Nossa fábula começa na janela de um centro pokémon. Um vento de mudanças soprava naquela manhã abençoada enquanto o outono agraciava a todos com suas maravilhas. As folhas caiam e a paleta de cores do mundo alternava aos poucos passando das cores amarronzadas e amareladas para um vívido lençol branco que cobria as colinas. Arceus estava fazendo seu serviço com louvor naquela manhã.
Um outro lençol foi trocado enquanto seu dono estava sob o beiral da janela. Um raro momento em que a saúde de Nicolau o permitia apreciar a paisagem sem agredir seu corpo enfermo. Naquela manhã o sol tocava gentilmente a pele já enfraquecida pelos tratamentos do jovem e o som da ambulância pokémon entrou vigorosamente no estacionamento. A enfermeira Joy trouxe um pássaro vermelho de rabo grande que por mais ferido que estivesse, não largava de modo algum a sacola branca que levava consigo. Curioso como uma criança costuma ser, Nicolau sentou em sua cadeira de rodas e foi até uma das enfermeiras perguntar o que havia acontecido.
Em um relato curto ela explicava: o pokémon havia sido pego por um deslizamento de neve e socorrido pelos Rangers. O jovem se compadeceu pela história e foi até a sala de espera aguardar pelas notícias da médica. Poucos sabiam disso, mas o garoto teve vários sonhos abortados por causa de sua condição. Não pode se formar com os amigos e muito menos partir em sua jornada pokémon e quem dirá ter seu primeiro parceiro.
A mente dele voou nas mais diversas aventuras e histórias que poderia participar. Em algum ponto até chegou a babar quando pensou nas delícias que sua imaginação achava pelo caminho. Comer os famosos cornelia cones ou os doces de corações. Que sonho!
Nicolau voltou à realidade quando a Chansey veio em sua direção. Talvez ela fosse quem mais o acompanhou desde que estava sob tratamento, preocupada pela saúde do jovem, ela deu a volta na cadeira de rodas e o levou de volta ao quarto. Nicolau esperneou mas por fim preferiu preservar suas energias para uma nova tentativa mais tarde.
Ao lado de sua cama havia outra. Uma cama repleta de alegria e esperança próxima a porta de entrada. Diziam que seu leito ficava perto da janela para poder apreciar a tela do mundo externo, mas ele sabia a verdade. Sua cama representava um espaço onde ficaria confinado por muito tempo. Não haviam se passado 30 minutos desde que voltaria para o quarto e já queria voltar para o balcão e perguntar mais sobre aquele exótico pokémon.
A porta abriu lenta e vagarosa como sempre fizera antes de um novo paciente chegar. Nicolau já não se esforçava mais para fazer sua apresentação costumeira já que em poucos dias seria apenas mais um estranho na vida de seu colega. Feliz ironia do destino, os leitos para pokémons estavam todos ocupados e a ave era colocada na cama ao lado da dele.
Nicolau estava tão feliz que sentia seu corpo mais leve. Ele quis avançar no pokémon e fazer diversas perguntas só que o mesmo estava dormindo. Dormindo abraçado em uma sacola branca. O que será que havia de tão importante lá dentro ao ponto de ele não largar de maneira alguma?
Curioso o garotinho foi espiar pela frestinha da sacola de onde era retirado ou posto seu conteúdo. A asa vermelha selava a abertura com força, mas em breves momentos relaxava e eram nesses momentos que o garotinho se apoiava na cama. Chegando cada vez mais perto, ele finalmente conseguiu espiar o que tinha dentro do saco mágico. A lateral de uma caixa feita de madeira.
O pássaro resmungou em seu sono enquanto um pesadelo o atormentava. O movimento súbito fez Nicolau ir para trás indo de encontro ao corpo rosado e fofinho da Chansey que via a interação dos dois e apontava para a cama do jovem. Ele obedeceu, afinal seu objetivo estava conquistado. A noite chegou e com ela ela seus temores. O pássaro se tremia todo mesmo coberto pelos lençóis, algo o atormentava e não era a temperatura ambiente. Nicolau não resistiu ao ver aquilo. Indo contra todas as recomendações médicas (Crianças em casa que estão lendo este conto: não façam isso!), ele saiu de sua cama com seu lençol e foi se deitar com a ave. A tremedeira passava enquanto a mão do garoto fazia carinho nas penas que ficavam na testa do pokémon. Aquela mão trazia conforto e calma para o pássaro e Nicolau não parou seu movimento até que o cansaço bateu mais forte e ele apagou.
