Uma profecia não era algo que Tielo desacreditasse. Embora fosse cético, ainda era bastante lúdico. Afinal, era um contador de histórias. Precisava acreditar nelas para passar lendas adiante. Ficou com aquilo na cabeça, mesmo após a moça citar um ato de heroísmo que, muito modesto, o bardo não aceitou por um título no momento. Ainda assim, era um sinal? Ela tinha razão, não dava pra contar a profecia inteira. As próprias profecias já eram bem vagas muitas vezes para não desencadear algum efeito negativo no tempo.
— Oh obrigado... Até mais. - O beijo na bochecha abria vários precedentes, mas não se firmou nisso. Era uma cigana também, então não cairia em tentações. apenas agradeceu, sem mais perguntas, e se despediu, indo em direção à mata.
Mas, o que fazer com aquela seda? Dustox olhava curiosa, afinal, já foi capaz de produzir aquilo em grande quantidade. Hoje era desinteressada nisso, mas o item talvez fosse mais além do que apenas de dar sorte. Já a presença vigiando-o, talvez fosse coisa da cabeça de todos? Sentiu um pouquinho, olhou a sua volta, mais por acreditar na moça do que sentir algo. Mas a desconfiança de uma presença havia começado. Fora isso, seguiu a mata.
Presenças e loucuras do narrador a parte, o caminho pela mata foi bem agradável. Normalmente haveria uma mata alta, galho com espinho e alguns buracos irregulares que cansariam muito mais a exploração de Tielo. Pegando o fio de seda ele sentiu algo diferente, foi seu nariz quem o avisou. O cheiro dessa seda era diferente da produzida por sua Dustox. Cheiros como bem sabemos trazem novas informações para nossos neurônios e por consequência, nos remetem a algo que podemos ou não conhecer previamente. Nesse caso era um cheiro de Unova que Tielo ainda não tinha o prazer de ter conhecido. O cheiro era agradável e se tivesse que rotular um sentimento para descreve-lo usaria afeto.
Um latido ritmado e fraco chamou a atenção do bardo após caminhar por 20 minutos mata a dentro. Ele experimentava novas sensações e estranhamente, parecia que seu corpo estava mais leve que de costume. Teria ele perdido peso nesse rápido intervalo de tempo?
Sua Dustox seguiu o balançar ritmo de asas e estava (Dentro do que era possível) atenta aos arredores. Afinal de contas ela queria evitar problemas e as vezes a melhor forma de fazer isso é prestar atenção em momentos importantes.
Não sabia do que era feito aquela seda, ou o que a compunha, mas o fato era que aquele item era embriagante. Tielo percebia seus sentidos um tanto quanto desconexos, e um pouco da percepção da realidade alterada. Teria sido dopado? Resolveu não mais aspirar aquele aroma. Porém, não foi questão suficiente para fazer descartar objeto. Guardou-o para outro momento.
— Ouviu isso Dustox? - Provavelmente ela não responderia, mas teria ouvido. Entretanto, ela talvez pudesse ajudar a direcioná-lo para o local certo. - Consegue me dizer da onde veio o latido?
Nosso bardo percebeu os perigos embriagantes da seda. Se havia um lugar perigoso para se perder não era a floresta e sim dento de suas próprias memórias. A seda foi guardada entre seus pertences, porém aquela sensação "dopante" ainda permanecia com ele.
Dustox tinha seu próprio mundo interno de onde era invocada para a realidade através das frases de Tielo. Ela levou uma das asas para a direção esquerda e voltou para a paz que era sua mente onde ninguém a incomodava. Bom trabalho Dustox!
Tielo finalmente chegou a origem do som. Aquele cãozinho faminto estava agora com uma das patas machucadas e saltou para trás segundos antes que uma esfera negra o atingisse. O pequeno lobo tinha muito força para combater, mas não era tolo. Diante de uma ameaça maior do que ele ele correu para a mata. Ofegante ele parou logo a frente de Tielo. Seu algoz que o impediu de completar o furto da bolsa estava ali e entre ele e a ameaça logo atrás a escolha era certa. Ele avançou para cima de nosso Herói.
O encontro com o canino acontecia de forma inesperada. A situação para Tielo descrevia-se em um Pokémon em cativeiro. Era essa a análise do canino ao ver que estava entre dois elementos que para ele, não eram lá tão agradáveis. Algo que estava na mata que parecia ameaçar sua segurança e integridade, e o mesmo para Tielo, o qual ele não sabia ainda índoles já que, havia visto a tentativa falha de furto da moça.
Porém o desespero do Pokémon teve que se traduzir em ação, e ele corria na direção do jovem bardo. Porém, qual era a intenção dele? Um avanço para ataque? Ou um pedido de socorro?
— Dustox, se prepare! - Protegeria-se caso fosse um ataque, no qual a mariposa teria ajudar em sua defesa. Ou protegeria o Pokémon assustado, caso precisasse.
Amigo ou Inimigo? Não havia como saber, mas uma nova sequência de esferas negras vinha devastando todo o espaço por de trás do canino faminto. Ele reconheceu Tielo, mas do que adiantaria um combate naquela situação? Iria ficar mais cansado do que o seu estado já exaurido e provavelmente o bardo não iria nem repara-lo passando correndo ao seu lado.
"Inimigo do meu inimigo pode ser meu aliado."
