Zoo: Perdidos na Selva!

Will estava pronto para entregar a sua mochila ao Sawk para poder carregar o garoto nas costas quando o seu Pokémon se ofereceu para levar o menino. Consciente de que o azulão queria ajudar, ele aceitou a oferta. Sendo assim, cabia a ele redobrar seus sentidos para sair dali. – Tenha cuidado com ele Zodd.

Foi só enquanto percorria a caverna na escuridão que as pontas soltas começaram a se ligar. O nome daquele garoto seria Emanuel? – Não se esforce, garoto. Descanse. Prometo que você vai voltar pra casa – O treinador se virou e conferiu mais uma vez o estado do rapaz. Ele ainda não conseguia acreditar como alguém era capaz de torturar uma criança. O que levava um ser humano a isso? Seria o simples prazer de provocar dor ou teria algo mais? A verdade é que Will não queria saber, no momento, só desejava socar a cara do homem até quebrar todos os seus dentes.

Ele se deixou orientar pelos seus Pokémon ao mesmo tempo que tentava iluminar o caminho com sua lanterna. Durante o restante do percurso, pediu que fizessem o máximo de silêncio possível até ouvir o grito e a armadilha, confirmando o “pingo no i” que faltava, suas suspeitas estavam certas, o homem era Don Pierro. – Zweilous, destrua a rocha com os seus Dragon Rage! – Tomado pela urgência, sabia que se tentassem procurar algum refúgio no interior da caverna provavelmente não conseguiriam escapar a tempo, ainda mais com o garoto naquele estado. Sua única chance era encarar o problema de frente. – Shiva, se os golpes dos Gêmeos não forem suficientes, você vai precisar agir... Deixe eles “enfraquecerem” a pedra o máximo que puder. Então destrua-a com o seu melhor golpe.

Tenso, ele engoliu seco, torcendo para o poder de seus Pokémon ser suficiente para resolver a situação. Felizmente, nenhum deles hesitou em frente ao perigo e com confiança destruíram a armadilha. Não é preciso dizer que Shiva deu um show à la Neji melhor ninja antes das loucuras do Kishimoto de deixar seu treinador orgulhoso.

- Bom trabalho, pessoal – Sem perder mais tempo, correu para fora acompanhado de seus Pokémon.

A luz do dia incomodou em um primeiro momento, mas logo se acostumou com a claridade e avançou para ajudar Tomás ao ver o ferimento. – Pensei que você ia pra cidade... – Ajoelhou ao lado do homem avaliando o que via: a ferida era preocupante, mas não parecia tão grave.

Tomás mal deu tempo para que Will respondesse alguma coisa. Não que o Karateka tenha tentado interrompe-lo, preferiu ouvir tudo, pois já estava consciente do que precisaria fazer. – Não se preocupe, Tomás. Eu vou pegá-lo! – O Allstar se levantou com o radar na mão e recolheu para suas esferas Zweilous e Sawk, após este colocar gentilmente o menino no chão perto do homem. – Proteja-o, Tomás. Eu volto logo.

Com Shiva ao seu lado ele começou a correr na direção que o radar indicava. Contanto que Pierro não fosse um atleta ou tivesse um meio de transporte, Will facilmente o pegaria, era só questão de tempo. Com um corpo saudável e acostumado a corridas matinais, o jovem era quase um atleta olímpico, sendo corrida a longa distância uma de suas áreas. – Fique atenta Shiva.

Bem lembrado narrador! Infelizmente na pressa, Will e sua consciência, esqueceram de obter uma informação privilegiada que poderia fazer a diferença mais à frente. Contudo, como na maioria das coisas que ele fazia na vida, o Karateka era mestre do improviso. Ele não conseguia lembrar se alguma vez já seguira um plano até o final.

Correr floresta a dentro nunca é fácil. Você precisa desviar de árvores e galhos, evitar pedras e buracos, por isso o treinador fazia o seu melhor para manter um ritmo que lhe garantisse segurança sem perder muita velocidade. As marcas e cortes em seu rosto e braços eram a prova de sua determinação, quando percebia que não dava tempo para desviar, erguia os braços para proteger a cabeça e se deixava chicotear pelos galhos que o açoitavam sem piedade. Shiva ainda tentava ajudá-lo, mas ele sabendo que ela provavelmente lutaria, recusava seu auxílio e agia como escudo para poupá-la.

Eis que seu esforço foi recompensado, logo avistou o seu alvo sendo transportado por um Pokémon pronto para atacar outra criaturinha da selva. Aquele cara não cansava de provocar dor? Rapidamente conferiu o radar para confirma sua suspeita e quando teve certeza, não hesitou. Devido à distância, sabia que Shiva não seria rápida o suficiente para ajudar o Pokémon selvagem. A única maneira de ajudar seria com um golpe de longa distância e o seu único Pokémon capaz disso era o Zweilous. Will pegou a Ultraball do bolso e a lançou, depois de apertar o botão central, como um jogador de beisebol lança uma bola rápida na direção de Don Pierro. Assim que Zweilous se manifestou no chão a uma boa distância a sua frente, ele gritou o seu comando. – Garotos, derrubem aquele homem do Pokémon. Ataquem com seu Dragon Rage. – Eles precisavam evitar que Pierro fizesse uma nova vítima, além de derrubá-lo para que o impedisse de fugir. Enquanto os Gêmeos atacavam, Will e Shiva não pararam de correr.