Ao despertar ele percebeu que estava novamente em sua cama, olhou para a entrada e viu um leito vazio. Um breve despertar com uma notícia fugaz, estava sozinho novamente. Teria sido tudo um sonho? Um calor emanava ao seu lado. Ao olhar para a janela uma confirmação alegre: Delibird o abraçava e ficou ao seu lado até que acordasse. Já não estava mais sozinho na cama da janela. Seu estômago borbulhava enquanto seu novo amigo o saudava levantando sua asinha para cima. Um abraço choroso foi inevitável. Ele estava acordado e aquilo era real: um amigo com quem poderia passar mais tempo do que breves horas estava ali.
Aquela tarde foi divertida. Jogaram cartas, fizeram desenho e até brincaram de faz de conta. Sem saber, a Chansey observou a cena de longe e reportava com sorrisos para a enfermeira Joy. A dupla em poucos dias era assunto no pokécenter e o quadro de Nicolau parecia melhorar a cada dia. Com o passar dos dias, Nicolau comeu com mais vontade, pegou mais sol e seus exames estavam cada vez melhores, a enfermeira Joy até percebeu que uma pequena pancinha começava a surgir na barriga do garoto. Vermelho se tornou sua nova cor favorita. Vermelho e branco.Até que um dia…
Em uma de suas brincadeiras na área para crianças do pokécenter, Delibird perdeu o equilíbrio enquanto subia no playground. Antes de cair, Nicolau saltou para salvar seu amiguinho. Deli estava salvo, porém sua sacola havia acertado com tudo no chão fazendo um estalo alto de madeira quebrando. O pássaro olhou assustado para a sacola e começou a tirar diversos objetos aleatórios até chegar na caixa de madeira. Sua tampa estava destroçada e a fechadura quebrada. Ele chorou alto e sem parar e não havia nada que Nicolau fizesse que funcionasse. A enfermeira Sábia como sempre, pegou seu telefone e ligou para um carpinteiro para ver o que poderia ser feito pela caixinha do pássaro.
Pela primeira vez Nico viu o que havia dentro dela. Uma foto com uma garotinha, uma pokébola comum e uma carta escrita com letras infantis. Ele tentou acalmar Deli o máximo que podia enquanto juntava as peças do quebra-cabeças. Seu amigo já tinha uma treinadora e teria que partir um dia. A enfermeira trouxe um pirulito para cada e levou sua mão para a boca quando viu a foto. Agachou até a altura dos olhos dos dois e os abraçou.
A garota na foto era uma paciente de outrora que estava em uma condição terminal e havia sido enviada para casa para aproveitar seus últimos dias com a família e seu pai era o carpinteiro que estava vindo até o pokecentro. Nico sentiu muitas coisas ao mesmo tempo. Alívio e pesar. Medo e amor. Afeto e surpresa. Ele abraçou Deli e ele acalmou o choro por algum tempo. Uma caixa de ferramentas caiu contra o chão já branco de neve. O homem estava incrédulo ao ver o pokémon. Ele correu até Nico e Deli e abraçou a ambos. Todos os 3 choraram por algum tempo e a enfermeira trouxe chocolate quente e pediu para que entrassem para se protegerem do frio.
O senhor Batista estava com o coração na mão. Dias atrás ele e sua família haviam procurado Deli sem parar. Pelo relato do senhor sua filha já não estava mais entre eles e na noite que Deli sumiu ele foi buscar uma cura para sua falecida dona. Ele estava indo para centro pokémon e havia sido devorado pela avalanche e desde então, sumido. As revelações não paravam e o pássaro se mostrou muito apegado a Batista. Nico sentiu que talvez seu amigo tivesse que partir de volta ao lar. A Chansey que sempre cuidou da dupla fazia cafuné na dupla pássaro e garoto. Um silêncio fúnebre tomava conta da cena até que Batista pegou a carta para ler. Delibird tirou ela das mãos do homem e entregou para Nicolau. Um pequeno gesto só que de muito significado para o jovem, ele quem deveria ler.
