#002 - Estreitando laços

A chegada das nuvens...

Enquanto Artemísia sobrevivia aos percalços de uma longa viagem, um novo dia e um novo cenário se construíam diante de seus olhos. Mesmo que no interior do ônibus toda aquela barulheira pudesse ser completamente incômoda, principalmente para pessoas mais introspectivas e cansadas, a visão que lhe era apresentada pela janela, talvez trouxesse um refresco para alma... Uma floresta de aparência intocada florescia a cada curva da estrada, com árvores que superavam e muito a altura do veículo e faziam com que os passageiros tivessem que esticar suas cabeças para o alto se quisessem vislumbrar a copa. Na verdade, acho que até o barulho diminuiu quando finalmente a Floresta "engoliu" aquele ônibus.

— Aproximando-se da Cidade de Fortree. Chegada prevista para daqui há 15 minutos... — Afirmou o motorista, protegido por um anteparo de acrílico, através do microfone que reverberava pelo interior do transporte. E bem, foram quinze minutos de sossego até que finalmente Mísia e os demais passageiros puderam descer na Rodoviária, deixando o ônibus para trás e sendo recebido por um frescor inacreditável. O ar inteiro cheirava a um misto de hortelã e capim molhado. O clima era tão ameno por ali, que a umidade era quase palpável e inevitavelmente gerava aquele "friozinho" que arrepia todo os pelos expostos do corpo.

A Rodoviária ficava ao Sul de Fortree, numa região mais antiga, com construções históricas erguidas no alto das árvores. Elas não eram mais habitáveis, mas abrigavam museus e outros edifícios tombados como patrimônios históricos. Ali, as copas das árvores fechavam completamente qualquer visão dos céus e a aparência era a de uma noite eterna, o que forçava o constante funcionamento de holofotes para manter  a visão dos transeuntes. Algo realmente incrível, que contrastava e muito com o clima praiano e quase tropical de todo o restante de Hoenn. Mas enfim... Todo aquele cenário não importava muito para o momento, já que Mísia não pretendia ficar por ali. Seu foco era o Centro Pokémon, mais ao norte e foi exatamente para lá que Stormy e a garota partiram.

Sendo a Rodoviária e uma lanchonete anexa, o único edifício do "térreo" do Sul de Fortree, não era difícil deixar aquela região. Havia uma única avenida por ali, contando apenas com grama alta em sua margem, sem construções. Este pavimento levava, através de um gigantesco túnel cavado no tronco de uma larga árvore, até a parte Central-Norte de Fortree, que curiosamente era tão urbanizada quanto qualquer outra cidade da Região.
Assim que a jovem terminou de atravessar o túnel, foi recebida por um choque de temperatura. Fazia calor, o Sol brilhava forte em um céu sem nuvens e o barulho de buzinas e "vozes humanas misturadas", dominava o ambiente. Felizmente, para a treinadora, o Centro Pokémon ficava apenas a três quadras dali, duas adiante e uma para a direita. Em menos de dez minutos, mesmo a pé, Mísia alcançaria seu objetivo.

Finalmente no interior do CP, o clima ameno gerado pelo ar condicionado podia ser sentido. Não haviam muitas pessoas ali e Artemísia seria a primeira a ser atendida pela Enfermeira no balcão central. Assim como era de praxe no Mundo Pokémon, a treinadora foi gentilmente recebida e lhe foi oferecido um quarto para que pudesse passar tranquilamente um tempo na cidade — Bem-vinda! Nós oferecemos o serviço privativo essencial para qualquer treinador! Seu quarto é o 303, fica bem próximo do Hall das Escadas e dá visão para a Arena nos fundos de nosso Estabelecimento. O café da manhã é a única refeição oferecida e fica disponível de 7:00 hrs até as 10:00 hrs, todos os dias, em nosso refeitório, à direita das escadas... — Informou a jovem da saúde, fazendo uma reverência e se despedindo.

