004 - BRACCAE

A melhor maneira se se aproximar de alguém era sendo amigável, talvez fosse isso que Karen tivesse pensado ao se apresentar para a moça que possivelmente a ajudaria com seu simples pedido... Será? Ela ouviu o que a garota de cabelos rosados tinha para dizer com a mão no queixo olhando para o céu.

-Oh, então você quer um Scraggy? Eu adoraria ajudar... Se não fosse o problema com aquela gangue. Você sabe, a Gangue do Saco de batata.

-Eles ainda estão causando confusão por aí? Mesmo depois de uma garotinha bonita como eu ter passado por todo aquele perrengue?

-Mei, invadir uma base inimiga, chegar no chefão e pedir com jeitinho pra ele parar e depois ir embora não resolve as coisas. Você precisa dar uma surra nele antes.

-Muito rolê, achei que poderia ser mais fácil, também não acho que daria para lutar contra mais de três de uma vez, a sala tava lotada.

A ruiva colocou a mão na testa enquanto balançava a cabeça negativamente do mesmo modo que Vulpix, provavelmente ele havia se metido em toda aquela confusão com sua treinadora.

-Não quero saber mais detalhes disso, vamos entrando, eu vou ver se posso pelo menos dar umas dicas pra Karen de como achar o Scraggy que ela quer.

Entraram. Era uma casa comum, nada de especial, a ruiva parecia ser alguém bem simples -A propósito, meu nome é Nara - apresentou-se assim que se assentaram nas poltronas da sala, a TV estava ligada no noticiário -O que você precisa saber é que eles costumam andar em bandos e não são muito comuns em Hoenn, você pode encontrá-lo mais facilmente em Unova, se algum dia conseguir ir para lá, mas não acho que seja o caso agora. Não sei o que tá acontecendo que eles estão andando pelos bairros mais barra pesada da cidade e entrando em becos, então se for atrás é melhor tomar cuidado. Eu poderia te acompanhar e ir caçar todos, mas tenho um problema para resolver. Bem, aceitam um chá?

-Aceito!

Eram algumas dicas simples, talvez Karen esperasse mais, mas Nara estava ocupada no momento.

-Ah! Mei já tem meu contato, mas se você quiser, Karen, posso te passar também, assim você pode tirar algumas dúvidas comigo.

-Claro que sim! Eles não são tão ruins assim, só jogam batatas na gente... E purê... Foi um século pra limpar meu cabelo depois daquilo.

Nara riu ao lembrar de como Mei chegou em sua casa depois de fugir do covil da Gangue do Saco de batata e levantou-se para buscar o chá para as garotas e Arthur. Ela voltou com uma bandeja e umas bolachas(você não tem poder aqui) recheadas e ouviu os lamentos de Karen.

-Hã? Enfrentar eles? Claro que não, boba, eles nem andam pelo bairro barra pesada da cidade tanto assim, só à noite mesmo, então você pode ir lá de dia e tentar pegar algum. Mas se acha que vai se sentir insegura com isso, que tal pedir ajuda pra Mei? Afinal, ela não terminou o serviço que contratei ela ainda.

-Ah, o serviço? Aquele serviço? Hahaha... Hahaha.. Haha... Ha... Achei que... Achei que você tinha esquecido.

-Como vou esquecer que você trocou minhas anotações por um purê com queijo?! - Nara se exaltou um pouco mais aqui.

-Desculpa, é que eu cheguei aqui morrendo de fome e achei um caderno jogado no chão, como eu ia recusar comida de uma pessoa que disse que me daria se eu desse um caderno que eu achei por aí e que eu nem li?

-Você não devia ser mais esperta que isso?!

Desculpa, às vezes a barriga pensa mais alto.

Nara suspirou fundo enquanto tomava um gole do chá de camomila que trouxe para a sala enquanto Arthur tomava tudo de uma vez voltando a batucar seu coco. Mei também tentava fugir do assunto bebendo bem devagar, a paz voltava por um momento, mas apenas por um breve momento.

-Ok, Mei, você vai ajudar Karen a achar o Scraggy e depois vai recuperar o meu caderno para mim, sabe-se lá porque eles queriam, mas eu preciso delas.

-Eh.. Voltar lá? tem outro jeito não?

Eh.. Ok...

Mei virou-se para Karen -Acho que somos colegas por enquanto, acho melhor a gente sair antes que a situação piore. Só falar quando estiver pronta.

Karen se sentia melhor sabendo que caso tudo desse errado ela teria uma companhia para dividir a culpa. A conversa era surpreendente e mostrava como Mei era uma garota... Peculiar? Acho que dava para chamá-la assim. As despedidas foram feitas e contatos trocados entre as garotas. Assim que as garotas chegaram ao lado de fora, Karen recebeu uma mensagem em seu Pokézap.


E agora, para onde ir? -Eu sei! Eu lembro do caminho dessa vez, não tem como esquecer.

Mei os guiou, dessa vez andava na frente de Vulpix mostrando estar confiante no que estava fazendo. Passaram pelas casas genéricas virando algumas ruas até começarem a avistar casas diferenciadas e não tão bonitas como as outras.

-É ali o bairro barra pesada. Mas não se preocupe, não é tão ruim assim, você vai ver quando chegarmos lá.

