So Sweet Then I Get a Bit Angry

Sootopolis Streets

Era bom tê-la de volta. Ren não sabia o quanto havia sentido falta de Nise até que ela estivesse ali, bem ao seu lado mais uma vez. O rapaz riu da resposta divertida da ruiva, antes de parar para abraçá-la mais uma vez também. — Tempo é? Eu que o diga, estive tentando entrar em contato há eras, mas sem seu contato pessoal, fica difícil! — reclamou ele, rindo mais um pouco.

Ele observou a amiga abraçar suas duas monstrinhas com um sentimentalismo forte. O coordenador sentira falta daquilo. Podia ser um pouco pretencioso de sua parte — relaxar assim em serviço, mas ele não conseguia evitar. — Como vão Juanita e Champ? — perguntou, referindo-se aos pokémon da moça.

Ren resolveu manter o clima leve da conversa por mais algum tempo. Não era como se ele tivesse notado que estavam tirando fotos deles, de qualquer forma. Além disso, ele tinha o direito de colocar o papo em dia, certo? Ele riu um pouco mais com os comentários da ruiva. — Ah, o que é isso, Nise. Você sabe muito bem que foram apenas ideias. E elas calharam de ser apreciadas pelos juízes.

— Além disso... Eu não teria feito nada disso não fosse você, na Rota Centro e Quatro — comentou por fim, em um tom claro de agradecimento. Se o especialista em feéricos havia chegado onde estava, isso certamente devia-se à influência da PokéTuber. Ren nunca se esqueceria do vídeo que gravaram juntos, na beira do lago. Por falar em vídeo, o rapaz lembrou-se por fim do motivo de ter chamado a ruiva até ali.

— Aliás, Nise, queria pedir um favor. Eu vou precisar gravar um comercial com uma amiga de sociedade, e queria que você me ajudasse com as câmeras e ideias — disse ele então, finalmente chegando no assunto que era importante para a corporação de Willy. — Como nos velhos tempos, sabe?! E então poderíamos, não sei, fazer o upload dos bastidores em seu canal...

Ele ainda estava um tanto quanto inseguro em relação àquilo, mas prosseguiu. — Estava pensando em tentar fazer doces caseiros, como que para captar a diversão; além de mostrar os doces que a própria empresa produz — divagou brevemente, perdendo-se um pouco nos detalhes. — Fazer vários shots na cozinha, e depois, experimentando as balas nos mais diversos lugares.

Ele sorriu, tornando a focar o olhar na amiga. — No final, poderia haver uma batalha aos moldes dos Contests, entre mim e a própria Rosemary Ivashkov! — concluiu animadamente, finalmente dando para a amiga algum tempo para processar tudo aquilo. — O que acha?

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O coordenador abraçou ambos os monstrinhos da amiga, feliz por vê-los ali. Champ tinha no rosto uma maquiagem bastante parecida com a que o próprio Ren fizera nele, tanto tempo atrás. Algumas coisas nunca mudam, intocadas pela medida incompreensível do tempo. Em certas ocasiões — como aquela — isso era algo muito bom.

O rapaz ouviu atentamente o que Nise dizia, e logo tratou de corrigir o mal entendido. — Ah não, desculpe. O comercial será divulgado pela própria empresa, mas achei que seria interessante você colocar em seu canal um por trás das câmeras, para ganhar uma recompensa monetizada pela ajuda — explicou rapidamente, tentando não cometer mais nenhum deslize. — Algo básico, para chamar a atenção, dar visualizações para você e também despertar nas pessoas a vontade de assistir as coisas da empresa.

A ruiva deu sua opinião acerca do restante dos tópicos, esta parecendo ser bastante positiva. Nise parecia até animada — e Ren gostava disso. Dizem que um trabalho sai mais bonito quando feito com vontade, não? O rapaz concordara com o que fora dito, e em seguida fora atrás de Willy, explicar suas ideias.

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O escritório de Willy era um pouco... inquietante. Ren não estava mesmo esperando por algo tão vazio como aquilo. Afinal de contas, seu dono era tão vivo e animado; estranho era o fato de não haver muitas coisas. O rapaz estava entrando na sala animadamente, com várias ideias, mas apenas de ver aquele lugar, já perdeu um pouco daquela energia que tinha. Sim, ele estava em um mundo de negócios, por mais doce que este pareça ser.

O coordenador aceitou o chá — uma de suas bebidas favoritas, em verdade —, tomando liberdade para sentar-se em uma das cadeiras. Ele sorriu uma outra vez ao ver o empresário falando sobre Nise. — Sim, ela é uma pessoa muito cheia de vida. É animador, estar aqui ao lado dela para fazer isso tudo — comentou, parando para ouvir o restante da frase do homem; apenas para balançar a cabeça negativamente. — Ah não, está tudo bem. Na verdade, queria até discutir algumas ideias com você, ver sobre uma batalha de beleza, confecção caseira de doces, além de mais algumas coisinhas...

