Hard Out Here_Lily Allen

E não é que deu certo?! Logo logo eu livrava a tal da Anabeth de uma treta estratosférica. Eu não sei qual é a da diretora, mas entendo a confusão; garota branca em arte digital tem tudo a mesma cara. Eu mesma me confundo com várias por ai, parece até espelho... eu acho que vou meter um Piercing ou uma Tatuagem pra saber quem sou eu e quem não sou, que que vocês acham?! Vou ficar estilosa igual o Katakuri.

Ai Winnie, foca no importante, por favor.

Independente do motivo, acho que essa atriz tem que me agradecer. Veja só, eu pude ter feito 'merda', mas certamente Anabeth estava atrasada a horas... na verdade, eu até me preocupo um pouco; ninguém tivera notícias dela desde que a garota saiu com o Ex-Governador... sei não em, atirar muito bem... político... exterminador do futuro. Confesso me preocupar com a integridade da menina, e não só por pura sororidade, mas por uma obrigação de sê-la e interpreta-la. Era inevitável eu me importar... basicamente me obrigaram a isso.

Sinceramente, estou aqui dentro de uma das cabines do banheiro, sentada na privada e pensando na vida. Num ato súbito - e ansioso - pego meu Xiaomi novo para pesquisar sobre Anabeth e ver se ela realmente era confundível comigo. Procurei sua nacionalidade, algumas fofocas e seu histórico; antes de ler tudo, uma mensagem de Matthew chega e me faz parar.

Não parar por algum tipo de surpresa agradável, que te faz ficar sem reação.... mas parar a animação mesmo. A mensagem dele parecia tão carregada de decepção que a melancolia me atropelou. Encarei a tela do celular por longos momentos, um tanto quanto 'quieta demais'. Só agora eu reparava o quão acelerado meu coração estava durante todo aquele dia. Minha respiração curta me causara falta de ar e meus dedos tremiam de euforia.

Com os dedos trêmulos, digitei:

Estou indo...

Apesar de não ter combinado nada, ele estaria ali só me esperando? Veja bem, Centros Pokémons são 'points' de treinadores, eu definitivamente não achei que Monclar parara ali só por mim. E se ele me observou esse tempo todo.... eu acho que isso significa que não posso fingir demência. Eu só pareceria uma idiota, né?!

Acho que Matthew merece uma explicação. Acho que ele merece mais do que simples desculpas... mas eu preciso mesmo fazer isso?! Por Deus, eu nem sequer quero responder mensagens mais. Eu só sinto que não mereço ele; provável que só o magoei. Bem, ao menos trocarei de roupa: colocarei uma calça legging preta, uma blusa de botões solta & branca - de manga curta - e prenderia parte das minhas madeixas atrás da orelha. Passaria um perfurme-barato, colocaria um chiclete na boca e sairia sem demorar mais.

Jellicent & a máquina fotográfica dentro da mochila, aconchegadas. Contornei o campo de treino - ou estúdio de filmagem, se preferir assim - bem rente a parede, tentei sair de lá sem mais problemas. Enfrentei a porta-elétrica do Centro Pokémon, pisei na calçada com certo medo e atravessei a rua pouco movimentada.

Restaurante perfeitamente localizado; numa mesa da área aberta estava Matthew. Caminhei com certa elegância encenada; minha barriga estava tão gelada, que eu já não tinha certeza se poderia comer. Atravessei os outros clientes tentando não esbarrar demais, ao fim me sentei bem na sua frente, sem nem pedir licença ou fazer drama algum. Assim que caí sobre o assento da cadeira, cumprimentei numa vergonha infinita:
- Oi ...
Bastou. Rosto corado, cabeça baixa e ombros caídos. Eu já não tinha mais a animação de outrora; toda ela fora embora e dera lugar para à auto-depreciação. Eu não tinha coragem de olhar diretamente seus olhos; assim como não me sentia autorizada a contemplar seu semblante também. Não era timidez, era a mais pura e terrível vergonha.

