“O mundo é dos mais fortes”... francamente, encontrar uma placa como essa logo após sairmos daquela tenda era uma tremenda ironia. Assim que viu aquelas palavras, chamativas o bastante para serem notadas à distância, Yoshiro virou a cara, recusando-se a olhá-las. Eu fiz o completo oposto. Fiquei fuzilando aquele letreiro com os olhos, tanto que nem reparei quando passamos pela placa do tal Dreamy Lake. Não que alguma advertência escrita fosse necessária - a grama e as árvores de folhas cor-de-rosa eram indícios bem difíceis de se ignorar.
Não sei se devo ficar mais impressionado pela coloração daquele capim ou por ele ser tão traiçoeiro. No início do caminho, crescia timidamente, mal me cobrindo as patas. Conforme fomos adentrando na trilha, contudo, tornou-se tão alto que eu estava quase me afogando lá dentro. Sentir aquelas plantas pontudas roçando nas minhas barbatanas era angustiante, e eu não conseguia enxergar um palmo à minha frente! Tive que avançar entre saltos e pulinhos, pois não tinha condição de andar ali, até que Yoshiro ficou com pena e me pegou no colo. Como é difícil a vida de um anfíbio que só queria esticar as patas...
Alguns vagalumes voavam ao nosso redor, iluminando o percurso e chamando a atenção da minha treinadora a cada movimento que faziam. Embora ela ainda estivesse com um olhar tristonho, denunciando que seus pensamentos continuavam com Aoi e Choco, era impossível não se encantar com um cenário tão mágico. As cores, as luzes, aquele aroma inebriante que tomava conta do ambiente sempre que as folhas caíam como chuva sobre nossas cabeças… tudo ali era encantador, quase hipnotizante.
Imagino que Ren e Laylah estejam gostando bastante desse lugar também. Tenho uma leve suspeita de que o menino gosta bastante de rosa… bem leve, sabe? E acho que minha humana estava pensando na mesma coisa, pois aproximou-se dele e lhe disse em tom brincalhão:
- Vocês combinaram? - Riu um pouco, apontando para os tons róseos que dominavam o lugar e que tanto pareciam com os fios do cabelo dele. Para a garota, talvez o rosa não trouxesse lembranças tão boas: era a cor que representava o último Contest, afinal. Contudo, se ela se incomodou com isso, não deixou transparecer. A caminhada continuou bem tranquila… até encontramos os cogumelos.
De tantas coisas nesse mundo… tinha que ser cogumelos?
Bem, digamos que nosso histórico com esses fungos não é dos melhores. Tanto que, ao vê-los, Yoshiro paralisou no lugar. Por uns longos instantes, apenas fitou um cogumelo particularmente grande, tensa demais para sequer reagir. Até que ele… acenou pra ela. Acenou!? O que raios está tem de errado com essa coisa?
- R-Ren! Ele… ele se mexeu! Se mexeu! - A garota deu um pulo tão súbito que quase me derrubou, e depois foi se esconder atrás do outro humano, agarrando-se ao braço dele. Olhava para aquele cogumelo gigante como se algum tipo de monstro pudesse sair de trás dele… e, francamente, eu não duvidaria nada disso. Não seria a primeira vez. - S-Sapphi, será que são...
“Não, não mesmo…” Reunindo toda a minha coragem, andei até um deles para observá-lo melhor. Definitivamente, não eram os malditos cogumelos brilhantes que encontramos no labirinto… na verdade, não sei nem se são mesmo cogumelos. Desde quando cogumelo tem rosto? “Deve ser algum tipo de Pokémon.”
Olhei para a minha treinadora e balancei minha cabeça negativamente, apenas aí ela começou a se acalmar. Diminuiu o aperto no braço de Ren, mas ainda assim segurou-o pela mão e começou a puxá-lo pra longe dali. Acho que ela preferia manter distância daqueles seres, só por garantia.
Enfim, chegamos a um lago bem peculiar. Tão belo que chegava a ser estonteante, coberto por folhas e pétalas as quais lançavam um aroma doce sobre o local. À essa altura, eu nem deveria ter me surpreendido quando vi a coloração da água. Mesmo assim, me causou um espanto tão grande que por um momento achei que fosse um sonho. Digo… como algo assim poderia ser real?
- U-uhn… perdão por aquilo, Ren… - Por fim soltou o rapaz, com o rosto já vermelho de vergonha pela forma como tinha agido. - É que cogumelos não me trazem lembranças muito boas. - Abriu um sorriso encabulado, torcendo para que não tivesse passado uma impressão muito ruim. Não deve ser legal quando o seu recém-conhecido coleguinha começa a te achar louca, né?
Ah sim, o templo. Quase me esqueci. Meio difícil não reparar nele, chamativo como é... de certa forma, parecia combinar muito bem com a paisagem. Os humanos se aproximaram de lá e leram o pergaminho que estava preso na parede em voz alta. Olha, ver “oferenda” e “templo” no mesmo contexto já é motivo suficiente para me fazer dar as costas e sair correndo dali. Infelizmente, minha treinadora era um tanto mais curiosa do que sensata. Aproximou-se da construção, lançando um último olhar a Ren e Laylah.
- Alguma ideia do que aquilo quer dizer? - Apontou para as palavras no pergaminho. Bem, independente do significado, ela parecia bem disposta a ir lá e acender uma vela, como as instruções diziam.