#005 Lemme get that

De repente aquela batalha aérea virou um circo. Não, pera... Quer dizer. Virou uma confusão de coisas, e eventos, e shows, e efeitos. Tudo aconteceu quase ao mesmo tempo e tão depressa. Eu mal consegui processar tanta informação ou entender o que estava acontecendo.

Vi Aang dar um dano absurdo sem entender bem de onde veio, senão daquela duplinha que muito me lembrou o Minun e o Plusle que encontrei na cidade com a Lilo. E o que aquele Budew fez com meu Emolga? Será que... Pera. O que? De onde veio tanto dano do Rotom para levar Kludd? Okay, eu tenho um grande problema aqui.

Quando Andrew afirmou que não gostaria de perder eu apenas sorri. Não era um riso debochado nem nada, foi só uma gargalhada reprimida e espontânea com a graça da situação somada à minha própria confusão. Quer saber?! Tá tudo bem. Vamos em frente.

– Aang, meu amor, você tá sendo perfeito e incrível! Confio em você, no seu potencial e nas suas asinhas, querido. – droga, será que não tô dando responsabilidade demais pra uma criaturinha que eu amo justamente por ser brincalhona? – Vamos seguir dar esse show com um duplo Acrobatics! – sentia que aquilo poderia ser o fim do show, na verdade.

Eu podia tentar estender isso para mais uma rodada? Sim. Protect, Roost, talvez um golpe em algum ponto. Mas já tínhamos dado nosso melhor. Eu e meus Pokémon; Andrew e os dele. O show já tinha sido muito bom!

Minha respiração ficou presa por um tempo que eu não sei dizer. Tudo pela tensão desses últimos instantes de batalha. Foi uma confusão de golpes ágeis, brilhos e faíscas entre dois Pokémon miudinhos que era até difícil entender o que acontecia, da minha perspectiva.

No fim, eu soltei o ar num suspiro de surpresa ao ver que um deles caía, enquanto outro seguia planando no ar. Era Aang! Meu riso foi automático e logo se transformou numa gargalhada espontânea, tanto quanto o abraço que dei no "pescoço" do Snorlax que me carregava. Zonzo de exaustão, logo meu Emolga pousava ali também e eu o pegava no colo com todo cuidado possível, recompensando-o com um abraço antes de retornar ele e Kludd para as Pokébolas.

Senti Snorlax se mover na corda bamba enquanto eu finalmente me permitia receber os aplausos, além de toda música e comemoração. Enquanto voltava para a área firme onde eu poderia pisar e descer para o palco, procurei Andrew pelos arredores para lhe dar um aceno acompanhado de um sorriso de gratidão pela batalha árdua, desafiadora e incrível! Sem palavras trocadas desta vez, até porque eu nem teria garganta suficiente para sobrepor tanto barulho.

Escorreguei até a plataforma aérea pela barriga do grandalhão Normal, segurando em seu ombro para ter apoio. Antes de finalmente descer para o palco, para onde estava sendo convocada, alonguei um pouco o corpo pra melhorar a postura, arrumei a roupa, finalmente guardei aquelas anteninhas mecânicas na bolsa. Desci, pela última vez (?), buscando por Lilo e Moana na plateia para lhes acenar também. Isso é, se elas já não tiverem saído, depois de tanto tempo...

Bem, depois de tudo, vamos ver que prêmios me aguardam!

Wing Attack no lugar de Peck. Pfvr e obg Ayzin <3

No palco fui ovacionada. Uma sensação maravilhosa, não vou mentir, apesar de também ser muito intimidadora. Me senti bem diferente de quando eu me apresentei no palco do Contest, ontem - parece que já faz tanto tempo. Eu até poderia fazer uma analogia ao calor humano ser quase palpável, com tanta gente no picadeiro e as arquibancadas tão próximas. Mas, talvez só estivesse sendo influenciada pelas chamas do pirotécnico e do Magmar.

Ah, e ainda teve o prêmio, claro. Uma caixinha, feito um presente, contendo uma quantia em dinheiro - que eu agradeci imensamente por me ajudar em planos para um futuro breve - e uma pedrinha curiosa, amarelada, que em toda minha inexperiência e euforia não consegui identificar de imediato. Ainda assim, é um prêmio, uma recompensa, então como gratidão eu reverenciei o locutor, o público e os artistas que me olhavam. Todos eram parte daquele espetáculo afinal. Então, obrigada!

Enquanto eu era engolida pela penumbra das cortinas que se fechavam, vi Andrew caminhando na minha direção. Seu riso bobo só pra sustentar o meu, e ele também parecia disposto a conversar. Eu estava pronta pra isso, é claro, só que aquele calorzinho estranho na minha bolsa me lembrou de algo mais importante - sorry Andrew, um minuto...

O novo motivo de preocupação era o ovo. Sim! Ele estava chocando! Por isso o tirei da bolsa e coloquei no chão, bem na minha frente, assim que ajoelhei. Naquele brilho intenso da casca, antes dela se desfazer, tudo que me veio na memória foram as palavras de Katakuri para este ovo que me deu "[...] é um bebê que precisa de muito amor e carinho [...]", contrastando com a própria mãe deste pequeno, Syndragosa.