Hamtaro e Azula poderia ficar roubando brincando pelo restaurante? Se não pudessem, seriam retornados a suas respectivas esferas enquanto eu tomava um chá de frutas vermelhas, aguardando por Freda. Antes do garçom me atendar eu já estava suando como na batalha com Flannery. Será que os guardanapos na mesa eram suficientes para me manter seco e sem aroma de perdedor desesperado? Resolvi ir ao banheiro molhar o rosto depois de ser atendido, pedindo a direção. Lá, molhava rosto e nuca. No espelho, a imagem que via era degradante. Como uma conversa poderia me deixar tão... noiado? Sério?!

Procurei respirar e voltava para minha mesa, vendo que o chá era servido. Com um sorriso curto, agradecia, me sentando para continuar aguardando. Checava a pk-gear e ela respondia que estava a caminho. Algo subia do meu estômago à garganta junto de um arrepio e quando menos espero ela passa pela porta, simples e elegante vestindo P&B, com as madeiras do cabelo levemente para trás das orelhas. Ela estava linda...

Winnie se sentou diante de mim e só percebi que estava com a xícara suspensa por tempo maior que o normal quando ela me cumprimentou. Sai de uma espécie de transe e fiquei sem graça. Eu tinha mesmo secado ela esse tempo todo? Que vergonha! AAAH!!! Sentia as maçãs do rosto e as pontas das orelhas queimarem, provavelmente com algum rubor. Evitei de olhar para baixo, mas desviei os olhos tempo o suficiente para tomar um gole da bebida quente e ESQUECER que estava quente. MEU IRMÃO! Só não dei um show porque já estava envergonhado demais, então só engoli fazendo uma careta.

— Oi... - respondi quando e como pude, o que não foi i melhor para começar, convenhamos.

THITO
"É SÉRIO? OI?! Matthew, você pode fazer melhor que isso. VOCÊ QUE CHAMOU ELA AQUI! Se não fizer eu vou fazer! Quer mesmo que eu faça uma declaração nível orkut?"

MATTHEW

Posso ter feito uma expressão de apavorado, mas ao invés de responder internamente eu movi incessantemente minha cabeça em negação, ameaçando cortar o cabelo se ele interferisse. Todavia, outra pessoa resolvia se meter. No caso, Pokémon. Eros, o Fada mais icônico que representava o coordenador e sentia o desejo do coração, saía de sua esfera e pulava no colo da menina, envolvendo as mãos dela num cumprimento saudoso como se dissesse que sentiu saudades. É, eu poderia ter feito isso.

— Ele gosta muito de você... Deve ser pelo cabelo - ri, comparando os dois.

Ok, não foi a melhor coisa para se dizer, EU SEI. Mas.. Ei, meu Sylveon tinha o pelo mais brilhante e sedoso de todos! Estava quase sempre escovando esse danado. Ele não estava com a felicidade no máximo a mais de um ano atoa! Só que aquela "distração" me deixou mais relaxado. Consegui até soltar um sorriso.

— Sabe... Sei que a gente tem cada um afazeres e toma caminhos diferente por estar em jornada e ter objetivos pessoais, mas eu senti você tão distante que pensei ter feito algo que te machucou... Quando... você não apareceu no meu restaurante pro primeiro evento que organizei eu... - tive que parar para respirar um pouco antes de continuar, os sentimentos acumulados começavam a querer sair todos de uma vez com aquelas palavras e faziam meus olhos produzirem mais humor aquoso, dando uma certa ardência de quem estava para chorar, mas não queria derramar lágrimas por emoção, então segurei e quando me senti mais confiante continuei. - Eu pensei que não quisesse mais me ver.

