6.5 - Encrenca Exótica! Resgate dos Pokémon perdidos!

A notícia se espalhou rapidamente, a ponto de chegar duas notificações distintas até mim. A grande reabertura do zoológico de Fuchsia frustrada por um trágico acidente, gerando uma situação no mínimo caótica na região. Agora Pokémon exóticos de regiões distantes estavam livres e perdidos, sendo este um prato cheio para desequilibrar completamente aqueles ambientes. A primeira notificação foi basicamente uma replicação do pedido oficial emitido pela Sienna Co. repassado a todos os Rangers em exercício, sejam eles Guardas Ambientais, Patrulheiros ou Nacionais. A notificação reiterou a urgência da situação e convocava todos os membros ociosos para se voluntariar e auxiliar em quaisquer que fossem as demandas.

A segunda notificação foi na mesma linha que a primeira, mas de uma fonte mais próxima. Uma notificação na minha PokéNav Plus chegou pouco antes de meu embarque para o vôo até a região de Tohjo, e havia um tempo até a sinalização de desligamento dos aparelhos depois da decolagem. Acessei meu aparelho e iniciei uma chamada de vídeo para o número indicado na notificação. Logo um homem de meia idade, cabelos levemente grisalhos, barba bem feita e o queixo quadrado como se fosse desenhado por uma régua atendeu. Prestei continência antes de qualquer coisa.

- Boa tarde comandante! - por mais que fosse por chamada de vídeo, era bom manter certos hábitos, principalmente com comandante Gordon, meu superior no Corpo de Resgate de Lavaridge.
- Descansar recruta. Como tem passado? - dentro da corporação eu não era só o recruta. Por ser filho de um dos membros, era um tipo de mascote e filho/irmão mais novo de todos, então era natural pra mim perceber o tom de carinho e atenção na voz até na hora de receber instruções ou broncas. Tudo é mais intenso, entende?
- Muito bem! Não sinto mais as dores na lateral do corpo, creio que esteja pronto para outra missão! - todos ficaram muito preocupados com o relato que fiz de minha primeira missão Ranger, então me sentia no dever de dar repasses sobre minha recuperação, mesmo se não fosse pedido.
- Isso é ótimo, mas trate de não correr riscos desnecessários. Você tem massa encefálica o suficiente para entender o risco que correu. - lembra do que disse sobre o tom de voz durante uma bronca? - Creio que tenha recebido a mensagem que lhe repassei, correto?
- Sim senhor! É por isso que entrei em contato.
- Ótimo. Como sabe, ocorreu um acidente com o carregamento que transportava os Pokémon exóticos para o zoológico. Além da chamada oficial da Sienna Co. é de consenso geral das corporações e organizações de resgate e preservação da vida que é primordial que a ajuda vá além da captura dos Pokémon. Nesse contexto, treinadores e profissionais do setor estão sendo instruídos para se apresentarem ao posto de comando e se oferecerem para contribuir nos esforços. Dentre nossa corporação, nenhum nome me pareceu mais apropriado para esse propósito que o seu, recruta Vitale. - aquelas palavras vindas do comandante eram inspiradoras. Saber que obtinha essa confiança de meu superior, e um de meus exemplos profissionais, é muito satisfatório.
- Farei o meu melhor, senhor! Pode contar comigo! - respondi, novamente prestando continência.
- Sei disso, filho. Bom trabalho, e volte para casa. Estamos com saudades, recruta. Gordon desligando. - o comandante finalizou a chamada com um sorriso. Isso era novidade, e me deixou ainda mais surpreso!

Algumas horas depois o vôo pousou na cidade de Fuchsia, e já havia anoitecido. O aeroporto estava recheado de pessoas de todos os tipos, treinadores, Rangers, socorristas, turistas, imprensa… parece que os olhos do mundo Pokémon haviam se voltado para aquele local. Apesar das atividades já estarem acontecendo, de certo modo não havia pressa para sair a noite, então procurei o Centro Pokémon para passar a noite.

Com os primeiros raios de sol despontando no horizonte, me levantei e tratei de tomar um café da manhã reforçado no Centro Pokémon, tanto eu quanto meus parceiros. Seria a primeira atividade em campo com Bahlok, meu jovem dragãozinho, e isso seria uma desafio a mais para nós dois, mas sei que tudo ficaria bem no final! Assim, com tudo pronto e preparado, segui para a rota 12 atrás do centro de comando das operações de resgate dali para oferecer meus serviços, além é claro de auxiliar na captura dos Pokémon exóticos.                