Segue a carta:
Querida enfermeira Joy.
É estranho escrever uma carta para uma pessoa que estava ao meu lado até pouco tempo.
Eu me assustava com as pessoas ao meu lado que começavam a chorar.
Tive uma cirurgia quando era criança, então eu fazia tratamentos com regularidade.
Depois que eu desmaiei na sétima série, foram internações uma atrás da outra.
O tempo que eu ficava no hospital, passou a ser mais longo. Mal pude ir para minha jornada e eu havia entendido que eu não estava bem de saúde.
Certa noite, quando eu vi minha mãe e meu pai chorando numa sala de espera do hospital eu percebi que não tinha muito tempo...
E foi nessa época...
Que eu...encontrei o Delinho!
Fizemos tudo que eu queria, pra não levar meus arrependimentos para o Arceus.
Usei aquelas lentes de contato que tinha tanto medo, comi um bolo inteiro com uma Snorlax e não fiz questão de me importar com meu peso.
E então...
Eu disse uma mentira.
"Vai ficar tudo bem Delinho. Eu vou melhor um dia,"
Foi essa mentira que eu disse.
E essa mentira,
trouxe até a minha frente...Esperança.
Um pokémon tão amável e querido que dormia comigo todas as noites mesmo quando eu estava mal e não havia o que ser feito. Um amigo gentil.
Não acha que a neve parece com as pétalas das flores de cerejeira ?
Isso não parece ter sentido, não é ?
É estranho que as cenas que são inesquecíveis sejam coisas tão simples, não acha ?
Será que consegui morar no coração de alguém ?
Será que consegui morar no seu coração Delinho?
Acha que vai se lembrar de mim, pelo menos um pouco ?
Não se esqueça de mim, está bem ?
É uma promessa, hein ?
Eu fico feliz que tenha sido você.
Eu te amo e obrigado por ter estado comigo nas nossas aventuras.
Maria: OBS:Coloquei junto a carta, o meu maior tesouro. Cuide bem do Delinho, por favor.
Todos choraram depois da leitura da carta. Maria foi cedo demais e foi uma estrela que caiu na terra. A jovem tinha um pedido no final e o senhor Batista era quem dizia as palavras que sacramentam o último desejo de sua filha. Era Nicolau quem deveria cuidar de Delinho daquele dia em diante.
Batista mostrou a eles como consertar a caixa e uma ideia surgiu na mente do jovem. Ele e Delinho iriam entregar cartas e encomendas para todos aqueles que precisassem deles. A enfermeira amou a ideia e fez um centro de coletas no pokécentro onde todos poderiam solicitar os serviços da dupla. Nenhuma carta ficaria sem ser entregue e eles iriam começar seus serviços no dia 24 de dezembro, a data favorita de Maria: seu aniversário.
Batista deixou sua carpintaria à disposição e juntos colocaram todas as encomendas em caixinhas como as que Delinho tinha. Como foi Batista quem entalhou o primeiro modelo, não foi difícil adaptar a produção para caixas maiores. As pessoas da região começaram a ouvir a história de Maria e vieram contribuir com roupas e comidas para as pessoas do orfanato, escreveram cartas para aqueles que amavam e convidaram vizinhos para comemorar a data que outrora fora o aniversário da jovem.
No dia combinado, a comemoração foi espetacular. Nevou e todos receberam suas cartas de amor, encheram suas barrigas com boa comida e seus corações com o amor uns pelos outros. Nicolau e Delinho não poderiam estar mais contentes. Sua ceia foi feita na casa de Batista e sua esposa e quando o dia virou uma estrela brilhou intensamente no céu abençoando a todos. Estrela essa que foi batizada como Maria a estrela Guia.
Engraçado não acham?Como pode um fim trazer um novo começo tão esperançoso? Dizem que as pessoas só morrem quando são esquecidas e Maria seria lembrada em cada caixinha de madeira que seria feita dali em diante. Essa não é uma história só sobre o dia de natal, mas sobre as pessoas que estão por trás da magia. Não é apenas Nicolau ou os presentes que importaram no final, mas sim todos os envolvidos para que isso acontecesse. Dê um abraço em quem você ama e perdoe velhas ofensas, natal é o espírito de perdoar e lembrem sempre da estrela guia que ilumina a todos nós. FELIZ NATAL PARA TODOS!