Disse as coisas certas? Tinha um certo e errado quando se falava sobre o que estava atormentando o peito? Eu não sabia responder. De todas as meninas com que tive um relacionamento, Winnie era a que mais me fazia sentir... coisas. Tipo, era assustador e ao mesmo tempo bom, mas recentemente só tem sido sofrido pela distância, e não digo de um jeito físico. Ela têm se mostrado cada vez menos "minha" seja lá o que tenhamos.

— O que ta acontecendo, Winnie? - perguntei já identificando um tremor na minha voz, temendo respostas do tipo: "hm não te amo kk bjs".

Sei lá, Eros... eu não conseguia nem ter vergonha de um pokémon que surte tão puro, apenas para me cumprimentar. É invejável a falta de pudor do mundo-pokémon, e é nessas horas que digo: odeio quem trata nossos monstrinhos como humanos. Eles não são pessoas; são muito melhor que isso. Logo mais o Sylveon me tocava e eu me via na obrigação de pegá-lo e colocá-lo no colo. Ajeitei sua fita - num ato bastante marcado outrora, diga-se de passagem - e dei-lhe um beijo na testa. Aproveitei o pretexto para dar alvo aos meus olhos; distanciando-me cada vez mais do semblante envergonhado de Matthew.

Na verdade, seu 'oi' simples não me parecera tímido; eu não cogitei que estivesse embaraçado, apenas enraivecido mesmo. Esse era mais um - dos vários - motivos para não olhar. Ele irá terminar comigo hoje? Ele só pode ter me chamado aqui para isso... ok, a gente precisa conversar, mas será que tudo se acumulou para um grande término?

Não sei, ele não ta de todo errado se fizer. Tanto que eu nem consegui rir de seu comentário sobre Eros; eu estava contente pelo pokémon repousar em meu colo, mas não animada o suficiente para reagir com felicidade. Continuei em silêncio e deixei que o homem preenchesse as lacunas...

... por pura falta de opção.

Ouvi a primeira parte com bastante receio; fora uma mísera frase e já foi o suficiente para apertar meu coração. A lágrima em si não se formou, principalmente por não existir tristeza em mim, apenas raiva. Raiva de mim mesma, a mais singela e pura raiva. Ele deu uma pausa longa que me perturbara; era só isso? Não... não podia ser, tinha que ter mais.

Tanto tinha que ter mais que procurei. Levantei a cabeça pela primeira vez, encarei a face d'ele e fixei meu olhar em suas bochechas rosadas. Quando cogitei emitir um pequeno 'a', ele voltou a falar. Sua voz parecia ainda mais volátil que nas frases anteriores e ali eu tive mais certeza: errado ele não estava.

Talvez ai que eu entendi; apesar de querer Eros por perto, era ao seu treinador que ele deveria estar confortando. Dei uma pequena acariciada em seu pelo das costas, o retornei ao chão e sussurrei 'fica com ele', com o primeiro sorriso que podia dar. Um sorriso fraco, sem brilho; repleto de simpatia mas esvaziado de felicidade.
- Eu não sei... Mat, eu simplesmente não sei - Eu não neguei, mas havia um motivo principal nisso; a pausa enorme se tornou lacuna, e só depois de sentir meu coração desapertar um pouco eu tentei falar mais - Você não ta errado, mas eu não sei.

Era pior do que eu pensava: eu nunca havia tido uma discussão assim com ninguém. Não era como lá em casa, que eu sentia que precisava lutar contra a imposição de pais... dessa vez era uma discussão horizontal, sincera e, acima de tudo, dolorida. Eu não estava conquistando nada além de um  hipotético bem-estar:
- Matthew... eu ia aparecer. Eu planejei tudo para aparecer... na verdade, eu avisei pra todo mundo que ia aparecer, mas eu me sabotei por completo. Parece que eu quero te ver, mas simplesmente não te mereço. Eu não sei o que quero, não sei quando quero, não sei onde quero... e tem tanta... mas TANTA... coisa acontecendo. Eu só sei que depois daquele nosso último encontro... depois daquilo... nada de bom me aconteceu e eu já não sei mais se mereço alguma coisa.