Enfim, meu Noibat apareceu depois do ovo. Assustado e curioso, olhando para todos os lados para absorver todo aquele ambiente excêntrico. Remexeu suas patinhas e asinhas para reconhecer o próprio corpo, mas foram as orelhas que mais me chamaram atenção. Grandes e sensíveis receptores como aqueles deveriam se incomodar com a barulhada. Protetora, peguei ele no colo e tratei de tirar uma das scarfs que encontrei mais cedo e colocar sobre a cabecinha dele, como se fosse uma touquinha.

– Oi, coisinha mais linda! – cumprimentei roçando meu nariz no dele, pra que registrássemos nossos cheiros – Já já sairemos daqui pra nos conhecer melhor, tá bem?! – um beijinho no topo da cabeça para completar o carinho.

E por falar em conhecer melhor... Andrew, ainda tá aí?!

– Ah! Muito obrigada. Você também foi um oponente incrível! – retribuí os elogios com sinceridade, já deixando de lado o pequeno incômodo que tive ao me sentir iludida, quando descobri que tudo era parte de uma atração maior. Definitivamente era um show bem bolado. Só não fico verdadeiramente chateada porque, no fim, a luta foi justa e real, mesmo eles tendo todas as oportunidades de terem me ferrado pra dar a vitória ao artista da casa, intencionalmente.

– Olha, sinceramente?! Eu não percebi nada de errado com os outros que enfrentei. Mas provavelmente eu só tava muito concentrada em outras coisas pra ver quem tava mais ou menos nervoso, ou se davam ou não comandos precipitados. – também fui sincera aqui, já que em nenhum momento me questionei ou percebi esse tipo de coisa – Bem, então mais uma vez obrigada. Parabéns também pra vocês todos, é um circo muito bom! – dei um riso mais animado – Tchau, tchau. Até a próxima!

Kalos? Seria um sonho ir tão longe. Me deu até vontade, de novo, de pedir pra fazer essa fuga. Mas, não, que isso. Tenho muita coisa pra resolver por aqui ainda. Inclusive, hora de ir embora! Por onde sai? Preciso encontrar Lilo e Moana lá fora... Se eu não achar uma saída por aqui, vou ter que me esgueirar por debaixo das cortinas, é o jeito! Me ajuda Luciano!

Passei tanto tempo aqui dentro que já nem sei que horas são. Na minha perspectiva parece ter sido uma eternidade. Tanto que eu deixei o circo com uma sensação de vazio e nostalgia, como se eu tivesse criado um vínculo ali dentro. Mas, de certa forma, foi quase isso mesmo.

Quando saí para a rua tive um arrepio. Estava mais frio ali fora, de uma forma que fazia eu me arrepender de estar de vestididinho. Pus Noibat na cabeça, onde agora não havia mais anteninhas, e me abracei pra aquecer no mínimo até os cotovelos. Só que logo tive que soltar pra receber o calor de um ser humaninho que vinha me abraçar, Lilo.

– Ah! Que bom que encontrei vocês! Já tava ficando preocupada de não ter saído à tempo. Hehehe, obrigada, gente. – agradecia aos elogios e todo carinho, é óbvio.

Foi quase tempo suficiente apenas para nos despedirmos, já que as visitantes estavam apenas a espera do transporte para levá-las até o hotel. E o que dizer daquele olhar marejado da Lilo? Eu quase me desmontei toda... Até porque eu também não queria me despedir. É tão raro achar gente legal que nos acompanha numa aventura tão incrível como essa. Quando eu vou ter outra oportunidade?

Bem, que seja, vida. Me ajoelhei no chão frio sem me importar, só pra ficar na altura dos olhinhos dela. Não, não quero chorar, apesar de ter vontade... Mas quero que ela olhe nos meus olhos pra saber o que sinto e como me sinto. Mesmo em tão pouco tempo, eu acho que já aprendi um pouco a lidar com a pequenina.

– Você promete que vai continuar me assistindo? Porque eu te prometo que sempre que puder eu vou entrar num Contest e vou me apresentar, pra você, onde quer que esteja. – se ela entende a complexidade das promessas pro futuro? Não sei. Mas, de novo, se ela entender isso através dos meus olhos, tá bom – E tente não se perder da sua irmã! Preciso saber que quando eu visitar a sua cidade, você estará lá, e bem! – eu parecia uma irmã mais velha, apesar de nem saber como sê-lo – Ah! Além disso, tiramos muitas fotos lindas, não é? Podemos até tirar mais uma, que tal? Pra guardarmos de recordação! Moana tira uma pra mim e uma pra vocês?! – era uma pergunta retórica, já que eu queria mesmo uma última foto, além da câmera do moço pesquisador lá de LaRousse... É, eu quase esqueci das missões que tenho pra entregar.