Contest #12 - Combate A

Isso era... inesperado.

Como sempre, o nervosismo era comum na vida dos coordenadores; principalmente quando estes estavam competindo. E certamente, ver o chaveamento das batalhas não ajudou muito. Para ser sincero, Ren não estava procurando especificamente por seu nome. Gostava de ver como seus amigos iriam. Desejou boa sorte para Rosemary mentalmente, ao reparar seu adversário, e logo em seguida, notou um "Haruki Odayakana" na tela.

... Seguido de seu próprio nome. Sério mesmo? Quais seriam as probabilidades? Bem; Ren sabia que tanto o ruivo quanto a loira eram assíduos participantes dos eventos, mas nunca nem mesmo havia imaginado a cena onde eles batalhariam um contra o outro. Era... estranho. Provavelmente fazia parte; ora ou outra precisaria ver seus amigos sobre os palcos, mas talvez o jovem apenas não estivesse completamente pronto.

De qualquer forma, o especialista em feéricos resolveu utilizar seu pokémon inicial. Precisava de algum conforto, segurança, para aquela batalha. E certamente, Hokori seria o melhor a desempenhar tal papel. Ainda mais que eles fariam o debut da etapa de batalhas. Enfim, Ren suspirou fundo, deu um beijo nervoso na esfera roxa de seu monstrinho psíquico e  seguiu para o palco assim que foi chamado.

Haruki parecia um pouco mais à vontade. Provavelmente, não seria a primeira vez do ruivo com algo semelhante. O aprendiz de Lisia retribuiu o sorriso e o abraço, arrumando sua coroa na cabeça, enquanto ia para seu lugar. — Haru! Fui pego de surpresa. Mas bem, imagino que isso acabaria por acontecer alguma hora, não? Não importa, é uma honra estar aqui com você. Espero que tenhamos uma ótima batalha, e que o público aprecie tanto quanto eu imagino que irei!

E com isso, ele liberou seu pokémon em uma chuva de cintilantes lilases. Tinha uma certa vantagem: seria o último a movimentar-se, desta vez. E bem, por que não abusar de tal vantagem, afinal? Ainda assim, o rapaz de madeixas róseas ficou um tanto quanto confuso para com a afirmação de seu amigo. Como Odayakana poderia ter tanta certeza de que aquela seria, de fato, a escolha de Ren?

Ah, não. O jovem estava arquitetando um plano por trás de seu sorriso. Não poderia dar ao público algo tão simples e previsível, certo? — Hokori, vamos usar Protect para começar. Em seguida, o seu tão belo Misty Terrain! Tenho certeza de que conseguiremos fazer um jogo visual interessante com estes dois movimentos, utilizando também de seus poderes psíquicos para enfatizar um pouco mais nosso tema.

Pois bem. Assim como Haru pensara, o mímico de fato usaria sua barreira. Ele não tinha motivos para não fazê-lo, afinal. Mas para tentar deixar as coisas mais interessantes, esteticamente falando, tanto para eles quanto para o público, eles dariam alguns toques adicionais. Assim que a barreira do psíquico se quebrasse, ele utilizaria os cacos para ambientar melhor o palco.

Espalhando-os como pétalas levadas ao vento, Hokori deslizaria os pedaços de energia pelo palco, utilizando-os como vetor de surgimento para seu próximo movimento. Conforme os cacos avançassem pelo palco, do centro para os cantos, eles deixariam o terreno enevoado, cintilante, místico e basicamente, belo. Além disso, o pokémon tentaria moldar a energia feérica nas extremidades do campo, para fazer com que o seu terreno se assemelhasse com uma grande flor cor-de-rosa estampada no palco.

— Tenho que admitir, Haru. Aiko é realmente uma fofura! Não me lembro de ter visto ele anteriormente, mas certamente é um pokémon mais que adorável! Além disso, foi uma rodada... interessante — elogiou o rapaz, tratando de retomar um pouco a movimentação de cada um dos monstrinhos. — Vamos seguir em frente, então? Lilycove anseia por uma grande batalha, e acho que nós podemos ajudar.

Ele estava um pouco nervoso. Aparentemente, sua última combinação quase dera errado. O movimento elétrico do Raichu era bastante delicado; certamente, não era forte o bastante para romper uma barreira ao meio. Mas bem, o movimento defensivo acabaria por desfazer-se, ao fim do turno, de qualquer forma, não é mesmo...? Não tenho tanta certeza. Ainda assim, o especialista em feéricos estava um pouco apreensivo.

Sua mente foi para outras figuras, então. Lisia estava assistindo, não é? O que será que ela estava achando? Será que ele estava fazendo feio, como aprendiz desta? Pensou também em Nise, a moça que encontrara logo depois de sair de casa. Não se viam desde então, mas Ren esperava que ela estivesse vendo também. E... casa. Seus pais certamente já estavam muito bem informados de que seu filho estava por aí, inclusive participando de concursos...

O rapaz balançou a cabeça, focando na batalha. Não adiantava muito remoer as entranhas do passado, tampouco preocupar-se com as possibilidades do futuro. Precisava concentrar-se no agora. — Certo, Hokori. Vamos começar com o Taunt. Quero que faça uma grande careta, que provoque Aiko o máximo que conseguir, até que ele perca o foco e a noção... — ele começou a dizer, sorrindo para seu pokémon.