... Winnie, da onde saiu isso?

Em algum momento Eros vinha para o meu colo e se aninhava como um filhote, me dando suporte. Uma coisa curiosa é que conseguimos compartilhar emoções quando ele me toca, justamente por termos uma ralação tão próxima. Ele estava contente em rever Winnie e eu conseguia sentir isso, além do que via, e absorvia parte desse sentimento, afinal, eu também estava! Mas isso não ocultava o desapontamento que sentia, só mascarava momentaneamente.

Ouvir ela falar doeu demais. Não tanto como eu imagina, porque já esperava o pior, mas mesmo assim eu sentia. O pior é que a raiva/insatisfação deu lugar a preocupação. Em momento algum ela disse que teve problemas, o que significava que tinha escondido coisas de mim. É claro que eu me importava, mas será que ela sabia disso? Para estar dizendo que não me merecia, eu já não mais sabia.

Sério. De onde ela tirou isso?

Olhava pro chá avermelhado espelhando minha imagem reflexiva ao escolher as palavras. Não queria que aquilo fosse doloroso, mas também não queria desistir de nós. Talvez fosse melhor ouvir um pouco antes de falar mais. Eu ainda tinha muita coisa guardada que queria expor, mas sentia que ela tinha bem mais!

— Eu juro que quero te entender, mas não consigo imaginar pelo que você deve ter passado pra estar pensando assim. - Pressionava os lábios um contra o outro. - Consegue me contar o que acontecer depois de Sootopolis?

O pior de tudo é que a reação dele foi de compreensão. Eu não sei se isso é bom; quando você diz a alguém que 'queria saber o que está acontecendo' e a pessoa diz 'não sei'.... isso quase sempre é um sinal definitivo de 'não quero contar'. Ainda assim Matthew não desistiu; a compreensão dele parecia muito mais um desejo por um conformismo do que pura e simples necessidade em consertar.

Eu queria acreditar que ele ainda queria ficar comigo; mas era impossível crer nisso. Não por achar que ele deixou isso claro, mas por uma razão ainda mais óbvia: se eu não falasse nada, ele não iria querer. Se eu falasse, ele também não iria.

Há como sair disso?! Parece-me impossível e - talvez -  por isso eu enrolei tanto esse encontro. Engoli a seco, apreciei o silêncio e fiz dele meu espelho. Não o quebrei de imediato, ao invés disso apenas cutuquei o garçom ao lado e pedi uma cerveja. Sim, eu não almocei ainda, mas me permita beber, por favor. Enquanto a bebida não chegava, eu faria uma introdução: há quem diga que a honestidade é sempre a melhor política. Eu não acredito quase nunca nisso, mas quando não se tem saída, eu prefiro não duvidar das crenças populares:
- Muita coisa... Mat. Primeiro que assim que sai de lá fui para Forina... se me lembro bem, você foi fazer uma fantasia e eu te deixei lá e fui encontrar Blake, Tyrant e Nicholas. Eu não sei se você lembra ou sabe disso, mas nós quatro éramos da Circulus Virtum - Rememorar esse encontro me trouxe o ar todo à garganta. Por um instante eu fiquei entalada, não conseguia nem falar, nem engolir, nem respirar. Levou alguns milésimos de vermelhidão para meu bulbo voltar a comandar meu corpo - Naquele dia... eu não sei. Ai começa o 'eu não sei'. Alguma coisa aconteceu, em certo momento nos vimos em um ambiente escuro, bem parecido com a experiência do 'Black Hole' que muita gente relata... sabe? Ali a gente viu algumas coisas que não existem de verdade... sentiu coisas estranhas... e quando acabou, pareceu um sonho. Eu só sei que isso não foi um sonho porquê nós quatro nos lembramos de partes diferentes disso, e também porque... bem, não estávamos dormindo quando aconteceu.