Não muito distante dali, à direita, havia um Pokémart anexo ao Centro Pokémon, que possuía um rapaz de boné azul atendendo, um tanto cabisbaixo, debruçado sobre o balcão e na frente de inúmeras prateleiras de itens. Entre ele e a Enfermeira, três computadores públicos, com uma certa fila para serem utilizados. Já no lado oposto do salão havia uma escadaria para os demais andares, uma porta dupla que levava a cafeteria e uma porta simples, que provavelmente levava aos fundos, para a Arena padrão existente em todos os Centro Pokémon, o que poderia ser um bom lugar acessível para treinar e interagir com os Pokémon. Entretanto, a cidade de Fortree era muito maior do que isso e a treinadora poderia visualizar um caminho para seguir se buscasse ajuda no mapa da cidade, pregado na parede próxima da porta de entrada. O que Mísia faria então? ◄

A chegada das nuvens...

Com todas as informações básicas à sua disposição, restava à Stormy e Mísia decidirem um lugar para o passeio. Para tal, a jovem treinadora aproximou-se do mapa da cidade, pregado num mural de camurça e coberto por uma porta de vidro deslizante, devidamente trancada por uma suposta chave. Será que já haviam tentado roubar um simples mapa? Que específico... Mas enfim, o importante era o que ele tinha para lhe oferecer. Sendo enorme, era possível ter um detalhadamente belíssimo da cidade, toda desenhada em vista superior com tons de verde, marrom e azul-escuro. Uma sete enorme e vermelha apontavam o local atual, com os dizeres: "Você está aqui!", servindo de base para o início da busca.

Era notável, através da Rosa dos Ventos, no cantinho inferior direito do Mapa, que se seguisse para o Norte, Artemísia encontraria o Ginásio da Cidade, no alto da mais antiga árvore de Fortree, nos limites superiores do município. Um pouco mais para o Centro-Sul, encontrava-se um Plaza, que parecia ser o point de encontro dos jovens, aos pés da Escola de Voo e sendo rodeado por lojas de roupas e utensílios para treinadores. À Leste havia uma região mais pobre, residencial, composta de casas nas árvores ainda habitadas, ao invés de servirem como meros prédios históricos, assim como havia visto anteriormente na Região Sul. E por fim, à Oeste, havia uma Floresta. Sim, uma Floresta Urbana, sem construções oficiais e que continha Pokémon deste bioma específico, mesmo que no meio da Cidade.

Além de todas as opções descritas, havia o próprio distrito do Centro Pokémon, composto de prédios comerciais, em sua maioria escritórios, além de restaurantes e outros estabelecimentos que não eram tão famosos, mas serviam bem ao seu propósito. De fato, o Centro "Nervoso" de Fortree. Caberia a jovem decidir para onde ir primeiro, seja a pé ou com linhas de ônibus descritas no próprio mapa.

Enquanto a garota pensava, antes de qualquer decisão ser tomada, novos transeuntes surgiram gerando um falatório no Estabelecimento de saúde... Quatro jovens, dois homens e duas mulheres, entraram no Centro Pokémon vestindo uniformes de voo bem justos, provavelmente atletas de wingsuit e comentavam de maneira bastante espontânea sobre os saltos que realizaram, parecendo que estavam ali apenas para trazer seus companheiros aos cuidados da Enfermeira. Não "cheiravam a problema", mas talvez fossem uma fonte de informações extra sobre bons lugares na cidade. Diante de todas as possibilidades, o que Mísia faria em seguida?

A chegada das nuvens...

Defintivamente, Mísia tinha tantas opções na Cidade de Fortree, que encontrava-se perdida, não literalmente, mas em questão de não conseguir decidir o que fazer... A chegada dos quatro jovens no Centro Pokémon, além de lhe chamar a atenção pela leve algazarra que faziam, também serviu de escape para que buscasse a opinião alheia para a sua situação, algo super compreensível vindo de uma novata em toda essa questão de treinamento, exploraçao e jornada como um todo. Sendo assim, a garota aproximou-se timidamente do grupinho e tentou chamar a atenção, questionando-os de maneira direta. Como eles conversavam ao mesmo tempo, nem todos conseguiram escutá-la. Na verdade, apenas um pareceu dar ouvidos à jovem e chamou a atenção dos demais, erguendo a mão para que parassem de falar.