Depois, exibiu seu punho que vestia o Z-Ring. — E então vamos com tudo, usando o Z Substitute! Aproveite a ira cega de seu adversário, e então deixe-o ainda mais irado por não conseguir te acertar. Com o poder Z, traremos aclamação ao golpe, atenção. Aiko, antes já irritado, não terá escolha senão olhar para o substituto e atacá-lo, frustrando-se ao perceber que foi enganado! — proclamou ele, projetando a voz para que todos ouvissem com clareza, já preparando-se para realizar a dança requisitada.

Era um tanto quanto arriscado. E para falar a verdade, Ren estava com um pouco de medo de estar sendo muito ousado. E se os jurados —  ou mesmo o público —  não gostassem da tal combinação; dizendo que não fazia sentido? Ele não podia correr o risco. Detalharia o máximo que conseguisse. Taunt era um movimento de status, que irritava seu alvo, impedindo-o de fazer qualquer coisa que não seja atacar, independentemente das ordens do treinador.

Utilizar a tal ira parecia ser uma ideia relativamente boa; aumentando-a ainda mais. Diga-me, se você quisesse muito dar um soco em alguém, tentasse, achasse que conseguiu, apenas para depois saber que fora enganado; não ficaria ainda mais bravo que antes? O objetivo era esse: uma reação em cadeia. Ao utilizar algo grande como um Z Move, apenas enfatizaria a atenção que queria dar ao Raichu, um alvo para bater. Se este já não podia deixar de pensar em atacar o Mr. Mime, usar algo tão impactante quanto os movimentos vindos de Alola serviria como um chafariz ainda mais chamativo.

Afinal de contas, os Contests não era apenas brilhos e explosões de purpurina. Na verdade, as demonstrações artísticas poderiam ser das mais variadas possíveis. O apelo visual de glitter era um fator, mas outros elementos, como a atuação também poderiam ser valorizados. E o que seria aquilo tudo, senão atuação? Manipular os sentimentos, esperar o momento certo para as falas e movimentações; enganar; manter o público na expectativa. Ren apenas esperava que desse tudo certo.

Apesar da explosão de atenção que Ren recebia no momento, talvez fosse inteligente manter-se mais atento. A pontuação de ambos os competidores, apesar de não ser mais numericamente idêntica, ainda era bastante próxima. Além disso, o especialista em feéricos havia utilizado seu maior recurso naquela batalha, e não tinha mais nenhum truque na manga. Aiko, no entanto, estava bastante confortável com seu lenço róseo ajudando-o em tudo.

Naquela noite de fofuras, os amigos interrompiam brevemente as coisas para uma rápida sessão de tapas. Bem, não exatamente eles; e de qualquer forma, ver o ratinho "dar tapinhas" nos amiguinhos não parecia deixar de ser fofo, ainda assim. Ren teve uma ideia que combinava com o rumo irritante que a batalha tomava, e mais uma vez, remetia ao tema principal. Bem, coisas fofas podem muito bem perturbar, não?

— Muito bem, então. Vamos começar a apelar um pouco também, Hokori. Use Infestation seguido de um Protect! — proclamou ele, sorrindo. E bem, tinha em mãos uma dupla bem... complicada de se trabalhar. Normalmente, as pragas não são vistas com bons olhos, tampouco como sendo fofas. Mas bem, na primavera, os insetos são muito comuns... E nem todos são feios ou mal-intencionados.

— Assim como a primavera representa o reviver; nós daremos uma nova forma aos insetos que atormentarão Aiko. Afinal de contas, estamos em um mundo mágico, não é mesmo? — disse ele, dando ênfase na palavra de magia, enquanto apontava para o terreno rosado e místico ao seu redor. — A misticidade tornará os insetos belos, dando-lhes uma nova forma, uma nova interpretação, um jeito diferente, mas que nem por isso é ruim.

Ao usar a infestação naquele terreno misterioso e carregado de magia, Ren ambicionava tornar o que antes poderia ser considerado como formigas estranhas em belas mariposas cor-de-rosa, que voariam pelo campo constantemente, voltando até seu alvo de tempos em tempos para aplicar o dano passivo. O mímico aproveitaria dessa movimentação dos insetos para realizar sua combinação. — Da mesma forma que elas atacam sua presa, nessa forma também estarão possibilitadas a voar para longe do perigo. Hokori, quero que use sua barreira quando Aiko estiver aproximando-se. Siga as mariposas, incorpore a forma mística de suas asas no Protect, e proteja-se do perigo com elas!

Era algo bem diferente, de fato, mas convenhamos: uma redoma protetiva rodeada por borboletinhas mágicas, que enfeitam e deixam a barreira colorida e estampada é bastante apelativo. Não tem como negar. Por favor. Além disso, trazia uma explicação muito mais lógica do por quê o movimento causar um dano percentual ao longo do tempo, com os insetos a rodar o campo místico — e as arquibancadas — enquanto não eram necessários, deixando tudo mais belo.