Essa era a primeira aleatoriedade. Definitivamente a originária; que causou um delírio um tanto quanto pesado. Era inevitável dizer que nenhum dos quatro sentiram-se confortáveis em falar sobre o assunto depois, e talvez isso destruiu tudo. Fato era que não tenho mais contato com Blake, nem com Tyrant e Nicholas e eu temos fugido um do outro desde a Anabel. É desconfortável estar com ele; e com os outros.... bem, com os outros é só esquisito mesmo.
- Depois do Teatro eu fiquei bem próxima de Nicholas e... bem, ele foi um dos primeiros a ir até o Monte Pyre investigar aquela chuva toda. Na época ninguém sabia do que se tratava, eu fiquei preocupada por ficar dias sem notícias dele e decidi ir atrás. Conheci Kara e... bem, não quero entrar em detalhes mas a gente quase morreu. Ainda assim eu não parei, né... e é ai que eu te digo de novo que não sei. Em algum momento eu vi um Zapdos, desmaiei e acordei em Lilycove. Foi o segundo lapso de memória em pouquíssimos dias. E não, eu não encontrei Nicholas...

A verdade é que eu fui reencontrar o garoto só em Mu, quando decidimos (ou eu decidi, se assim preferir) irmos juntos ao Battle Tower. Apesar de TODOS os nossos problemas, éramos uma dupla forte e participar do torneio juntos era uma boa ideia. Até claro... perdermos. Eu não contaria essa parte por achar pouco útil para a narrativa; apesar da derrota ter me feito separar do garoto, não era só ela a culpada dos meus problemas:
- Thito... eu quero que você entenda que... bem, parece ser comum, porque há grandes mulheres como grandes treinadoras. Clair, Erika, Gwen, Sabrina... só que nossa vida é um pouco diferente. Eu tenho medo de deixar você, Nicholas, Blake ou qualquer um andando por ai, mas eu sei que vocês não vão passar pelo que eu passo. Eu estava muito tempo vivendo em grupo e quando eu comecei a me separar.... bem, acho que fiquei confiante demais. Mesmo perdendo o final do Battle Tower, eu acabei indo para Galar. Eu descobri também algumas coisas sobre Nicholas que me causaram bastante problema... umas pessoas vieram atrás de mim por causa da história dele e.... bem, em Galar eu me meti com um tal de Ayzen.

Não gente, eu não me meti literalmente, mas eu decidi declarar queixas e reclamações a instituição 'Ranger' com um Ranger. Eu não sei como Matthew entenderia isso, mas eu não pretendia me delongar nessa parte da história:
- E estranhamente, enquanto a gente discutia eu fui... sequestrada. Na verdade, eu não quero falar sobre isso, mas galar foi bem 'ruim'. A cidade de Motostoke me da asco, não preciso nem pensar pra te falar que foi a pior viagem que fiz. Acho que fica bem claro que eu quis voltar o mais rápido possível... e quando eu voltei eu achei Nicholas. O garoto estava todo fudido, o problema dele esbarrou em mim mais uma vez e eu precisei fugir daqui... de LaRousse mesmo. Quando voltei para buscá-lo, ele tinha sumido mais uma vez. Foi nesse meio tempo que você me chamou para o restaurante, só que Nicholas e Ayzen me surgiram com um problema maior e eu precisava resolver ele. Eu puxei o garoto pela gola e levei ele até Goldenrod, o que era para esclarecer alguns problemas mas.... não foi assim. Lá foi onde a gente viu um assassinato de um Ranger no topo da torre de rádio. Eu não sei, de novo eu não sei... parece que esses problemas me perseguem, parece que onde eu vou tem morte... parece que mesmo sem nenhuma vontade, eu me meti em problemas demais dos Rangers, dos Aquas e dos Rockets. Meu irmão entrou para os Rangers sem falar nada, e estava quase morto pela equipe Aqua ultima vez que o vi... eu não sei como ou quando isso aconteceu, mas eu basicamente virei um buraco de problemas.

