[005] Peter Pan

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Os garotos arregalaram os olhos, assustados com a ordem de Sheila para que se beijassem. Fingir que eram um casal era uma coisa, mas um beijo? Seria demais para eles. Felizmente puderam relaxar com a revelação de que era apenas uma brincadeira. Com a chave da lancha em mãos, agradeceram e afastaram-se das meninas para discutir os próximos passos.

— Eu dirijo! — exclamou Lief, empolgado.

Noah não protestou. Por mais que imaginar o imprudente amigo comandando o veículo o assustasse, ele não era um grande fã de sair da terra firme, seja para navegar ou para voar. Estaria nervoso demais para conseguir focar na direção. Agora que tinham uma forma de entrar no mar, o medo começava a tomar conta.

— Yomi, cuide dele! — o moreno, como se pudesse ler a mente e as preocupações do loiro, pediu a sua companheira para que usasse sua habilidade para absorver o medo do amigo — Não se preocupe, Noah! Vai dar tudo certo, eu prometo dirigir direitinho!

— Obrigado! — Noah disse à Misdreavus. Sentindo-se um pouco melhor, estava pronto para ir — Ainda não gosto dessa ideia, mas sei que não posso te convencer do contrário, então é melhor eu ir junto e te proteger, né?

— Preciso te lembrar quem salvou quem da última vez? — rebateu Lief em tom debochado.

— Temos que nos apressar! Temos apenas quatro horas com a lancha, eu não sei tu, mas eu não quero pagar multa nenhuma! — o loiro fechou a cara e mudou de assunto.

Não foi difícil encontrar a lancha e logo os dois estavam subindo na embarcação. Lief levou um tempo para observar com cuidado os controles e, quando ganhou confiança, deu a partida.

— A questão é: para onde vamos? — Noah perguntou — Não podemos sair navegando a esmo, precisamos de uma direção!

— Yatta, você vai ser nosso guia, preciso que você voe e procure alguma pista que possa nos levar ao pirata! — comandou, acrescentando em seguida — E se achar alguns Corphish... pode avisar também... eu adoraria vê-los de novo...

O loiro lançou um olhar feio para o amigo por conta do último comentário. Mas não falou nada, apenas revirou os olhos. Não adiantaria nada discutir. Quando Lief colocava uma coisa na cabeça, era difícil tirar.

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Com o retorno de Yatta, os garotos finalmente tinham uma direção para onde seguirem. Infelizmente, por conta da agitação do mar e da inexperiência deles, seria necessário fazer um desvio. Mas, com sorte, isso não seria um grande problema.

Lief começou a movimentar a direção. Contudo, no momento em que Lief girou o volante, ouviu um forte creck, como se algo houvesse quebrado. Seu corpo gelou.

— Lief... eu não acredito que tu já quebrou essa droga! — Noah parecia irritado.

Então ouviram outro barulho. Era o som da pokédex. Foi aí que Lief lembrou-se, o ovo! Procurou-o e estava certo. O pequeno ovo estava rachado. Mais alguns instantes e de dentro dele saiu o pokémon vela.


Os olhos do moreno estavam brilhando com a felicidade pelo nascimento do novo companheiro. Os demais pokémon juntaram-se ao redor para conhecer o novo amigo.

— Meus parabéns, Lief! — disse Noah, pousando a mão no ombro do amigo e também admirando a fofura de Litwick — Qual vai ser o nome?

Lief parou para pensar um pouco. Ele queria um nome que possuísse bastante significado, mas que também mantivesse a linha que tanto gostava: referências a seres, locais e criaturas mitológicas. Enfim, teve uma epifania.

— Que tal... Caronte? — disse.

Litwick pareceu animado, sua chama emitiu um forte brilho. Noah por outro lado não entusiasmou-se tanto com a escolha do amigo. Ele bem sabia que era uma referência ao barqueiro Caronte, responsável, na mitologia grega, por guiar as almas para o mundo dos mortos.

Realmente parecia haver uma sutil relação entre o que a pokédex dizia sobre o pokémon e a lenda do barqueiro, mas o loiro achou a escolha de muito mal gosto sabendo que os garotos encontravam-se naquele momento em um barco. Como já sabia que não adiantaria protestar, calou-se.

Após mais alguns momentos de festejo com a chegada de Caronte, Lief o deixou brincando com Yomi e os demais. Ainda tinham muito a fazer e estavam sem tempo a perder. Voltou a trabalhar na direção da lancha, seguindo as orientações cuidadosas de Yatta.

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Lief estava tão concentrado lutando para controlar a lancha em meio ao mar revolto, que nem notou a chegada visitante inesperado. Só foi perceber que havia algo errado ao sentir a garra do pequeno crustáceo apertando sua canela. Reagiu com um grito de espanto, quase largando o volante. Os demais também assustaram-se e colocaram-se em posição de alerta. Os pokémon estavam prontos para lutar, até mesmo Caronte.

— Calma, gente... tá tudo bem... — Lief disse, retomando o fôlego. Era possível notar na sua voz que ele sentia dor — Noah, pega aqui um pouquinho...

De início, o loiro não havia entendido o pedido do amigo, mas logo ficou claro que ele estava referindo-se à direção do barco. Mesmo contrariado e com medo, ele assumiu o controle para que Lief pudesse cuidar da situação. Agora com as mãos livres, o moreno abaixou-se e pegou a pokédex para que pudesse analisar o que faria.