—  Opa, opa! E aí, novata? Parece mesmo um pouco perdida por Fortree. Hahaha! — Disse o mais atento logo que o silêncio reinou por ali. Ele era baixinho, apenas um pouco mais alto que a treinadora, possuindo traços bem típicos de um pré-adolescente, incluindo espinhas no rosto — Ih! Não somos exatamente treinadores, muito menos esse moleque, que mal sabe subir num Skarmory — Afirmou o segundo rapaz, mais alto e robusto, com cabelo cheio e um sorriso levemente malicioso. Ele proximou-se assim que notou Mísia, e abraçou seu amigo pelo ombro, apoiando-se em seu corpo mirrado para lhe fazer alguma gracinha e deixá-lo tão tímido quanto Artemísia.

As duas garotas também não demoraram a juntar-se na rodinha, mas primeiro recuperaram a bandeja de Poké Balls do Balcão da Enfermaria, tratando de entregar cada uma para seu respectivo dono — Não ligue para esses dois otários, eles adoram incomodar novatos... Mas sobre sua pergunta, acho que o que as pessoas na sua situação mais fazem é vasculhar o bosque dentro da cidade ou desafiar outras pessoas no Plaza, até mesmo apostando dinheiro. Há a possibilidade de pedir um treinamento no Ginásio local, o que é bom para ficar por dentro de como é enfrentar Voadores. Aliás, quem vem para Fortree ou vai direto ao Ginásio ou para a Escola de Voo na maioria das vezes... — Afirmou a garota de cabelos rosa neon e uma mecha laranja, também no mesmo estilo. Ela tinha maquiagem mais pesada e algumas tatuagens surgindo de seu pescoço.

— E claro, tem a Revoada das Nuvens... — Intrometeu-se a última integrante do grupo, uma menina tão baixinha quanto Mísia, de bochechas mais arredondada e coradas, além de um sorriso belíssimo em seu rosto, principalmente ao citar aquele termo tão inesperadamente — Gina, mas ela é novata, nem deve ter um Pokémon para voar... Acho que isso é meio que "informação demais" — Comentou a outra garota, rindo, enquanto o primeiro rapaz afirmava com o agitar da cabeça para cima e para baixo — Ela vai acabar perdendo tempo procurando por Swablu que nem podem existir... A previsão do tempo tava dizendo que o vento pode jogar eles para fora da Cidade, não tava? — Questionou o rapaz mais alto, recebendo um "dar de ombros" da tal Gina.

Em pouco tempo, os quatro acabaram comentando sobre o fato levantado por Gina, deixando Mísia um tanto deslocada, mas já com informações importantes em suas mãos. Restava saber o que ela faria com estes novos dados... Ela poderia também questionar mais sobre a tal Revoada das Nuvens, mas parecia ser algo complicado para novatos. Sabe-se lá por qual motivo... O que a jovem faria então?

A chegada das nuvens...

Apesar dos jovens terem ignorado completamente as habilidades de voo de Stormy, o que certamente deixaria magoado o ego inflado da Rainha Morcego, eles não demonstravam ser pessoas ruins. Mísia havia conseguido absorver muita informação de suas conversas paralelas e palavras desencontradas entre brincadeiras e risadas, mas foi uma das coisas em específico que certamente lhe chamou muito mais atenção, a tal Revoada das Nuvens. Gina, quem trouxe o assunto à tona, sorriu ao ver a curiosidade da garota e, pigarreando lentamente, preparou suas cordas vocais para explicar.

— Pois não... A Revoada das Nuvens, o que posso dizer? É um momento mágico do ano onde fofíssimos Swablu recém-nascidos deixam as redondezas de Aztlan, ao norte de Lilycove, sozinhos e voam pela primeira vez. Eles não tem forças suficientes para se manter no ar, então são arrastados por correntes quentes e acabam sendo levados para o Forina Valley, onde se desenvolvem até tornarem-se Altarias... De lá, acabavam cruzando entre si e voando, agora por conta própria, até a Floresta Secreta onde nasceram para a postura dos Ovos... Daí para frente, é a repetição da sua própria história de vida, num graaaaande ciclo da vida. Poético, não? — Contou a garota mais baixa, com as bochechas muito coradas de emoção. De fato, ela gostava dessa história e provavelmente sempre buscava uma brecha para citá-la por aí. Já seus amigos, riam no canto. Não devia ser a primeira vez que isso acontece...