Falar aquilo em voz alta era extremamente vergonhoso... mas não enquanto falava. Havia um delay entre o falar e o escutar; quando as palavras voltavam a mim eu simplesmente me calava. É pior porque a história não acabava por ai; ainda assim eu dei graças a Deus pelo Garçom ter chegado. Peguei a longneck que pedi, abri com a barra da blusa - sem esperar que o homem fizesse por mim - e dei um gole longo demais, acabando com quase metade da garrafa de vez. Esse foi meu momento de silêncio, que decidi aproveitar até que o mínimo prazer do álcool fizesse efeito:
- Talvez por isso eu saí da Circulus, mas esse foi o pior erro da minha vida. Ficar sozinha me deixou extremamente melancólica... e as raras vezes que não estou assim... resulta naquilo que você viu mais cedo... uma ansiedade e uma euforia só. Talvez, desde Sootopolis, meu melhor momento foi saindo do esgoto de Mossdeep - aqui eu concluí; eu não precisava ter contado essa parte - Quando eu terminei uma missão e por ironia do destino recebi uma mensagem sua. Nesse dia eu só fui assaltada e agredida.... mas ao menos, acabou rápido. Por isso eu te respondi bem, eu ESTAVA bem. Eu realmente sentia sua falta... sua e de como tudo era antes - Um segundo gole me fez parar... ou a parada me fizera dar um segundo gole - De qualquer forma eu fundei uma sociedade e... bem, eu tenho usado ela para ocupar minha cabeça. Minhas breves felicidades são minhas conquistas, eu tenho me ocupado com muito álcool e muitas batalhas vazias, só para parar de pensar em tudo que eu não consigo entender. Eu não sou mais uma boa pessoa, Matthew, apesar de eu não saber como isso aconteceu.

Uau. Só... nossa! Como eu poderia pensar em discutir relação depois de ouvir tudo aquilo? Algumas das falas eu já conhecia, mas tinha muita coisa nova entre enigmáticas e sombrias. Tipo... sem condições pro modo drama queen.

Acompanhei toda a história em silêncio, mas sem corpo para notas específicas sobre cada ação (além do off) até porque tudo aquilo foi um combo para eu poder entender melhor ela e os motivos pra ter me evitado.

— Agora eu é que não sei o que dizer... - Pressionava os lábios um contra o outro, procurando as palavras perfeitas nos adornos do teto do restaurante, em vão, claro. - Sei que não é direito meu te exigir isso, mas queria que tivesse confiado mais em mim pra contar alguma dessas coisas. Mesmo que eu não pudesse fazer efetivamente alguma coisa, eu podia te ouvir. Quem sabe te confortar?

Parecia bobo, mas eu queria fazer tanto parte do mundo dela quanto Nicholas. Ela podia dizer o que fosse da relação deles, mas era inegável que pelo bem ou pelo mal eles se encontravam mais que nós dois. Claro que não diria isso a ela. Ela já tinha deixado claro que não havia nada entre os dois e eu não era o tipo que ficava insistindo na mesma tecla, mas também não podia mandar no meu coração. Eu queria dar um soco na cara do Nicholas por ter ido com Winnie pra minha cidade quando poderia ter sido eu o acompanhante da vez? Queria! Ainda mais depois de ter me eliminado da Copa Hoenn, então qualquer coisa que envolvia a relação deles mexia comigo. Mas mais uma vez, não era o momento.

Eu precisava de proteína! Pedi tortillas com humus para beliscarmos. Aquilo podia ser considerado um encontro? Nosso histórico não era exemplo de romance, apesar de bonito e sincero. E era isso que eu mais queria nesse mundo. Poder ser eu mesmo com ela.