Ela guiou o caminho a passos largos fazendo com que olhares curiosos seguissem as garotas por onde passavam, a sensação não era muito boa e poderia indicar perigo para algumas pessoas. O pior aconteceu quando um cara numa moto parou do lado delas, vestia uma jaqueta de couro preta, calça jeans, óculos escuros e tinha uma barba mal feita, além de seu cabelo espetado. Era um motoqueiro raiz. Seu olhar passou pelas garotas e pokémons parando em Vulpix, então ele estendeu suas mãos até o vulpino com um sorriso enorme. O que será que estava para acontecer?

-Que gracinha, hehehe. Quem é o garotão do papai?

Ele estava... Brincando com Vulpix? Olhando bem, Karen percebeu que Mei não se mostrou nem um pouco preocupada, estava até sorrindo e se aproximando do motoqueiro.

-Como vai? Acho que o Vulpix gostou mesmo de você, né?

-Ele continua a mesma gracinha de sempre, Mei. Voltou pra visitar o clube de novo?

-Não, eu tô ajudando minha amiga aqui a achar uns Scraggy pra ela colocar no time. Viu algum por aí?

-Sim, eu vi um bando andando por aí umas horas atrás, lá perto da Pousada Subterrânea. Vão lá se quiserem alguma pista, eu tenho que ir, se cuidem e cuidado com a Gangue do Saco de Batata.

Ele se foi com a motoca. É isso, definitivamente aquele bairro barra pesada não era como deveria ser chamado, pelo menos não até o presente momento.

-Vamos até a Taverna Subterrânea então... Eh, você tá bem?

Tudo ocorreu bem com o motoqueiro que se mostrou ser gente fina, Karen até ficou mais tranquila quando viu o modo que ele tratou Vulpix, agora era só seguir até a Pousada Subterrânea e procurar por pistas dos pokémons lutadores que a garota tanto esperava encontrar. Novamente, Mei guiou o caminho por alguns quarteirões até avistarem o destino.

-É ali! Vamos entrar e ver se alguém acabou vendo os Scraggy que o motoqueiro mencionou.

A animada Mei pegou Karen pelo braço e começou a correr com ela meio que forçadamente até a entrada da pousada. Vulpix suspirou mais uma vez em desaprovação e seguiu sua treinadora tomando a frente mais uma vez e parando em frente ao estabelecimento antes dela.

-O pessoal aqui também é bem tranquilo e o visual ali dentro não é dos mais comuns, mas é bem maneiro. Olha só!

Mei abre as portas para revelar um interior baseado em um campo arqueológico, as paredes pareciam o interior de uma caverna e as decorações simulavam artefatos e fósseis, tendo até mesmo uma réplica de um fóssil de Kabutops decorando o local. Havia muitas pessoas lá dentro conversando ao som de uma música tocada ao piano que combinava com o tema da pousada.

O salão era grande e podia-se avistar dois balcões, um de registro de hóspedes e outro onde se vendiam lanches e bebidas. Logo que pisaram no interior do estabelecimento, o recepcionista foi até elas para atendê-las.

-Bom dia, minhas queridas, desejariam um quarto, usar a lanchonete? Fiquem à vontade para pedir o que precisarem, desde que não saiam sem pagar ou causar confusão.

Para um bairro barra pesada, as coisas estavam bem tranquilas.

De fato, era surpreendente encontrar um lugar como aquele em um bairro barra pesada, melhor seria se pudesse encontrar respostas ali mesmo. Karen não perdeu tempo em se apresentar e perguntar sobre os Scraggy que rondavam pela cidade, porém ao ouvir o nome da espécie o atendente ficou com uma expressão séria, chegando a dar um passo para trás.

-S-Scraggy? Hmmm... Entendo. Se você quer tanto assim, acho que irei dizer. Eles costumam passar na praça próxima aqui todo final de tarde, vai levar algumas horas, então que tal aproveitarem o tempo aqui no salão?

-Ok, eu acho que vou aproveitar para comer e beber alguma coisa e ver mais o que dá para fazer aqui. Hmmm... - ela olhou para um lado, olhou para o outro e viu que o piano ficou livre, ela já conhecia o lugar e sabia que qualquer um poderia tocar lá quando a vez do outro terminasse -Ha! Vai ser isso aí mesmo! Karen, veja a habilidade de uma profissional!

Toda metida, andou em direção ao instrumento enquanto rebolava e cantarolava alguma canção não tão conhecida. Assim que assentou-se à cadeira do piano, a conversa no bar foi aos poucos parando e as pessoas levaram sua atenção a Mei e por algum motivo estavam com uma curiosa expressão de pavor em seus rostos.

Ela começou a tocar e mostrou toda a habilidade instrumental... Que ela não tinha. Notas fora de hora e irreconhecíveis, ritmo errado, era uma música que deva invocar alguma entidade se tocada no momento e local correto. Após alguns minutos, Mei parou e virou-se ao seu público fazendo uma reverência e agradecendo.

-Obrigada, obrigada, espero poder tocar para vocês de novo outro dia.

Os aplausos começaram junto de algumas falas do público.

-M-M-Muito bem...

-A-Adorei a mu... música...

-MEUS OUVIDOS! EU ESTOU SURDA!

Eram bem honestos, não é mesmo? Mei voltou para Karen -Então, o que achou? Quer fazer algo até o final da tarde? Quer ir em algum lugar aqui perto? Conheço vários lugares que podem ser úteis.