Um outro lençol foi trocado enquanto seu dono estava sob o beiral da janela. Um raro momento em que a saúde de Nicolau o permitia apreciar a paisagem sem agredir seu corpo enfermo. Naquela manhã o sol tocava gentilmente a pele já enfraquecida pelos tratamentos do jovem e o som da ambulância pokémon entrou vigorosamente no estacionamento. A enfermeira Joy trouxe um pássaro vermelho de rabo grande que por mais ferido que estivesse, não largava de modo algum a sacola branca que levava consigo. Curioso como uma criança costuma ser, Nicolau sentou em sua cadeira de rodas e foi até uma das enfermeiras perguntar o que havia acontecido.
Em um relato curto ela explicava: o pokémon havia sido pego por um deslizamento de neve e socorrido pelos Rangers. O jovem se compadeceu pela história e foi até a sala de espera aguardar pelas notícias da médica. Poucos sabiam disso, mas o garoto teve vários sonhos abortados por causa de sua condição. Não pode se formar com os amigos e muito menos partir em sua jornada pokémon e quem dirá ter seu primeiro parceiro.
A mente dele voou nas mais diversas aventuras e histórias que poderia participar. Em algum ponto até chegou a babar quando pensou nas delícias que sua imaginação achava pelo caminho. Comer os famosos cornelia cones ou os doces de corações. Que sonho!
Nicolau voltou à realidade quando a Chansey veio em sua direção. Talvez ela fosse quem mais o acompanhou desde que estava sob tratamento, preocupada pela saúde do jovem, ela deu a volta na cadeira de rodas e o levou de volta ao quarto. Nicolau esperneou mas por fim preferiu preservar suas energias para uma nova tentativa mais tarde.
Ao lado de sua cama havia outra. Uma cama repleta de alegria e esperança próxima a porta de entrada. Diziam que seu leito ficava perto da janela para poder apreciar a tela do mundo externo, mas ele sabia a verdade. Sua cama representava um espaço onde ficaria confinado por muito tempo. Não haviam se passado 30 minutos desde que voltaria para o quarto e já queria voltar para o balcão e perguntar mais sobre aquele exótico pokémon.
A porta abriu lenta e vagarosa como sempre fizera antes de um novo paciente chegar. Nicolau já não se esforçava mais para fazer sua apresentação costumeira já que em poucos dias seria apenas mais um estranho na vida de seu colega. Feliz ironia do destino, os leitos para pokémons estavam todos ocupados e a ave era colocada na cama ao lado da dele.
Nicolau estava tão feliz que sentia seu corpo mais leve. Ele quis avançar no pokémon e fazer diversas perguntas só que o mesmo estava dormindo. Dormindo abraçado em uma sacola branca. O que será que havia de tão importante lá dentro ao ponto de ele não largar de maneira alguma?
Curioso o garotinho foi espiar pela frestinha da sacola de onde era retirado ou posto seu conteúdo. A asa vermelha selava a abertura com força, mas em breves momentos relaxava e eram nesses momentos que o garotinho se apoiava na cama. Chegando cada vez mais perto, ele finalmente conseguiu espiar o que tinha dentro do saco mágico. A lateral de uma caixa feita de madeira.
O pássaro resmungou em seu sono enquanto um pesadelo o atormentava. O movimento súbito fez Nicolau ir para trás indo de encontro ao corpo rosado e fofinho da Chansey que via a interação dos dois e apontava para a cama do jovem. Ele obedeceu, afinal seu objetivo estava conquistado. A noite chegou e com ela ela seus temores. O pássaro se tremia todo mesmo coberto pelos lençóis, algo o atormentava e não era a temperatura ambiente. Nicolau não resistiu ao ver aquilo. Indo contra todas as recomendações médicas (Crianças em casa que estão lendo este conto: não façam isso!), ele saiu de sua cama com seu lençol e foi se deitar com a ave. A tremedeira passava enquanto a mão do garoto fazia carinho nas penas que ficavam na testa do pokémon. Aquela mão trazia conforto e calma para o pássaro e Nicolau não parou seu movimento até que o cansaço bateu mais forte e ele apagou.
