Capítulo 28 - Vinte e três primaveras

Diz o ditado que depois da tempestade vem a calmaria. Só que no caso deste almoço em particular, depois da tempestade veio outra tempestade! Seguida de silêncio absoluto, antes do temporal de verdades postas sobre a mesa - ou seria sobre a pia? -, com olhos marejados, e aí sim, depois de tudo, uma calmaria proposta por ambas as partes.

Foi muita sorte que durante aquelas discussões intensas e íntimas entre Blake e Miranda, os pais da garota tivessem feito a gentileza de se recolheram ao quarto, dando privacidade. Imagina como seria frustrante, depois de terem seu relacionamento apoiado, deixarem que os anfitriões presenciassem aquela DR e tensão entre o casal.

Com o pequeno acordo de adiarem problemas e decisões, em prol de curtirem os próximos dias em que Blake estaria em Slateport, as coisas entre os dois recuperaram um pouco o fôlego. É claro que ambos tinham verdades para absorver e digerir, mas pareciam dispostos a se esforçarem em deixar tudo para depois.

– Você sabe que pode sempre contar comigo. – Miranda confessou, ainda naquele abraço que ela se recusava em abandonar – ... Isso também vale pro seu aniversário, viu?! – se apressou em completar e estender – Eu não me importaria de passar mais umas horinhas contigo, então... Precisa de ajuda pra organizar alguma coisa da festa?

Seus grandes olhos negros ainda brilhavam por conta das lágrimas que estiveram ali minutos atrás, mas a loira arriscava um sorriso caloroso. A ideia era deixar-se disponível para ajudar o namorado na organização do aniversário, principalmente por saber que Blake era o tipo que não gostava de dar trabalho, e em casa o pai e a mãe dele deveriam estar ocupados em função dos doces.

Além disso, Miranda também tinha consciência de ter ocupado parte do tempo do garoto com aquele fiasco de almoço não planejado. Afinal, já era começo de tarde e, para preparar uma festa, talvez o tempo já estivesse um pouco curto.

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Tudo em paz, era hora de adiantar o planejamento para a festa de aniversário de Blake, com direito a balões e uma nem-tão-discreta faixa de "parabéns". Rumando para o fim da tarde, um sorvetinho trouxe doçura e alegria para os namorados e seus iniciais, antes de cada dupla partir de volta para casa.

Como toda boa mãe, Jolene fez cara feia para as garrafas de bebida alcoólica, mas não objetou. Quando chegou em casa, Blake a encontrou ainda na cozinha, só que desta vez ela não preparava nenhum doce, e sim terminava de tirar da forma alguns biscoitinhos amanteigados, enquanto uma chaleira fervia sobre a chama do fogão.

– Chegou bem na hora! Enche o bule e trás, filho. Vem. – sem hesitar ela se encaminhava para a sala de estar, levando a tigela de biscoitos e deixando para o rapaz a bandeja com o bule de chá e o par de xícaras – Põe uma xícara a mais, talvez seu pai chegue antes do jornal. – Jolene orientava.

A matriarca logo achava seu lugar na poltrona favorita, e suas mãos ágeis apertavam os botões do controle quase que de forma automática, levando-a até o canal desejado, na TV. Mesmo a atenção voltada para o emocionante capítulo de "Chocolate com Petaya", Jolene seria capaz de jogar conversa fora com o filho. Com exceção, claro, dos momentos marcantes, como quando Ana Francisca fez seu retorno triunfal, agora tão elegante quanto sua Gothitelle. Naquela cena até Blake emudeceria!

Antes do fim da novela, Johny entraria pela porta com o semblante cansado do dia de trabalho, mas sempre sorridente. Depois do banho o pai também se reuniria aos dois na sala, em tempo de ver o seu jornal e encontrar a água do chá ainda morna... E assim a família McBride se encaminharia para o fim do dia. No seguinte estariam revigorados e prontos para focar no aniversário de Blake. Será que ele teria um presentinho ao pé da cama quando acordasse? Conseguiria dormir bem? Ou teria uma crise de ansiedade e remoeria o tempo a noite toda? Cenas para o próximo episódio post!

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Talvez fosse a cama diferente; a sinfonia das árvores farfalhando com o vento lá fora, tocando uma canção nova aos ouvidos; a ausência daquele ursinho querido e íntimo que foi esquecido lá na fazenda; os inúmeros olhos dos pôsteres e das fotos que observavam no escuro. Ou, talvez fossem simplesmente os devaneios que ocuparam a mente de Blake e o impediam de cair direto no sono.

[...] Trinta e três Marreps. Trinta e quatro Mareeps. Vinte e oito Mareeps...

Quando o rapaz enfim adormeceu, foi embalado por bons sonhos. Num deles sobrevoava sua fazenda repaginada, em Johto; Miranda e Marshall acenavam lá de baixo. Noutro, era perseguido por árvores mutantes que corriam atrás dele lhe atirando suas Berry "Quer nossas frutas? Então toma!", elas bradavam. De repente, ele corria para dentro da sala dos Musgraves... Só que ele vestia apenas as cuecas! Miranda estava sozinha, olhava-o e sorria, vestida de Ana Francisca - um look diferente para a loira. E quando ela correu para abraçá-lo de repente seu vestido se tingiu totalmente de branco; ela até tinha um buquê belíssimo na mão. "Eu aceit...", a voz da moça evanesceu assim como o sonho.

