[04] How does a moment last forever?

Mesmo sabendo o quão fortes eram aqueles psíquicos, o dano que o primeiro ataque fez me pegou desprevenido. Foram poucas as vezes em que Rozen se feriu tanto numa batalha, e nunca antes num só golpe. Nem o próprio Ivysaur estava esperando por isso - o susto foi tamanho que deu a ele um novo ardor para retaliar, e o Leaf Storm que lançou foi com certeza o seu mais forte até hoje. Infelizmente, não forte o bastante: Dimentio resistiu bem e logo revidou. Outra batalha que teve fim bem rápido...

- Obrigado, Rozen, você fez seu melhor. - Retornei o gramíneo para a sua esfera, e esperei até que Kathryne fizesse o mesmo com o Espeon. Dimentio também merecia um elogio, mas eu não queria dar esse gostinho a ele, então só falei algo depois de ele ter voltado à Pokébola. - Ainda bem que eu não cacei briga com esse Espeon antes, ele é melhor do que eu pensava hehe. Aquele Psychic foi incrível. Aliás, obrigado pelo elogio, mas nós ainda temos um looongo caminho até sermos uma equipe forte de verdade. E prefiro que meus colegas ganhem experiência com uma amiga do que em alguma situação perigosa, sabe?

Tentei manter um tom descontraído, porém meus pensamentos estavam outra vez centrados no caçador. Hoje, tivemos a sorte de ter Lariel e Kathryne para nos dar apoio… no entanto, não há garantia de que teremos a mesma sorte em alguma outra ocasião. Yoshiro costuma viajar sozinha, e nenhum dos meus colegas é um grande guerreiro. Agora que não posso protegê-la, no mínimo preciso garantir que os outros serão capazes de fazer isso…

Claro, ajudaria muito se ela própria mostrasse um pouco mais de entusiasmo em aprender a usar seus poderes, ao invés de só ficar se aproveitando do colo e dos afagos alheios. Quando voltarmos pra Hoenn, vou ter que convencer essa menina a entrar nos treinos também… por quantos doces será que eu consigo suborná-la? Melhor pensar nisso no caminho de volta - agora, tenho uma proposta mais interessante para me ocupar.

- Ter outra batalha parece ótimo para mim. Eu nunca lutei com outro aquático, isso vai ser divertido. - Acenei um breve cumprimento para Alya e depois saquei uma das Pokébolas de Yoshiro. Se estou lidando com psíquicos, um noturno é a melhor opção. Sei que Koda não gosta muito de mim e dificilmente iria me obedecer, mas ele nem precisa saber que sou eu. Com isso em mente, lancei a esfera para cima, esperando liberar o canídeo acinzentado que (infelizmente) conheço muito bem…

Nem sei porque me iludi achando que acertaria a Pokébola. Quando o raio rubro se desfez, quem estava na minha frente era Hephaestus, o Charmeleon. Em sua animação costumeira, ele acenou para os presentes e seu olhar logo recaiu sobre a Starmie, bem a tempo de ouvir os comandos de Kathryne. Achando que tinha sido o escolhido para aquela batalha, o lagarto inflou o peito e marchou até ficar perto da estrela-do-mar, todo orgulhoso por se achar digno de uma oponente formidável como aquela. Que pobre iludido… mas como eu o tiro daí sem ferir os sentimentos dele? Hephaestus sempre foi corajoso demais para o próprio bem dele, ou só meio sem noção mesmo…

- Eh… tem certeza de que quer fazer isso? Pode voltar pra Pokébola se quiser. - Ele assentiu, olhando-me como se aquele comentário tivesse sido algum tipo de ofensa. Ok então… Depois não vai poder dizer que eu não avisei. - Certo, então tente achar uma brecha e use o Rock Slide. Mas cuidado, o Psychic dela vai bater forte. Talvez isso aqui ajude em alguma coisa…

Outra vez troquei os itens, dando o Power Anklet para o Charmeleon segurar. Ele pareceu meio confuso, com uma cara de “o que é que eu vou fazer com um brinquedo tão pesado?”, porém aceitou sem protestar. Tomara que isso sirva pra alguma coisa além de deixá-lo lento...