— Escuta... Eu gosto de você. Gosto da forma como você me olha, que é diferente e eu já reparei. Também aprecio a sua força e isso me impressiona demais! Eu não me impressiono fácil, mas com você é difícil não ficar hipnotizado com o tamanho da sua dedicação. Você é determinada quando quer alguma coisa e.. Winnie Freda, eu também não sou mais o mesmo de meses atrás, mas me sinto eu mesmo quando estou com você e... e é por isso que EU QUERO você.

Ok, como sempre aquele final parecia mais sexual que romântico, mas AH fodase! Sabia que ficaria constrangido mesmo se tivesse dito as coisas certas, mas de novo. Tinha um certo e um errado? Deus, como eu estava com vergonha depois de dizer aquilo! Ao invés de enfiar minha cabeça na mesa, apertava Eros com mais força querendo compartilhar minhas emoções sem dar um ataque.

Dizem que desabafar é bom, mas para mim foi vergonhoso. Entenda meu lado: nada do que eu disse ali é 'conversável'. Tudo é delicado demais; sendo ativa ou passiva nos casos, nada é agradável de se dizer. Não é um sentimento entalado, não é uma pergunta que não sai da cabeça, não é uma frustração secreta... é pura e simplesmente minha falta de controle sobre o mundo.

Apesar da vergonha ainda maior, meu olhar se prendeu as bochechas de Matthew. Cheguei num péssimo ponto; o de não ter coragem de olhar nos olhos mas também não achar certo me acovardar para olhar o chão. Pra ser bem sincera... a próxima frase não tinha nem resposta. Não era questão de confiar; era questão de não incluí-lo.

A confiança em si já não é uma questão nos meus problemas. Eu confiar ou não é uma problemática questionável, porém inútil... é como se, apesar das relações e redes que crio, o problema vem. Quando eu contei isso tudo, eu percebi. A sequência de atos é quase que onipotente & onipresente; como se o destino, regido, redigido e formulado por outrem, me afetasse inevitavelmente, e não há quem possa muito me ajudar.

É nessas míseras horas que eu acredito em Deus; e acho ele bem sádico. Talvez eu me delongue na melancolia, ainda mais depois de vociferar tantas coisas... mas eu não farei isso sem antes estender um dos meus braços sobre a mesa e apoiar a palma de minha mão na superfície frígida de granito. Repousei meu tato ali; sentindo a frieza do material até Matthew falar a tal declaração de amor. Eu não sabia responder aquilo a altura, mas ao menos eu sabia o que queria dizer:

- Eu acredito que você acredita nisso... - Era fácil descredibilizar as falar de Matthew. Ele pode até gostar da forma que eu lhe olho; mas desde que cheguei aqui, não consegui o olhar - O problema Matthew... é que eu gosto de ti. Eu realmente gosto de ti... só que, eu preciso de paciência. Eu não me reconheço mais, e é difícil acreditar que você possa gostar de mim do mesmo jeito que antes, porque não existe mais o jeito de antes... sabe? Mas a gente ta falando demais de mim...isso me incomoda. Eu só queria te pedir desculpas mesmo, e te pedir paciência comigo. Me conta de ti, por favor?

Minha mão continuava repousando sozinha na mesa. Aproveitei o contexto para desviar os olhos para focar nela. Com o outro braço, peguei a cerveja e a finalizei; eu não tinha fome, então passei a comida a priori, mas pedi uma nova longneck ao garçom.

OFF: Dia corrido e cansativo @-@ desculpa o post meio ausente de elementos narrativos e descrições.

Sinceramente? Tudo fazia muito sentido. Ao menos seguindo o pensamento dela, eu poderia estar mesmo apegado a uma Winnie passada, mas era difícil meu presente, vendo a mesma pessoa, compreender o quanto ela tinha mudado, mas eu mesmo tinha, não é mesmo? Minha dúvida era como responder sem comprometer todo aquele momento, que já estava pesado.

Era verdade que ela não conseguia me encarar nos olhos por muito tempo. Eu me sentia tão impotente mesmo estando do outro lado da mesa. Ela colocava as mãos sobre a mesa e fiquei tentado em tocar nelas, mas só fiquei encarando por um tempo até que decidi falar.