Esse foi o pensamento do canino que latiu para Tielo a fim de avisar da catástrofe visível atrás dele. O pequeno cachorrinho e escondeu atrás de Tielo e logo o causador do caos e confusão apareceu. Um lampent apareceu na cena iluminando o caminho com sua chama espectral. Dustox ficou muito incomodada. Insetos e chama não são uma boa combinação, mas ela não sentia nenhum medo ou preocupação quanto a sua aura espectral. Pouco tempo depois uma jovem tão bem afeiçoada quanto Violeta apareceu, só que trajando um macacão de fazendeira que apertava seu corpo vuluptuoso e uma camisa branca simples com alguns adereços na região dos ombros. Seu cabelo curto de cor rosada era o que mais chamava atenção.
- Parado ai ladrãozinho! Se não fosse por você nós não estaríamos presos aqui! Nos leve de volta para o mundo real!!!!
Era informação demais para assimilar. Entretanto, não precisava ser um gênio para destrinchar alguns momentos e remontar uma cena nova, com a ajuda da imaginação, era possível saber o que aconteceria. Aquele lobinho não tinha apenas tentado furtar Violeta. Ele tinha se metido em mais encrenca do que podia gerenciar. Talvez, ou melhor, com certeza estava em uma situação urgente para querer roubar itens. Talvez estivesse passando fome, sede, dor... E a julgar um pouco mais, porém dessa vez talvez erroneamente, não era do feitio do Pokémon roubar, já que havia sido pego duas vezes em tão pouco tempo. Agora, a frase que vinha da floresta não se encaixava em nenhuma possibilidade que Tielo pudesse pensa.
Ainda assim decidiu por proteger o animal das garras do fantasma, ou melhor, de suas chamas.
— Ei! Pare já com isso! Você vai incendiar toda a floresta! Quer morrer aqui? - Comentou em um tom de voz alto e repreensivo para a silhueta que aparecia. Não conseguia julgar as vestes dela porque não tinha nenhuma referência sobre aquilo. Talvez conseguisse respostas.
Com a voz humana questionando, tudo mudava de figura.
- Lamp pare.
O Pokémon lamparina interrompeu sua invocação concentrada de esferas do ébano. Em uma valsa curta e graciosa ele girou do alto até ficar ao lado de sua mestra.
- Muito bem, obedeceu direitinho.
A mulher questionou Tielo com um ar hostil e quem sabe até mesmo ofensivo.
- Você é o dono desse adorável cérebro que me trouxe para os confins dessa floresta maldita?
Um veio saltada sobre a testa da jovem mostrava que no mínimo, ela estava possessa com a situação.
-Se você for, peço que devolva o que ele pegou de mim e por favor...me mostre o caminho para sair desse lugar antes que eu fiquei velha e enrugada aqui dentro. Fazem 4 dias.4 dias sofridos...que estou atrás desse magricela aí. Quando ele finalmente apareceu, não podia deixar escapar a chance de voltar para casa.
Rockruff continuou atrás da perna de Tielo. O cachorro não tinha nada além de fome e feridas com ele, como poderia estar com algo dela?
- Eu sou Mandy e meu pai é um fazendeiro rico de fuschia, nos fazemos parte da equipe que administra o safari. Por favor bom moço, me dá esse cachorro que eu vou embora.
Louca? Estranha? Real? Será que Tielo estava sob algum efeito místico? Bom os fatos eram simples e a decisão cabia a ele. O que será que vai fazer?
Obviamente o cigano não confiava na mulher. Quem que confiaria de cara numa mulher que usa um Pokémon para sair atirando esferas negras para todo lado. Esferas essas com enorme poder destrutivo.
E o papo da garota continuava estranho. Talvez entrasse no caminho lúdico... Tielo adorava conversas lúdicas. Porém a situação dizia que a garota não era desse tipo de pessoa. Seu discurso então era conciso? Tinha que arrancar informações então.
— Sou Tielo. - Disse pegando o cachorro no colo que demonstrava bastante fraqueza e cansaço. - Não. Ele não é meu. E não é por isso que eu teria interesse em te dar ele. - Se ela atacava de maneira desenfreada, e parecia bastante estressada com o animal... Qual seria o pobre fim dele se fosse entregue para moça. - E sinceramente. Você foi roubada por um Pokémon amador na arte do furto, e ainda teve a capacidade de se perder por quatro dias nessa floresta. Você não deve ser o humano mais inteligente da Terra né... - Debochou. - E o que foi que ele roubou de tão valioso? Se estiver com ele, nós devolvemos.
O cachorrinho sentiu o calor do abraço de Tielo e ficou quieto. Algumas vezes, um carinho e um abraço pode ser o suficiente para fazer com que uma vida inteira de crimes e arrependimentos mude. Ainda não havíamos chegado a este ponto, mas a fagulha inicial estava acessa e se o combustível continuasse a ser despejado, um vínculo duradouro iria surgir com o famigerado melhor amigo do homem.
As palavras certeiras e realistas atingiram o ego da moça.
- Hora seu desaforado. O que ele roubou não é da sua conta! Ele Roubou um amuleto de família que passou desde o meu tataravó e eu quero de volta! Lamp se prepare.
A lamparina espectral cessou sua valsa e ficou a postos.
- Não sou dessas que ataca pelas costas. Vou lutar pelo que é meu e depois vou dar o fora daqui.
O clima do desafio era bem desagradável, assim como o comportamento da moça mimada acostumada a ter todas as suas vontades feitas. Naquela floresta, as leis dos homens não valiam muito e nada poderia protege-la dos infortúnios e azares da vida. Ela parecia não perceber isso então a força era o caminho por onde iria ter sua realização. Pena que nosso Bardo já tinha os traquejos da vida adulta e aquelas palavras infantis não afetariam seu juízo.