00 - O início da jornada

Aspen havia praticado para aquela manhã desde muito pequeno.

Hoje, mesmo que em circunstâncias diferentes, estava se tornando uma realidade. Enquanto descia as escadas do Pequeno hopip, escutando os ecos de seus passos nos degraus, já conseguia visualizar a dupla que o aguardava no salão da livraria que chamava de lar: sua mãe e um dos assistentes do Professor Birch.

Era um rapaz alguns anos mais velho que Aspen. Na casa dos vinte e poucos anos, com cabelos escuros e um sorriso amigável enquanto conversava com Cordelia. Sua barba era curta e recém-ajustada. O jaleco branco tinha algumas marcas de canetas por todos os lados, e algumas áreas pequenas onde talvez algo o tivesse sutilmente queimado. Em suas mãos, carregava uma maleta prateada.

Assim que o rapaz passou das escadas, os olhares voltaram-se para ele. O cientista deu um passo à frente, estendendo a mão em um cumprimento formal. O jovem Marlow a aceitou e retribuiu o sorriso.

— Aspen, correto? Meu nome é Charles. Sou um dos assistentes de laboratório do professor. — Charles falava isso enquanto se organizava por trás do balcão, colocando a maleta em posição. — Hoje eu vou ter a honra de apresentá-lo ao seu primeiro pokémon.

O coração do garoto batia forte, mal cabendo em seu peito. A ansiedade se misturava à curiosidade de conhecer seu futuro companheiro, seja lá qual fosse entre as três opções dadas na região. Ele apenas assentiu.

— Muito obrigado, Charles. De verdade, é bastante gentil de sua parte.

Ele sentiu sua mãe se aproximando ao seu lado, abraçando-o e encarando-o nos olhos. Ela tinha um sorriso enorme no rosto, uma visão bastante rara. Naquele momento, esse dia parecia progredir rapidamente em escala de alegrias.

— Quando estiver pronto, querido. — Cordelia falou, de maneira suave e terna.

Com um pequeno aceno de cabeça, a matriarca dos Marlow deu a deixa para que Charles tirasse três pokébolas da maleta, liberando as criaturas contidas ali uma por uma. Aspen já as conhecia de tanto insistir em perguntar aos seus pais a respeito, e ler nos livros de casa. Ali, diante dele, estavam os três pokémons iniciais oficiais de Hoenn:

Treecko, do tipo grama.
Torchic, do tipo fogo.
Mudkip, do tipo água.

As engrenagens na mente de Aspen giravam sem parar, pensando nas possíveis combinações de atributos entre cada um deles. Agilidade, poder bruto, possíveis evoluções e implicações... eram muitas coisas. O garoto ajoelhou-se para olhar os pequenos mais de perto, cumprimentando o trio sem movimentos muito bruscos. A primeira impressão importava, certo?

"Quando você ver o pokémon certo, vai saber que é ele." A voz de seu pai veio em mente naquele momento. A lembrança de conversas de anos atrás. "Nesse caso, siga o seu instinto. Números dizem muito, mas quando se trata de algo assim... o coração fala mais alto."

O olhar de Aspen havia se cruzado com o de Mudkip nesse momento. A criatura aquática fitando-o de volta de forma curiosa, com olhos inteligentes e determinados. Quando isso aconteceu, o rapaz sentiu seu coração se aquecer um pouco mais. Era aquele. Com certeza.

— Mudkip — Ele falou, estendendo uma das mãos para o pokémon. — Você me daria a honra de sua companhia nessa jornada?

O pokémon parou por um instante e, instintivamente, se aproximou do rapaz. Charles com um sorriso no rosto, recolheu os demais e entregou sua pokéball. O assistente de laboratório disse que retornaria urgentemente para realizar algumas atividades adicionais em sua sede, mas desejou o melhor para Aspen, e torceu para que se cruzassem no futuro.

E então, eram apenas ele e sua mãe por alguns minutos. Seus últimos instantes em Oldale, por certo tempo. Cordelia o abraçou com força, lembrando-o de pegar sua mochila. Lá, teria tudo o que precisava para os próximos dias em campo. Ele agradeceu várias e várias vezes.

— Seu tio vai me ajudar a cuidar da livraria, não se preocupe. — Ela disse, tentando não chorar ali enquanto se despedia. — Talvez ele não seja tão organizado quanto você, mas vamos nos ajustar. — Cordelia deu de ombros e soltou uma risada, tentando deixar o momento mais leve.

— Eu vou manter contato sempre, ok? E se precisar de mim, é só me avisar. Eu farei o possível por você, mãe.

— Você é um rapaz incrível, meu filho. — Ela colocou a mão no ombro do adolescente. Encarou-o no fundo de seus olhos castanhos, iguais aos dela. — Seu pai estaria muito orgulhoso de ver você seguindo seus sonhos. Saiba disso.

Ele apenas assentiu, sem conseguir verbalizar nada. Alguns segundos se passaram, enquanto ele colocava a mochila nas costas.

Depois de mais alguns abraços e promessas de visita, Aspen parou diante da porta de casa, contemplando o local onde viveu durante todos esses anos. Agora, parecia muito menor do que ele sempre havia visto. Ele também parecia menor, vendo toda a região de Hoenn no seu entorno.

Mas ele não estava sozinho. A pokébola em seu bolso era um lembrete contínuo daquilo.

Aspen colocou os pés na estrada. Tinha muito trabalho pela frente.

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