[Goldenrod] ... Me, Cthaeh & Sk8 Boy

Fora próximo ao topo que Clefable se exauriu. Compreensível, de fato, mas não esperava um desmaio quase que completo; não era um golpe de dano auto-infligido como os de Robb, então não havia como esperar que ela apenas se nocauteasse. Aproximei-me dela, acariciei o topo de sua cabeça, a ajeitei na posição que estava e lhe dei um breve beijo na bochecha. Ficara sentada, com as costas apoiadas numa estrutura qualquer; como quem esperava recuperar a consciência. Quando acontecesse, iria lhe pedir para usar Moonlight, apenas para recuperar um pouco de sua vitalidade e voltar ao real... se é que queira retornar ao cenário apocalíptico, né?!

Pois bem, com ou sem sucesso, a mudança de cenário era factual. Aos reconhecia o lugar com uma mudança inquieta da esclera do olho; mapeando o que podia. Dei um passo a frente e, logo em seguida, virei-me para trás, procurei referências óbvias e ao achá-las apenas suspirei:
- É o setor de administração, o cartão deveria estar por aqui e não no último andar - Fora só isso; logo mais eu daria de ombros e caminharia um pouco mais a frente.

Havia algo que me chamava mais atenção que todo o resto de informação conjunta: a cratera ao centro. Pra mim se tornara óbvio o motivo de tal instabilidade e, corrigir aquilo, resolveria o problema de grande parte dos próximos (e presentes) trabalhadores. Talvez por isso liberei Vanillite; no intuito de preencher (nem que por tempo limitado) aquele espaço. Deixei o sorvete levitando sobre o campo e fui até uma parede mais firme, assobiei e gritei por Jellicent:
- Freya, vem aqui! - Meu grito ecoou, mas logo fora abafado pelo assobio que... bem, também ecoou. Ao fim dos atos sonoros, dei três socos leves na parede, tentando chamar sua atenção para a estrutura superior em que estávamos.

Na esperança que meu chamado fosse suficiente, apenas lhe cobrei certa atenção no pedido.
- Eu preciso que usem a maior variedade de golpes de gelo possível para tapar essa cratera - Fora ai que levantei o queixo, olhei por trás dos ombros e procurei Nicholas. Eu não sabia se o Rocket poderia me ajudar na missão, até porquê, Cruella ficara no andar de baixo - Acho que isso é grande parte da culpa da instabilidade do prédio.

Era muito estranho... muito estranho mesmo. Os sinais de destruição naquele prédio não eram como imaginava que deveriam ser; ele não parecia ter sido inundado, mas explodido em certo parametro. Ele não desabara com a correnteza ou se desestabilizara e caíra... ele simplesmente se implodira em vários pontos aleatórios, como numa demolição que pararam na metade.

Já não parecia muito útil subir com Nicholas. Primeiro que apenas um elevador era acessível (segundo imagens secretas que não irei revelar), segundo que o Rocket estava certo. Num breve flashback, as palavras de Enzo vieram a tona e eu pude dar por mim; o cartão estava em um dos últimos andares, e não propriamente no último. Talvez por isso me decepcionei por completo com Freya ao chamá-la e ela simplesmente não vir. Onde diabos a pokémon estava?! Pedi para que fizesse o mínimo e não o fez? Oh deus, mas que merda.

Caminhei até o corredor, acompanhando Nicholas para desejar-lhe sorte e o ver partir; fora neste momento que a vertigem me obrigou a olhar para baixo. Ao meio de toda a tontura que sete andares poderiam me proporcionar, eu vi Freya. Minha vertigem até passou! Meu sangue ferveu, meu semblante caiu e minhas narinas subiram: o que diabos ela estava fazendo ali? Eu pedi para ela fazer o básico duas vezes. Ela não fez! Levei uma das mãos na boca, posicionei meus dedos em C, dobrei a língua e assoprei, fazendo o maior dos assobios dados por mim na vida ecoar por aquelas pilastras:
- JELLICENT, SOBE AQUI AGORA - Chamei-a pela espécie. Se tivesse sobrenome, certamente seria utilizado - Te pedi pra ver essa merda de pilastra e tu não viu, que que aconteceu? Que que você tava fazendo a gente poderia ter morrido!!! - Eu ainda gritava pelo túnel; simplesmente não há sentido. Por mais silenciosa que Freya fosse, ela nunca negou a mim coisa alguma... ela nunca deu problemas em treinos ou batalhas! Emiti um curto arg e pigarreei, todo aquele ambiente apocalíptico estava fazendo mal para minha garganta - Por favor, me ajuda a vasculhar as áreas daqui de cima e achar o cartão.

Depois de tamanho esporro, eu pedi por favor. Tenho certeza que o esporro assustara Nicholas, mas não o suficiente para o fazer parar; logo mais corri até o setor administrativo, tentando encontrar alguma sala que parecesse ser (ou estar) imune a inundação. Para isso retornei Sif e Skuld, deixando-as descansar e liberei Electabuzz e Hakamo-o, na tentativa de aumentar a quantidade de olhos pela área:
- Gente, vamos vasculhar, se acharem uma sala blindada ou bem reforçada, me avisem!