A joia central da Starmie era mesmo chamativa… com o cair da noite, o brilho que ela adquiria ao convocar seu ataque se destacou o bastante para chamar a atenção de Hephaestus. Ao invés de tentar se defender, o lagarto deu alguns passos para a frente, tomado pela curiosidade. Um alvo fácil. Alya mal teve trabalho: com um breve e assustado grunhido de dor, o intrépido Charmeleon caiu, sem nem sequer ter tempo para contra-atacar.

- He... Hephaestus...? - Sem resposta. Com um pesado suspiro, retornei-o para a Pokébola, sentindo o olhar acusador de Yoshiro sobre mim. Nós dois sabíamos que Alya estava em um nível muito acima do nosso, porém aquilo foi rápido demais, tudo se encerrou em um piscar de olhos. Possivelmente, porque o Charmeleon já estava ofegante antes mesmo de a luta começar. Ele não tinha mais forças para aguentar um ataque tão forte. - Acho que dessa vez foi culpa minha… eu não deveria ter usado um Pokémon que já tinha se ferido antes. Mas vocês venceriam fácil, não importa quem eu escolhesse. Vocês duas formam uma ótima dupla.

De algum ponto sobre as plataformas, um treinador pareceu concordar comigo. Sobressaltei-me um pouco com a aparição dele, nem tinha notado que estava ali. Os sentidos desse corpo são mesmo horríveis, não dá pra confiar neles… todavia, por sorte não era nenhuma ameaça, ele só queria nos parabenizar e dar alguns presentes pelo entretenimento gratuito. Bem, quem sou eu pra recusar?

- Obrigado pelos doces, humano! - Acenei para ele enquanto se despedia, e logo depois voltei minha atenção para a especialista em psíquicos. - E obrigado pela luta, Kath. Quando eu ganhar meu corpo de volta, vou treinar pra ser tão forte quanto os seus Pokémons um dia! - Cumprimentei a menina com um aperto de mão e pelo canto do olho vi que minha treinadora conseguiu esboçar um sorriso para nós, olhando admirada para Kathryne. - Bem, está ficando meio tarde… o que acha de irmos agora? Lavender não deve estar muito longe.

De fato já estava ficando bem escuro, e não acho sensato ficarmos passeando por uma região desconhecida até tão tarde… digo, aquela loira provavelmente conseguiria nos proteger se algo ruim acontecesse, mas não parece certo abusar demais da boa vontade dela. Kathryne desde o início foi tão gentil conosco: acolheu muito bem minha treinadora e, depois, a mim também. Nessas poucas horas em que estivemos conversando, pude entender como a minha humana se apegou tão rápido a ela. Sei que nem humano sou, e se nos encontrarmos de novo a Kathryne provavelmente não vai mais me entender, mas ainda assim espero que sejamos… amigos.

- Kath, obrigado por tudo, viu? O dia foi totalmente louco, e com certeza não acabou como eu esperava, mas foi divertido ficar esse tempo com você. Gostei muito de ter te conhecido, e aposto que a minha Yo também. - E falando na anfíbia, dessa vez ela tinha preferido ficar no ombro da loira ao invés do meu. Eu sabia que ela estava meio tristinha por em breve precisar se despedir da nova amiga, então nem reclamei pela traição. Com alguma sorte, teríamos um percurso tranquilo até Lavender, sem mais incêndios falsos, caçadores psicóticos, lendários lunáticos ou cobras famintas… hoje foi um dia que eu com certeza não vou esquecer. Nem dos acontecimentos, nem das duas humanas que tornaram todo aquele caos mais reconfortante e até divertido para mim e para a Yoshiro. - Tomara que nos encontremos por aí de novo… mas da próxima vez, prometo que não vou perder tão fácil assim!

Quis abraçar a menina, porém de última hora me lembrei que minhas roupas ainda estavam sujas de areia. As dela tampouco estavam limpas, mas talvez ela se incomodasse. Então, apenas segurei sua mão e beijei-lhe a bochecha esquerda, ao mesmo tempo em que Yoshiro fazia o mesmo do lado oposto. Nós vimos quando Lariel fez isso, e parece ser uma demonstração de carinho comum entre humanos… mas eu não esperava que Yoshiro fosse ter a mesma ideia, tanto que trocamos um olhar surpreso e começamos a rir depois. - É, acho que por enquanto é um tchau, hehe. Se cuide, tá bom?