A caverna dos sonhos e desilusões

Thomas realmente não estava conseguindo enxergar as consequências de suas ações. Aquele cenário ainda era otimista porque ninguém quebrou osso algum e estavam todos juntos, sendo que apenas 1 de 4 dos Pokémon de Thomas tinha se ferido no incidente provocado pelo mesmo. Então, assim, o mínimo de bom senso seria aprender e ser mais cauteloso, não? Parecia que não, pois ele agia como se tivesse 12 anos e estivesse no início de jornada, onde qualquer situação era motivo de riso e experiência. Ele não estava agindo como um jovem adulto que era. Ter noção que ações tem consequências era realmente o mínimo de se esperar de um treinador experiente, que inclusive tinha recebido o título de Ace Trainer recentemente... Paula estava no seu direito de exigir uma postura mais comprometida do amigo, mas talvez não tenha pensado muito bem como as palavras que disse seriam absorvidas no meio daquela bagunça.

A sensação de abandono tomava conta de Thomas. Talvez toda aquela escuridão ao redor dele era fichinha comparado ao medo da solidão que seu monstro interior lhe causava pelos traumas do passado. O drama estava armado e o modo climão era ativado. O treinador que liderava a expedição decidiu simplesmente ignorar a amiga e seguir com a aventura. Egoísta? Sim, afinal, era apenas ele quem tinha um item a ser desvendado. Paula não tinha nada a ver com a situação na qual Thomas estava se metendo, ela só o acompanhava por cumplicidade. Sentimento esse que não parecia recíproco naquele momento. Thomas, tomado pelo ressentimento, afastava ainda mais a garota com aquelas reações.

Drama a parte, eles continuavam seguindo um caminho qualquer caverna adentro. Serket guiava, sendo seguida pelo Quilava, em uma direção que para os dois ficava difícil identificar se era leste ou oeste. Deram a volta nos destroços e viam dois caminhos a seguir. Uma cursa à direita ou uma subida escorregadia a frente, que seria necessário uma ideia para escalar, pois usar as mãos não resolveriam.

Sadie resolvia os problemas de locomoção do grupo, mas sofria um desgaste mental (-5). Sim, toda vez que ela for responsável por resolver 90% dos problemas em rota vai tomar um dano, parafraseando um poeta desconhecido: por motivos nada além do "porque eu quero". Na real, a Noctowl realmente sentia uma fadiga em usar tanto da sua psiquê para mover o grupo em segurança de um ponto a outro bem alto.

Tirando os problemas do Pokémon, e o fato de que uma conversinha surgia do nada para preencher o silêncio que, convenhamos, não fazia mais que causar um estranhamento ainda maior entre os amigos. Quer dizer, será que a amizade permanecia a mesma? O narrador sentia ela meio abalada com os recentes acontecimentos. A falta de suporte, de sensibilidade, de razão e outras mais, de ambas as partes contribuía para esse sentimento esquisito que criava aquela atmosfera hostil. Era como se no menor erro, eles voltariam a gritar um com outro. Não que isso fosse ruim, afinal, uma amizade verdadeira sobrevive a crises (e o narrador ama drama).

O desafio a seguir já surgia antes mesmo de dar alguns passos. A parte superior daquela parte da caverna mostrava outra opções de caminhos. Será que alguém estava preocupado em lembrar o caminho de volta? João e Maria mesmo fazendo uma trilha se perderam na mata... Bem, havia uma abertura no solo dando acesso ao nível inferior. Uma pequena escada de corda e madeira facilitava a passagem. Da mesma forma que eles avistavam aquele buraco uma passagem chamava atenção na curva pela esquerda. Qual caminho seguir?

Após uma rápida pesquisa era possível ver que aves não transpiravam, pois não tinham glândulas sudoríparas como humanos. Elas só perdem calor resfriando seus órgãos internos através da respiração, ou bebendo água pelo menos não tem cecê.

E ao invés de dar tempo ao tempo, Thomas queria cavar mais fundo nos motivos de Paula. Sensato? Talvez, a depender de como reagiria, não é mesmo? Eles paravam um pouco para descansar os membros e mergulhavam no drama, mas dessa vez menos gritaria e mais sentimento. E foi devagarinho que as coisas iam se justificando e ficando cada vez mais transparentes. Para Paula a educação era prioridade, já que não via futuro para si como treinadora. Diferente do rapaz, que já tinha conseguido bastante dinheiro na jornada por suas ações, ganhando uma condecoração de mestre da Academia de Treinadores. Ser considerado Ás não era pra qualquer um!

Eles estavam certos. A corda levava para um espaço que além da escada de corda, tinha iluminação artificial produzida com auxílio de baterias e outros tipos de equipamentos de escavação espalhados pelo lugar. Seguir por ali tenha sido uma escolha prudente, já que procuravam um estudioso. No entanto, ao primeiro sinal de caminhada por aquele lugar, um "não" imponente ecoou pelo lugar interrompendo qualquer passos ou pensamento de avanço que a dupla ou Pokémon tenha pensado em dar.