O cheiro... esse estúpido cheiro. Fora próximo de Saffron que senti isso pela primeira vez. O cheiro pútrido de excesso de morte. Veja bem, caro leito; o odor mórbido é inerente desse lugar. Eu não esperava menos! Mas você reconhece o cheiro de corpos provavelmente empilhados, decompondo juntos?! O cheiro de um centro de desova? De um campo de extermínio? De valas de guerra? Não há como conhecê-lo sem conhecer a barbaridade humana. Esse cheiro sempre (e eu disse sempre mesmo) é conseguinte de crueldade e sofrimento. A natureza mata, aniquila, destrói e corrói; mas nunca numa concentração tão densa e específica quanto o ser humano. Quando uma inundação ocorre, há várias mortes espalhadas por quilômetros quadrados; quando um massacre de feitio humano acontece, há várias mortes amontoadas num pequeno cubículo.

Eu sabia que o odor evidente daquele quarto não era atoa. Saffron me provou que não se concentra corpos atoa. Ou alguém os prendeu lá, ou eles mesmos se prenderam lá! O pútrido cheiro fora emergido agora e eu preciso saber do que se trata... não deve ser como o fosso que outrora afundei. Não deve ser como a prisão que um dia fugi.

Não deve ser. Não pode ser. Tem que ser um cruel e brutal acidente! Que a causa dessa chuva era humana eu já sabia; mas que o acúmulo seja de vítimas da errônea condução humana, e não do sadismo nu e cru. Respirei fundo; aproveitei a dissolução do odor pelo vento que me batia o rosto. Tirei da mochila meu Scuba Gear, encaixei no rosto, chamei Nidhogg, tirei Loki da esfera e ordenei:
- Me ajudem a abrir essa porta, por favor - Como fariam? Não tenho certeza, deixarei que Fan Fic (verbo) livremente. Eu fui por conta própria na frente, empurrando-a. Vejo que Ricardo Alburquerque tem uma grotesca mania de tirar vitalidade ao exercício físico; desta vez que fui junto na força, quanto será que me tirará?

No mais, rezei para que eu e Nicholas não caíssemos na mesma. Devo dizer a vocês com todas as letras que posso: aqui me dei conta do quão cruel, sombria e pútrida é a maior parte das minhas lembranças de Tohjo... ao menos enquanto treinadora. Talvez por isso eu me sinta tão em casa em Hoenn.

Eu ainda aguardava algum tipo de retorno de Freya, que provavelmente me seria dado logo mais.

Eu não esperava aquilo. Quando vi a produção mais elaborada na proteção e vedação da sala, acreditei que aquele lugar fosse algo como um cofre ou algum estúdio do próprio rádio. Cogitei ser sobre isolamento sonoro, não isolamento social e demográfico! A surpresa viera a mim como um estouro; porque diabos um abrigo ficaria no sétimo andar? Vejam bem, caros leitores, uma sala de sobrevivência em um lugar que, implodindo o prédio, de nada seria útil para lhe fazer sobreviver.

Não... faz... o menor sentido. Um terremoto, um bombardeio, um tsunami... isso não lhe protege em nada da queda livre que terá caso uma dessas três coisas abale a estrutura do prédio. Então porquê diabos isto está aqui?! Retornei Loki, o poupando do cheiro nojento, mas não antes de o agradecer. Quando adentrei o espaço, procurei por resposta e infelizmente não achei.

De imediato, o óbvio! Fizeram uma sala para proteção ao topo do prédio. Como imaginado, o topo demorou ser inundado, mas depois de certa pressão hidráulica, a vedação cedeu e o cômodo fora inundado. Provável que essas pessoas tenham sobrevivido meses a mais que as outras, em profundo sofrimento.

Uma morte lenta, sofrida e bastante dolorosa.

Nessas horas agradeço por não estar em situação alarmante no momento das chuvas; me pergunto como os grandes radialistas não conseguiram escapar. De salto? Certamente nem tentou fugir. Talvez tenham repassado notícias até o enfim fim... talvez não. Quem iria ouvir do outro lado, não é mesmo? O mais provável era que - logo no princípio - estes dois se meteram aqui e rezaram para que tudo ficasse bem.

Bem... talvez esteja tudo bem agora, né?! Mas não comigo. Definitivamente não comigo. Um embrulho rapidamente tomou-me, num ímpeto corri, indo ao canto da sala. Retirei o Scuba Gear e vomitei em uma das poças aguadas que compunham o odor pútrido. Desculpe-me, caro leitor; é inevitável passar por tal ânsia. Ao fim, agradeci por Nicholas não estar por perto. Cuspi ao lado e tentei recompor-me; ao menos no que diz respeito a postura. Quando desenverguei, já sem nada no estômago, procurei algo útil e enfim achei.

Não era a resposta mas era uma mesa de ferro não muito afetada.

Talvez Enzo falara desta sala, na esperança de que ela realmente não fosse afetada. Como ninguém chegara aqui, não havia como averiguar esta informação, né? Fui até a mesa de ferro, procurei gavetas próximas e delas tentaria achar o que me fosse útil para subir, descer ou me mandar dali.