Ao despertar ele percebeu que estava novamente em sua cama, olhou para a entrada e viu um leito vazio. Um breve despertar com uma notícia fugaz, estava sozinho novamente. Teria sido tudo um sonho? Um calor emanava ao seu lado. Ao olhar para a janela uma confirmação alegre: Delibird o abraçava e ficou ao seu lado até que acordasse. Já não estava mais sozinho na cama da janela. Seu estômago borbulhava enquanto seu novo amigo o saudava levantando sua asinha para cima. Um abraço choroso foi inevitável. Ele estava acordado e aquilo era real: um amigo com quem poderia passar mais tempo do que breves horas estava ali.
Aquela tarde foi divertida. Jogaram cartas, fizeram desenho e até brincaram de faz de conta. Sem saber, a Chansey observou a cena de longe e reportava com sorrisos para a enfermeira Joy. A dupla em poucos dias era assunto no pokécenter e o quadro de Nicolau parecia melhorar a cada dia. Com o passar dos dias, Nicolau comeu com mais vontade, pegou mais sol e seus exames estavam cada vez melhores, a enfermeira Joy até percebeu que uma pequena pancinha começava a surgir na barriga do garoto. Vermelho se tornou sua nova cor favorita. Vermelho e branco.Até que um dia…
Em uma de suas brincadeiras na área para crianças do pokécenter, Delibird perdeu o equilíbrio enquanto subia no playground. Antes de cair, Nicolau saltou para salvar seu amiguinho. Deli estava salvo, porém sua sacola havia acertado com tudo no chão fazendo um estalo alto de madeira quebrando. O pássaro olhou assustado para a sacola e começou a tirar diversos objetos aleatórios até chegar na caixa de madeira. Sua tampa estava destroçada e a fechadura quebrada. Ele chorou alto e sem parar e não havia nada que Nicolau fizesse que funcionasse. A enfermeira Sábia como sempre, pegou seu telefone e ligou para um carpinteiro para ver o que poderia ser feito pela caixinha do pássaro.
Pela primeira vez Nico viu o que havia dentro dela. Uma foto com uma garotinha, uma pokébola comum e uma carta escrita com letras infantis. Ele tentou acalmar Deli o máximo que podia enquanto juntava as peças do quebra-cabeças. Seu amigo já tinha uma treinadora e teria que partir um dia. A enfermeira trouxe um pirulito para cada e levou sua mão para a boca quando viu a foto. Agachou até a altura dos olhos dos dois e os abraçou.
A garota na foto era uma paciente de outrora que estava em uma condição terminal e havia sido enviada para casa para aproveitar seus últimos dias com a família e seu pai era o carpinteiro que estava vindo até o pokecentro. Nico sentiu muitas coisas ao mesmo tempo. Alívio e pesar. Medo e amor. Afeto e surpresa. Ele abraçou Deli e ele acalmou o choro por algum tempo. Uma caixa de ferramentas caiu contra o chão já branco de neve. O homem estava incrédulo ao ver o pokémon. Ele correu até Nico e Deli e abraçou a ambos. Todos os 3 choraram por algum tempo e a enfermeira trouxe chocolate quente e pediu para que entrassem para se protegerem do frio.
O senhor Batista estava com o coração na mão. Dias atrás ele e sua família haviam procurado Deli sem parar. Pelo relato do senhor sua filha já não estava mais entre eles e na noite que Deli sumiu ele foi buscar uma cura para sua falecida dona. Ele estava indo para centro pokémon e havia sido devorado pela avalanche e desde então, sumido. As revelações não paravam e o pássaro se mostrou muito apegado a Batista. Nico sentiu que talvez seu amigo tivesse que partir de volta ao lar. A Chansey que sempre cuidou da dupla fazia cafuné na dupla pássaro e garoto. Um silêncio fúnebre tomava conta da cena até que Batista pegou a carta para ler. Delibird tirou ela das mãos do homem e entregou para Nicolau. Um pequeno gesto só que de muito significado para o jovem, ele quem deveria ler.
Segue a carta:
Querida enfermeira Joy.