— Ei, cuidado aí! Tem tesouros muito importantes pra história de Hoenn nesse sítio! - Repreendeu o rapaz com uma voz rouca de garganta seca.


— Sinto muito ter assustado vocês, mas o material que encontramos aqui é bem valioso e qualquer deslize pode prejudicar meses de trabalho... Hmm... desculpe, sou o professor Chevitarese da Escola Pokémon de Rustboro. Faço parte do grupo de pesquisa de arqueologia do ginásio da cidade e estou perto de uma grande descoberta! Teria até sido mais rápido caso os aprendizes da Roxanne não estivessem tão ocupados com provas e outras coisas pessoais. - Ele fez uma pausa junto de um biquinho olhando para o lado e num instante quebrou o momento com um movimento brusco, assustando os jovens mais uma vez. - Ei! E se vocês me ajudarem? Tem umas tarefas que preciso de ajuda e posso recompensar vocês com algum tesouro arqueológico! Que tal?

Apesar de não ser o Steven Stone poderia ser alguém que conhecesse o rapaz, afinal, trabalhava na mesma cidade que o pai do campeão, não? De toda forma, ele parecia bem esperançoso. Uma ajudinha, mesmo que leiga, viria a calhar para alguém que estava sozinho.

O professor ficou um pouco assustado com as reações de Paula, mas contente que ela estava disposta a ajudar e que o amigo não se importava em cooperar. Antes de qualquer coisa ele parabenizava a guria pela bolsa. Era realmente um grande feito, afinal, não era qualquer que conseguia uma indicação. Ele parecia contente pela jovem se interessar tanto pelos estudos, mas antes de começar a falar sobre a instituição, o ás questionava o arqueólogo sobre algo completamente fora do assunto em questão, mas que fazia sentido para ele já que estava na busca pelo campeão.

— O filho do presidente da Devon Corporation? Hm... Ele não é muito de trabalho em equipe, mas sei que a especialidade dele é em pedras raras. Como sou especialista em fósseis já tive a oportunidade de conhecê-lo. Por que a pergunta Thomas?

Chevitarese pediu para ele se aproximarem do sitio para entenderem melhor como funcionava. Um espaço mais profundo na terra, com delimitações de onde pisar marcadas por cordas presas em estacas de ferro revelava pequenos minerais com reflexos interessantes a cada passo que davam. Eles tinham um espaço de 1m entre as paredes disformes e a marcação do quadrado no interior de 8m² ou algo assim. Haviam apenas duas fontes de luz no lugar, fora uma pequena lanterna no capacete que estava no chão, próximo de algumas ferramentas. O clima ali, apesar de frio, era abafado, o que causava uma leve transpiração nos heróis.

O professor, de joelhos no ambiente de trabalho, limpava uma área com um pincel macio dizendo:

— Bem, eu estou quase retirando um pedaço do que acredito ser um claw fossil, mas algumas rochas estão impedindo o progresso, podem retirar elas daquele canto e jogar lá pra cima? Se não conseguirem sumir com elas, podem ficar atrás da escada que não vai atrapalhar tanto, só tenham cuidado com as marcações no chão. Esse já é o segundo e é possível que tenha vivido uma família inteira nesse mesmo espaço a 193 milhões de anos atrás.

O professor agora entendia a pergunta aleatória sobre Steven Stone. Não que fosse o melhor lugar para uma reunião com alguém, mas se eles tinham sido enviados até ali então significava que era - pasme - o lugar mais fácil de encontrar o especialista em pedras raras, muito que provavelmente em exercício da profissão de estudioso.

— Entendi. Não conheço muito o filho do sr. Stone, mas se ele está por aqui deve estar no nível mais profundo da caverna.

É, parecia que eles ainda teriam que descer mais fundo naquele ambiente se quisessem encontrar o dito cujo.

Enquanto Paula e o professor de nome a homenagear um especialista da UFRJ conversavam sobre o trabalho mais intelectual, Thomas e os outros Pokémon cuidavam das rochas e pedregulhos que impediam os avanços da pesquisa. Aos poucos eles começavam a moves os minerais, carregando eles lentamente até a Gligar no topo do acesso àquele espaço.

— Já temos registros de como eles eram, seu tipo e estudamos a adaptação deles no nosso mundo com ajuda da Devon Co. Eles tem um laboratório especializado em regeneração celular de Pokémon fossilizados e o ginásio de Rustboro trabalha bastante em parceria com os cientistas da empresa. A própria Roxanne tem um Anorith na equipe que usa nos desafios oficiais pela insígnia. Se quiser posso te passar uns artigos que a líder escreveu, ela é especialista nos tipo Pedra.

Ainda havia um bom trabalho braçal para executar até que a área estivesse totalmente liberada para o arqueólogo trabalhar, mas com a ajuda dos Pokémon aquilo não deveria ser tão difícil, mas toda vez que Thomas abaixava e fazia esforço, as feridas em suas costas (que não foram tratadas) ardiam, provocando certa dor.