A luz do dia se fazia presente e ela me auxiliava a despertar, porém era nítido o tempo fechado, mas ainda sem saber se resultaria em chuva. As palavras do comandante Gordon ressoavam em minha mente, e assim como fiz durante os poucos dias de “molho”, repassei os acontecimentos da fatídica missão. E no fim das contas, o resultado era o mesmo. Não havia como prever os acontecimentos, e o sucesso da missão dependia do esforço que fiz, o mesmo que no desenrolar de fatos gerou as casualidades. Ao menos elas eram amenas, e cá pra nós: as palavras do comandantes eram mais paternais que profissionais. Meu pai me deu o esculacho dos esculachos, todos da corporação ficaram apavorados, mas no fim tive a impressão que eles compreenderam que aquilo era parte da missão.

Bom, insights a parte, tomei muito cuidado para não acordar os companheiros de quarto que conheci na noite anterior. Literalmente eu estava madrugado, se nenhum deles tivesse o mesmo plano de “fazer alvorada”, a última coisa que queria era ser incòmodo. Havia um sereno, uma leve friagem no clima, e coincidentemente meu único agasalho era o uniforme Ranger, logo ao menos esses acessórios teria de usar. Bom, talvez isso fosse um ponto adicional na hora de me apresentar ao posto de comando da operação. Então trajando o uniforme Ranger, desci as escadas da pousada do CP e fui atrás de um café da manhã reforçado, tanto para mim quanto para meus Pokémon, principalmente Bahlok. Como era o novato da equipe, ele e Kinney me acompanhariam fora das Pokébolas, tanto para o novato começar a entender a dinâmica do grupo quanto para Kinney trabalhar sua parte como general de campo, a figura de irmã mais velha e veterana. Assim que estivéssemos devidamente alimentados, seguiríamos para a Rota 12 para iniciar nossa expedição.                  

Depois de nos alimentar muito bem, retornei minha equipe para as respectivas esferas bicolores menos, como disse antes, Kinney e Bahlok. O dragãozinho parecia curioso com tudo e todos ao entorno, já que essa era uma das primeiras impressões do mundo exterior desde que saiu da Meteor Falls, já Kinney parecia dedicada em instruir o novato sobre cada detalhe do mundo. Assim que saímos avistei um grupo de Rangers na rua, aparentemente se preparando para as atividades. Antes que pudesse dizer ou fazer algo, fui avistado por uma mulher, a oficial em comando, que me ordenou que identificasse.

- Recruta Galvanis Vitale, da Guarda Nacional de Hoenn, pronto para o serviço, senhora! - prestei continência e respondi conforme o protocolo, e aguardei minhas instruções.

Eram alguns Rangers naquele entorno, e pelo visto muito serviço. Era de se esperar, um evento dessa magnitude é um prato cheio pra toda sorte de aproveitadores, bandidos, caçadores, traficantes… ou seja, muito serviço para as autoridades locais. Logo chegou a minha vez de receber ordens. - Sim senhora! - respondi ao comando, pegando as chaves do veículo em mãos. Logo depois minha parceira de patrulha aproximou-se. Ela tinha um visual bem descolado e um ar de quem destoava completamente dos parâmetros que o senso comum cobrava de uma Ranger. Isso em si já me fez ficar mais à vontade. - Recruta Vitale, dos nacionais de Hoenn, mas pode me chamar de Galvanis. Prazer em lhe conhecer, Susan. - obviamente também prestei continência, afinal era minha superiora. - Deixa comigo. - respondi ao questionamento sobre saber dirigir. Antes de sair em jornada meu pai me deu algumas lições de direção, e aquele tipo de veículo não era nada complexo de conduzir. Claro, uma ou outra adversidade na estrada iria demandar mais atenção, mas de resto não haveria problema. - Tem mais um desses ai? - questionei sobre os chicletes que ela mascava, apontando para uma das bolas que estourava, enquanto caminhávamos na direção do buggy. Bahlok e Kinney se ajeitaram na garupa e fui na direção do assento do motorista.                    

