#00 Primeiro Passo

Completava-se um mês desde alcançou suas dezesseis primaveras. Pouco mais de um mês se recordasse o dia no qual anunciou a escolha de deixar o conforto de sua casa em Sootopolis para começar a escrever sua própria história. Não mentiria, partir tornou-se uma tarefa mais árdua do que esperava inicialmente. Se talvez não optasse por esperar um mês de preparativos de viagem como seus pais sugeriram não tivesse sofrido o mesmo tanto, Antonella sabia bem que nesses momentos a impulsividade era sim de algum auxílio. Ela não sabia exatamente como se sentiu ao ver sua família mobilizar-se com o intuito de ajudá-la no início de sua jornada, preocupada com o trabalho que havia dado a todos com algo que quem deveria estar se responsabilizando era na realidade ela.

Impossível tornou-se não sorrir levemente, já saudosa do carinho e dos abraços que recebeu mais cedo ao partir de sua cidade. Ao mesmo tempo em que parte de si lamentava de não estar mais no alcance da proteção de seus familiares, a maior porção ansiava pelo que poderia desbravar durante esse novo capítulo de sua vida.

Já final de tarde, Antonella segurou uma das alças de sua mochila firmemente, sustentando o peso dentro dela em suas costas, listando mentalmente pela décima vez naquele dia o que havia ali, sabendo que, se algo estivesse faltando, ainda teria a chance de fazer uma aquisição de última hora estando em Lilycove, a parada mais próxima no continente de Sootopolis. Trazia consigo mudas de roupa, itens de higiene, alguns objetos essenciais e os presentes de seus pais, o motivo pelo qual fizeram a adolescente esperar por um mês antes de partir. Sentou-se em um dos bancos próximos a saída do porto da cidade, colocando a mochila sobre o colo para poder acessar com mais facilidade seus bens. Como posicionou-os em um dos bolsos frontais, não demorou para constar que ali estavam o seu mais novo Pokedéx, o qual seu pai solicitou via correio, e cinco pokebolas, as quais sabia que encontravam-se vazias — o que, se dependesse dela, não permaneceria assim por muito tempo.

Tranquilizando-se que os seis itens estavam a salvo, tornou sua atenção para o outro bolso, o qual julgava ainda mais importante. Lá descansava uma sexta pokebola, porém esta certamente mais especial que as outras até o momento. Antonella não hesitou em tomar a esfera em suas mãos, pressionando cuidadosamente com o indicador o círculo em sua frente, causando o objeto a abrir no mesmo instante, com uma breve luz seguindo até o espaço vazio ao lado da adolescente, tomando uma pequena forma rapidamente. Ali, uma pequena criatura azulada piscou algumas vezes sem compreender o porque de ter sido chamada, logo substituindo a confusão por seu estado tradicional de êxtase, sentando-se sobre o final de sua cauda — parte que tinha quase o mesmo tamanho de seu corpo — e usando-a para saltitar até alcançar o corpo da recém intitulada treinadora, aninhando-se ali da maneira que mais lhe agradava, colocando-se por debaixo do braço da garota.

— Também senti sua falta, coisinha — Comentou Antonella antes de acariciar cuidadosamente o Azurill que se aconchegava em si.

Ela permaneceu em silêncio, aproveitando do momento de carinho que compartilhava com o seu pokemon. Ao assistir Azurill esfregar-se em seu corpo lembrou-se de como a pequena criatura agiu timidamente quando se conheceram há quase dez dias, quando a irmã mais velha de Antonella presenteou-a com o pokemon, desejando que ele fosse o link entre a jovem e sua família. E certamente seria. A única diferença é que, se depender dos planos da treinadora, quando estiver em Sootopolis novamente, a bolinha azulada que não amedronta uma alma sequer estará muito mais habilidosa do que é agora. E, juntamente a Azurill, uma Antonella com muitas histórias e aventuras para contar a todos.