Blake estava de volta à realidade. Enxergava nada além do negrume das pálpebras. Ouvia as mesmas árvores lá fora, além de Wingulls cantantes. Sentia nada além do próprio peso posto sobre a cama e um aroma sutil de café e fritura, vindo de outro lugar da casa. Será que estava na hora de levantar? Se sim, será que encontraria algum sinal da idade que chegou? Se não, será que conseguiria voltar ao Reino dos Sonhos? Talvez com esforço e mais algumas Mareeps...

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O café da manhã era simples, mas temperado com carinho de mãe, o que tornava tudo realmente muito especial. O pai tinha um jeito particular de o parabenizar pela data e o filho já estava bem acostumado a interpretar aquele gesto singular. Enquanto isso os parabéns começavam a chegar de todos os cantos através das redes sociais.

Mesmo diante de tudo, Blake ansiava por uma mensagem de alguém em especial: Miranda. Havia "N" possibilidades para aquela ausência, desde o simples fato de ela ainda estar dormindo, até a probabilidade de que a moça tivesse perdido o sono pensando nos acontecimentos do dia anterior e, enfim, tivesse chegado a uma conclusão drástica. Mas, não se preocupe, Blake McBride, nenhuma destas duas é a resposta certa.

Quando voltasse do passeio, o criador encontraria a namorada esperando por ele sentada na sala de estar da residência dos McBride. Ela estaria em trajes simples, com uma camisa branca e uma sainha estampada em xadrez vermelho, além de uma sapatilha confortável; uma bolsinha tiracolo estava carregada com suas Poké Bolas. Ora, Miranda fez questão de comprar decorações ontem, então ela precisaria de reforços para por tudo no lugar! Também, para ela, a melhor maneira de parabenizar seu namorado era pessoalmente. Olho no olho e contato físico!

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Depois de voltar para casa, a manhã do aniversariante se seguiu com alguns altos e baixos. Desde a boa surpresa feita por sua namorada, depois algumas mensagens nem tão agradáveis que recebeu, até o pequeno climão que seu comentário sobre casamento pudesse ter gerado. Mas, o importante é que McBride estava bem disposto a aproveitar seu dia especial da melhor forma, e Miranda compartilhava desse pensamento, então levou tudo na brincadeira.

– Devo gostar sim. – ela comentou, antes de se aproximar mais uma vez ao ouvido dele e sussurrar, como uma piada – Ai de mim que não goste, né? – se esforçava para enfatizar o humor do comentário, na esperança de desmanchar o rubor de Blake.

Enquanto as coisas se desenrolavam o casal se dispôs a encher balões, que seriam parte da decoração para o jantar. Não tinha uma regra clara para cores ou arranjos, mas a loira se empenhava em alternar bexigas brancas, azuis e vermelhas, talvez por achar que aquelas combinavam mais com seu namorado ou simplesmente por lhe agradarem mais. Ela chegou a espalhar algumas pela sala e pelo corredor, mas naquela casa, diferente da sua, o cômodo principal era a sala de jantar, então precisaria reservar algumas para aquele cômodo e só as colocaria depois do almoço, é claro.

Por falar em almoço, o cheiro vindo da cozinha era muito bom e já insinuava que podiam esperar por uma boa refeição, acompanhada de uma bebida fresca a julgar pelo som do liquidificador. Enquanto Blake enchia e amarrava mais alguns balões, sua namorada levantou do sofá, ajeitou a roupa no corpo e corrigiu a postura, como se estivesse prestes a fazer algo... E realmente estava. Deu um beijo na bochecha de McBride antes de dizer:

– Eu vou ver se sua mãe precisa de ajuda. – se afastou em dois passos, mas logo virou para complementar, murmurando – Não se preocupe. É só pra ajudar a pôr a mesa! – afinal, o rapaz já havia dito algumas vezes que a mãe não era do tipo que aceitava que mexessem em suas panelas.

Não havia muito tempo para que Blake reagisse àquilo, já que seu PokéNav vibraria e apitaria, alertando de mais uma mensagem que ele recebia. Aquele parabéns seria sim uma surpresa, por ser muito diferente de todos os outros que ele tinha recebido pelas redes sociais hoje. A remetente era alguém especial, uma conhecida de longa data:

Ele teria seu momento para desfrutar daquelas boas vibrações. Com sorte, o singelo cartão lhe injetaria ainda mais ânimo para embalar seu dia especial. Lembrando que, ainda que seus amigos não pudessem estar presente, muitos lhe desejavam votos sinceros de felicidade e prosperidade. Duas coisas que combinavam muito bem com o Blake!

Em breve Miranda sairia da cozinha já carregando algumas louças para por sobre a mesa. Ela não pediria ajuda, orgulhosa como era, mas as vozes em meio ao som das panelas sugeria que ela e Jolene conversavam. Provavelmente a mãe explicava o lugar de cada coisa.

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