse errada e a horta fosse em algum outro lugar, isto poderia atrasar bastante o almoço dela. Com isso em mente, surgia uma ideia para tentar evitar o problema.

— Wolf, Ciri, Wurple! — Dizia, liberando os três de suas pokébolas. Depois, me abaixava em um dos joelhos para ficar mais próximo deles enquanto explicava a situação: — É o seguinte pessoal: Uma vovózinha muito simpática está contando com a gente pra ajudar a preparar o almoço dela. Precisamos encontrar a horta dela para que eu possa pegar os berrys dessa lista. — Terminava apontando para o papel. — Acham que conseguem me ajudar?

*Woof!* *Pi-pio!* *...*

Claro que Wolf e Ciri prontamente acatariam a tarefa, mas a Wurple ainda parecia meio descontente. Independente, eu precisaria da ajuda dela se quisesse ser capaz de cobrir as três direções de modo eficiente.

— Certo... Wolf você vai para lá; Ciri, você sobrevoe por aquele outro lado; Já você, Wurple, vem comigo por aqui. — Apontava para diferentes lados, tentando cobrir uma área de busca maior. — Se encontrarem algo perigoso no caminho, retornem imediatamente para mim, ok? E se não encontrarem nada nas proximidades, retornem também. Estaremos naquela direção e, na dúvida, se guiem pelo som de água corrente!

— Vamos lá! — Após dar o comando para meus pokémons me ajudarem na busca, eu e Wurple partíamos em direção ao barulho de água.