Building bridges

Henrique - como eu imaginava - era um jovem treinador que ainda nem havia completado seu time principal. Algo que eu havia imaginado logo que vi o brilho diferenciado que o garoto trazia em seus olhos, de certa forma isso era ótimo, pois o começo de minha jornada foi um dos melhores momentos da minha vida.

- Você está certo. Não que necessariamente precise ter 6 parceiros, mas é bom dar toda a atenção para os que tem. Eu e Alfredo estamos aprendendo isso aos poucos, certo rapaz?

O metálico dava um sorriso - eu acho, afinal não dá pra ver a boca dele - e acenava a cabeça positivamente. Era muito difícil dar conta de tantos Pokémon, mas eu esperava poder conseguir aos poucos interagir com todos meus parceiros e deixá-los mais fortes, isso me transformaria em um treinador melhor.

A fala de Henrique sobre as enchentes de Kyogre batia forte, principalmente porque eu também havia me perdido de meus pais e minha irmã depois daquilo. Óbvio que acabei me reencontrando com Emily, porém nunca mais havia encontrado meus velhos. Não sabia se estavam mortos, mas sentia sua falta mesmo assim.

A fala do garoto sobre ver eu e Alfredo juntos me deixava bem feliz, era incrível saber que graças a nossa união havia influenciado um jovem treinador a sonhar de novo, uma coisa que nem eu fazia mais. Sorri sinceramente ali.

- Sei que não é fácil passar por essas coisas. Perdi totalmente o contato com meus pais depois das inundações, porém ainda tenho esperanças de encontrá-los. Agora você não deve desistir de seus sonhos por isso, ser treinador traz muitas dificuldades, mas é algo incrível. Eu mesmo às vezes me considero impotente e acho que não sou tão bom quanto deveria, porém quando tudo vai mal são eles - disse apontado para o trio de Pokémon - que salvam a gente.

Já mais perto do penhasco acabei reparando que o vulto não era apenas um Pokémon, era uma dupla. O par de monstrinhos olhava para o horizonte, enquanto em seus pés cerca de duas dúzias de outros seres haviam sido derrotados. Provavelmente monstrinhos naturais do bioma que haviam visto os invasores e tentaram batalhar contra eles. Aqueles Pokémon estavam acabando com o equilíbrio natural do local.

- Alfredo fique atento.

Olhei mais uma vez para a dupla e reparei que eles eram totalmente desconhecidos para mim, então peguei a Pokédex e apontei para eles em busca de descobrir sua espécie.

A Pokédex acabava não registrando nada, também pudera com o número de Pokémon nocauteados que formavam pilhas em volta daquela dupla. O aparelho entretanto não foi necessário, pois conforme chegamos mais perto já era possível identificar os Pokémon. Um era Oddish, o pequeno Pokémon de grama era facilmente identificável pelo tufo de folhas que cresciam de sua cabeça. O outro lembrava muito um Stunfisk, porém de cor diferenciada e com algo afiada lembrando dentes ou garras.

Os dois monstrinhos encaravam a gente como se quisessem batalha e a princípio eu acabei estranhando eles terem tantos Pokémon nocauteados ao seu redor. Não era como se fossem muito poderosos correto? Bom, não eram e aí que morava o "mas". Ao me virar para Henrique notei que ele e Corphish pareciam sonolentos, quase dormiam em pé. Ellie também dormia, inclusive Alfredo balançava-a tentando em vão acordá-la. Minha mente clicou e eu havia entendido, aqueles dois tinham dado um jeito de colocar todo o resto daqueles Pokémon pra dormir, eles não estavam nocauteados.

Por algum motivo estranho eu e Alfredo acabamos não sendo afetados por o que quer que fosse. Assim ficava na nossa mão lutar contra aquela dupla, o que provavelmente seria fácil. Apesar disso tinha um porém que me preocupava: se nós acabássemos caindo no sono quem acharia a gente naquele fim de mundo?

- Cara depende da gente acordar todos eles. - Aron olhou para Phanpy desacordada e acenou positivamente com a cabeça, enquanto ainda dava peguei um Expert Belt na mochila e coloquei na cintura do Pokémon, torci para que ele não tropeçasse naquilo. - Alfredo use um duplo Earthquake neles.

A batalha acabava sendo mais difícil do que eu imaginava, apesar de Oddish ser derrotado facilmente aquele outro Pokémon era... resistente. Alfredo sofria ao lutar contra ele e dava para ver em seu rosto que estava passando por maus bocados. Entretanto eu ainda entendia que era possível derrotá-lo, ele precisava disso.

- Alfredo você consegue. Lembre-se que nós não somos parceiros porque você é forte, nós somos parceiros porque eu sei que você tem capacidade de ir muito além do que você é.

O metálico olhou para mim uma última vez e se levantou, sabia que ele podia fazer aquilo. Logo aquilo aconteceu e seu corpo começou a brilhar cada vez mais forte e mudar, Alfredo se transformava e parecia adquirir uma armadura mais resistente agora. Ele não era mais um Aron, agora ele era...

Pokédex escreveu:

Lairon se alimenta do ferro contido nas rochas. Faz seu ninho nas montanhas onde é encontrado o minério de ferro. Ele combate com outros de sua espécie para disputar território.

A Pokédex apitava indicando a nova identidade de Alfredo, se aquele monstrinho havia evoluído significava que estava mais poderoso e aquela era a hora da virada. Vendo que ele podia fazer aquilo me virei para ele e dei as ordens.

- Certo mostre sua nova força. Duplo Earthquake no Stunfisk.

A evolução de Alfredo não era esperada por mim, porém também não me surpreendia. Eu sabia que o metálico tinha potencial desde a primeira vez que eu o vira lutando no Valley of Steel e aquele momento só confirmara minha certeza. Agora éramos uma dupla completa.

O metálico utilizava um poderoso Earthquake que quase desacordava seu adversário, porém o Stunisk era forte. E aí o inesperado aconteceu, um meteoro caiu na cabeça do peixe metálico nocauteando-o. O que havia feito aquilo eu não sabia a princípio, mas logo se provou sendo um Pokémon estrela que flutuava acima de mim e me dava presentes. Um item roxo e alguns shards eram entregues por ele, que tão rápido quanto apareceu logo sumia.

Entretanto as coisas também começavam a acontecer e os Pokémon até então adormecidos começavam a acordar. Quando vi aquilo decidi me apressar, recolhi os itens e joguei uma Pokébola em Stunfisk e outro no Oddish na tentativa de capturá-los. Após isso recolhi Ellie, que começava a se acordar, para a Pokébola.

- Alfredo parabéns por isso, mas precisamos correr. Cuide do Corphish.

Fui até Henrique e dei uns tapinhas na sua cara na tentativa de acordá-lo.

- Henrique, hora de ir. Não vai querer ficar aqui parado.

Levantei o garoto, enquanto Lairon cuidava de Corphish e tratámos de levar os sonolentos dali para longe do local.