Ele ficou quieto ao vislumbrar um papel sobre a mesa de Willy. Uma folha de pagamentos a serem feitos. Pelo que Ren lera no contrato, era uma empresa nova em Hoenn — e provavelmente, agora no início; eles não tinham muitos fundos para fazer tudo. Subitamente, o rapaz sentiu-se um pouco egoísta por ter pedido por tantas coisas para utilizar na gravação. E sinceramente, seu empregador não ajudava muito para com o fato de estar subitamente pensativo. Sonhos, é...? Uma coisa complicada.

Qual o limite entre o onírico e o real? Até onde podemos ir e imaginar? Será que, quando cerramos nossos olhos e deixamos o cérebro a trabalhar, estamos de fato fazendo algo pelo mundo...? As vontades são o que movem o globo; mas ao mesmo tempo, também são elas que permanecem apenas em um rascunho, incapazes de se mexer. Ren havia lidado bastante com os sonhos ultimamente — enfrentando o passado e defrontando o futuro —, talvez até demais. Ele não sabia mais qual a hora de acordar, se é que ele queria acordar.

Não era como se o que ele quisesse realmente importasse, no final das contas. É até engraçado, o fato como perguntas demoram tanto para serem respondidas; e então quando finalmente o fazem, estas respostas apenas geram ainda mais questionamentos. O especialista em feéricos permaneceu em silêncio por um tempo, antes de hesitantemente retornar a falar com seu interlocutor. — Eu... eu não sei. Eu tenho vontades. Coisas que quero fazer. E também tenho ideias que gostaria de ver para o mundo. Mas... não sei exatamente dizer até onde eu sou capaz de fazer com que essas vontades virem realidade — murmurou, reflexivo. — Contudo, gosto de pensar que nunca saberei se não tentar.

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A realidade às vezes atinge com violência. Tão alheios em pensamentos e vontades, acabamos por nos recusarmos a ver e ouvir a verdade bem diante de nós mesmos. É até mesmo curioso, pensar em como nosso cérebro insiste em não enxergar todos os pormenores, entrando involuntariamente em uma gaiola que ele mesmo criou. Ah, a mente... tão ilusória não-confiável...

Ren escutou silenciosamente tudo o que seu empregador tinha a dizer. De certo, começar uma empresa do zero — assim sem mais e nem menos; sem certeza alguma ou qualquer outra coisa do tipo — não era algo simples. O rapaz apenas balançou a cabeça, para confirmar que estava ali a escutar. O coordenador não sabia exatamente como responder; ou se sequer poderia responder. Aquele era um momento de desabafo por parte de Willy. O homem não precisava ouvir mais coisas; precisava ser escutado.

E Ren estava ali para ouvi-lo.

Depois de terminarem de discutir o que precisavam, o rapaz foi saindo da sala. Antes de encostar a porta, no entanto, virou-se para dizer algumas últimas palavras. — Obrigado por confiar em mim, Willy. Prometo que darei o meu melhor para que tudo seja perfeito — falou por fim, finalmente saindo de lá. Aparentemente, ele teria o restante do dia livre, enquanto a equipe de produção terminava de conseguir as coisas. Nise também convidara o jovem para ir para o seu hotel. Ren não tinha muito mais o que fazer, então concordou. Parecia ser uma boa ideia, afinal.

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Espera... quê? As coisas estavam indo rápido demais para o coordenador. Ele ainda estava pensando em Willy; começando a imaginar em como seria a noite com Nise — quando fora interrompido por... ratos de academia? É, parecia ser algo do tipo. O tipo de gente ignorante e mal-apessoada que o rapaz menos aprecia. Pobres coitados, passam tanto tempo treinando seus músculos superficiais que esquecem de treinar o cérebro.

E certamente, a citação do nome de Willy em um contexto passivo-agressivo; além do evidente semi-abuso de Nise foram certamente apenas mais e mais pontos negativos. Muito negativos, aliás. O rapaz não conseguiu evitar, torcendo o nariz involuntariamente. Ao menos sua amiga usava os neurônios que pareciam não ter. Ren suspirou, e deu sequência no jogo que a ruiva havia criado.

— Ah, esses caras estão incomodando você, gatinha? — questionou ele, em tom claramente irônico. — Não sei dizer sobre homens de verdade, mas imagino que as pessoas que zelam por si mesmas costumam dar um jeito bem ético e pleno — comentou então, movimentando a mão enfaticamente. — Você já viu reis ou rainhas dos dias atuais fazerem as coisas de forma diferente?

Ele não estava com muita paciência para lidar com aquilo tudo, mas seguiu em frente. Aparentemente, aquele grupo de marmanjos não largaria o pé da dupla tão facilmente. Urgh, sério mesmo?