— É o que eu imaginei... — disse em voz baixa — Yomi, acho que preciso de você!

Lief sabia que tentar escapar à força da garra do Corphish não adiantaria. Resolveu tentar acalmá-lo. Começou a, lentamente, fazer um carinho na cabeça do pokémon aquático. Ao mesmo tempo, esperava que Misdreavus o ajudasse, usando sua habilidade para impedir que o crustáceo se assustasse e a situação piorasse.

— Não é estranho? — perguntou de súbito, Noah — Corphish é uma espécie que se adapta bem em qualquer ambiente e geralmente se reproduz bastante! Mas esse daí está sozinho!

O outro concordou:

— Não duvidaria se o pirata que procurarmos tivesse algo a ver com isso!

Tentou focar nesse pensamento e esquecer da dor que estava sentindo, mas também era uma ideia desagradável. Ele realmente esperava que fosse apenas uma coincidência e que os Cophish não estivessem sendo perseguidos por aquele Aqua desprezível. Enquanto não tinha como descobrir isso, continuou fazendo carinho no penetra, torcendo para que soltasse logo sua canela.

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Lief finalmente conseguiu que Corphish o soltasse, mas ainda assim havia um mistério acerca do pokémon. Com um olhar mais atento, enquanto fazia um curativo apressado em sua canela, foi capaz de notar que ele era pequeno para sua espécie. Possivelmente um bebê que se perdeu de seu bando.

— Noah, a gente tem que achar a família dele... — o moreno já sabia o que o outro diria, mas mesmo assim precisava tentar.

— Nós não temos tempo pra isso! — falou de maneira firme, apesar do nervosismo que sentir por estar pilotando a lancha — Temos tempo limite para ficarmos com a lancha e ainda nem achamos o Aqua! Além disso, tem a chance de ele estar envolvido nessa história!

— É verdade, mas... — Lief deixou Yomi e Caronte na tentativa de consolar o pequeno crustáceo e levantou. Ainda manco, caminhou até Noah e o abraçou por trás — E se não estiver? O Corphish tá sozinho e assustado, a gente não pode deixar o encontrar a família dele como um talvez... Por favorzinho...

Noah enrubesceu ao sentir o toque do amigo. Por que aquela voz manhosa? Por que aquele carinho todo? O loiro já estava cansado de ceder a todas as ideias e vontades dele. Só estava naquela maldita lancha porque o garoto insistira em ir atrás do pirata. Lief achava mesmo que o convenceria com aquilo? Pois estava certo. Noah não sabia exatamente o porquê, mas estava incapaz de dizer "não".

— Yatta, continue nos guiando na direção do pirata! — ignorou o outro e começou a dar as ordens — Amelia, voe ao redor e faça uma busca por algum bando de Corphish. Se encontrar alguma coisa, nos avise!

Ao ouvir aquilo, Lief comemorou triunfante e apertou ainda mais o abraço no amigo. O que fez com que Noah ficasse ainda mais nervoso e exclamasse:

— Certo, certo, certo! Agora tu já tá melhor, pode voltar a dirigir essa geringonça! Vamos manter o foco principal em achar aquele maldito, não adianta ficarmos horas navegando a esmo. Se Amelia encontrar alguma coisa, saberemos!

Lief abriu um sorriso de orelha à orelha. Ele ficava muito feliz quando fazia Noah, do jeito dele, concordar com o que dizia, Quase como se sentisse vontade bei... Deixa pra lá! Não é importante agora! Antes de reassumir o controle da embarcação, lançou um olhar para o Corphish e disse:

— Não se preocupe, amiguinho! Nós vamos encontrar a tua família!

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Com cada um em sua posição, Lief conseguiu terminar de manobrar por entre os redemoinhos. Ao longe, podiam avistar uma outra embarcação não muito diferente da que estavam. O moreno parou a lancha em um lugar que acreditava ser um pouco mais discreto. Era hora de discutir o que fariam a seguir.

— Acho que foi aquilo que Yatta viu! — disse — Precisamos investigar, é a pista que temos!

— Sim, mas precisamos ser discretos, não podemos chegar fazendo muito alarde! — Noah tentou manter-se pragmático, mas a tensão da possibilidade de encontrar o inimigo começava a dominá-lo.

— Tem razão! — exclamou enquanto tirava a camiseta e começava a desamarrar os sapatos.

— O QUE TU TÁ FAZENDO? — Noah estava incrédulo e com o olhar fixo no amigo.

Lief não era muito sarado ou forte, mas possuía alguns músculos bem definidos por conta da atividade física que fazia enquanto explorava as rotas. Parou um pouco para pensar se tirava o calção também ou não. Decidiu por mantê-lo, não queria encontrar o pirata apenas de cueca. E então respondeu:

— A gente não pode simplesmente se aproximar com a lancha, chamaria muita atenção! Eu vou lá nadando e te aviso caso seja pra ir!

— Tu ficou definitivamente doido!

— Eu sempre fui! — disse isso e logo em seguida pulou, mergulhando no mar sem muita cerimônia.

Noah permaneceu atônito. Era um nível de impulsividade que ia além do já elevado normal que ele estava acostumado a ver no moreno. Era completamente insano. Perigoso. E... Atraente?

Yomi ficou invisível e prontificou-se a acompanhar o treinador, levitando próximo a ele. Yatta levantou voo e tentou manter uma distância segura que mantivesse a discrição. Lief nadou na direção da outra lancha, sem olhar para trás.