É estranho escrever uma carta para uma pessoa que estava ao meu lado até pouco tempo.
Eu me assustava com as pessoas ao meu lado que começavam a chorar.
Tive uma cirurgia quando era criança, então eu fazia tratamentos com regularidade.
Depois que eu desmaiei na sétima série, foram internações uma atrás da outra.
O tempo que eu ficava no hospital, passou a ser mais longo. Mal pude ir para minha jornada e eu havia entendido que eu não estava bem de saúde.
Certa noite, quando eu vi minha mãe e meu pai chorando numa sala de espera do hospital eu percebi que não tinha muito tempo...
E foi nessa época...
Que eu...encontrei o Delinho!
Fizemos tudo que eu queria, pra não levar meus arrependimentos para o Arceus.
Usei aquelas lentes de contato que tinha tanto medo, comi um bolo inteiro com uma Snorlax e não fiz questão de me importar com meu peso.
E então...
Eu disse uma mentira.
"Vai ficar tudo bem Delinho. Eu vou melhor um dia,"
Foi essa mentira que eu disse.
E essa mentira,
trouxe até a minha frente...Esperança.
Um pokémon tão amável e querido que dormia comigo todas as noites mesmo quando eu estava mal e não havia o que ser feito. Um amigo gentil.
Não acha que a neve parece com as pétalas das flores de cerejeira ?
Isso não parece ter sentido, não é ?
É estranho que as cenas que são inesquecíveis sejam coisas tão simples, não acha ?
Será que consegui morar no coração de alguém ?
Será que consegui morar no seu coração Delinho?
Acha que vai se lembrar de mim, pelo menos um pouco ?
Não se esqueça de mim, está bem ?
É uma promessa, hein ?
Eu fico feliz que tenha sido você.
Eu te amo e obrigado por ter estado comigo nas nossas aventuras.
Maria: OBS:Coloquei junto a carta, o meu maior tesouro. Cuide bem do Delinho, por favor.
Todos choraram depois da leitura da carta. Maria foi cedo demais e foi uma estrela que caiu na terra. A jovem tinha um pedido no final e o senhor Batista era quem dizia as palavras que sacramentam o último desejo de sua filha. Era Nicolau quem deveria cuidar de Delinho daquele dia em diante.
Batista mostrou a eles como consertar a caixa e uma ideia surgiu na mente do jovem. Ele e Delinho iriam entregar cartas e encomendas para todos aqueles que precisassem deles. A enfermeira amou a ideia e fez um centro de coletas no pokécentro onde todos poderiam solicitar os serviços da dupla. Nenhuma carta ficaria sem ser entregue e eles iriam começar seus serviços no dia 24 de dezembro, a data favorita de Maria: seu aniversário.
Batista deixou sua carpintaria à disposição e juntos colocaram todas as encomendas em caixinhas como as que Delinho tinha. Como foi Batista quem entalhou o primeiro modelo, não foi difícil adaptar a produção para caixas maiores. As pessoas da região começaram a ouvir a história de Maria e vieram contribuir com roupas e comidas para as pessoas do orfanato, escreveram cartas para aqueles que amavam e convidaram vizinhos para comemorar a data que outrora fora o aniversário da jovem.
No dia combinado, a comemoração foi espetacular. Nevou e todos receberam suas cartas de amor, encheram suas barrigas com boa comida e seus corações com o amor uns pelos outros. Nicolau e Delinho não poderiam estar mais contentes. Sua ceia foi feita na casa de Batista e sua esposa e quando o dia virou uma estrela brilhou intensamente no céu abençoando a todos. Estrela essa que foi batizada como Maria a estrela Guia.
Engraçado não acham?Como pode um fim trazer um novo começo tão esperançoso? Dizem que as pessoas só morrem quando são esquecidas e Maria seria lembrada em cada caixinha de madeira que seria feita dali em diante. Essa não é uma história só sobre o dia de natal, mas sobre as pessoas que estão por trás da magia. Não é apenas Nicolau ou os presentes que importaram no final, mas sim todos os envolvidos para que isso acontecesse. Dê um abraço em quem você ama e perdoe velhas ofensas, natal é o espírito de perdoar e lembrem sempre da estrela guia que ilumina a todos nós. FELIZ NATAL PARA TODOS!