— E os floquinhos de algodão viveram felizes para sempre... Isso aí — Afirmou o garoto mais alto, em tom jocoso, levando um cutucão do mais baixo e franzino. Entretanto, quem assumiu a palavra foi a garota de cabelo "chiclete" — Quando o tempo tá bom, sem ventos e tal, dá pra ver os Swablu sendo arrastados de pertinho, só precisa voar bem alto até a copa das árvores mais ao Sul, na região da Rodoviária. Elas ficam no caminho deles... Mas há pelo menos três anos tudo tem dado errado nos dias certos e Puff, nada deles... É sorte mesmo, sabe? Mas enfim... Temos que voltar ao treinamento de salto de Wingsuit lá do Ginásio. Até mais colega! — Finalizou a garota, despedindo-se, assim como os três amigos, que acenaram e também partiram.

Mísia e Stormy encontravam-se novamente sozinhas e precisavam decidir o que fazer. A tal Revoada de Nuvens parecia interessante, mas necessitaria que a jovem estivesse apta a voar, além de contar com a sorte de estar no lugar certo, na hora certa e tudo mais. De todo modo, a garota já tinha informação suficiente para decidir o que fazer da vida. O que faria então?

A chegada das nuvens...

Segunda-Feira, 15h37min - Cidade de Fortree

As palavras delicadas de Gina sobre o tal Evento quase místico chamado Revoada de Nuvens traziam praticamente a visão daquela fofíssima cena para a mente de Mísia. Aprender a voar e finalmente ganhar os céus ao lado de sua companheira Stormy era uma oportunidade única, cujo o vislumbre deste "Fenômeno Natural" seria apenas a cereja do bolo. Sendo assim, aos poucos podia-se dizer que a jovem treinadora começava a traçar verdadeiramente um plano para sua estadia em Fortree. Plano este que exigia uma visita a Escola de Voo. O problema mesmo é que precisava de dinheiro para as aulas e possíveis equipamentos, então essa seria sua prioridade...

Por sorte, Artemísia havia conseguido um raro Nugget em sua passagem pelo Doll Fanfest. Ela realmente não sabia o quão valioso era o objeto, mas certamente devia ter sido avisada sobre a possibilidade de vendê-lo. Sendo assim, tratou de ir até o balcão do desanimado vendedor e colocou a pepita sobre a madeira, despertando de uma vez por todas o depressivo rapaz. Este, por sua vez, reagiu como se tivesse tomado um balde de água gelada nas costas, pois trepidou seu corpo e arregalou os olhos, puxando um par de óculos do bolso para analisar mais de perto a tal pepita — Misericórdia... É real! É grandinha, não a maior de todas que já vi, mas... Wow! Eu, ofereço PK$ 5.000 por esta belezinha! — Comentou o homem, já passando a mão no objeto, rolando-o para perto de si.

Após apalpadas e minuciosas análises, a cor do dinheiro foi vista. O rapaz retirou bastante dinheiro do caixa do mercado, colocando-os organizadamente sobre o balcão e os empurrando na direção de Mísia. Se ela contasse, constataria que realmente se tratava do valor combinado, podendo-o guardar sem medo entre os seus pertences — Incrível! Obrigado e volte sempre que quiser fazer negócios interessantes como esse! — Afirmou o homem, desta vez renovado e com um sorriso tatuado em seu rosto, de canto a canto. Já para a treinadora e para sua Pokémon, restavam ganhar as ruas da cidade e decidirem seu caminho. Elas na verdade não tinham informações exatas da data daquela tal Revoada, então além de frequentar a Escola de Voo, talvez tivessem que ir atrás de novas informações. Isso, é claro, ficava completamente sob a vontade e a ação da própria Mísia. Sendo assim, o que ela faria em seguida?