Susan era realmente alguém totalmente fora do protocolo. Isso poderia incomodar algumas pessoas, mas eu estava bem à vontade. A garota me lembrava um pouco Michelle, do Corpo de Resgate de Lavaridge. Durona, direta, destemida. E também descolada, pra combinar com a linha de adjetivos começando com a letra D.

Assim que ela me estendeu o par de óculos escuros e o pirulito, logo me veio à mente os clássicos filmes de “tiras”. Seríamos o crossover de Bonnie e Clyde com Bad Boys? Bem, só o tempo diria, mas eu torcia muito para no fim das contas não ser uma releitura de Dia de Treinamento, porque se ela fosse o Denzel Washington, definitivamente não queria ser o Ethan Hawke…

- Garota da cidade, então? - olhei pra ela meio de canto de olho, já entrando no clima de dupla de tiras descolados e apoiando o braço esquerdo na porta do buggy (ou o direito, se for mão inglesa) - Meio que sempre fui um “bicho do mato”, sabe? Gostava de acampar, fazer trilha em montanha, nadar em rios, daí a escolha pros nacionais veio fácil… - continuava a troca de ideias com minha parceira de patrulha enquanto ficava atento aos comandos sobre onde ir, onde virar, etc.

- Sério? Bem legal isso! - comentei com certo entusiasmo o comentário sobre uma sociedade só de garotas. Só elas mesmo sabem os desafios que uma mulher passa nos tempos atuais, os riscos de entrar em jornada sozinha, na vida da cidade… eu nem sei por onde começar a enumerar - Também faço parte de uma sociedade, a The Wolves. - mostrei a pulseira de Lycanroc no punho direito - Você iria gostar de conhecer umas garotas da minha sociedade, elas são bem duronas! E sobre Hoenn, É bem por ai mesmo, praia e gente bonita. Eu sou mas dos esportes de aventura, principalmente escalada e montanhismo. E vocês, o que costumam fazem por aqui? - continuei a conversa com legítimo interesse, além do mais não parecia que encontraríamos algo ainda pela cidade. Bem, talvez eu me enganasse lindamente quanto e isso, mas como disse: só o tempo dirá.                    

Papo vai, papo vem, mesmo que o âmbito seja totalmente casual e sem compromisso, sentia que já íamos nos enturmando e diminuindo o “gap” do primeiro momento, deixando as coisas cada vez mais leves. Eu já encontrei com uma ou duas pessoas como Susan por ai, mesmo dentro dos Rangers. Pessoas que ingressam na carreira atrás de emoção, de algo desafiador para deixar a vida mais movimentada. Eu não julgo, mesmo estranhando. Por mais que tenha crescido em uma família de resgatistas e agora ingressado nos Rangers, imagino que exista dois caminhos possíveis para pessoas com esse espírito quando encararam a realidade: ou elas desistem ou encontram seu caminho. Mesmo porque, pessoas com esse sentimento só escolhem os Rangers quando há ao menos um traço de identificação com a instituição. Ao menos era isso que acreditava.

- Hm, Kalos é? Se você gosta de praias deveria cogitar Alola! - comentei, olhando para a garota por cima dos óculos, uma clara tentativa de fazer uma piada - Nesse ponto Hoenn não é muito diferente de Kanto, acho que é por isso que prefiro a vida selvagem à civilizada. Nunca se sabe o que encontrá entre uma rota e outra… - falava aquilo com certa propriedade, mesmo com pouco tempo de estrada, já encontrei várias coisas, do inusitado ao bizarro!

A ronda não dava indícios de que seria movimentada, até que Susan chamou minha atenção e começou a vestir seu casaco. Pisquei algumas vezes pra garota, alternando entre olhar a estrada e olhar seu semblante de pausa dramática, antes dela enfim apontar para os limites da cidade, na direção de uma pequena aglomeração. à primeira vista, parecia uma batalha, mas pela reação de Susan, talvez fosse algo a mais. Encarei minha parceira, que naquele momento era muito semelhante a minha Weavile quando fica afoita por uma emoção, e desacelerei o buggy, permitindo que ela descesse do veículo como uma verdadeira badass. - Hora do dever! - saltei no buggy, obviamente não no mesmo nível que minha parceira, e chamei Kinney e Bahlok, seguindo Susan para abordar os garotos. Ela provavelmente conduziria o questionamento, então talvez fosse melhor que eu apenas observasse a reação dos interrogados, afinal o corpo fala muito mais que a boca.