— Hm... como dizer o que ta acontecendo comigo sem soar doido? - Olhava pro teto pensando se dizer isso em voz alta era a melhor forma de tentar nos expor. - Depois que você descobriu que o Thito e eu éramos a mesma pessoa, eu passei por muitas questões internas até entender que... que ELE é... in-de-pen-dente?

Nossa, a cada sílaba que saiu da minha boca ao falar dessa relação eu pensei em como isso seria recebido e fiquei um pouco (talvez muito) nervoso. Tive a chance de contar a Daisuke, mas achei que ele não merecia mais drama pelo luto da mãe.

— Deixa eu tentar explicar melhor... É como se eu fosse um mero espectador quando ele se apresenta nos concursos. É um pouco doido e foi bem turbulento entender isso no começo, mas se tornou uma relação bem saudável depois de aceitar ele como uma parte integrante de mim...

Será que se eu resumisse para “vozes na minha cabeça” afastaria ela? Bem, era tranquilo falar com Thito, mas o Matte? Ponderei se era realmente necessário e resolvi mante-lo sob sigilo, pois haviam muitos mais segredos com ele e não me perdoaria por colocar ela em MAIS perigo por conta dele.

— Fora isso, eu tenho me dedicado cada vez mais em promover a Avengers e tem sido um trabalho exaustivo, mas é bom saber que finalmente estamos fazendo sucesso e dando apoio a jovens treinadores.

OFF: acho que me perdi escrevendo

Eu não posso te dizer que entendo Matthew em seu experimento, mas posso te afirmar que não me importava com isso. Desde o início o reconheci como dois; apesar das diferenças grotescas, Matthew e Thito eram claramente partes de um mesmo homem que me era agradável. Eu poderia compartilhar minhas experiências manicao-depressivas e usá-las de exemplo, mas eu muito provavelmente estaria errada. No fim, não havia nada que eu pudesse dizer sobre que fosse 'assertivo'. Tenho certeza que ele não esperava algo assim de mim:
- Ah... parando pra pensar, ninguém tem controle, né?! Não só eu, mas a gente só não tem - Era uma referência ao falar de seu outro eu como 'independente' - Eu acho que entendi... mas Mat, você realmente usou esse tempo todo para trabalhar isso? Fico me perguntando o que você fez para aceitar ser 'dividido assim'... você parece tão bem - Ao menos melhor que eu.

Posso ser bem sincera?! Eu não acreditava muito no rapaz. Ele sumiu depois de Sootopolis; e disso eu não esqueço. Não estava nos 'principais eventos', Katakuri Dawn me disse que ele se ausentou da Avengers e... bem, ele ficou um bom tempo inacessível. Eu sei que há um motivo; mas acho difícil acreditar que fora um tempo sabático para ESTE HOMEM. Logo o homem tão artístico e ativo que eu conheço.

Apesar de certo receio em acreditar, não era meu papel instigá-lo a falar o que não queria. Eu sabia que o pouco que ele dizia era muito, e tentei mudar o foco da minha incerteza para sua revelação. Talvez por isso tive coragem de erguer os olhos: no fim, eu não era a única escondendo coisas e isso me tranquilizava.

Pela primeira vez cacei seus olhos, abri um sorriso um tanto quanto tímido e vi Sylveon se esgueirar pelo colo do rapaz, vendo sua cabeça recostada próximo da minha mão. Tirei-a da mesa e me estiquei sobre o móvel até alcançar a eevolution, me debruçando numa cena um tanto quanto aleatória:
- Eu amo que você é esforçado em tudo que se propõe, né? Você e esse Sylveon. Eu conheci Gray um dia desses, ele me disse ser da Avengers também. Eu to encontrando um pouco de você em todo o lugar que vou, sabia? Parece que todo mundo te conhece, Matthew Monclar.