Will continuou na sua corrida direto para o torturador parando apenas para resgatar a Ultra Ball de seu dragão. Ao alcançar o homem que debilitado tentava se levantar desferiu um golpe direto na boca do estomago dele.

Com um único movimento de corpo seu gancho levantou Pierro do chão alguns centímetros, tomando o ar do criminoso. Quando ele caiu, o Karateka sentou em sua barriga prendendo seus braços com as pernas e começou a socar de cima para baixo. Seu alvo? O rosto do torturador.

Um, dois, três... dez socos – Você gosta de torturar Pokémon e crianças, fdp? – onze, doze... A cada soco sua raiva só fazia aumentar ao lembrar tudo o que viu e o que via agora. O Pokémon voador que acreditava ser parceiro dele nada mais era que um escravo. E ele continuou socando, extravasando, ignorando a dor na mão e o sangue voando, seus socos eram como marretas destruindo o chão e parecia que não acabaria nunca. Fora Shiva que pousou a mão em seu ombro acalmando-o como se dissesse “Você não é assim” e quando a fúria passou, ele temeu o seu trabalho. A cara do Pierro era uma massa desforme, mas felizmente, ele ainda respirava. Will saiu de cima do homem arfando, cansado de seu momento de loucura. Caiu sentado no chão apoiando as mãos para trás enquanto lutava para respirar, foi só então que percebeu que estava com os olhos cheios de lágrimas.

Enquanto isso o Pokémon que era alvo do lunático e parecia muito com um Grimer avançou contra o treinador cansado, mas Zweilous cruzou o seu caminho, interrompendo o ataque. Kron pareceu querer argumentar, mas Algol não deu tempo para isso. Começou atacando com Thunder Wave e preparou logo em seguida um Dragon Rage. Quando Will viu aquilo não tentou impedir, estava cansado e por mais que tenha gostado do que fez, sentia-se culpado. – Você está preso, maldito! – Ele virou o criminoso e prendeu suas mãos juntas atrás das costas com o auxílio de uma algema descartável de lacre feita de Nylon. Desde que começara a prender bandidos, ele sempre andava com algumas para o caso de necessidade. Aproveitou e também prendeu os pés do homem com outra algema.

Agora precisava ajudar aquele Pokémon. Sua Pokédex a identificou como Mandibuzz, uma ave que ele nunca tinha visto antes. Ajoelhado ao lado dela começou a trabalhar na corrente que a prendia, tentando soltá-la. Se necessário fosse, usaria roupas para não ser eletrocutado ou ainda, procuraria por chaves ou ferramentas que Don Pierro pudesse ter usado para prende-la. – Aguente firme amiguinha, vou já libertá-la – Ela seria um Pokémon selvagem? A pokédex dizia que era natural de Unova o que o deixava intrigado. Seria outra espécie que iria para o zoológico? Ou de fato pertencia ao torturador?

Algol não ficou nada satisfeito, ele achou que o seu ataque mal arranhara o oponente, queria provocar mais dano. Indignado com o resultado, desejava partir para cima com o seu ataque mais forte. Contudo, sempre metódico e ponderado, Kron recusou a ideia, convencendo o irmão a usar mais um Dragon Rage, preferindo jogar no seguro. Entretanto, a vontade do mais sanguinário também precisava valer e mesmo Kron não conseguiu conter o ímpeto do irmão. Convencido, ele deixou que Algol liderasse a carga do Outrage sedento por um nocaute.

Bem perto dali, ciente do combate, mas seguro de que seu Zweilous resolveria o confronto, Will se concentrava em outra tarefa. Como imaginara, levou um choque ao tentar mexer na corrente que prendia a Mandibuzz e apesar da dor, sentia que precisava daquilo, não só para se punir pelo que fez ao criminoso como também para tentar libertar a ave imediatamente. Sem sucesso, precisou vasculhar os bolsos do homem dominado, encontrando um dispositivo muito peculiar. – Deve ter algum meio de libertá-la – Girou o controle na mão procurando algum segredo, pois sabia que aquele botão vermelho não seria um bom sinal. – Do jeito que ele trata os Pokémon, não duvido que precise tirar as correntes quando algum morre... – Ele encontrou as frestas, mas preferiu abrir o controle para ver qual fio estava ligado ao botão vermelho, assim cortando o outro. Com uma faquinha que usa para cortar alimentos durante seus dias na selva, ele se colocou a trabalhar.

Foi então que o som da sirene o alcançou e por um momento ficou tenso. Se fosse os Rangers seria ótimo, finalmente o garoto que ele resgatou teria atendimentos médicos, assim como Tomás. Por outro lado, o que eles fariam ao verem o rosto de Don Pierro? Will só pensou em duas saídas: fugir e deixar o criminoso para ser encontrado amarrado ou inventar uma história convincente para não sofrer um processo. Mas o que fazer? A dúvida o deixou nervoso ao ponto de suar frio. Precisava ainda capturar o Grimer e libertar Mandibuzz, então respirou fundo e se concentrou nessas duas tarefas antes de tomar sua decisão.