WHIRL ISLANDS DUNGEON #1

Emoções só atrapalhavam julgamentos. Daisuke comprovava diversas vezes a teoria em menos de uma hora. Talvez fosse melhor fingir que me importava e continuar em silêncio, procurando as brechas para fugir e/ou destruir o que me impedisse de prosseguir.

Quando Milotic esteve em campo, algo pareceu alegrar os nativos. Eles cultuavam water-type? Não parecia ser o caso, já que usavam grass, então era uma questão em aberta.

— Pinsir, finalize Carnivine com outro X-Scissor até que ele caia.

Com a força que a inseto brilhante tinha, muito provavelmente derrotaria o alvo com apenas um movimento, restando outro para derrotar.

— Se Carnivine cair e ainda puder atacar, foque um Stone Edge no cogumelo.

Era errado esperar que Daisuke focasse no outro, já que Milotic estava enamorado e dificilmente atacaria com Carnivine em campo? O movimento de Pinsir seria capaz de acabar com as sementes sanguessuga e livrar o pokémon dele da paixonite, principalmente porque éramos os mais velozes em campo.

Pinsir tinha servido ao seu propósito. Derrubar Carnivine e enfraquecer Amoongus. Não esperava que ela resistisse mais que aquilo, afinal, desde o início do combate todos os movimentos ofensivos foram direcionados a ela. Retornava então a inseto e lançava Emboar no campo com o seguinte comando:

— Ao despertar use Burn Up.

Independente de Amoongus estar caído ou não, as chamas levantadas incendiariam a vila dos cocos e nos dariam uma chance de escapar. Duvidava que nos serviriam um banquete depois daquela derrota, então nos esconder nos planaltos próximos a cachoeira parecia um bom plano de emergência.

Não era nada pessoal. Só não estava afim de entrar num caldeirão hoje, então que eles queimassem ao invés de nós.

Assim que Emboar explodiu em chamas, perdendo momentaneamente o tipo Fire, pulava nas costas dele e mandava dar o fora dali em direção à cachoeira, mas não sem antes recolher aqueles doces como espólios de guerra e dar um toque no desmemoriado pra ele se ligar de fugir.

Quando chegamos num ponto do trajeto que já parecia distante o suficiente do povo coco e tranquilo o bastante para respirar, deixava na primeira sombra e largava o controle.


MATTE
"Cuidei de tudo com aqueles rockets e não encontrei mais atividade nessa ilha, mas parece que o Daisuke não ficou tão contente com os últimos acontecimentos."

THITO
"A gente sabe que ele não é dos mais ativos ou espertos, mas você com certeza tratou ele com tanta frieza quanto qualquer outra criatura. Não é assim que se trata melhores amigos."

MATTE
"É competindo e esfregando as vitórias na cara dele? Você parece entender muito disso."

MATTHEW
"Chega! Por favor..."

Matthew estava estranho como aquela noite na cidade dos prédios altos e luzes brilhantes. Rígido, distante e sem humor. Era quase como se tivessem roubado a alma do humano. Eu gostava de vencer. Era uma sensação boa, mas não àquela maneira. Matthew nunca machucaria ninguém daquela forma, mas questionar não parecia uma opção.

E depois de incendiar não só o adversário, mas a vila deles, fugimos como covardes para a floresta... Por fim ele deitava às margens de um rio e adormecia sem dizer nada, me deixando em pé ao lado dele.

Daisuke ainda estava por ali, mas ele parecia tão perdido quanto eu. Restava sentar e esperar até que ele acordasse.

MATTE
"Assim que terminar essa brincadeira, vamos voltar para Hoenn e terminar o que começamos. Eles já estão se instalando em Johto e não podemos mais nos dar o luxo de deixar o tempo passar."

Despertava com o rosto e parte do cabelo molhados. Ainda me sentia muito cansado e algumas partes do meu corpo ardiam e reclamavam de dor. Reparava ao redor e ao meu lado Mr. Pig estava com olhos assustados aguardando que eu dissesse algo. Daisuke não estava muito longe e não parecia muito mais contente. O que eu deveria dizer? Matte também me dava medo quando estava focado em um objetivo, mas ele nunca passaria por cima dos meus princípios, afinal, ele era uma parte de mim.

Antes de qualquer coisa lembrava que Temiscira precisava de cuidados. Matte poderia preferir ela, mas não significava que se importava. Ele realmente poderia ser bem cruel aos olhos de muitos e me envergonhava por deixar ele no controle porque atualmente parecia um descontrole quando na verdade ele só estava me ajudando...

Enquanto pensava no que diria, usava algumas poções na Pinsir (4 Potion) e deixava ela descansar na esfera.

Suspirava com pesar e não sabia ainda muito bem o que dizer ou fazer até que ouvia os sons da natureza me chamando. Água corrente e pokémons inocentes. Olhava para o Emboar e tocava em seu dorso com carinho, quase me desculpando com o toque. Tirava aquela roupa de mergulho pelado pelado nu com a mão no bolso e caminhava até a margem, permitindo que todo o meu corpo ficasse envolto nas límpidas águas daquela ilha.

Respirava fundo tentando controlar minha alma e mente.

Eu queria falar e me desculpar pelas grosserias que disse enquanto Matte, mas precisava explicar como e porquê, além do fato de não ter contado antes da crise... No entanto, as palavras não saíam. Pareciam mais do mesmo.

Reparei então nos nativos... Krabbys, Poliwags e... Horseas? Aquilo me alegrou.

— Sabe, por um tempo na infância meu único amigo era um Horsea. Ele vivia num lago perto de Goldenrod, provavelmente foi parar lá por conta de alguma enchente e não conseguiu voltar pro mar, então eu fazia companhia pra ele e contava todos os meus segredos e sonhos. Planejava até iniciar minha jornada com ele, mas um dia ele não estava mais lá. Eu acreditava que ele era meu único e melhor amigo da vida toda... Isso antes deu confiar que Feraligatr daria a vida por mim e por meus sonhos e de conhecer você. - Finalmente conseguia encarar Daisuke, seja lá onde ele estivesse. - Você é meu melhor amigo e eu nunca faria nada de propósito pra te afastar.

Se algo ainda magoava o coração dele, esperava que pudesse me perdoar e aceitar todas as minhas partes, mesmo as piores delas.

Reavivar a memória da infância me transportou para um lugar bom e seguro. Aquele Horsea durante muito tempo realmente foi meu melhor companheiro e meu coração se entristeceu quando ele tinha ido embora ou sido levado. Nunca soube.